Editorial
Caphiridzange
Tete, em particular, mas o país no seu todo estão ainda petrificados em razão dos resultados da explosão de um camião – cisterna em Caphiridzange, no interior do distrito de Moatize, província de Tete, localidade que saiu do anonimato pelas piores razões. É que morreram ali na última quinta-fira mais de setenta pessoas e cerca de uma centena contraiu queimaduras de diferentes graus, quando tentavam roubar combustível de um camião cisterna, imobilizado.
Ressalta neste triste enredo a necessidade de tomada de medidas sérias por parte dos camionistas, das empresas titulares dos camiões cisternas ou não e das autoridades que lidam com questões rodoviárias para a prevenção deste tipo de incidentes que só não se repete em mais locais por puro milagre.
Nas estradas moçambicanas, sobretudo nas zonas rurais, é comum ver “bombas de gasolina” improvisadas em cabanas um pouco por todo o lado nas bermas das nossas estradas. Geralmente, o combustível que ali se vende é furtado em camiões com a conivência dos camionistas que buscam soluções rápidas para o reforço do seu orçamento pessoal.
Em outras paragens, e em empresas onde a gestão dos activos é feita de forma profissional, os camiões de transporte de tão importantes mercadorias são vigiados de forma remota por sistemas de satélite. Esta forma de vigilância ajuda aos gestores a saber onde se encontra a viatura, a que velocidade circula, quanto tempo o automobilista levou estacionado para uma refeição ou repouso, enfim. Tudo isso é monitorado em tempo real.
Desta forma, as empresas reduzem, inclusive, o risco de furto do camião e da respectiva mercadoria e, por essa via, tornam quase impossível a ocorrência de incidentes como o que se deu em Caphiridzange.
Mas, também há que ponderar no rumo que estamos a tomar como sociedade, como moçambicanos. Para onde pretendemos seguir? O que queremos que nossos filhos aprendam se pais, mães, tios, avôs, vizinhos, sobrinhos e netos se unem para roubar? Sempre que uma viatura pára na estrada por problemas mecânicos ou por qualquer acidente se aproxima e se aglomera gente ávida de ficar com bens alheios. Pior quando forem camiões que transportam mercadorias.
Há poucas semanas tombaram camiões de açúcar na Matola e Moamba. No lugar de ajudar os camionistas a saírem das viaturas, assistimos a famílias inteiras preocupadas em roubar dezenas de quilos do produto. Dias depois tombou um outro camião com frangos, idem, pessoas saqueando o produto e correndo de um lado para outro. Quando camiões carregados de cerveja e/ou refrigerantes se despistam as cenas de pilhagem se repetem sem controle.
Contudo, em meio a tragédia, é de saudar a rápida reacção do Executivo moçambicano em relação à tragédia de Caphiridzange. Com efeito, o Governo disponibilizou meios humanos e materiais, sobretudo ambulâncias para a evacuação de todas as vítimas, ao mesmo tempo que mobilizou os apoios que se mostravam necessários para minimizar o sofrimento de quem precisava naquele primeiro instante de dor.
Mas como referimos, o espírito de roubo é tão presente em nós que até os bens das vítimas de um qualquer acidente de viação são surripiados. Roubam-se telemóveis, carteiras, dinheiro, calçado, entre outros. Socorrer que é bom, nicles. Há aqui algo que nos falta como sociedade. Estamos a dar provas de um alheamento confrangedor com o outro e pior ainda estamo-nos aproveitar da aflição, da dor, do luto e das carências afltivas dos nossos compatriotas para tirar proveito próprio, como se o outro nada tivessem a ver connosco.
Entendemos nós que esta forma de estar coloca o país doente, pois cada vez mais as pessoas se encerram num individualismo confrangedor, de querer tudo para si. Um país que não cultiva a solidariedade pode ser uma unidade jurídica e territorial, mas não foi ainda capaz de construir a sua unidade substancial, aquela unidade de que falava o salmista, “ é bom e agradável quando os irmãos habitam como se fossem um só”. Nós não estamos a ser assim. Não sentimos o infortúnio do outro como nosso, pelo contrário, queremos a partir desse infortúnio tirar dividendos. Cada qual se preocupa apenas consigo ou com os seus mais próximos, alheando-se completamente dos outros e das suas dores. Entre nós, moçambicanos, predomina ainda uma outra forma que não chega a ser relação e que, por isso, é muito mais grave: o estar-se nas tintas para os outros. Não há qualquer empatia com quem caiu na desgraça e precisa imediatamente de ajuda do próximo. Pelo contrário, o que chega primeiro, pega naquilo que considera mais valioso no carro da vítima.
Voltando à tragédia de Tete, referir que o camião saia do Porto da Beira em direcção a Malawi e terá sido desviado da sua rota, na estrada Nacional Número Sete (EN7), sendo conduzindo para o interior da localidade de Caphiridzange.
Para que conste, esta localidade fica a Norte de Moatize. É lugar pacato, onde pouco ou nada acontece. Com cabanas aqui e ali, bancas de pouca monta e… mais nada.
Na sequência do incidente, o Executivo moçambicano criou uma equipa de trabalho chefiada pela Ministra da Administração Estatal e Função Pública, Carmelita Namashulua, integra o Ministro dos Transportes e Comunicações, Carlos Mesquita, o vice-ministro da Saúde, Mouzinho Saíde, e o director do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades, Osvaldo Machatine.
Como referimos acima, as instâncias governamentais agiram com prontidão mediante tamanha tragédia provocada por mãos humanas e não ficaram em Maputo à espera de relatórios e rescaldos do trágico acontecimento. Foram lá ver in loco. Merecem a nossa palavra de apreço. Aos feridos e às famílias enlutadas a nossa solidariedade.
