quarta-feira, 22 de agosto de 2018

CISNES PRETOS

CISNES PRETOS
19/08/2018
Na memória de alguns o título evocará um palmípede de cor completamente branca. Se se perguntasse a algumas dessas pessoas se já viram ou esperam alguma vez ver um cisne preto, a resposta (expectável e segura) seria:“Não, nem pensar! Um cisne preto? Que eu saiba os cisnes são de cor branca!...” Alguns outros associarão o título a poesia, e dirão que sim, pois algumas vezes se designa poetas (geralmente os mais famosos) de cisnes, e há uns bons poetas negros. Existe também um filme com o mesmo título ’Cisne preto’.
Mas não é desse tipo de cisnes que eu falo neste post. Aquí estou no mundo da teoria de Nassim Nicholas Taleb (‘The Black Swan – The Impact of the Highly Improbable’, Pengjuin Books, 2007, London), que por CISNE PRETO se refere a um evento (um acontecimento!) com três características muito especiais: Primeiro, é um EVENTO RARO (de uma raridade fora do comum!). Segundo, é um evento de IMPACTO EXTRAORDINÁRIO (isto é, que muda fundamentalmente a vida de um indivíduo, organização, ou nação). Terceiro, depois (DEPOIS!) de ocorrer, a natureza humana tende a considerá-lo EXPLICÁVEL E PREVISÍVEL (isto é, EXPECTÁVEL, apesar da sua natureza fora do comum – isto é, apesar de se situar fora do âmbito das expectativas regulares). Esta última característica é de facto um exemplo do viés psicológico que induz indivíduos, organizações ou nações a não ver ou não querer ver a importância decisiva de determinado evento raro na sua vida.
Extrema raridade, impacto extremo, e previsibilidade retrospectiva (não prospectiva!) é de facto uma combinação muito difícil de se encontrar num único evento, simultaneamente. E é exatamente por isso que muitos dos eventos mais marcantes, significativos que mudam completamente a história das pessoas, organizações e nações tendem a ter a forma de Cisnes Pretos.
Durante a semana passada li e ouvi muitas opiniões acerca de um evento, opiniões essas que tendem a considerá-lo (na linguagem deste post) um Cisne Preto. Refiro-me à decisão de Samora Machel Jnr., membro da FRELIMO, de se submeter como candidato a Presidente ao Município de Maputo, por via de ser Cabeça de Lista de uma associação de cidadãos, fora portanto das estruturas da FRELIMO, após a sua pretensão de o fazer por via desse partido, a que pertence, ter sido gorada em resultado do que se diz ter sido uma interferência da direcção máxima daquele partido. Muitas destas opiniões enfatizam a primeira característica (extrema raridade) do devento. Outras até advogam o potencial de ele poder conter as sementes do que pode ser o início de uma mudança fundamental na vida do indivídui e da organização FRELIMO (segunda característica). A opinião do Teodato Hunguana (muito saudada neste espaço scial) ilustra a terceira característica do Cisne Preto, nomeadamente o facto de que DEPOIS de OCORRER a natureza humana tende a considerá-lo EXPLICÁVEL E PREVISÍVEL (isto é, EXPECTÁVEL). A outra faceta da terceira característica parece poder ser ilustrada pelo evento de Tete dessa organização, este fim-de-semana (17-19 de Agosto), durante o qual o viés psicológico (?) parece ter induzido certos indivíduos (e a organização) a não ver ou não querer ver a importância decisiva que aquela decisão do cidadão Samora Machel Jnr. que é seu membro pode vir a ter na sua (indivíduos) vida, bem como na da organização (Note-se no entanto que estamos somente no mundo das possibilidades, as quais até é difícil atribuir probabilidades especificas!)
Um dos grandes dilemas que os Cisnes Pretos colocam é que lidando com eles nunca se pode ser eficaz (no sentido de os prevenir ). Por exemplo, apesar de intelectualmente erudita, a opinião do Teodato Hunguana não deixou de ser INeficaz do ponto de vista prático, pois não veio a tempo de influenciar um curso de ação da organização FRELIMO que pudesse ter evitado o curso de ação tomado pelo Samora Machel Jrn. (o tal acontecimento com potencial de ser um Cisne Preto).
Mas será, o tal evento, um Cisne Preto? É que o júri ainda está por se pronunciar em relação a segunda característica: o impacto extraordinário na vida do indivíduo, da organização, ou mesmo da nação. Do que li e ouvi durante a semana, muito foi dito com mais ou menos certezas. Na minha opinião não vale a pena formular teorias e fazer previsões com base nelas sem se prestar atenção a robustez dessas teorias e dos erros das previsões baseadas nelas. No caso vertente, estamos a ter em conta a teoria (ou crença?) da “coesão interna”. Tanto na vida de uma organização, como de uma pessoa ou mesmo de uma nação, é preferível virar o focus para a robustez das teorias e aos erros de previsão a elas associados, em vez de uma concentração quase obsessiva em teorias de robustez questionável. Um dos méritos da opinião do Teodato Hunguana foi que ela mostra (com base em enquadramento jurídico e na teoria da democracia e direitos individuais) que a “coesão interna” e a “disciplina partidária” não é robusta e por isso previsões baseadas nela são sujeitas a altas margens de erro.
Comentários
Joao Ferrao Boa reflexão. Como estatístico fica difícil fazer previsão para Maputo nestas circunstâncias. Posição a dividir os votos e oposição a dividir votos. Parece que teremos vencedor com menos de 25 % de votos, ou seja teremos uma minoria a mandar na grande maioria.
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Joaquim Tesoura Gostei da conclusão. Aliás, o texto é daqueles em que passa uma mulher formosa e homem diz, o vestido dela é bonito.
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