Monday, May 27, 2013

A fogueira das vaidades

  • A propósito dos últimos desenvolvimentos em Moçambique, e a pedido indirecto de pessoas que pensam que analisar assuntos é identificar os bons e os maus, o preto e o branco, eis um texto sobre a questão da credibilidade e como a sua perca pelas instituições do Estado cria campo para o surgimento de demagogos que constituem maior perigo ainda à saúde da democracia. O texto, como sempre, é longo, mas tem que ser assim mesmo. O Facebook é uma bênção, mas ao mesmo tempo uma maldição. Permite que quase todos se articulem, mas também dá espaço a quem não tem o hábito de leitura, alguém para quem a leitura voluntária de duas páginas é uma tortura, para sem grande conhecimento de causa pôr em causa reflexões que não são a revelação da verdade, mas mesmo assim contribuições sinceras para o debate útil de ideias.

    A fogueira das vaidades

    Em 1497, em Florença, Itália, aconteceu o que ficou com o nome de fogueira de vaidades. Inspirados por um monge dominicano, Girodamo Savonarola, os habitantes puseram-se a queimar todos os objectos de vaidade que, segundo uma interpretação rígida da religião, poderiam conduzir as pessoas ao pecado. Espelhos, artigos de higiene, livros, etc. A fogueira das vaidades foi o percursor da queima de livros mais tarde durante a Inquisição, mas também pelos Nazi. Foi também percursora da censura em vários países. Nos anos oitenta, o escritor americano, Tom Wolf, publicou um romance com o título “A fogueira das vaidades”, uma excelente parábola de Eclesiastas 1:2 (vaidade das vaidades, tudo é vaidade) que foi lido por muitos como uma descrição fiel da forma como a sociedade americana dos anos oitenta tinha ficado refém de agendas políticas que reflectiam, no fundo, a ânsia pela projecção pessoal do que pelo bem comum. Já mesmo antes da detenção ridícula do líder da Associação Moçambicana de Médicos tinha começado a pensar na forma que a política está a assumir em Moçambique e quão parecida ela está cada vez mais com uma fogueira de vaidades.
    Na verdade, muito antes ainda, aquando do julgamento do caso Carlos Cardoso, escrevi um texto sobre a credibilidade, no qual chamava a atenção da classe política para o perigo que era para a democracia descredibilizar as instituições do Estado. O meu receio era que se instalasse um clima de cinismo que tornaria a esfera pública vulnerável a demagogos e ao pensamento irracional. Cada vez mais temos essa situação. Vou transcrever parte desse artigo porque o raciocínio continua actual:
    “... O que alimenta a credulidade das pessoas não é a plausibilidade das teorias de conspiração. É, ao que tudo indica, o sentimento de que tudo é possível. E tudo é possível porque nos últimos anos as instituições não têm feito outra coisa senão dizer meias-verdades (referia-me aqui às mentiras dos governos Bush e Blair na Grã-Bretanha e nos EUA em relação à situação que levou à guerra do Iraque) (...) Sem esta experiência de meias-verdades, senão mesmo mentiras, as pessoas teriam dado aos seus governos o benefício da dúvida, como dizem os ingleses. Se aparecesse alguém a desfiar teorias de conspiração as pessoas iriam defender os seus governos ou pelo menos os valores que eles representam dizendo “não é possível, esse governo não era capaz disso”...
    A questão que interessa analisar mais de perto, portanto, é de saber exactamente o que é a credibilidade e porque a sua perca conduz à irracionalidade. Esta questão é extremamente importante, sobretudo no nosso país, onde as instituições do estado têm que se haver com o problema do déficit de credibilidade. Os inúmeros escândalos em que algumas dessas instituições, incluíndo personalidades importantes, estiveram envolvidas afectaram negativamente os níveis de credibilidade. As acusações de corrupção, por exemplo, fundadas ou não, ganham também plausibilidade porque as instituições e as pessoas deixaram de ser credíveis (...) A credibilidade é feita de várias coisas. Por exemplo, é mais prudente confiar na previsão de tempo dos serviços meteorológicos do que na previsão da avó camponesa em Gaza. Reconhecemos a estes serviços competência para dizer coisas certas a respeito deste assunto. Não é que a avó não possa ter razão. Na verdade, é bem possível que a avó acerte sempre, razão mais do que suficiente para também confiar nela. Nesse caso, porém, apoiamo-nos num outro aspecto da credibilidade, nomeadamente a experiência. Se certas pessoas ou instituições nos habituam a certas coisas e nós podemos contar com elas com certa segurança não há nenhuma razão para não depositar confiança nelas...
