terça-feira, 11 de junho de 2019

ENTREVISTA DO NINI DESDE QUE FOI EXTRADITADO

LEIAM A PRIMEIRA ENTREVISTA DO NINI DESDE QUE FOI EXTRADITADO
Nini Satar em entrevista exclusiva: "Dos fracos não reza a história"
Momade Assife Abdul Satar, vulgarmente conhecido por Nini, foi condenado, semana finda, a um ano de prisão convertida em multa a uma taxa diária de 10 porcento do salário mínimo na Função Pública. O seu sobrinho Sahim Aslam e Sidália dos Santos foram absolvidos por insuficiência de provas. Tratou-se do caso do passaporte falso. Lá encontrámos um Nini diferente do que esperávamos: bem disposto, tudo era motivo para qualquer galhofa. Diante de toda a imprensa criticou alguns jornais que diz serem tendenciosos no que publicam a seu respeito e apelidou-os de sapatarias. Criticou severamente o Ministério Público (MP) por não ter deixado Sidália dos Santos, na altura presa, ir participar no funeral do seu finado esposo que foi vitimado por um acidente de viação. Bastante assediado depois da leitura da sentença, o MAGAZINE conseguiu "roubar-lhe" dos demais para esta entrevista exclusiva que é a primeira, onde Nini Satar fala sobre o que norteou a sua detenção na Tailândia e um pouco mais. Siga os excertos mais interessantes da entrevista.
O Nini saiu de Moçambique- da maneira como saiu- a pretexto de ir à procura de melhores serviços médicos. Até que ponto isto é verdade e qual foi o país que escolheu?
- Sai de Moçambique e fui a Singapura onde comecei a fazer os meus tratamentos médicos. Depois tratei a minha residência lá e pouco tempo depois fui residir num país qualquer na Europa, que por ora não interessa revelar.
Sabe-se que explicou ao juiz porquê preferiu usar dados pessoais do seu sobrinho para sair do país, mas isto foi durante o julgamento e nós reservamos-lhe uma oportunidade para voltar a explicar aos nossos leitores.
- Quando sai da prisão em Setembro de 2014, um mês depois pedi autorização para obter passaporte. O juiz Adérito Malhope, da 10ª Secção do Tribunal Judicial da Cidade de Maputo, mandou um ofício para a Migração em que clarificava que me podiam conceder o passaporte e que também estava livre de viajar. Tratei o passaporte e até paguei um valor de urgência. Sucede, porém, que volvido algum tempo quando fui exigir o passaporte este não me foi entregue. Acabei sabendo, por alguém da Migração, que havia ordens verbais do Ministério Público para que me não concedessem o passaporte. Insisti, mas não valeu em nada e veja que nem o dinheiro pago me foi devolvido. O que faria o senhor na minha situação, estando doente como eu estava, e sabendo que o tratamento só pode se obter fora do país? Não quero justificar aqui que a minha atitude foi correcta, mas foi a única saída que vi naquele momento. Tinha que arranjar todos os meios para sair do país. Empurraram-me, por assim dizer, a ter que usar os meios que usei.
E acha que foi uma atitude certa?
- Olhando pelo lado da minha saúde acho que sim. Foi uma atitude certa. Se não tivesse tomado aquela atitude, muito provavelmente não estaríamos hoje a conversar. Eu tinha complicações sérias de saúde que agora posso dizer com alguma tranquilidade que estão aliviadas. O que um indivíduo é capaz de fazer pela sua vida?
O Nini foi preso na Tailândia. Como é que foi lá parar, ou melhor, tinha residência lá?
- Não. A Tailândia é um país onde eu ia regularmente por causa das praias e tinha também alguns interesses na área de construção civil.