País perde anualmente 57 milhões de dólares
O país perde anualmente o equivalente a 57 milhões de dólares americanos devido a pesca ilegal e outras práticas nocivas, incluindo danos ambientais resultantes da ausência de uma fiscalização marítima efectiva ao longo dos cerca de 2800 quilómetros de linha de costa nacional e mais 200 milhas de largura.
Segundo Leonid Chimarizene, director de Operações do Ministério do Mar, Águas Interiores e Pescas (MIMAIP) a nossa costa é diferente da maior parte das costas dos países africanos e do resto do mundo, pois permite que se faça a acostagem em qualquer parte da baía. Ao contrário, nos outros países, a atracagem deve ser feita, obrigatoriamente, num porto.
“Isto significa que tínhamos que ter fiscais ao longo da costa. Este é um dos desafios que temos para o combate a pesca ilegal, mas estamos a trabalhar para superar este problema através dos Conselhos Comunitários de Pesca, que integra pescadores que estão devidamente organizados em associações. Nós, como responsáveis do sector, estamos a incluir a eles em acções de fiscalização”, disse Chimarizene.
A título de exemplo, o Conselho Comunitário de Pesca do Costa do Sol, na cidade de Maputo, tem que fazer uma auto-fiscalização de todos os pescadores daquela área que devem saber quantos estão licenciados e, assim, denunciar qualquer um que tenta pescar ilegalmente. “É uma fiscalização participativa”, refere.
Dados em nosso poder indicam que as autoridades do sector de pescas no país estão preocupadas com os barcos de recreio que afluem à nossa costa, maioritariamente vindos da África do Sul, os quais agravam o cenário de pesca ilegal.
Conforme nos foi referenciado, em muitos casos estas embarcações são utilizadas por pessoas mal-intencionadas que se aproveitam para ocultar actividades como a pesca ilegal, tráficos diversos e até o transporte de terroristas.
Por outro lado, reporta-se que há embarcações de recreio com grande autonomia que navegam para zonas proibidas, caçam e pesca fauna protegida, utilizam meios inapropriados, praticam contrabando, entre outras actividades proibidas transgredindo assim a legislação moçambicana.
Estes barcos também são apontados como transportadores passageiros clandestinos, materiais ilícitos, violadores das leis de navegação e de protecção contra a poluição, não respeitam os regulamentos alfandegários, não cumprem com as inspecções periódicas, entre outros.
Especialistas no assunto disseram à nossa Reportagem que outras formas de violação das águas nacionais podem ser causada por erros de navegação. Nestes casos, compete às autoridades moçambicanas verificar a boa-fé do comandante e prestar o necessário apoio.
“Em caso de má fé ou de desconfiança, cabe às autoridades proceder às operações alfandegárias e de policiamento, nomeadamente detecção de tráficos e operações de terrorismo”, referem as nossas fontes.
Aliás, actualmente todos os países são chamados a uma grande vigilância porque nenhum deles está em total segurança, pois, já se observa que começa a haver uma tendência para prejudicar os interesses dos países bem protegidos quando estes estão localizados noutros com poucos sistemas de defesa.
Para além de perder avultadas somas com as embarcações de recreio, o país também perde com os pescadores ilegais que invadem as águas nacionais com a intenção de delapidar os recursos existentes com destaque para camarão e peixe diverso. “Só pela falta de licença, pela exportação ilegal e falta de processamento o Estado Moçambicano perde, directamente, milhões de meticais”, disseram.
Outro cenário que concorre para o agravamento das perdas está relacionado com o facto dos pescadores ilegais recorrerem ao uso de métodos não recomendáveis e, em alguns casos, ao abandono de artes de pesca no mar, o que é bastante comum na pesca artesanal.
Para Leonid Chimarizene, isto acontece porque os artesanais não sinalizam as suas artes de pesca e muitas vezes navegam de manhã até o ponto onde vão exercer a sua actividade e deixam as redes no local e quando regressam, mais tarde, já não sabem onde deixaram.
“O mar não tem nenhum sinal. Se os pescadores não têm o GPS para identificar local onde deixou a sua rede aquela vai continuar a matar e a causar danos ao ambiente, o que vai contribuir para reduzir as espécies. Por isso, recomendamos que usem bóias, mas muitos usam bóias caseiras que podem desaparecer com as tempestades”, sublinhou.
APANHADOS
EM FLAGRANTE
A nossa equipa de Reportagem apurou que ao longo da costa moçambicana tem havido incursões de embarcações para fazer a pesca ilegal, muitos dos quais com a facilidade de processar o pescado a bordo.
A título de exemplo, no dia 30 de Setembro deste ano, uma missão regional de fiscalização detectou duas embarcações das Ilhas Comores que estavam a pescar ilegalmente na Zona Económica e Exclusiva de Moçambique.
Estas duas embarcações foram autuadas e receberam multas de cinco mil dólares cada, e está a decorrer um processo contra elas. Conforme apuramos, os pescadores que operavam aqueles barcos chegaram a Moçambique abordo de duas embarcações pequenas com dois motores com 20 a 40 cavalos cada.
Chimarizene referiu que aqueles pescadores navegaram por mais de sete horas e tinham tambores de combustíveis com capacidade para 210 litros para reabastecer durante o percurso. No momento em que foram surpreendidos tinham entre 300 e 400 quilogramas de pescado, respectivamente.
“Nestes casos, o pescado encontrado a bordo é confiscado e reverte a favor do Estado, para não beneficiar o infractor e, em último caso, devolvemos o pescado ao mar e confiscamos as artes usadas”, acentuou.
A fiscalização inclui também a verificação das quotas de pesca, o respeito das leis de higiene, leis do trabalho e de navegação. Como forma de escapar à fiscalização, os operadores das embarcações ilegais optam pelo transbordo de pescado para outros navios igualmente ilegais com a finalidade de reduzirem a quantidade de pescado permitida para o tipo de embarcação que usam.
“Estas transgressões prejudicam o equilíbrio ecológico da reprodução dos animais marítimos e, por consequência, as reservas locais e conduzem a prejuízos financeiros directos ou indirectos”, refere Chimarizene.