    Confiamos porque consideramos que certas pessoas e instituições são íntegras. A sua conduta não nos dá nenhum motivo para recearmos que elas façam algo de má fé. Se o Ministério da Saúde nos aconselha a vacinar os nossos filhos acatamos porque julgamos ter a certeza de que essa instituição não ia, propositadamente, nos fazer mal. Pode acontecer, mas se for esse o caso tiramos as nossas ilações e em ocasiões seguintes desconfiamos. Há os que exageram e isso em dois sentidos. Uns precisam de várias fontes antes de acreditar. Por exemplo, para além do conselho do ministério eles querem ouvir a opinião dum médico amigo ou do curandeiro, consultam livros e páginas da internet. Outros, todavia ... preferem a palavra do chefe do seu partido, de alguém da sua região ou duma tia curandeira para todos os casos e situações.
    A credibilidade, portanto, é feita da competência, experiência, integridade e autoridade que nós reconhecemos em certas pessoas e instituições. Ela funda-se na confiança e é, por isso, imprescindível à vida em sociedade. A confiança numa sociedade é tanto mais forte quanto maior for a credibilidade das instituições. Sem confiança, nenhuma sociedade funciona. Com baixos níveis de confiança, as sociedades funcionam mal. A confiança é uma espécie de moeda de troca que usamos para confirmar a credibilidade das pessoas e instituições. Numa sociedade em que desconfiamos de tudo e de todos, isto é em que não há credibilidade, estão reunidas as condições para se fomentar a irracionalidade. Tudo se torna possível...
    Esta é mais ou menos a situação em que se encontra o nosso país há já vários anos. Pelo menos nisso batemos o Ocidente. Qualquer opinião, por mais bizarra que seja, muitas vezes até justamente por causa disso mesmo, tem fortes probabilidades de ser aceite. Ninguém confia em nada, nem ninguém, só na plausibilidade dos seus próprios receios e pesadelos. E para piorar as coisas, à semelhança do que se faz em países como os Estados Unidos ... a mentira descarada está a tornar-se num desporto nacional. É só ver os depoimentos nos julgamentos do caso Carlos Cardoso e fuga de Anibalzinho. Cada qual mente como pode. Salve-se quem mentir melhor.
    Nesta questão de credibilidade o nosso governo tem estado na defensiva por razões institucionais e particulares óbvias, mas o julgamento do caso Carlos Cardoso constitui um passo importante para o restabelecimento da credibilidade dos nossos órgãos oficiais. Parecendo que não há quem se interesse pela transparência e integridade das instituições. E isso é bom, pois vai levar muito tempo para restabelecer a credibilidade. Melhor começo não podia ter havido...”
    Isto é o que escrevi há alguns anos. Os acontecimentos mais recentes no País mostram que o problema da credibilidade tem vindo a piorar. Hoje em dia, o clima de desconfiança é tão grande que nada do que membros do governo, representantes de orgãos do Estado, etc. dizem é tido como credível. Alguns vão dizer, “bem feito, quem lhes mandou mentir?”, mas antes de o fazerem deviam pensar nas consequências que isso tem para a consolidação da democracia e, acima de tudo, do Estado de direito. Há gente no nosso País que, noutras ocasiões, faz muito alarido do seu compromisso com a democracia e com a religião cristã, mas em momentos decisivos não tem nenhum problema em aplaudir quem ataca (e, infelizmente como vimos recentemente, mortalmente) agentes da lei e ordem. Temos um partido de oposição que colocou o País inteiro refém da inépcia política dos seus dirigentes, mas são poucas as vozes que mesmo concordando com as reivindicações desse partido, que é natural e legítimo, rejeitam aberta e decididamente as suas acções contra orgãos de soberania. Eu pelo menos não sei onde é que um crítico do governo pode ir buscar autoridade moral para condenar o que a polícia, por exemplo, faz mal quando o seu próprio compromisso com as instituições do Estado de direito é fraca até ao ponto de disso fazer alarido público.
