quarta-feira, 8 de agosto de 2018

A explicação de Conceita

A explicação de Conceita
Por que a Educação vai optou pagar mais pela impressão dos exames extraordinários de 2018
Na semana passada, o anúncio de uma adjudicação de 4 milhões de Mts do Ministério da Educação e Desenvolvimento Humano (MINEDH) à Brithol Michcoma causou alarido. O valor suplantava em mais de metade a proposta financeira de uma firma concorrente, a Sisonke. A menção do facto nas redes sociais não abanou Conceita. Após a divulgação nesta plataforma, a Ministra recebia-me no seu gabinete no nono andar do edifício da 24 de Julho, na Polana. Assertiva, Conceita Sortane explicou o racional daquela adjudicação. O Ministério estava a fazer uma transição nos procedimentos relevantes: exames devem ser impressos cá dentro do país, por gráfica reputada e com a garantia de supervisão por inspectores do MINEDH. Tratava-se também de fazer a transição de "impressāo de copy shop" para impressão com altos padrões de segurança.
A Sisonke não gostou. A empresa tinha um "quase" acordo de exclusividade. Ela forneceu todos os exames finais e extraordinários nos últimos sete anos (no ano passado, sua factura para os "finais" ascendeu os 60 milhões de Mts) mas fez sempre suas impressões na África do Sul, em 4 gráficas diferentes. Técnicos do MINEDH acompanhavam o processo, mas nunca ficaram satisfeitos. Trabalhadoras sazonais era arregimentadas para o empacotamento, alegaram. O referido acordo, e um memorando como anexo, datado do consulado do ex-Ministro Zeferino Martins, nomeadamente desde 2011, enquadra uma relação entre a Sisonke e o Ministério nos termos do qual o MINEDH cedeu um antigo Parque de Viaturas na Avenida do Trabalho para a empresa montar lá uma gráfica, e produzir exclusivamente os exames. A gráfica só seria montada em 2016. Sāo três impressoras "made in China" para 10 mil cópias por hora e equipamento complementar. Nunca foram usadas, alegadamente porque o MINEDH nunca quis produzir os exames em Moçambique. Por isso, a Sisonke recorreu sempre a África do Sul.
Quando chegou ao MINEDH, há pouco menos de dois anos, Conceita Sortane procurou compreender a razão de se imprimir exames fora do país. Ela se deu conta duma coisa: as adjudicações por ajuste directo que o MINED dava a Sisonke nos referidos acordo e memorando já estavam a causar problemas com o Tribunal Administrativo (TA). Os contratos de adjudicação dos últimos dois anos não foram visados e o Ministério (na pessoa do Secretário Permanente) foi multado. Por regra, o ajuste directo nāo pode ser uma opção recorrente. Nas boas práticas de procurement, ele é uma excepçāo. Sortane avaliou o contrato com a Sisonke e notou que o documento, incluindo seu memorando, nāo estavam devidamente exarados. Contratos de fornecimento ao Estado tinham de receber um visto do TA e sua duração não devia exceder um ano. Ou seja, no entender do MINEDH, a exclusividade da Sisonke assentava em pés de barro.
Para o Ministério, havia margem para mudança e, sobretudo, para garantir o envolvimento, por concurso, doutros fornecedores. Mas uma das coisas que Sortane estabeleceu como meta era conseguir que os exames fossem feitos em Moçambique. Bastava haver garantia da qualidade. Tratava-se também de moçambicanizar o processo. O caderno de encargos para o concurso referente aos exames extraordinários da Décima Segunda Classe deste ano faz jus a esse desiderato. Os exames tinham de ser impressos cá, eliminando quaisquer riscos de segurança (na impressão em gráficas sul-africanas de segunda linha, que empregam moçambicanos nas suas operações; no empacotamento envolvendo sazonais; e no transporte para o país). Numa vasculha do mercado local, o MINEDH deu de caras com os trabalhos da Brithol Michcoma, que inaugurou há quase 6 anos uma gráfica de impressāo de segurança de alto padrão, empregando cerca de 100 trabalhadores moçambicanos e apenas um trabalhador estrangeiro ja naturalizado.
Ao invés de fazer um ajuste directo à Brithol, o Ministério convidou as duas empresas a submeterem suas propostas mas frisou que a impressão e empacotamento dos exames tinham de ser realizados em Moçambique. Apesar disso estar indicado como um dos critérios de peso na avaliação, a Sisonke voltou a propor realizar os trabalhos na África do Sul, apresentando um custo menor que o da Brithol. E foi chumbada. Mas, no fundo, o que pesou para a adjudicação foi a necessidade da realização dos exames cá dentro. E outra coisa: o elevado padrāo de segurança dos trabalhos da Brithol. No racional da tomada de decisão, os factores segurança, qualidade e acompanhamento de todo o processo por parte dos técnicos do MINEDH foram determinantes. Na verdade, os padrões da Brithol sāo imbatíveis. Ela é um verdadeiro case study de internacionalização de uma empresa moçambicana. Para além de produzir livros de cheques para todos os bancos locais, a Brithol faz os de 90% dos bancos angolanos e 75% dos bancos da Tanzania. Fornece também produtos com alto padrão de segurança para a Zâmbia e Cabo Verde e tem certificaçāo de 5 bancos centrais.
Depois do alarido que esta adjudicação causou, Conceita Sortane diz-se de consciência tranquila e alinhada com a necessidade de controlar directamente os processos de exames, na ausência de uma autoridade independente como acontece noutros países. Ela vai tentar chegar a um acordo amigável com a Sisonke, para se romper um contrato que, no entender dos técnicos do MINEDH, não tem força do lei. A Sisonke, por sua vez, espera continuar a ter acesso a contratos do Ministério para "recuperar o investimento feito". Mas é provável que, se a experiência com a Brithol sair bem, o MINEDH nunca se vai permitir contratar serviços de "copy shop" para gastar 60 milhões da reprodução de exames na RAS, como gastou em 2017.
Comentários
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Eva Trindade Interessante o facto dela ter se disponibizadi para falar e pelos argumentos que apresenta.
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Eva Trindade É bom ter-lhe de volta.
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Danilo Tiago Eva Trindade muitissimo bom Eva. E' um mural repleto de muitas licoes e ilacoes.
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Lucas Arnaldo Mazive Q haja bom trabalho
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Maria Paula Meneses Excelente Mosse. Um exemplo de jornalismo de investigação sobre questões importantes que afectam o pais! força
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Nordine Mussagy Mussagy Só espero que os tais exames, já impressos, não andem a ser negociados na "candonga"!
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Francey Zeúte Grande MM, Um verdadeiro 4x4 de um jornalismo investigativo de qualidade. A ministra abrir-se para explicar sobre este processo é um grande sinal de que o processo "pode" para além da explicação bem articulada ter sido gerido dentro dos paramentos, na legalidade. Agora, se cavarmos mais um pouco podemos ficar a saber quem está por trás dessa empresa que taxou 60 milhões anuais ao MINEDH. Parabéns!
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Dercio Nicolau Eu estou satisfeito com os argumentos aqui apresentados.
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Francey Zeúte Também estou Dercio Nicolau. Mas o que estou a dizer e a tentar levantar no meu comentário é simples, senão, bastante simples. 60 milhões anuais foi um valor que foi taxado e na mesma as questões de segurança nunca estiveram bem acauteladas, nos anos anteriores mas a factura sempre saiu pesada. É uma prática negativa e penalizava as contas do estado (todos nós).
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Francey Zeúte E veja quão foi reduzido. De 60 para 4 milhões anuais. O esquema era mesmo de uma QUADRILHA de fato e gravatas que nos andava a impingir a ideia de que estavam a trabalhar mas que na verdade estavam é a sacar tudo do cofre.
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Mário João Francisco Francisco todo meu interesse.
kakakaka
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Jasmin Rodrigues Como Mocambicanos temos um problema grave! Estamos a alimentar novos ricos na SA! Deveriam se responsabilizar os individuos a frente do processo de procurement que incentivam tais praticas negativas a Mocambique (empresas serias devem e podem investir ca!!!) sem contar empregos que estarao a criar!!! A justificacao de que na SA se faz melhor deve acabar pois ha condicoes para tb aqui se fazer melhor!!! 