Por outro lado, a utilização de garrafas de mergulho para actividades de pesca, quer de recreio, quer profissional, é proibida. Mesmo assim, este tipo de pesca tem se praticado em zonas afastadas tais como a fronteira com a Tanzânia.
Apanhados em flagrante
Leonid Chimarizene disse ao nosso jornal que a nível da pesca artesanal os processos de multas aplicadas aos ilegais melhoraram significativamente, uma vez que na mesma hora em que os pescadores são encontrados em flagrante é aplicada a respectiva multa e as artes de pesca são confiscadas.
Mesmo assim, só este ano foram multados 32 pescadores ilegais, na pesca artesanal, no entanto aponta que este número reduziu se comparado com o ano passado como resultado do aperto nas medidas de fiscalização.
Enquanto isso, na pesca semi-industrial foram passadas oito multas para embarcações que não possuíam dispositivos de localização automática. Cinco destas embarcações multados em Maputo e as restantes três na Beira, província de Sofala.
domingoapurou que ainda este ano foram surpreendidas três embarcações ilegais de pesca de atum que prestaram falsas declarações sobre as quantidades capturadas, entre outros itens como o porte de licenças e local de captura.
“Aqui, ou estamos numa situação em que mentiram ou fizeram o transbordo sem autorização. As embarcações semi-industriais e industriais que entram até conseguimos monitorar, mas o nosso objectivo é ter a capacidade de saber as quantidades pescadas em Moçambique, por isso estamos a fazer a revisão dos acordos” afiançou Chimarizene.
Com vista a ultrapassar estes problemas, o MIMAIP pretende obrigar que as embarcações tenham câmaras de vigilância, tal como acontece nos outros países, de modo a ser possível visualizar o interior destas. Aliás, pretende-se que as câmaras sejam instaladas nos locais onde se faz a descarga e pesagem das capturas e em caso de obstrução será considerada uma infracção.
África perde milhões
por falta de barcos
A nível do continente africano cerca 80 por cento do comércio é feito através da via marítima, entretanto, os navios que fazem esses trabalhos são europeus, asiáticos, entre outros, o que faz com que se perca milhões dólares americanos no pagamento daqueles serviços.
Este quadro está a preocupar os países, principalmente os estados localizados ao longo da costa, incluindo Moçambique. Para reverter o cenário, durante a Cimeira da União Africana sobre a Segurança Marítima e Desenvolvimento de África, realizada recentemente em Togo, foi apresentada uma carta que, entre outros, incentiva a criação e desenvolvimento de empresas marítimas africanas.
Segundo apuramos a carta, que foi elaborada de acordo com as directivas internacionais, traz aspectos sobre como se pode ter o mar seguro e, uma vez assinada, vai ser depositada nas Nações Unidas.
Para além de ter o mar seguro dos actos de terrorismo, pirataria, roubos,tráfego e pesca ilegal,acarta prevê ainda que os estados devem garantir a protecção dos recursos marinhos e abre espaço para a exploração económica do mar, pois existem outras actividades que podem ser desenvolvidas para dinamizar a economia como é o caso da própria pesca e aquacultura, turismo marítimo, entre outros.
Por outro lado, pretende-se promover o acesso, pelos países africanos, aos serviços auxiliares de transporte, pois actualmente o que se tem verificado é que parte das divisas que deviam ficar no continente é direccionada para outros países.
“Queremos que haja embarcações africanas para que tudo o que for exportado para fora do continente seja por via destas, no lugar das europeias, asiáticas, entre outras estrangeiras, como tem acontecido actualmente”, concluiu Leonid Chimarizene.
Texto de Angelina Mahumane
angelina.mahumane@snoticias.co.mz
angelina.mahumane@snoticias.co.mz
SECTOR BANCÁRIO:
O Primeiro-ministro , Carlos Agostinho do Rosário, afirmou na passada quinta-feira, num debate havido na Assembleia da República (AR), que o caso do “Nosso Banco” é uma situação particular que não pode ser generalizada e afugentar os depositantes tendo em conta que o sistema bancário do país continua a ser o local seguro para guardar dinheiro.
O Primeiro-ministro, que falava a uma solicitação da Bancada parlamentar da Renamo, disse que os bancos comerciais devem continuar a desempenhar a sua função de garantir a ligação entre os que fazem poupança e os que têm necessidade de recursos para investir.
Adiante acrescentou que, as questões que se têm levantado em torno deste assunto levam a reflectir sobre a necessidade de se aprimorar continuamente os mecanismos de partilha regular de informação sobre a saúde do sistema financeiro para permitir que o sector privado e a sociedade em geral possam tomar decisões económicas devidamente fundamentadas.
Precisamos também efectuar reformas da legislação do sistema financeiro com vista a garantir maior protecção dos depositantes, tanto singulares como empresariais, em caso de dificuldades financeiras das instituições de crédito, afirmou o Primeiro-ministro.
Dados em nosso poder dão conta que na sequência da revogação da licença do Nossa Banco, foram tomadas medidas para, nas diversas fases do processo de liquidação, proteger os interesses dos seus depositantes e credores.
A primeira medida tomada foi a de activar o Fundo de Garantia de Depósitos para assegurar os reembolsos dos depositantes singulares, criado pelo Decreto nº.49/2010, de 11 de Novembro e constituído por recursos provenientes do Estado e das instituições de crédito.
O legislador ao prever isso, fê-lo em reconhecimento de que nem todos os moçambicanos têm acesso à informação sobre a saúde financeira dos bancos, o que lhes permitiria escolher a instituição bancária, com vista a minimizar os riscos associados.
Segundo o PM, nos termos da legislação vigente, a finalidade deste Fundo é o de mitigar as perdas dos depositantes singulares cujos depósitos estão expressos em moeda nacional, numa situação em que se verifique falência ou retirada da licença de um determinado banco.
