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Maria da Conceição Leal era, até há semana passada, uma ilustre desconhecida administradora do Banif no Brasil, que passou a ser conhecida porque beneficiou de um prémio de cerca meio milhão de euros relativo a 2011 numa instituição bancária que foi, literalmente, nacionalizada em Janeiro deste ano.
O que está muito mal neste quadro, e exige explicações?
Comecemos pelo início: Conceição Leal era administradora do banco no Brasil, esteve na gestão anterior e foi a única a passar para a nova equipa, já sob a responsabilidade de Luís Amado e Jorge Tomé e, como se confirmou na passada sexta-feira, o Banif confirmou o que se suspeitava, a sua história não era saudável, particularmente no Brasil, isto é, detectou imparidades de 92 milhões de euros nas contas de 2012 e decidiu instaurar uma acção de responsabilidade civil contra os ex-directores da sua subsidiária brasileira. A história do Banif no Brasil, provavelmente, ainda não está toda contada e só se sabe alguma coisa porque somos, todos, contribuintes, donos de mais de 99% do capital do banco.
O que choca, e surpreende, neste caso, não é a atribuição de um prémio de meio milhão de euros no banco nacionalizado, porque, de facto, não foi isso que sucedeu. O prémio, do que se sabe, foi pago em meados de 2012 pelos resultados de 2011, portanto, bem antes da entrada do Estado no capital do banco. É a atribuição de um prémio a uma gestora que integrou uma equipa que teve dezenas de milhões de prejuízos, eventualmente centenas, e que pesam e muito nas contas do banco e são também responsáveis pela necessidade dos accionistas do Banif de recorrerem a uma ajuda do Estado.
Maria da Conceição Leal é responsável, por acto ou omissão, dos prejuízos do Banif no Brasil e, por isso, é incompreensível que seja beneficiada com este prémio. São decisões destas que minam a credibilidade de uma gestão, interna e externamente. Porque se há prejuízos, eventualmente até com suspeitas de crime, como se percebe do próprio comunicado do Banif de sexta-feira, que obrigam a cortes, a rescisões, a emagrecimento de estruturas, como sucedeu no Banif no Brasil, não é aceitável que uma administradora tenha acesso a prémios.
Luís Amado e Jorge Tomé foram imprudentes na decisão de atribuição deste prémio, mesmo que Maria da Conceição Leal não tenha tido uma acção directa nos problemas no Brasil, que, diga-se de passagem, ainda não foi clarificada. Já tinham sido ousados quando decidiram mudar toda a equipa e manter esta administradora, e agora acabam por ser co-responsáveis pelo que sucede, que um comunicado não chega para resolver o problema, porque não explica o essencial. Quando, ainda por cima, está por perceber se o Estado vai acabar por ficar como accionista único do Banif.
PS: O ano empresarial Portugal-Brasil terminou na semana passada com uma conferência em São Paulo que prometia juntar líderes empresariais e autoridades políticas dos dois países. Acabou por ser um espelho do que é hoje a relação - ou a ausência dela - política e institucional dos dois países-ditos-irmãos.
PS: O ano empresarial Portugal-Brasil terminou na semana passada com uma conferência em São Paulo que prometia juntar líderes empresariais e autoridades políticas dos dois países. Acabou por ser um espelho do que é hoje a relação - ou a ausência dela - política e institucional dos dois países-ditos-irmãos.
Ficaram apenas as promessas, o esforço do sector privado - de Miguel Horta e Costa e de José Maria Ricciardi - e o esquecimento total a que Dilma Roussef votou não só o encontro da semana passada, como a iniciativa que arrancou em Setembro do ano passado. Portugal não conta para o Brasil, nem como porta de entrada na Europa, porque o Brasil pode hoje dar-se ao luxo de escolher, o Governo português é ostensivamente ignorado pela racional Presidente brasileira, ao contrário da relação emocional de Lula da Silva, também muito suportada na amizade com José Sócrates.
Qual é a lição? A diplomacia portuguesa, leia-se Paulo Portas, tem de mudar de estratégia, as empresas e os empresários portugueses podem e devem apostar no Brasil, as exportações para aquele país não chegam a mil milhões de euros, mas devem contar com a sua competência. Sem vantagens particulares, menos ainda favores.
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