Fale-nos da sua prisão…
- Quando fui preso já estava há duas semanas na Tailândia. Desloquei-me para lá depois de ter feito uma peregrinação à cidade santa de Meca. Achei melhor levar para lá a minha família para breves férias, dado o seu ambiente acolhedor e as praias paradisíacas. Queria saborear um pouco do melhor na vida. O tempo que por lá levei também acabou se devendo ao facto de querer atender a um espectáculo da cantora Celine Dion, que actuou na Tailândia no dia 23 de Julho do ano passado. No dia seguinte, isto é, no dia 24, ofereci um "private show" à minha filha e Celine Dion e a sua banda cantaram só para nós na suíte presidencial do hotel onde eu estava hospedado. No dia 25 de Julho ainda me dei ao prazer de almoçar com a Celine Dion e a minha família num hotel. Foi nessa altura que apareceu um grupo de 15 polícias vestidos à paisana. Ficaram a uma distância de cinco metros do lugar onde estávamos sentados. Deixaram-nos terminar de almoçar. Despedi-me da Celine Dion e ela dirigiu-se para o elevador, porque tinha uma viagem no mesmo dia para Sidney, onde ela ia cantar num espectáculo no dia 27 de Julho. Foi quando me apercebi que havia algo errado. Contudo fui sentar-me na recepção num sofá. Minutos depois apareceu um polícia, vestido de um fato, e pediu-me o passaporte. Receei entrega-lo. Quis saber quem ele era e acabou identificando-se como sendo da Polícia da Migração. Não me intimidei. Quis saber dele o que se estava a passar. Foi quando me exibiu um mandado de captura e perguntou-me se o nome que vinha no mandado era ou não meu. Disse-lhe para que me deixasse ligar ao meu advogado, ao que aceitou.
E onde é que estavam os seus filhos nesse momento?
- Eles já não estavam comigo. Quando acabámos de almoçar foram directamente para o quarto.
Falava do seu advogado…
- Ele chegou 20 minutos depois da chamada. Conversámos e assumi a minha verdadeira identidade.
E daí?
- Eles foram até certo ponto simpáticos para comigo. Sentamo-nos e conversámos fazendo tempo até que chegasse um colega deles para que me tirasse as impressões digitais. Quatro horas depois é quando fui a uma esquadra. Encontrei um oficial da Interpol, depois de questões de praxe fui levado para um centro de detenção da Migração.
Depois que o Nini regressou para Moçambique espalhou-se notícias nas redes sociais de que foi o Noor Momade, da COTUR, que lhe denunciou…
- Eu sei tudo como é que aconteceu e prefiro não comentar este assunto.
Voltemos à Tailândia…
- Olha, era uma quarta-feira quando fui levado, cheguei no centro de detenção às 20 horas, apareceram vários advogados que alguns amigos me solicitaram. Na sexta-feira e sábado imediatos era feriado na Tailândia. No domingo, por volta das 15 horas, fui levado ao gabinete do ministro do Interior. Ele mostrou-me fotografias do Gilles Cistac, Paulo Machava, Mahamudo Amurane e outros assassinados em Moçambique. Apareciam ensanguentados. Disse que a Procuradoria de Moçambique lhes informou que eu é que os havia assassinado e que devia ser deportado imediatamente.
Há fotos suas espalhadas nas redes sociais em que aparece algemado e rodeado pela Polícia tailandesa…
-Aquilo foi uma propaganda da Polícia tailandesa. Aliás, é de hábito fazerem aquilo com os presos naquele país para que a imprensa local fique com imagem de que se está a trabalhar. Quando os repórteres saíram, coisa que não levou cinco minutos, retiraram-me as algemas e o ministro do Interior disse-me pessoalmente que o meu país estava a fazer muita pressão para que eu fosse deportado rapidamente. Depois foram me deixar novamente no centro de detenção. Os meus advogados só conseguiram falar comigo na terça-feira de manhã. Assinei alguns documentos e no mesmo dia, à noite, fui levado ao aeroporto. Era a minha deportação para Moçambique.
Conta-nos bem os contornos disso.