Tendo em conta os recursos limitados do Nosso Banco estabeleceu-se o limite de reembolso de 20 mil meticais para cobrir o maior número de depositantes singulares em caso de falência de um determinado banco.
O limite de 20 mil meticais fixado para cada depositante poderá ser aumentado em função dos resultados da avaliação do processo de reembolso em curso e dos recursos disponíveis no Fundo de Garantia de Depósitos, afirmou o Primeiro-ministro.
No entanto, os depositantes que não forem contemplados nesta primeira fase, serão considerados no processo de apuramento da massa falida do Nossa Banco, o qual consistirá nas cobranças de todos os clientes que contraíram crédito no Nosso Banco e Venda do património móvel e imóvel.
Para o efeito, foi criada uma Comissão Liquidatária e espera-se que os valores a serem apurados na massa falida venham a cobrir os reembolsos aos depositantes do sector empresarial e os singulares cujos saldos não tenham sido pagos na totalidade pelo Fundo de Garantia de Depósitos.
Esperamos que esta Comissão trabalhe de forma célere e preste informações regulares que permitam as partes interessadas acompanhar o processo de liquidação.
De referir que, a estrutura accionista do Nosso Banco é constituída pelo Instituto Nacional de Segurança Social (INSS) com 77 por cento, seguida da Empresa Electricidade de Moçambique (EDM) com cerca de 15 por cento, a SPI com 4 por cento, Kalisa com pouco mais de dois por cento e os restantes somam 1,44 por cento.
INSS ESPERA RECUPERAR RECURSOS
O INSS aderiu ao extinto Nosso Banco, segundo a ministra do Trabalho, Emprego e Segurança Social, Vitória Diogo, em 2001 com um investimento no valor de sete milhões setecentos e quarenta e cinco mil meticais, representando vinte e cinco por cento do capital social do banco.
Desde a sua entrada naquela instituição, de acordo com a governante, participou nos aumentos do capital, tendo em 2006 investido cento e trinta e um milhões trezentos mil meticais, passando a deter 66.3% de acções, ou seja, para além de suprir a sua parcela no aumento de capital, cobriu também as parcelas de outros accionistas.
Em 2014, o INSS voltou a desembolsar trezentos e treze milhões quinhentos e sessenta e um mil meticais para o aumento de capital e aquisição de mais acções passando a deter 77.20 % das acções do Banco.
A Ministra disse que de 2001 até 2016 o INSS não recebeu quaisquer dividendos do extinto Nosso Banco, sendo que para evitar este tipo de situações a política estratégia de investimentos, em vigor desde 2015, orienta para a redução da exposição do INSS nas sociedades participadas com fraca ou sem rentabilidade.
No seguimento desta estratégia o INSS adoptou a abordagem de reduzir a sua exposição no extinto Nosso Banco, sobretudo, pelo facto de não apresentar retornos, para além de se ter constatado que a gestão bancária não é mandato nem principal vocação do INSS. Assim sendo Conselho de Administração do INSS comunicou ao BM, no passado dia 28 de Outubro, a decisão de reduzir a sua participação, disse.
Num outro momento avançou quecom a revogação da licença do exercício de actividade pelo Banco de Moçambique é expectativa do INSS como accionista e depositante que os liquidatários daquela instituição bancária assegurem a recuperação dos recursos aplicados.
Refira-se que o INSS tem inscrito no seu sistema cerca de 80 mil empresas, abrangendo aproximadamente um milhão e quatrocentos mil trabalhadores. Conta ainda com cerca de 50 mil pensionistas, sem considerar os subsídios pagos aos trabalhadores no activo e perto de sete mil e oitocentos trabalhadores inscritos por conta própria.
Texto de Maria de Lurdes Cossa
malu.cossa@sn.co.mz
malu.cossa@sn.co.mz
MINISTÉRIO DA DEFESA NACIONAL: Devemos ser um Estado com sentido de existência
Presidente da República e Comandante-chefe das FDS, Filipe Nyusi, disse semana que o mundo tornou-se num lugar inseguro e chamou atenção para a necessidade de mais investigação e pesquisa na área da defesa e segurança, visto que as guerras convencionais estão a ser substituídas por novos actores com novos interesses, que antes não eram tidos em conta.
O estadista citou como
exemplos as empresas de comercialização
de bens materiais
e imateriais, as organizações
não-governamentais, dentre outras,
que considerou áreas para
as quais antes o Exército não
era chamado, mas que é preciso
que esteja atento para o novo
cenário e actue proactivamente
e não de forma reactiva.
Outras ameaças apontadas
pelo Presidente da República
Nyusi são as ecológicas, a exclusão
social, a presença de estados
falidos e ridicularizados que
podem ameaçar a qualquer um.
“Queremos que Mocambique
seja um Estado com
sentido de existência” – ajuntou
Nyusi, para depois concluir
que tudo isto nos leva a estudar,
analisar e debater o ordenamento
do mundo.
Filipe Nyusi falava no decurso
do 17.º Conselho Coordenador
do Ministério da Defesa
Nacional, que terminou hoje,
nas instalações do Instituto Superior
de Estudos da Defesa, no
município de Maputo, que teve
como tema central o aprimoramento
da estratégia para a
consolidação da paz, segurança
e integridade territorial.
Durante a cerimónia de
abertura foram apresentados
e homenageados alguns heróis
contemporâneos, nomeadamente
o homem que abateu um
drone de guerra sul-africano
e o comandante que dirigiu a
força do Exército moçambicano
que interveio no Zimbabwe, na
sequência dos ataques de Ian
Smith. Trata-se de Boavida José
Muiambo e Matias Upende, respectivamente.
Na ocasião, Atanásio
M’tumuke, ministro da Defesa
Nacional, disse que os quadros
da Defesa passaram em revista
o grau de realização das recomendações
do 16.º Conselho
Coordenador e traçaram perspectivas,
desta vez, com ênfase
para a questão da estratégia
para a paz, segurança e integridade
territorial.
