sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Credores querem 3% das receitas de gás

Os credores das chamadas dí­vidas ocultas querem ficar com 3% das futuras recei­tas de gás natural, em troca do aligeiramento das condições de pagamento dos títulos de dívida a Moçambique, escreve esta semana o Wall Street Journal (WSJ).
A proposta dos credores foi enviada esta semana ao Governo moçam­bicano, que estará a analisar o documento, de acordo com um artigo escrito por Matt Wirz do WSJ. Basicamente, o texto apresenta­do pelos detentores dos títulos de divida de Moçambique difere significativamente do programa de reestruturação da dívida que o executivo moçambicano apresentou em Março,
De acordo com o WSJ, a proposta das autoridades moçambicanas ge­raria perdas para os investidores dos títulos cujo crédito vence em 2034. O plano de reestruturação do gover­no moçambicano também não en­volvia as receitas de gás natural na equação da dívida.
Citando fonte próxima do proces­so, o WSJ refere que um grupo de credores que detém 60% dos 10,5% títulos que vencem em 2023 propôs a troca dos seus direitos por novos instrumentos com taxas de juro mais baixas c com prazo de amorti­zação mais longo.
O acordo, caso seja aceite pelo Governo moçambicano, dará aos detentores dos títulos novas garantias que serão pagas por 3% das futuras receitas de gás natural liquefeito. O documento prevê que o Gover­no não tenha de pagar 80% do valor previsto no acordo inicial até 2023. “A proposta oferece um alívio de liquidez financeira substancial até 2023, o que corresponde ao período em que esse alívio foi pedido”, expli­cou a fonte.
O grupo de credores inclui a Farallon Capital Management LLC, Franklin Templeton, Greylock Ca­pital Management LLC e Mangart Capital Advisors and Pharo Mana­gement.
Com o plano de restruturação apre­sentado pelos credores, Moçambique deixa de pagar quase mil milhões de dólares nos próximos cinco anos, o que corresponde a 80% do serviço da dívida até à maturidade dos títulos, em 2023.
A proposta dos credores mantém a exigência do pagamento total da divida pública emitida em 2016, e que resulta da reconversão dos títulos de dívida corporativa da Ematum em títulos de dívida soberana, mas alarga o prazo de pagamento e mais importante, vai ao encontro do pedido de Moçambique, que assegura não ter capacidade financeira para honrar os compromissos financeiros internacionais a curto prazo. No fundo, a proposta afasta o cenário de perdão de dívida, mas vai no sentido de alargamento do prazo de pagamento e uma recuperação, a partir de 2023, do alívio financeiro disponibilizado nestes próximos cinco anos.
"A recuperação será feita através de um instrumento financeiro ligado às receitas fiscais no sector do gás natural liquefeito, e o volume e os pra­zos dos pagamentos; dependerão dos montantes realmente recebidos em receitas fiscais”, refere a fonte.
Governo fica com 97% das receitas de gás
De todo o modo, o Governo ficará sempre com pelo menos 97% das receitas de gás natural liquefeito, ajudando assim o desenvolvimen­to económico do país, garantem os credores.
O documento "oferece um roteiro para Moçambique normalizar as relações com os mercados financei­ros internacionais e obter o financiamento de que o país precisa no futuro para garantir os objectivos de desenvolvimento económico e social".
No seguimento da descoberta de dois empréstimos contraídos por empresas públicas, no valor de cer­ca de 1,4 mil milhões de dólares, à margem das contas oficiais, a situação financeira de Moçambique degradou-se, ao mesmo tempo que os doadores internacionais cor­taram o apoio orçamental, o que coincidiu com a descida do preço das matérias-primas, e atirou o país para o incumprimento financeiro (“default”), que,  na práticaarredou o país de financiamento internacional.
As negociações para a reestrutura­ção da divida duram desde a pri­meira reunião oficial em Londres, em Março, e têm decorrido em vá­rios momentos desde então, nomeadamente, à margem das reuniões da Primavera do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial.
Moçambique poderá começar a arrecadar as receitas de gás em 2023, de acordo com um relatório preparado pelo Governo moçambicano e pelos seus conselheiros financeiros e legais Lazard e White & Case LLP.
As projecções apontam para pro­ventos de cerca de 174 biliões de dólares durante os próximos 30 anos, segundo a cópia do relatório, a que a WSJ teve acesso.
O Governo de Moçambique já tinha anunciado diversas vezes que se não houvesse acordo até final de Agosto ou Setembro não teria como efectuar pagamentos aos credores durante o próximo ano, já que ne­nhum valor iria ser inscrito no Or­çamento para 2018, cujo prazo de elaboração termina em Setembro. Moçambique está em incumpri­mento em relação aos encargos das dívidas ocultas desde Janeiro de 2017.
O Governo tem recorrido ao en­dividamento interno para financiar as suas despesas, desde a perda do apoio financeiro internacional em 2016.
SAVANA – 10.08.2018

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