O líder da Resistência Nacional de Moçambique (Renamo, oposição), Afonso Dhlakama, ameaçou, na quarta-feira, “forçar um Governo de transição”, caso o diálogo com o Governo se “arraste infrutífero” até expirar o mandato constitucional do Presidente Armando Guebuza. O dirigente da Renamo assumiu esta posição em conferência de imprensa, no seu quartel-general, em Sadjundjira, na Serra da Gorongosa, Sofala, centro de Moçambique, caso o diálogo dos grupos de negociações da Renamo e Governo e o seu próximo encontro com Guebuza “não der resultados”.
“Eu sei que não vai resultar nada esta conversa com PR antes que os nossos grupos de negociações tenham avançado. Tenho experiências do passado, foi necessário ter amizade com Chissano (antigo Presidente) para chegarmos a consensos”, referiu Afonso Dhlakama, lamentando o “menosprezo” do atual chefe de Estado. O segundo mandato constitucional de Armando Guebuza, não renovável, termina no próximo ano, com a realização das eleições gerais, ainda sem data.
“Sou da opinião que o diálogo tenha sucesso e se possa rubricar alguma coisa (acordo político), porque não vale a pena este diálogo ser igual aos dois encontros de Nampula (antiga residência de Dhlakama) que mantive com o PR, porque as pessoas não vão saber o que combinámos, e vão continuar a dizer que eu recebi dinheiro”, declarou. Dhlakama desconsiderou o ponto prévio da desmilitarização da Renamo, colocado pela delegação do Governo na oitava ronda de diálogo, na última segunda-feira. “Mandamos passear aquilo (a desmilitarização da Renamo). Os pontos chaves são quatro, que inclui o pacote eleitoral, política de defesa e segurança, despartidarização do Estado e questões económicas. Mas o crucial para já é o pacote eleitoral”, disse Afonso Dhlakama.
A Renamo reitera o princípio da paridade na composição da Comissão Nacional de Eleições (CNE), para que o órgão seja constituído por um número igual de representantes dos três partidos com assento parlamentar. A atual CNE, constituída ao abrigo da lei eleitoral aprovada em maio, foi formada com base na proporcionalidade dos partidos com assento parlamentar, um figurino que a Renamo contesta por permitir à Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), partido no poder, deter a maioria de membros naquele órgão eleitoral. A Frelimo controla uma maioria de 191 deputados na Assembleia da República e o Movimento Democrático de Moçambique (MDM) é a terceira bancada parlamentar, com apenas oito deputados.
O líder da Renamo disse que não vai assumir a “incompetência” da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), no poder, de impedir mecanismos de democracia durante os processos eleitorais, para que se possa “jogar em campo sem espinhos”.
Afonso Dhlakama denunciou um suposto esquema para ataque à sua base militar em Sadjundjira e alertou para “o risco do retorno à guerra” no país, apesar da sua reafirmação de que não vai voltar à guerra.
“Qualquer ataque a Sadjundjira, no quartel general da Renamo, será generalizar a terceira guerra em Moçambique. É diferente dos ataques à sede de Muxúnguè, Inhaminga, ou outro lugar”, disse Afonso Dhlakama, que jurou: “jamais iria dirigir a guerra”.
“Mas a população precisa começar a estudar e ver realmente quem não quer a paz. O povo reconhece o meu papel. Eu não posso ser apontado a dedo quando não tenho culpa. Quero garantir paz em Moçambique para todos”, afirmou Afonso Dhlakama, insistindo que, se o país entrar em “estado de sítio”, vai forçar um Governo de transição.
LUSA – 05.07.2013
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