A este respeito, o Presidente
Nyusi chamou atenção aos participantes
para que encontrem
estratégias apropriadas para
defender a integridade territorial
na sua total dimensão: terra,
ar e mar.
MILITARES DEVEM
PRODUZIR COMIDA
“As Forças Armadas devem
ser exemplares no cumprimento
da aposta do país
na produção de comida, como
parte integrante da sua capacidade
de actuar nos desafios
de cada momento” – disse Filipe
Nyusi.
O Chefe de Estado enquadrou
a sua mais recente aposta
na produção da comida, indicando
que todos os distritos
têm condições para produzir
pelo menos aves, hortícolas e
cereais, devendo-se especializar
noutros produtos.
Para Nyusi, as forças armadas
não devem ficar alheias a
este processo, devendo cada
unidade produzir.
“No próximo Conselho
Coordenador do Ministério
da Defesa Nacional quero ouvir
relatório da produção de
comida de cada unidade militar”
– determinou o Comandante-
chefe.
Num outro desenvolvimento,
Filipe Nyusi recordou a aposta
trazida por aquele ministério
quando do seu 16.º Conselho
Coordenador, em que colocava
como sua aposta tornar o homem
o centro das prioridades,
algo que foi corporizado por acções
de formação dentro e fora
do país, bem como pelo recrutamento,
treino e formação do
Serviço Cívico.
exemplos as empresas de comercialização
de bens materiais
e imateriais, as organizações
não-governamentais, dentre outras,
que considerou áreas para
as quais antes o Exército não
era chamado, mas que é preciso
que esteja atento para o novo
cenário e actue proactivamente
e não de forma reactiva.
Outras ameaças apontadas
pelo Presidente da República
Nyusi são as ecológicas, a exclusão
social, a presença de estados
falidos e ridicularizados que
podem ameaçar a qualquer um.
“Queremos que Mocambique
seja um Estado com
sentido de existência” – ajuntou
Nyusi, para depois concluir
que tudo isto nos leva a estudar,
analisar e debater o ordenamento
do mundo.
Filipe Nyusi falava no decurso
do 17.º Conselho Coordenador
do Ministério da Defesa
Nacional, que terminou hoje,
nas instalações do Instituto Superior
de Estudos da Defesa, no
município de Maputo, que teve
como tema central o aprimoramento
da estratégia para a
consolidação da paz, segurança
e integridade territorial.
Durante a cerimónia de
abertura foram apresentados
e homenageados alguns heróis
contemporâneos, nomeadamente
o homem que abateu um
drone de guerra sul-africano
e o comandante que dirigiu a
força do Exército moçambicano
que interveio no Zimbabwe, na
sequência dos ataques de Ian
Smith. Trata-se de Boavida José
Muiambo e Matias Upende, respectivamente.
Na ocasião, Atanásio
M’tumuke, ministro da Defesa
Nacional, disse que os quadros
da Defesa passaram em revista
o grau de realização das recomendações
do 16.º Conselho
Coordenador e traçaram perspectivas,
desta vez, com ênfase
para a questão da estratégia
para a paz, segurança e integridade
territorial.
A este respeito, o Presidente
Nyusi chamou atenção aos participantes
para que encontrem
estratégias apropriadas para
defender a integridade territorial
na sua total dimensão: terra,
ar e mar.
MILITARES DEVEM
PRODUZIR COMIDA
“As Forças Armadas devem
ser exemplares no cumprimento
da aposta do país
na produção de comida, como
parte integrante da sua capacidade
de actuar nos desafios
de cada momento” – disse Filipe
Nyusi.
O Chefe de Estado enquadrou
a sua mais recente aposta
na produção da comida, indicando
que todos os distritos
têm condições para produzir
pelo menos aves, hortícolas e
cereais, devendo-se especializar
noutros produtos.
Para Nyusi, as forças armadas
não devem ficar alheias a
este processo, devendo cada
unidade produzir.
“No próximo Conselho
Coordenador do Ministério
da Defesa Nacional quero ouvir
relatório da produção de
comida de cada unidade militar”
– determinou o Comandante-
chefe.
Num outro desenvolvimento,
Filipe Nyusi recordou a aposta
trazida por aquele ministério
quando do seu 16.º Conselho
Coordenador, em que colocava
como sua aposta tornar o homem
o centro das prioridades,
algo que foi corporizado por acções
de formação dentro e fora
do país, bem como pelo recrutamento,
treino e formação do
Serviço Cívico.
Francisco Alar
falar@snoticias.co.mz
falar@snoticias.co.mz
Religiosos intensificam combate ao HIV-Sida
Comemora-se a 1 de Dezembro o Dia Mundial de Combate à Sida, num momento em que a sociedade moçambicana vem envidando esforços para travar os índices de prevalência. Com efeito, líderes religiosos de diferentes congregações religiosas pretendem, por sua vez, usar a sua autoridade moral para maior intervenção na prevenção e combate ao HIV-Sida no país.
Este sentimento foi exposto
recentemente
em Maputo aquando
da cerimónia de lançamento
do Manual de
Metodologia Save, um instrumento
didáctico para o reforço
dos programas de prevenção
do HIV-Sida, um evento levado
a cabo pela Rede Moçambicana
de Líderes Religiosos vivendo
com ou afectados por HIV-Sida
(MONERELA).
Para além do lançamento do
manual, o evento, que contou
com a presença de várias congregações
religiosas, visava a
interacção e debate em torno
de estratégias para maior intervenção
dos diferentes líderes
religiosos nesta luta, pois “às
lideranças religiosas é reconhecida
a autoridade moral e
a capacidade de mobilização
através da transmissão de
mensagens didácticas”, disse
o coordenador do movimento,
Jeremias Langa Júnior.