- A minha deportação não foi legal. Antes devia ter passado pelo tribunal daquele país, mas esta ilegalidade teve consequências para a pessoa que assinou a minha deportação. Os meus advogados na Tailândia abriram um processo contra a pessoa que assinou a minha extradição e soube há dois meses atrás que este assunto chegou até a mais alta instância naquele país e este indivíduo foi afastado do cargo por ter cometido tal ilegalidade.
Quando esteve no avião como foi a sua relação com os agentes?
- Quando cheguei no aeroporto estavam lá quatro moçambicanos, um deles era o director da PIC de Nampula, um senhor chamado David. Eles foram muito simpáticos e apercebi- me que recebiam chamadas constantemente da procuradora Amélia Machava. Eles sempre repetiam “ele está aqui, está connosco, estamos a entrar no avião”.
Quando chegou a Maputo reparou que havia muita imprensa, curiosos e muita Polícia?
- Claro que vi, dos fracos não reza a história. Queriam captar as minhas fotos para vender os jornais (risos).
Foi levado à BO?
- Sim, fui levado à BO e quando cheguei cá estava muito preocupado sobre onde haveria de ser acomodado, temia pela minha integridade física.
E depois?
- Um comandante acalmou-me, disse que iria inaugurar um pavilhão novo onde existe muita segurança. É um pavilhão tão seguro que acredito que não é qualquer arma que é capaz de destruir o pavilhão. Só para terem uma ideia, só na minha cela tem três câmaras e isto deixa-me sossegado.
Tem direito a jornais e informação?
- Tenho acesso a todos os jornais.
E a comida?
-Recebo comida de casa diariamente. A pessoa que traz a comida deve provar e os dois polícias que recebem devem também provar. Quando a comida chega até às minhas mãos outros três policiais provam-na diante de mim e só depois de uma hora é que como.
Você é um empresário, como é que as suas empresas estão agora a funcionar?
- Não tenho nenhuma empresa em Moçambique, tudo que tenho foi comprado nos anos 1995 a 96. Tenho gestores que cuidam de tudo como sempre cuidaram. Mesmo quando estava em liberdade era raro fazer-me ao trabalho, as coisas estão como estavam e vão continuar assim. Eu já estava numa fase de reforma, eram raras as ocasiões em que me dirigia ao escritório. A minha vida era calma e não mepreocupava muito com o trabalho.
O que motiva as suas desavenças com o Ministério Público?
- Eu nunca travei nenhuma guerra com o Ministério Público, conheço a Procuradora-Geral da República quando era apenas uma simples procuradora nos anos 96, 97. Apenas tentei dar o meu contributo para que eles não persigam inocentes.
E a procuradora Amélia Machava?
- Amélia Machava é uma procuradora que gosta de ser protagonista, aparecendo sempre em tudo. Eu não tenho nenhum problema com eles, eles sim têm problemas comigo, usam-me como bode expiatório para tudo o que lhes aprouver.
Parece que a Procuradoria tem tido algum desempenho louvável. Veja a detenção das pessoas ligadas às “dívidas ocultas” e alguns ex-ministros.
- Senhor jornalista, de que ano são estes processos? São de 2013 a 2015... Porquê só agora?
Mas porquê sempre o nome de Nini Satar aparece em tudo?
- Eu já disse que sou um bode expiatório. Há uma novela da Record que vai começar na Miramar, chamada “Topíssimaê” onde há um taxista inocente em que todos os crimes associavam a ele, é o mesmo que acontece comigo aqui.
E a sua página do Facebook os seus fãs que eram uma legião…
- Não podemos falar do Facebook. Não quero envergonhar os procuradores. Desta feita até me vão acusar de ter assassinado Samora Machel.
Acha justa a sua condenação a um ano de prisão?
- Pensava que o juiz me iria condenar menos que um ano. Mas foi o que deu. Contudo, eu acho que ele teve uma boa actuação, ilibou pessoas que eram inocentes. Provou que é diferente dos outros juízes que são marionetes do Ministério Público que só fazem copy and past da acusação do MP.
Comentários
Escreve um comentário...

Sem comentários: