quarta-feira, 22 de agosto de 2018

Comandante exonerado dos Comandos deixa o Exército

Comandante exonerado dos Comandos deixa o Exército

Coronel Pipa Amorim deixa esta quarta-feira o comando do Regimento, após saber na primeira semana de julho que fora substituído com data de 8 de maio.
Esta quarta-feira marca o último dia do coronel Pipa Amorim como comandante do Regimento de Comandos (RC), pois o seu sucessor assume quinta-feira essas funções, soube o DN.
Este é igualmente o último dia daquele militar ao serviço do Exército, onde entrou como soldado, pois passará imediatamente à reserva devido à forma como foi tratado nos últimos meses pelo chefe do Estado-Maior do ramo (CEME), general Rovisco Duarte, garantiram fontes militares próximas de Pipa Amorim.
Como o DN já noticiou, Rovisco Duarte afastou o comandante do RC através de um despacho enviado em julho para o quartel - do qual Pipa Amorim ficou a saber através de um telefonema, pois estava fora da unidade - e com data de 8 de maio.
O coronel comando Eduardo Pombo toma posse na quinta-feira. O DN não conseguiu confirmar se Pipa Amorim vai estar presente na cerimónia.
A polémica forma como Rovisco Duarte substituiu Pipa Amorim pelo coronel comando Eduardo Pombo continua viva, pois estão a ser organizadas ações de solidariedade - além de cartas enviadas ao Presidente da República - para com o comandante cessante do RC.
Acresce que essa foi mais uma das várias polémicas em que o CEME se viu envolvido pela forma como com outros casos e as decisões que tomou - onde, se reconheceu as responsabilidades do ramo em situações como a de Tancos sem a tradicional atribuição de culpas ao poder político, deixou os subordinados desprotegidos antes de haver quaisquer processos.
Um dos exemplos ocorreu após o furto nos paióis de Tancos, em que exonerou os cinco comandantes das unidades envolvidas sem qualquer acusação e invocando mesmo uma figura jurídica inexistente - caso que culminou com a demissão de dois generais da cúpula do ramo.
Outro foi o dos instrutores comandos envolvidos na morte de dois recrutas: demorou ano e meio a responder aos seus pedidos de apoio judiciário (um direito estatutário). Quando o fez, elencou regras que tornavam impossível a obtenção dessa ajuda por parte daqueles militares.

Mudança sem planeamento

Certo é que todo o processo em torno da exoneração de Pipa Amorim ameaça tornar muito difícil o mandato do novo comandante do RC, coronel comando Eduardo Pombo.
Este oficial exercia funções no Estado-Maior General das Forças Armadas e a demora de quase dois meses em assumir o novo cargo deveu-se à necessidade de, algo à pressa, passar as pastas que tinha na secretária e gozar férias antes de chegar ao quartel da Carregueira.
Segundo as fontes militares ouvidas pelo DN, deixar uma unidade operacional como o RC durante semanas sob o comando de um militar exonerado desde maio e sem que o sucessor tivesse preparado a transição indica que a decisão do CEME foi tomada sem preparação ou planeamento.
Esta perceção é reforçada pelo que vai suceder já em setembro, com Eduardo Pombo fora do regimento a tirar o curso de comandantes do Exército: começa um novo curso de comandos, iniciam-se os treinos de aprontamento da força a enviar no início de 2019 para a República Centro-Africana (RCA).
"Como é possível" deixar o RC sem comandante nessa altura a não ser devido a uma decisão aparentemente inopinada, interrogou-se um oficial superior.
Sendo habitual haver coronéis a tirar o curso de comandantes do ramo depois de já terem assumido essas funções, uma das fontes contrapôs ao DN que esses casos não envolvem unidades operacionais de primeira linha como o daquelas forças especiais.
Por fim, embora seja um caso exterior ao RC, Eduardo Pombo terá a dificuldade acrescida que resultará do efeito, no quotidiano da unidade, do julgamento dos 19 instrutores comandos que estão acusados da morte dos dois recrutas em setembro de 2016.
O forte espírito de corpo existente em forças como os Comandos dificilmente os conseguirá deixar imunes ao que transpirar do julgamento - além de que os últimos militares do RC a regressar da RCA fizeram questão de doar grande parte do seu subsídio de missão para os acusados poderem pagar as custas da sua defesa, garantiram fontes ligadas àquela unidade.
Por fim, Eduardo Pombo vai ser avaliado no final do ano, ao fim de três meses como comandante do RC. no âmbito da escolha dos coronéis que irão ao curso de promoção a oficial general. Se for aprovado, aquele regimento voltará a ter um novo comandante no outono de 2019.

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