Erik Prince fecha parceria com ENH Logistics
Depois de suas ligações anunciadas com a Ematum, Proindicus e MAM, as três famigeradas da crise da chamada dívida oculta, o antigo "marine" americano Erik Prince, acaba de selar um acordo de parceria com a ENH Logistics, numa joint venture que vai prestar serviços de transporte aéreo e evacuação médica às operações de "oil and gás" em Cabo Delgado. A parceria envolve a ENH Logistics (ENHLs) e a Frontier Services Group (FSG), onde Prince tem acções e uma posição proeminente de gestão. A revelação desta joint venture foi avançada pela publicação parisiense Indian Ocean Newsletter na semana passada. Ontem, fontes relevantes da ENH e da ENHLs confirmaram a parceria. A ENHLs, que detém na joint venture 51% contra 49 do FSG, quer se beneficiar do know how de sua parceira na provisão de serviços de logística no sector extractivo.
A construção das plataformas de LNG em terra em Afungi, Palma, cujo inicio está previsto para 2020 (as decisões finais de investimento da Andardako e da Exxom serão tomadas no próximo ano) vai envolver a vinda de milhares de trabalhadores migrantes estrangeiros (expatriados no recorrente eufemismo). Ainda não está claro qual será o aeroporto principal de entrada em Moçambique desses trabalhadores. Equaciona-se o uso do elefante branco de Nacala. O negócio envolve o transporte desses trabalhadores do aeroporto internacional de chegada, de helicóptero, para Palma. E evacuação pontual em casos de emergência médica.
Para concretizar a joint venture, fonte da ENHLS garantiu que foi feita uma due dilligence para avaliar as credenciais da FSG. O facto de o grupo estar cotado na Bolsa de Valores de Hong Kong pesou para a aprovação da parceria. O FSG já opera há anos a partir do Kenya com uma extensa frota de helicópteros e avionetas, através de duas companhias de aviação adquiridas localmente, a Phoenix Aviation e a Kijipwa Aviation (a licença desta última não foi renovada em 2014 devido a problemas identificados na sua composição accionista). A robustez operacional do FSG foi também verificada.
Em Moçambique, e apesar desse due dilligence, logo que foi revelação de que Erik Prince era uma das caras mais visíveis do FSG causou algumas reticências entre os principais operadores das extractivas. O problema se prende mesmo com o passado algo nebuloso de Erik Prince, cuja entrada em Moçambique, fornecendo equipamento militar, teve o aval do Presidente Filipe Nyusi e do Ministro da Defesa Salvador Mtumuke. Recentemente, foram referidas na imprensa local ligações entre Prince e as três empresas criadas no quadro do endividamento de 2000 milhões de USD que levaram ao corte da ajuda ornamental a Moçambique.
Prince foi um oficial da força de elite americana SEAL. Fundou a controversa BlackWater, alegadamente inspirado no genocídio do Rwanda em 1994, ganhando sucessivamente contratos com o Departamento de Estado e com a CIA para proteger embaixadas e instalações americanas em zonas de conflito. Sua reputação tem também uma mancha de sangue em virtude de seus agentes terem aberto fogo em 2007 contra civis indefesos numa manif na Nisouri Square, em Bagdade, Iraque, matando 17 e ferindo 20 pessoas. No seu CV constam relações de trabalho com a Executive Outcomes, uma antiga firma de mercenários sul africanos que fornecia protecção a regimes ditatoriais africanos nos anos 90.
O FSG, detido maioritariamente pelo chinês CITIG Group, foi criado para prestar serviços de segurança, aviação e logística em África. Sua principal missão empresarial é ajudar empresas chinesas a trabalharem de forma segura no continente. A FSG opera ao longo das principais rotas de navegação e conduz igualmente evacuação de alto risco em zonas de conflito. Apesar de a FSG garantir que seus serviços nāo envolvem pessoal armado, críticos apontam que os trabalhos de Prince como chairman da FSG incluem tentativas de vender programas para-militares. A FSG chegou alías a terminar contratos com dois associados de Prince na companhia, cujo papel era, alegadamente, a de assistirem-no no fornecimento de serviços para-militares não autorizados. Nenhumas destas alegações pesou na decisão da ENHLs em avançar com a parceria.
Sem comentários:
Enviar um comentário