    Tom Wolfe tem quatro personagens principais no seu romance. Há um corretor da bolsa de valores, podre de rico, que atropela uma criança negra em Nova Iorque; há um jornalista falhado que está desesperadamente à procura duma grande estória; há um reverendo negro empenhado em colocar o racismo na agenda política e, finalmente, um procurador judeu que quer impressionar o seu chefe e um dos membros de sexo feminino do jurado. Toda a teia se desenvolve em torno das vaidades de cada um destes personagens, relegando para segundo plano o infeliz incidente que culminou com a morte da criança num processo que a transforma em mártir de causas diversas. Em Moçambique, por causa do déficit de credibilidade das nossas instituições, a esfera pública está cada vez mais refém dum número incontável de vaidades que com democracia, integridade e Estado de direito têm pouco ou quase nada a ver. Tornou-se imperioso, e uma espécie de profissão de fé, ver em tudo quanto corre mal a mão impiedosa dum Estado refém duma classe política rapinosa que se está nas tintas para o povo. A infeliz detenção do jovem médico – que pode muito bem ter sido o resultado duma acção tipicamente moçambicana em que por estupidez ou ainda porque alguém pensou estar a agir no interesse da Frelimo (o poder da Frelimo...) se espezinhou a legalidade – teve um fim airoso com a intervenção da Procuradoria Geral da República. A fogueira das vaidades que Moçambique cada vez mais é, vê, naturalmente, o mérito da indignação profissional (celebrada no Facebook) na soltura do jovem médico, o que até certo ponto é verdade porque a reacção popular junto da Esquadra foi realmente impressionante, mas descura o facto de que a reacção da PGR possa comprometer a tese duma instrumentalização política da polícia. Se calhar o compromisso com a legalidade não é apenas só na cabeça de quem escreve no Facebook. Se calhar as nossas instituições se sentem também comprometidas.
    Está claro que cada vez mais o principal desafio enfrentado pelo Governo de Moçambique é o restabelicimento da credibilidade das instituições sob pena de todos sermos consumidos pelas chamas da fogueira das vaidades ao jeito do romance de Rom Wolfe. Mas mesmo o jeito eclesiástico se tornou cada vez mais relevante, pois pessoas com formação política duvidosa e entendimento problemático do Estado de direito parecem ter metido na cabeça que o problema sejam as instituições e não a forma como elas são conduzidas; há indícios preocupantes que revelam como a crítica insensata e impensada cada vez mais se compromete com o ponto de vista segundo o qual o Estado em si seria um perigo contra a virtude. Este é um desenvolvimento perigoso que devia preocupar todo o moçambicano sensato.
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    • Elisio Macamo infelizmente, não vou poder responder a nenhum comentário nas próximas horas. se calhar só logo à noite ou amanhã. peço desculpas por isso.
    • Sérgio Chaúque o tão esperado texto. debruçando-me!See Translation
    • Borges Nhamirre Saboreando o texto...
    • Sofia Meneses Dias brilhante "Tornou-se imperioso, e uma espécie de profissão de fé, ver em tudo quanto corre mal a mão impiedosa dum Estado refém duma classe política rapinosa que se está nas tintas para o povo." rSee Translation
    • Sérgio Chaúque interessante. muito interessante. como sempre e com alguma razão nossa, sempre esperámos do ilustre professor uma tomada de posição, acho que estámos a procura também de credibilidade em alguém, já neste governo ( e não necessáriamente instituições, pois estas continuam e o governo deveia mudar). porém devo respeitar o ponto do liustre académico a quem prezo bastante. e concordo mesmo que já estamos numa fase de lutas de elefantes!See Translation
    • Bayano Valy Sérgio o problema reside aí. porque as pessoas devem tomar sempre uma posição? isso não entendo. porque as pessoas não podem tentar explicar os fenómenos sociais e políticos de forma isenta, sem serem partidários?See Translation
    • Jose Alexandre Faia Bom mesmo bom , seria mesmo bom de verdade se as mentes governantes pudessem aprender algp com este artigo ...mas isso jah se sabe que nao vai acontecer e a arrogancia vai continua a ser perdominante ..See Translation