Interagindo com os presentes,
o coordenador do Movimento
religioso acrescentou
que a confiança que a comunidade
religiosa tem para com
as entidades religiosas faz com
que eles sejam o alvo preferencial
para esta iniciativa. “Quando
falamos da Igreja não nos
referimos aos edifícios, mas
sim às pessoas. Por isso
qualquer mudança não poderia
acontecer sem envolver
indivíduos”, disse.
Entretanto, lamentou o facto
de o factor financeiro continuar
a ser um dos obstáculos
que enfrentam na realização
destas actividades, quando se
pretende desenvolver diferentes
acções de activismo.
No encontro, os líderes religiosos
mostraram a sua preocupação
com a classe adolescente
e jovem. “Outro dia, fui
abordada por duas jovens
que me falaram do seu estado
serológico e pediam que
as aconselhasse, pois tinham
muitos receios de contar
aos familiares. Aconselhei-
-as, mas depois tivemos de
criar um encontro com os
pais, pois não era admissível
esconder isso deles”, disse
uma das líderes religiosas presentes.
Ao longo das intervenções,
César Mufaniquiço, activista do
Movimento Para o Acesso ao
Tratamento em Moçambique
(MATRAM), fez referência à génese
do acesso universal ao tratamento
no país, isto é, acesso
de todos os grupos sociais e
sexuais no país. Mais adiante,
lamentou o facto de o serviço
de tratamento domiciliário
ter sido extinto. “Hoje alguns
grupos de apoio e adesão
comunitária (GAACS) trabalham
nas unidades sanitárias
e já não fazem o atendimento
domiciliário, um serviço que
fazia toda a diferença”, salientou
o activista.
Ainda no âmbito do activismo
na área do HIV-Sida,
domingo conversou com diferentes
líderes religiosos que
deixaram ficar o seu sentimento
em relação a esta matéria.
recentemente
em Maputo aquando
da cerimónia de lançamento
do Manual de
Metodologia Save, um instrumento
didáctico para o reforço
dos programas de prevenção
do HIV-Sida, um evento levado
a cabo pela Rede Moçambicana
de Líderes Religiosos vivendo
com ou afectados por HIV-Sida
(MONERELA).
Para além do lançamento do
manual, o evento, que contou
com a presença de várias congregações
religiosas, visava a
interacção e debate em torno
de estratégias para maior intervenção
dos diferentes líderes
religiosos nesta luta, pois “às
lideranças religiosas é reconhecida
a autoridade moral e
a capacidade de mobilização
através da transmissão de
mensagens didácticas”, disse
o coordenador do movimento,
Jeremias Langa Júnior.
Interagindo com os presentes,
o coordenador do Movimento
religioso acrescentou
que a confiança que a comunidade
religiosa tem para com
as entidades religiosas faz com
que eles sejam o alvo preferencial
para esta iniciativa. “Quando
falamos da Igreja não nos
referimos aos edifícios, mas
sim às pessoas. Por isso
qualquer mudança não poderia
acontecer sem envolver
indivíduos”, disse.
Entretanto, lamentou o facto
de o factor financeiro continuar
a ser um dos obstáculos
que enfrentam na realização
destas actividades, quando se
pretende desenvolver diferentes
acções de activismo.
No encontro, os líderes religiosos
mostraram a sua preocupação
com a classe adolescente
e jovem. “Outro dia, fui
abordada por duas jovens
que me falaram do seu estado
serológico e pediam que
as aconselhasse, pois tinham
muitos receios de contar
aos familiares. Aconselhei-
-as, mas depois tivemos de
criar um encontro com os
pais, pois não era admissível
esconder isso deles”, disse
uma das líderes religiosas presentes.
Ao longo das intervenções,
César Mufaniquiço, activista do
Movimento Para o Acesso ao
Tratamento em Moçambique
(MATRAM), fez referência à génese
do acesso universal ao tratamento
no país, isto é, acesso
de todos os grupos sociais e
sexuais no país. Mais adiante,
lamentou o facto de o serviço
de tratamento domiciliário
ter sido extinto. “Hoje alguns
grupos de apoio e adesão
comunitária (GAACS) trabalham
nas unidades sanitárias
e já não fazem o atendimento
domiciliário, um serviço que
fazia toda a diferença”, salientou
o activista.
Ainda no âmbito do activismo
na área do HIV-Sida,
domingo conversou com diferentes
líderes religiosos que
deixaram ficar o seu sentimento
em relação a esta matéria.
Apoiamos 12 crentes
vivendo com o HIV
vivendo com o HIV
– Débora Mabunda, Igreja Zione Trono de David
Débora Mabunda referiu que a sua congregação já está
há alguns anos a realizar acções de activismo na luta contra
esta pandemia.
“Temos neste momento 12 crentes vivendo com o
vírus do HIV e apoiamo-los materialmente com produtos
alimentares”, explicou. Revelou ainda que para além
do apoio material aos crentes vivendo positivamente, a igreja
tem realizado acções de sensibilização. “Também reservamos
trinta minutos das nossas missas para falar do
HIV-Sida e da importância de se fazer o teste”, contou
a pastora, que mais adiante acrescentou que quando algum
crente tem uma preocupação pontual que queira partilhar
em particular é encaminhado ao aconselhamento.
há alguns anos a realizar acções de activismo na luta contra
esta pandemia.
“Temos neste momento 12 crentes vivendo com o
vírus do HIV e apoiamo-los materialmente com produtos
alimentares”, explicou. Revelou ainda que para além
do apoio material aos crentes vivendo positivamente, a igreja
tem realizado acções de sensibilização. “Também reservamos
trinta minutos das nossas missas para falar do
HIV-Sida e da importância de se fazer o teste”, contou
a pastora, que mais adiante acrescentou que quando algum
crente tem uma preocupação pontual que queira partilhar
em particular é encaminhado ao aconselhamento.
