“Não gostei!”, disse o presidente do MPLA, João Lourenço, do pedestal da sua autoridade, talvez na euforia ou mal informado, aquando do encerramento do VII congresso do MPLA (16.06), que o consagrou como o “NSA” (Novo Senhor Absoluto) e “DDT” (Dono Disto Tudo).

Por William Tonet
De quê, senhor Presidente do MPLA, não gosta e quem o criticou, nessa qualidade? “De ouvir as críticas sobre a AGT!”. Bravo!
Sem citar o nome de quem havia feito a crítica, por sinal avisada, ela veio do interior de uma cidadã comprometida com o desenvolvimento económico e social, não só de Luanda, mas do país, Filomena Oliveira, como voz autorizada de uma das capitais económicas do sul; Huíla, mimoseada talvez (primeira observação), por não ser militante do MPLA.
E o que a empresária sulana disse está longe (na minha humilde opinião) de ofender qualquer mente plural e democrática, que não tenha conflito com vozes e opiniões de contrários ou contrárias.
“O cargo de Presidente da República é nobre e o seu titular, quando tem ciência de uma informação, deve, republicanamente, ouvir a outra parte, para aferir do que está em causa”.
No caso vertente, a forma como João Lourenço confundiu a função partidária, com a estatal, destapando os malefícios da promiscuidade entre estas, legitimando quem, como o Folhe 8, advoga a separação efectiva destas duas funções.
O cargo de Presidente da República é nobre e o seu titular, quando tem ciência de uma informação, deve, republicanamente, ouvir a outra parte, para aferir do que está em causa, no concreto, Filomena de Oliveira foi a voz de uma preocupação transversal a todos empresários, daí a legitimidade de uma constatação diária: “Os homens da AGT, são arrogantes!” ou “os quadros da AGT são teimosos e insensíveis, pois não atendem o clamor do empresário, como se de robot, programados aos números se tratassem”, estas criticas são diárias e na realidade, um facto de obstáculo ao normal funcionamento empresarial, pois impostos altos, provocam preços finais altos.
E fazer uma crítica ao desempenho de um organismo da Administração Central do Estado, não pode ser considerado crime de lesa pátria, pelo contrário, pois um alerta, sincero, sem falsidade, sem bajulação, por realista, deve ser encarado como contribuição válida e valiosa e tida em conta, exclusivamente, pelo Presidente da República e não do MPLA, no meio do seu conclave.
A democracia não se compadece com autoritarismo, absolutismo e aversão a critica, considerada como uma espécie de medida cautelar de alerta.
Quando a empresária Filomena Oliveira considera estar “a nossa economia Luandizada e, tudo tem de vir a, e de Luanda. O que acarreta não só avultados custo extras de viagens contínuas a Luanda dos empresários e dos restantes cidadãos”, não está a dizer, nenhuma heresia, pelo contrário. Tanto assim é que o líder do MPLA não deixou de andar nesta bitola, dos bancos irem ao interior com a mesma carteira de investimento, crédito e financiamento.
Mas recuando a visão de Filomena numa entrevista concedida ao jornalista Agostinho Chitata, em 2017 ela contrariava a tese dos cidadãos do Sul parecerem gente pobre: “Não somos pobres, estamos forçados a estar pobres por um conjunto de questões que dependem sobretudo da “Luandização” da economia.
A formulação de políticas sem consulta da sociedade civil, incluindo as Associações Empresariais locais, a participação das Universidades e a participação das várias regiões do país resultam em políticas desenquadradas da realidade social, cultural e económica; A falta de um estudo sobre o Empresariado Nacional (quem são, onde estão localizados, quais as áreas de intervenção, seus pontos fortes e fracos, suas necessidades etc.); As oportunidades atribuídas quase sempre em Luanda, (e quase sempre concentradas nas mesmas pessoas ou grupos de pessoas); O custo do crédito é exorbitante, burocrático e moroso que só é autorizado em Luanda; Os tribunais que não funcionam, as empresas ficam 3, 5 a 10 anos à espera de resolução de casos, apesar de a Lei 2/15 prever nos tribunais “Salas de Comércio e de Propriedade Intelectual e Industrial” não há nenhuma destas salas a funcionar em todo o país; O Código Tributário desajustado da nossa realidade e que usa e espera que as micro e pequenas empresas tenham exactamente os mesmos procedimentos, comportamentos e capacidades que uma grande empresa”.
Pensar livre e plural não pode ser crime
Ora este pensamento livre, plural e democrático de uma mulher frágil, na sua condição mas forte na opção e verticalidade, não pode ser menosprezado, por nenhum órgão ou Titular de Poder, pois ela infunde preocupação com o próximo, sensibilidade com os pobres e comprometimento com o desenvolvimento económico, gerador de emprego.
Eu, particularmente, sempre achei que Filomena de Oliveira, pela sua capacidade intelectual e visão do país real, poderia ter um bom desempenho como ministra de Estado da Economia e Finanças. Ela daria certo, pena, não ser de nenhum comité de especialidade, abominar a bajulação, elevar a competência e o sentido crítico.
Estes valores não conjugam com o actual status-quo, mais a mais por ela estar ligada a causas sociais, na região sul.
E é aqui que a porca torce o rabo. Se uma empresária, por criticar a AGT, visando a sua correcção e sensibilidade para com o estado actual de crise do país, que engole a capacidade dos empresários, vê a tribo partidocrata do poder, estimulada, pelo seu líder, a virar-se contra ela, urge perguntar o seguinte: Quem aconselhou e informou, eventualmente (se é que alguém o fez), mal o presidente do MPLA e, também, Titular do Poder Executivo, Presidente da República e Comandante-em-Chefe das FAA, a apontar os fuzis contra ela?
“O crime de Filomena é de ser branca, pertencente a uma minoria que não pode opinar?”
Para o bem e para o mal são importante as seguintes perguntas justificativas para tão violento ataque, que coloca esta mulher na mira das autoridades, principalmente das que fazem da bajulação e apoio à ditadura, uma forma de gestão da coisa pública:
a) Será que a critica do “não gostei” se deve ao facto dela ser mulher?
b) Será por ser branca, logo, pertencente a uma das minorias (tal como os Kamussequeles, excluídos da Constituição) e não ter o direito de criticar actos negativos?
c) Será por ser empresária do Sul, logo um ser inferior, em relação aos que se refastelam, diante das preocupações dos cidadãos pobres, nas poltronas dos cadeirões do poder em Luanda?
As respostas estão nas nuvens, sendo alvo de várias interpretações…
Eu, quero acreditar já ter o presidente do MPLA dado conta do embuste ao ter dado crédito a um assessor, que objectivamente o induziu em erro, colocando-lhe num comprometedor colete-de-forças, como se fosse um acérrimo defensor da ditadura, que fala em combate à corrupção e democracia, apenas como show-off.
Finalmente importa referir, que não conheço, pessoalmente, Filomena Oliveira, apenas tenho por ela admiração pela força e acutilância das ideias, acrescidas com a relevância do facto em tela, daí que me leve a encerrar com uma célebre citação do prémio Nobel da Literatura, José Saramago: “A vida, esta vida que inapelavelmente, pétala a pétala, vai desfolhando o tempo, parece, nestes meus dias, ter parado no bem-me-quer…”
Vamos todos, enquanto ainda é tempo, pensar Angola a partir da força dos contrários e não da força dos bajuladores, verdadeiro exército de caçadores das almas inocentes…
Na cruzada do bem, cerremos fileiras de coerência, coragem, amor, liberdade e democracia.