Prince Eliezer Natha
Os estrondos têm chovido torrencialmente. O enredo, puro mistério, memórias hediondas. Estilhaços mortíferos, projécteis camuflados, granízo polvorizado, larva vulcânica cuspida entre canos de espingardas enferrujadas. Aqui não há regadios, canteiros, produção, comida. Aqui regam vidas, balas suicidas regam sonhos e embriões dormindo em ventres famintos, para o abismo. Esquartejam sonhos, exterminam desavergonhadamente almas e gente inocente, gentecídio. Desinteressadamente, tudo acontece demasiadamente longe da nação, do império, supõe-se, acredita-se, impõem-nos, fazem-nos crer, há infinitos quilómentros e milhas de distância forçosamente cósmica. Há séculos que os ouvidos da nação se enjoam dos nossos gemidos de dor, nossos gritos sonâmbulos, tremidos e apavorados, nossas vozes decapitadas. Há séculos que o olfacto das gentes da nação não se arrepia com o escarnecido cheiro do sangue derramado, sangue das gentes de cá. Sangue, qual púlpura em queda livre, jorando entre rochas acidentadas e milenares. Há décadas que Lágrimas diluvianamente choradas jazem, horrivelmente sepultadas. Coagularam-se num mar sepulcral subterrâneo. As almas aqui perseguidas não podem emigrar. Deste labirinto mortal não se conhecem quaisquer saidas, a extinção é certa. Vozes pedindo socorro murcham sem que ninguém as oiça. São decapitadas, anatomizadas aos tenros filetes, espectos humanos, oferecidos às churrasqueiras dos lobos e hienas. Não há espírito que escape, não há pescoço que se oponha à maciez contundente das catanas, não há palhota que se imunize ao queimar brutal das chamas endemonizadas, não há catedrais briosas e góticas cujo adro possa acolher almas procissionárias em refúgio, não há gás que salve as vozes decapitadas.
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