Divulgar a
abstinência sexual
até ao matrimónio
abstinência sexual
até ao matrimónio
– Pérola Manhique, Igreja do Nazareno
Para Pérola Manhique, líder religiosa da Igreja do Nazareno,
a lei de Deus é contra a prática sexual fora do casamento.
Entretanto, este princípio divino deve ser protegido.
“O papel da igreja é de disseminar esta pandemia.
Contudo, quando lemos a bíblia vemos que Deus não
concorda com isto porque a prática do sexo fora do
casamento ou antes do pré-nupcial é contra os princípios
de Deus. Daí que devemos divulgar a abstinência
para que seja quebrada somente no matrimónio”, disse
Pérola Manhique.
a lei de Deus é contra a prática sexual fora do casamento.
Entretanto, este princípio divino deve ser protegido.
“O papel da igreja é de disseminar esta pandemia.
Contudo, quando lemos a bíblia vemos que Deus não
concorda com isto porque a prática do sexo fora do
casamento ou antes do pré-nupcial é contra os princípios
de Deus. Daí que devemos divulgar a abstinência
para que seja quebrada somente no matrimónio”, disse
Pérola Manhique.
Devemos implementar
o que aprendemos
o que aprendemos
– Reverendo Jonas Lote, da Igreja do Nazareno
Para o Reverendo Jonas Lote, o mais importante é ver
materializados todos os ensinamentos absorvidos nas formações
transmitindo-os não só nas igrejas como também
nos meios sociais. “Muitas vezes participamos em seminários
onde nos são transmitidos conhecimentos, mas
saídos de lá não chegamos a implementá-los. Devemos
ser activistas não só na igreja, mas também em casa e
nas nossas comunidades”, sublinhou.
Jonas Lote manifestou igualmente o desejo de um dia
ver todas as instituições religiosas envolvidas na luta contra
este mal, pois nem todas realizam acções de activismo
nesta área.
materializados todos os ensinamentos absorvidos nas formações
transmitindo-os não só nas igrejas como também
nos meios sociais. “Muitas vezes participamos em seminários
onde nos são transmitidos conhecimentos, mas
saídos de lá não chegamos a implementá-los. Devemos
ser activistas não só na igreja, mas também em casa e
nas nossas comunidades”, sublinhou.
Jonas Lote manifestou igualmente o desejo de um dia
ver todas as instituições religiosas envolvidas na luta contra
este mal, pois nem todas realizam acções de activismo
nesta área.
Texto de Luísa Jorge
luisa.jorge@snoticicas.co.mz
luisa.jorge@snoticicas.co.mz
ENTREVISTA: Kupela quer agenda nacional apartidária
Amour Zacarias Kupela, o primeiro secretário-geral da Organização da Juventude Moçambicana (OJM), entrevistado pelo domingo, por ocasião da passagem do 39.º aniversário desta agremiação juvenil, que se assinala próxima terça-feira, dia 29 de Novembro, deixou verter inúmeras ideias, uma das quais diz respeito à falta de um projecto de Nação que guie a todos os moçambicanos, independentemente da sua inclinação político-partidária.
Zacarias Kupela entende que tal projecto seria uma espécie de bíblia e visão de desenvolvimento a longo prazo, que teria como base a unidade nacional, paz, patriotismo, entre outros valores colectivos e resultaria duma discussão geral, posteriormente sufragado por todos os moçambicanos, em sinal de compromisso comum, independentemente da sua filiação partidária.
Pode esmiuçar a sua proposta?
Seria um programa a longo prazo, um mínimo de 50 anos, no qual os moçambicanos desfilariam a sua visão de desenvolvimento durante esse período e seria referendado, em sinal de comprometimento colectivo. Depois de aprovado por todos, os diferentes grupos, as associações, incluindo partidos, sujeitar-se-ia às linhas-mestras desse grande programa, uma espécie de um plano prospectivo e indicativo.
Por exemplo, imaginemos que na visão estivesse dito que até determinado prazo o país deveria ter uma linha-férrea que o ligasse de Maputo ao Rovuma ou vice-versa, que deveríamos acabar com a malária, que eliminaríamos o analfabetismo, entre outros males que entravam o nosso desenvolvimento, os diferentes partidos políticos seriam eleitos em função das respectivas matrizes para o cumprimento desses objectivos.
Por outras palavras, os partidos seriam eleitos com base nas suas propostas para o cumprimento dessa visão nacional. Não seriam eleitos programas que dependessem de cada grupo político ou partidário e para um período de apenas cinco anos, como acontece agora, normalmente, feitos à medida das ideias dos moçambicanos de um grupo específico. Assim, na minha opinião, todos os partidos teriam uma coisa que é fundamental, no mínimo o patriotismo, não teríamos partidos que interpretassem interesses de estranhos à pátria, como parece ser agora. Não se proibiria que tivessem amizades com quem quer que fosse, que recebessem subsídios, mas não para alterar a direcção da Nação.
Entende que isso aceleraria o nosso desenvolvimento?
Sim, as balizas seriam as mesmas para todos. Quem ganhasse as eleições espreitaria o programa donde encontraria onde pegar para ir em frente, deixaríamos de fazer programas de cinco em cinco anos, muitas vezes diferentes em função do grupo partidário que ganha as eleições ou conforme as pessoas que dentro do mesmo partido ficam à frente.
Por outro lado, a tal visão seria peremptória em dar as balizas dentro das quais actuariam os partidos para terem a hipótese de mostrarem o que valem no cumprimento do programa comum.
Seríamos pioneiros, pois não?
A China desenvolveu-se assim. Nem sempre esteve como está hoje. Mao Tsé-Tung já dizia que em determinada altura a China devia recuperar as terras perdidas, devia estar entre as maiores economias do mundo. Hoje já é. Cada dirigente chinês que sobe ao trono prossegue o programa que a China delineou há muito tempo. Nos Estados Unidos, há assuntos que não se questionam, por mais que o inquilino da Casa Branca seja dum ou doutro partido. Nunca se põe em causa a ideia de que a América deve comandar o mundo. Podíamos ser pioneiros, sim, mas em África.