    • Juma Aiuba ESTA IDEIA NÃO PODIA SER ESCRITA DE OUTRA FORMA. O LEAD DO TEXTO: "A credibilidade, portanto, é feita da competência, experiência, integridade e autoridade que nós reconhecemos em certas pessoas e instituições. Ela funda-se na confiança e é, por isso, imprescindível à vida em sociedade. A confiança numa sociedade é tanto mais forte quanto maior for a credibilidade das instituições. Sem confiança, nenhuma sociedade funciona. Com baixos níveis de confiança, as sociedades funcionam mal. A confiança é uma espécie de moeda de troca que usamos para confirmar a credibilidade das pessoas e instituições. Numa sociedade em que desconfiamos de tudo e de todos, isto é em que não há credibilidade, estão reunidas as condições para se fomentar a irracionalidade. Tudo se torna possível..."See Translation
    • Antonio Timbana Num Estado onde o Governo se confunde com o Estado fica complicado identificar onde estão as falhas/anomalias. Será que estes problemas são típicos do Estado Moçambicano ou do governo do dia? O Estimado e Respeitado Prof. dr. Elisio Macamo faz uma retrospectiva de um passado recente sobre "O Caso Carlos Cardoso" que trouxe à tona dependência política na resolução de questões de Estado. Esta interferência nos assuntos inerentes ao Estado (instituições) descridibilizou o Governo.See Translation
    • Chil Emerson David Aprecio a sua forma de abordar varios assuntos em um so,sem perder o foco.Eu, como escritor amador,maravilho-me com estes seus textos longos que, muito fartam a visao dos amantes do facebook.Por isso,antes de abordar um assunto extremamente pertinente,e' uma grande narrativa!See Translation
    • Celso Eduardo Conseguirão as instituições recuperar a credibilidade? Será que alguma vez o foram?See Translation
    • Ilidio Lobato O texto muito rico na analogias a vários cenários, sobretudo quando fala de credibilidade. O nosso governo/estado/partido (não sei diferenciar essas instituições em Moçambique) desacreditaram-se mutuamente durante o todo processo histórico de sua existencia. Se a credibilidade se funda na autoridade, na integridadee competencia, então, a experiencia das pessoas não consegue observar tal credibildade e por isso a desconfiança. Aqui a questão que coloco é: quem deve despir-se das vaidades? O povo ou as instituições/governo? Como esperar a confiança/credibilidade se as proprias instituições do estado usam e controlam os meios de comunicação social para fazer propagada e desacreditar todos que se mostram contrários as políticas publicas actuais, chegando, inclusive, a chamar essas pessoas de inimigas do desenvolvimento. Ai retomamos a sua ideia inicial “... O que alimenta a credulidade das pessoas não é a plausibilidade das teorias de conspiração.". Afinal como resgatar a credibilidade por parte dos que a perderamSee Translation
    • Livre Pensador Descobriu-se a roda. E no entanto, insiste-se, serao os inimigos da credibilidade a serem chamados para velarem por ela. E ja este ano...se nao for masoquismo, por que sera? Estupidez?
    • Alvaro Simao Cossa A nossa confianca se for especie de moeda de troca, essa moeda e' de baixo valor e sofre muita inflacao diariamente. Sao varios os exemplos de eu ter dormido com 100 Mts que correspondiam 3 dolares e ao acordar no dia seguinte, com os mesmos 100 Mts a corresponderem 1(um) dolar, e mais um dia a corresponderem 30 centimos de dolar.Estamos numa sociedade de desconfianca, concordo. O pior dessa desconfianca e' que cria um exercito de esquizofrenicos, que sao refens dessa desconfianca, que necessitaremos de cura-los, aonde nao sei, porque os medicos estao na greve. Quanto ao ocidente, o arreamos em varias coisas,mesmo na inducao premeditada do pensamento vanicado de nao sermos objetivos e concretos,ao falarmos de assuntos serios. nessa forma lisonjeada de encarar a nossa esquizofrenia, de termos perdido o sentido de orientacao axiologico. Quanto ao restabelecimento da credibilidade do nosso governo acho que deviamos ter julgado muitos casos como o do Carlos Cardoso, afinal ha ai materia suficiente para isso, ha mesmo acusacoes abertas mesmo em jornais oficiais de paises europeus e de outros pelo mundo fora, ha tambem muitos assassinatos e matancas que ocorreram depois da morte do Carlos Cardoso.Temos defice de moral para enfrentarmos a verdade e nas mentiras,aqui batemos tambem o oriente e o ocidente em conjunto, corrupcao, doencas endemicas, sujidade nas nossas cidades,promessas falcas dos dirigentes... Acho que nao e' a credibilidade que esta' a piorar, vamos ver este assunto na operacao inversa da matematica. Mocambique e' um estado, nao e' feudo, ha coisas que acontecem, que poem enclave o proprio estado, faz do estado um refém, nao vejo nenhuma seriedade nisto,a chantagem nao e' nada construtiva para ninguem.A politica de dupla estandardização nao funciona,deve haver imperio de leis, isso sim eu compreendo, somos republica ao fim acabo, mesmo os que estamos aqui no faceboock nao criamos nossos estados dentro de outros, por isso aqueles que violam as leis mesmo em nome do estado ou do partido no poder, devem ser responsaveis de seus erros e nao deve haver excepcao, entao devolveremos (ao) a credibilidade que e' uma necessidade imperiosa para avancarmos em conjunto.Um outro aspeto muito fulcral e' que a democracia nao e' para um grupelho de gente e' para todos os mocambicanos.Obrigado Sr. Elisio MacamoSee Translation
