Assassinato do ex-SG da Renamo, Evo Fernandes
«Canal de Moçambique» envolvido na polémica por citar obra que o coronel do SNASP não viu nem leu. Caso já chegou à Procuradoria Geral da República.
«RENAMO: uma descida ao coração das trevas», a caminho de ser um «best seller», está à venda em Maputo há mais de um mês.
O coronel na reserva Sérgio Vieira reconhece ignorar o livro de Paulo Oliveira em que o autor se assume como agente do ex-SNASP e acusa o ex-chefe daquela instituição de segurança no regime mono partidário de ter planeado a operação destinada a eliminar o secretário-geral da Renamo, Evo Fernandes. E a propósito do reportado do livro neste jornal, na edição 110 do dia 13 do corrente, em carta ao «Canal de Moçambique», Vieira, actual director-geral do Gabinete do Plano do Zambeze (GPZ) começa por dizer e citamo-lo: “Na edição de 13 de Julho o Canal de Moçambique difundiu acusações graves contra mim, alegando estar contidas num livro de Paulo Oliveira publicado algures e que nunca li”.
O livro de Paulo Oliveira está à venda em Maputo há mais de um mês e há pouco mais do que isso foi lançado em Lisboa sob o título “Renamo: Uma descida ao coração das trevas” (ISBN 9725592735).
Na carta ao «Canal» Vieira afirma expressamente que não sabia que o autor das acusações que lhe são dirigidas em livro (e o «Canal» reportou) teria trabalhado ou colaborado com a segurança da Frelimo ou do Estado. “Nunca tive conhecimento que Paulo Oliveira trabalhasse ou colaborasse com os nossos serviços de segurança do Partido ou Estado, durante todo o tempo em que exerci funções”.
No seu livro de memórias, Paulo Oliveira assume que foi agente do SNASP – Serviço Nacional de Segurança Popular» desde 1979 e fundamenta a revelação que fez e segundo a qual o coronel Sérgio Vieira foi quem planeou a operação de assassinato do Dr. Evo Fernandes, a partir de conversas tidas em Maputo com oficiais de alta patente afectos à «D-13», que o autor descreve como sendo a divisão da polícia política SNASP que tinha a seu cargo as “operações externas”.
Sérgio Vieira fala em “operação macabra”
“Jamais, directa ou indirectamente estive envolvido, nessa operação macabra”, refere Vieira na carta ontem entregue na nossa redacção. “Jamais” – prossegue – “quer em termos do Departamento de Defesa e Segurança do CC (Comité Central) da Frelimo, quer na direcção do SNASP alguma vez, directa ou indirectamente instrui os serviços para assassinar quem quer que seja ou contratar ou pagar sicários para o fazer.”
“Política que sempre defendi e pratiquei”
Vieira depois acrescenta: “Se assim agisse contrariava a política consequente do partido Frelimo desde o início da guerra de libertação, política que sempre defendi e pratiquei, violaria a Constituição e a lei moçambicana desde 1975, as instruções e regulamentos a que obedecia”.
Já a terminar a sua carta o coronel na reserva e ex-Ministro da Segurança afirma: “A gravidade da acusação leva-me a solicitar ao Digníssimo Procurador Geral da República” que inquira”.
Anexa à carta dirigida ao «Canal», o chefe da secreta do regime monopartidário, coronel na reserva Sérgio Vieira (SV), envia uma cópia de outra dirigida ao Procurador Geral da República. Nela pode ler-se, a começar, o seguinte: “Na sua edição de 13 de Julho de 2006, a publicação Canal de Moçambique difundiu acusações muito graves contra a minha pessoa”.
“Segundo essas alegações eu haveria ordenado ou instruído ou comanditado o assassinato dum cidadão português Senhor Evo João Camões Fernandes em Portugal em 1987”, acrescenta Viera.
Logo a seguir S.V. solicita a reposição da sua “honra” pelas “alegações infamantes” veiculadas no livro de Paulo Oliveira e chegadas ao seu conhecimento pelo «Canal de Moçambique» pois, como o próprio deixa subentendido nas cartas, só sabia que as acusações contra si estariam contidas “num livro de Paulo Oliveira publicado algures”, livro esse que reconhece não ter lido.
“Solicito em nome do meu direito à honra, para que não seja injustamente molestado ou acusado, no país ou no estrangeiro, que a Procuradoria verifique se existe qualquer base para esta alegação infamante”, escreve também.
À disposição da Justiça
Sérgio Vieira, ao terminar a carta que dirigiu ao Procurador Geral da República Joaquim Madeira, escreveu ainda que está à disposição da Justiça. “Se houver qualquer fundamento, desde já me afirmo à disposição da Justiça”.
«Alcino»
Paulo Oliveira publicou o livro em Lisboa onde reside. Fontes naquela capital europeia referem que várias vezes o têm visto na Embaixada de Moçambique em Portugal onde é suposto prestar serviços de informática. Tem dupla nacionalidade: moçambicana e portuguesa.
Paulo Oliveira tinha o nome de código “Alcino” enquanto ao serviço do SNASP. Foi enviado a Portugal pelos serviços secretos da Frelimo e Ministério da Segurança para infiltrar a delegação da Renamo em Portugal no tempo do conflito armado que terminaria em Roma.
Relatório Makuákua
Na sua qualidade de agente “Alcino” conseguiu infiltrar-se no aparelho da Renamo em Lisboa, em Agosto de 1981. É autor do conhecido «Relatório Makuákua», reproduzido na totalidade durante várias semanas pelo semanário «Zambeze».
O autor material do assassinato de Evo Fernandes, ex-SG da Renamo viria a ser detido em Marrocos e posteriormente levado para Portugal. A polícia portuguesa conseguiu localizar o paradeiro de Alexandre Xavier Chagas dado que este não regressou de imediato a Moçambique conforme inicialmente planeado. O contratempo, segundo o autor do livro em que Sérgio Vieira é acusado de ser co-autor moral do assassinato de Evo Fernandes em Cascais, em 1987, foi devido a atrasos no envio de uma verba pelos seus “controladores” em Maputo.
Betinho Wate
Paulo Oliveira cita no livro Betinho Wate, um dos responsáveis do «D-13» como sua fonte em Maputo. De acordo com o autor Wate disse-lhe na capital moçambicana que “as verbas não chegaram a horas certas” tendo resultado naquilo que o oficial da secreta da Frelimo descreve como “a merdice de Marrocos”.
Paulo Oliveira, autor do livro, em 1983 chegou a dirigir a emissora da Renamo que então emitia a partir da África do Sul. Logo a seguir à assinatura do «Acordo de Nkomati» em 1984 foi para Portugal. Em Lisboa chegou a exercer o cargo de delegado da Renamo naquele país. Depois de 3 anos desentendeu-se com Evo Fernandes e em 1988 volta a Moçambique onde é recebido com pompa e circunstância para se fazer crer tratar-se de uma entrega de um dissidente da Renamo que acolhera a política de amnistia entretanto já decretada pelo regime de Maputo. Até então não houvera ainda qualquer deserção da Renamo. Ocorreu no entretanto uma outra de Chanjunje Chivaca João, um outro agente do SNASP que havia infiltrado a delegação da Renamo em Lisboa. (Redacção)
CANAL DE MOÇAMBIQUE - 19.07.2006
NOTA: Fotos de Sérgio Vieira e Paulo Oliveira
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