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Escrito por Adérito Caldeira em 22 Novembro 2016 |
“Grande parte dos doentes chegaram muito queimados, da cabeça até aos pés, outros inclusive na garganta por dentro, olhos queimados, tudo. Fizemos de tudo para continuar a salvar, estamos a continuar fazer esse trabalho mas infelizmente estamos a perder alguns”, declarou no sábado(19) Verónica de Deus, substituta da directora da maior unidade sanitária de Tete, disse à Rádio Moçambique referindo que sete doentes internados acabaram por não resistir aos ferimentos, entre eles quatro crianças e uma mulher grávida. Entretanto no domingo(20), Alex Bertil, médico no Hospital provincial de Tete, revelou que mais seis dos feridos que estavam em estado grave tinham perecido, elevando de 66 para 73 o número de vítimas mortais. A fonte referiu ainda que entre os 71 doentes que estão a receber cuidados médicos subiu de 22 para 30 os que estão em estado considerado muito grave. “Estas queimadura muitas vezes para fazer-se o tratamento é necessário fazer enxertos de pele, que é retirar a pele(boa) de um local do corpo para fazer enxerto nesse local queimado, mas uma boa parte dos pacientes que nós temos têm queimaduras de segundo grau profundo, têm queimaduras de terceiro grau de 90% do corpo o que significa que não têm pele de onde enxertar”, explicou a cirurgiã plástica Celma Issufo, em declarações à Televisão de Moçambique. Na manhã desta segunda-feira(21), Verónica de Deus actualizou para 80 o número de vítimas mortais embora “todos os cuidados estão a ser feitos para minimizar o número de óbitos”. De acordo com a fonte hospital estão internados 64 feridos porém agravou-se o estado de mais cinco, totalizando em 35 o número de pacientes em estado considerado muito grave. A substituta da directora do Hospital provincial de Tete revelou ainda que o tratamento dos sobreviventes deverá demorar muito tempo devido a natureza dos ferimentos, alguns pacientes poderão mesmo ficar internados um ano ou mais.
“Roubos não deixam de poder ser interpretados como formas de contorno de situações de assimetria sócio-económica”
A
Comissão de Inquérito criada pelo Conselho de Ministros ainda está a
trabalhar para determinar as causas da tragédia, entretanto foi possível
apurar que o camião-tanque com cerca de 80 mil litros de combustível
saiu da sua rota, partira do Porto da Beira em direcção ao vizinho
Malawi, mas alguns quilómetros depois do posto de travessia de Zóbuè
deixou a Estrada Nacional Número sete(EN7) e entrou numa picada e
imobilizou-se no local da explosão situado a cerca de 500 metros.A localidade de Caphiridzange é um local conhecido de venda ilegal de combustível por parte dos camiões que cruzam o corredor rodoviário todos os dias, havendo mesmo relatos da existência de um empresário da Região que possui tanques onde armazena o combustível transaccionado ilegalmente. O distrito de Moatize, onde aconteceu a tragédia, é conhecido como o símbolo de desenvolvimento da província de Tete, todavia a realidade é que as populações deste distrito apresentavam, de acordo com o Inquérito aos Orçamentos Familiares de 2014/15(elaborado pelo Instituto Nacional de Estatística), um dos mais baixos índices de rendimento médio da província. Uma análise do investigador do Observatório do Meio Rural(OMR), João Feijó, apurou que sendo de origem camponesa, uma boa parte desta população migrante detém baixas qualificações e experiência profissional, engrossando o sector informal dos centros urbanos de Tete e de Moatize. Esta situação fez emergir mercados socialmente segmentados, com poucas relações entre si, traduzindo-se na transacção de bens e de serviços qualitativamente diferenciados. Além disso, segundo o estudo, 86,9% da população da província de Tete continua a residir em espaços rurais e a ter a agricultura como principal actividade económica, este sector pouco beneficiou em termos de investimento aprovados pelo Governo, deixando grandes áreas geográficas privadas de projectos de desenvolvimento. “Ainda que constituam actos oportunistas que visam a obtenção de benefícios próprios, os roubos não deixam de poder ser interpretados como formas de contorno de situações de assimetria sócio-económica e de protesto contra o grande poder económico”, constatou o sociólogo João Feijó. |
terça-feira, 22 de novembro de 2016
Mulher grávida e crianças entre as 80 vítimas mortais da tragédia de Caphiridzange
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