Volto a dar o exemplo... a cerveja e feita ca e è considerada uma das melhores do mundo! 

Ainda bem que pra este caso A decisao correcta foi tomada! E preciso que hajam mais iniciativas destas!
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Nelio Raul Joao Eu, fiquei esclarecido com os argumentos do MINEDH....
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Buene Boaventura Paulo Marcelo Mosse, no pormenor de riscos aonde há mais riscos entre Moçambique e RSA? Um eventual moçambicano lá é sempre uma probabilidade menor que uns 100 em conflito de interesse na empresa nacional... O resto das justificações da Sra Ministra é mesmo o resto!
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Anselmo Titos Cachuada Porquê, em tempos de Tecnologias de Informação e Comunicação - TIC - não se opta mandar a cada escola, à mesma hr, o exame para ser impresso e policopiado à porta do exame? Quanto custaria isto? O problema é muitos ainda continuarem a fazer o Estado suas machambas!
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Jr Chauque Quanto custaria? São quantas escolas e quantas impressoras, tintas? Quantos técnicos de assistência e manutenção ? Quanto tempo? Quantas pessoas para fazer esse trabalho? Daria quanto?
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Adriano Biza Eh um passo para ficarmos esclarecidos, todavia falta contraditorio ou posicao de outras partes interessadas. Do jeito que estah, a posicao da Sortane parece uma verdade transcendental
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Cremildo Bahule ...minha venia, mestre.
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Mario Santos Fanheiro As sopas foram cortadas
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Jossias Ramos Gostei de saber. Muito obrigado pelo serviço que tens prestado a nós, nesta plataforma, mano Marcelo Mosse!
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Jr Chauque Parabéns MMarcelo Mosse quando o assunto é pertinente e nacional vais atrás dos envolvidos para saber a OUTRA parte, os meus parabéns, dá gosto de ler e repetir o que escreves,
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Moiane Telma da Gloria Ainda vamos a tempo de usarmos a razão e bons argumentos para valorizar o mede in Moçambique.
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Vasquinho King Valeu a moçambicanizaçao e tem os seus custos apesar do soneto ser maior que o dom
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Responder54 min
Pedro Manuel Parabéns MM. Minha ministra foi taxativa.

Esperemos que o projecto vá a frente. 


Afinal aquele que disse que o barato sai caro teve seus pontos.
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Dalio Wing Decisão acertada da Ministra e seu Ministério,segurança é uma obrigações da Brithol Michcoma,mesmo pela natureza do trabalho e responsabilidade impostos pela produção de Cheques para quase 90% dos bancos da SADC.👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽👏🏽

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