sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Como fazer uma múmia. A receita dos egípcios é agora revelada


Exames feitos por ingleses e australianos a uma múmia permitiram a descoberta da antiga receita egípcia de embalsamamento e concluir que foi usada muito anos antes do que se pensava até aqui
É uma receita com mais de cinco mil anos, pelo menos, e foi agora revelada. Um conjunto de análises forenses realizadas numa múmia que data de 3700 a 3500 antes de Cristo revelou a receita do embalsamamento egípcio e confirmou que a técnica foi desenvolvida muito antes, e usada de forma muito mais ampla, do que se pensava até agora, que apontava para o ano 2600 AC.
Os resultados estão publicados no Journal of Archaeological Science e foi com exames a uma múmia que está no Museu Egípcio de Turim, Itália, que foi possível chegar a estas conclusões.
Stephen Buckley, arqueólogo da Universidade de York, Inglaterra, foi um dos coordenadores do estudo e disse à BBC que a múmia "literalmente incorpora o embalsamamento que esteve no coração da mumificação egípcia por 4000 anos". Buckley e a sua equipa elaboraram a "impressão digital" química de cada ingrediente. De acordo com o seu trabalho de investigação, a receita básica era constituída por um óleo vegetal (possivelmente óleo de gergelim), uma planta do tipo "bálsamo", uma goma à base de plantas (um açúcar natural que pode ter sido extraído da acácia) e resina de árvore conífera (provavelmente era resina de pinheiro). Quando misturada no óleo, a resina daria propriedades antibacterianas e protegia o corpo da decomposição.
"Até agora não tivemos uma múmia pré-histórica que realmente demonstrasse - de forma tão perfeita através da química - as origens do que se tornaria a mumificação icónica que nós hoje conhecemos", explicou Buckley a Victoria Gill, correspondente de ciência da BBC.

Começaram pelos têxteis

As pesquisas de Stephen Buckley começaram há vários anos, quando os elementos da sua equipa de arqueólogos extraíram e analisaram as substâncias químicas dos têxteis egípcios que eram usadas para envolver as múmias. Estes têxteis fazem parte de uma coleção egípcia no Museu de Bolton, no norte da Inglaterra.
Datando de cerca de 4000 anos antes de Cristo, estes tecidos são muito mais antigos do período em até agora se acreditava que o embalsamamento e a mumificação principiaram. "A mumificação em geral, supostamente, começou por volta de 2600 anos antes de Cristo, quando a Grande Pirâmide estava a ser construída", disse Buckley, convicto que as pesquisa permitem agora concluir "haver evidências de que a preservação do corpo começou mais cedo do que isso".
Com estes dados, os arqueólogos foram até à múmia pré-histórica na coleção do museu de Turim. Esta múmia nunca passou por nenhum tratamento de conservação e constituiu uma oportunidade única para estudar a química egípcia. Jana Jones, egiptólogo e especialista em práticas funerárias egípcias antigas da Universidade Macquarie, em Sydney, Austrália, explica que "o exame do corpo de Turim foi uma contribuição importante para o nosso conhecimento limitado do período pré-histórico e da expansão das práticas de mumificação precoce, bem como para a recolha de informações vitais e novas sobre essa múmia em particular".
"Combinando análise química com exame visual do corpo, investigações genéticas, datação por radiocarbono e análise microscópica dos revestimentos de linho, confirmamos que esse processo ritual de mumificação ocorreu por volta de 3600 antes de Cristo. Foi feito num homem que teria uma idade entre 20 e 30 anos quando morreu", acrescentou o especialista.
O facto de essa mesma receita ter sido usada quase 2000 anos depois para embalsamar os faraós, explica Stephen Buckley, significa que "há uma espécie de identidade pan-egípcia muito antes da formação do primeiro estado-nação do mundo em 3100 antes de Cristo. As suas origens são muito mais cedo do que pensávamos". Também revela uma visão de como e quando os antigos egípcios aperfeiçoaram uma receita antibacteriana de embalsamamento que protegia e preservava os mortos.
O embalsamamento era apenas um passo no processo de preservação de um corpo. Os principais passos da mumificação eram a remoção do cérebro e dos órgãos internos, a colocação do corpo num sal natural para ficar seco, o revestimento do corpo na receita de embalsamamento para matar bactérias, a envolvência do corpo em linho. "Foi a secagem e a receita de embalsamamento que foram fundamentais para a preservação", explica Buckley, para quem "a mumificação estava no coração da cultura egípcio". E conclui: "A vida após a morte era apenas uma continuação do desfrutar da vida. Mas eles precisavam que o corpo fosse preservado para que o espírito tivesse um lugar para residir."

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