    • Parpinto Filipe Se a questão da credibilidade aqui referida é entre o governo e o povo, quem tem a obrigação de cultivar essa credibilidade é sim o governo. Se o governo perdeu ou não confiança com o seu povo ( se esta hilotese pode ser assim colocada) é uma questão que nem interessa levantar porque a conclusão é logicamente de que se demitisse. Cabe ao governo conquistar - e nao exigir - a confiança do povo. Essa conquista teria de ser depois de uma outra batalha, a de conquistar HUMILDADE. Abaixo a ARROGÂNCIASee Translation
    • Alvaro Simao Cossa Agora o que nos falta e' que o nosso governo escolha o povo mocambicano,alias que escolha o seu povo e que o dê o nome que quizer.See Translation
    • Santos Domingos Janota não falta muito podes crer.See Translation
    • Gervasioa Absolone Chambo A confiança e a credibilidade. Prof. Macamo, Zaida e Carlos Lhongo quando em vida, editaram um hit no qual cantam: Akutsemba munhu hudluluva hi kutshemba gwana "Mais vale confiar ao cão que ao indivíduo". Sera que não temos que confiar no Estado? Donde vem a falta de credibilidade e da confiança? Sera apenas no facto das instituições do Estado e os trabalhadores não serem credíveis ou em um fenômeno cultural que melhor se demonstra na capital Maputo?See Translation
    • Rildo Rafael O que é que a experiência, integridade e autoridade competem como responsabilidade para certas pessoas e instituições?See Translation
    • Elisio Macamo caros amigos, como escrevi ontem, só hoje é que posso reagir aos vários comentários. para já, agradeço todos eles. há apenas um aspecto que eu gostaria de salientar, pois não tenho a certeza se ele ficou claro. eu acho que a actuação do governo e do aparelho de estado não têm necessariamente contribuído para que os cidadãos tenham confiança no estado e no governo. penso até que essa desconfiança vai até ao ponto de algumas pessoas porem em causa os preceitos sobre os quais assenta toda a nossa ordem política. isto tudo pode-se confirmar pela forma como tudo quanto vem do governo e do estado é, para algumas pessoas, à partida suspeito. cada um de nós tem as suas razões para assim pensar. só que esta atitude de desconfiança pode ser parteira de si própria. de tanto desconfiarmos (e com razões para tal) podemos descurar outros factores que concorrem para o mau funcionamento das coisas e passarmos a vida apenas a acumular exemplos duma conspiração da elite do poder contra o resto do país. essa atitude parece-me contraproducente e pode ser ela, mais do que a suposta arrogância do poder, que vai inviabilizar o país. o meu texto, portanto, se bem que repete uma advertência aos que detêm o poder para tomarem a credibilidade a sério, é na verdade um apelo a todos nós para sermos mais frios na análise dos fenómenos políticos da nossa terra e, acima de tudo, para reforçarmos o nosso próprio compromisso com a democracia e com o estado de direito. algumas discussões pelo facebook fora não me dão a sensação de que muita gente tenha consciência de que o desafio resida mais do nosso lado do que do lado do governo. daí a metáfora da fogueira das vaidades. o nosso compromisso com a democracia e com o estado de direito é que vai credibilizar as instituições. a crítica à má actuação da polícia ou à "arrogância do governo" vai ser tanto mais forte quanto ela vier de alguém que tem coerência suficiente para se indignar quando alguém viola a legalidade ou, o que é mesmo grave, quando um partido político se põe aos tiros com agentes da autoridade. sem essa coerência dificilmente faremos a nossa parte para a credibilização das instituições, pois elas dependem dum ambiente assente num certo consenso normativo sobre o que é de bom tom dizer ou fazer. em certa medida, portanto, este é o meu posicionamento em relação a estas questões. eu sou a favor da coerência de princípios por parte de quem se exalta. abraços
    • Elisangela Uatata E bem verdade que "A confiança numa sociedade é tanto mais forte quanto maior for a credibilidade das instituições. Sem confiança, nenhuma sociedade funciona". E como nos (o povo) iremos confiar em instituições que parece estar empenhado em demonstrar que não e digno de confiança? Da ate impressão que há alguma crise interna ao Estado que esta incontrolável.

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