A JUVENTUDE FORJA-SE
Zacarias Kupela, secretário-geral da OJM, fundada a 29 de Novembro de 1977. A juventude que dirigiu é esta de hoje? Aquela voluntária, que ia a todas as actividades onde a sua contribuição era necessária. Que corria para Maragra, Chókwè, Metuchira, Metocheria, Unango, fazia aldeias comunais... que resolvia problemas de mão-de-obra, simplesmente para acelerar a colheita de produtos antes que apodrecessem?
É necessário recuar para a primeira reunião do Presidente Samora Machel com jovens, em 15 de Dezembro de 1976, um ano antes da criação da OJM. Quando lançou as orientações fundamentais e definiu a função e missão da juventude moçambicana, partilhou a ideia de que era força de transformação da sociedade, ao que se seguiu a directriz do então Comité Político Militar para a criação da Organização da Juventude Moçambicana, o que nos levou a ir a todos os cantos do país, lançar e vitalizar a ideia.
Mas eu já vinha com o movimento da sua criação, desde a minha actividade em Zanzibar, onde vivia com os meus pais, depois nas fileiras da FRELIMO, na juventude a nível internacional, nos festivais mundiais e pan-africanos da juventude, na amizade que criámos com a Konsomol-Leninista, da ex-União Soviética, a FDJ, da ex-Alemanha Democrática, as nossas relações com a juventude dos países nórdicos e com a dos países capitalistas, incluindo com grupos de jovens dos Estados Unidos.
Então, na conferência constituinte, o Presidente Samora define a juventude como a Seiva da Nação, comparando o país como uma árvore, que sem a seiva que circulasse nela poderia secar.
Mas estava a querer saber donde vinha toda aquela força...
Primeiro, foi o papel decisivo e determinante do Presidente Samora Machel, incluindo de toda a cúpula, que estava permanentemente em cima da juventude e da sua organização. Dava carinho e reunia com regularidade com a OJM. Mas também há que acrescentar que um bom professor só o é quando tem pela frente alunos dedicados.
Portanto, tínhamos uma boa direcção, saída do nacionalismo, em que o patriotismo estava acima de quaisquer vontades individuais. Sabíamos interpretar as orientações, decifrar as mensagens e implementar criativamente as decisões.
Vou ser mais preciso: que feitiço foi aquele que levou a juventude a ir a todas as batalhas de trabalho voluntário, construir abrigos para as populações fugirem dos ataques aéreos de Ian Smith... Lembro-me até, já em 1983, que por meio duma simples exortação formou-se um batalhão de jovens voluntários para ingressar no serviço militar, em apoio ao IV Congresso, até que a direcção do Estado declinou incorporar alguns por na altura estarem a estudar. Lembra-se?
Em primeiro lugar, foi a implantação da OJM em todo o país e a todos os níveis. A direcção só decidia depois de acesos debates, as decisões eram colectivas, e quando ecoassem não eram novidade para ninguém. Fomos até às valas de drenagem para desentupi-las e todo o tipo de saneamento do meio. O tempo ajudava; antes de irmos ao local inspeccionávamos se as condições estavam criadas. Sabe porquê?
Não!
Por saber que a juventude, muitas vezes, tem a força de soda. No momento em que a tens em mão, nessa mesma altura é forte e não a deves decepcionar com pormenores de ordem organizacional, por exemplo. Ela precisa de ser cativada permanentemente e nunca desmoralizada. A juventude não tem tempo para esperar, chegou, encontrou e mãos à obra! Não leva muito tempo, simultaneamente alguns tocam uma guitarra, outros recitam poesia, a seguir é uma farra depois de um jogo de futebol, um convívio, acampamento... não era só o trabalho voluntário.
Conheci-o na aldeia 3 de Fevereiro, em 1982, no casamento do secretário distrital da OJM, Manuel Macucule. Vinha numa viatura Peugeot 504, carregando outros jovens. Mas na altura falar de Zacarias Kupela era referir-se a um deputado da Assembleia Popular, membro do Comité Central e muito próximo de Samora. Entretanto, estava num casamento de um responsável de nível distrital...
Samora dizia que um jovem deve ser forjado. Do ferro podemos fazer o que queremos depois de metermos na forja. Que a juventude é o centro de batalha, quem ganha é aquele que chega primeiro. A juventude não é nem revolucionária nem é reaccionária, segundo dizia, muitas vezes, Samora. Todavia, é uma categoria social importantíssima dentro da sociedade. Por isso na altura combatíamos tenazmente alguns vícios como a megalomania, intriga, o grupismo... naquela altura o carro não era meu, era nosso, estava em serviço, não precisava de “me fazer”, o que na verdade não era. Fazia aquilo naturalmente!
NÃO HAVIA LUTAS INTESTINAS
POR LUGARES E POSIÇÕES
Ao que parece também o carreirismo evidente que caracteriza a maioria dos líderes da OJM hoje, nem sequer se notava...
A época histórica nem se compadecia com isso. Independentemente disso, a direcção da juventude em todos os seus escalões não tinha uma ambição desmedida, ambição sem paralelo, a nossa ambição era fazer bem o que nos tinha sido confiado, claro, depois de provas dadas. Por exemplo, como descobríamos um bom organizador? Dentro de um grupo dizíamos: escolham quem dentre vocês pode ser o vosso chefe! Não interferíamos nem havia concursos, do tipo eu quero ser! Assim fazíamos tudo, incluindo as excursões, etc.
A propósito, por esta ocasião pode nos lembrar alguns nomes de quadros da OJM que nos podem servir de exemplo?
Faleceu agora Boaventura Afonso, que era membro do Secretariado, que com o seu dom, sua aptidão (hoje não se fala muito dessas qualidades, dado que nem toda a gente pode ser aquilo que hoje é), ele foi viajando pelo país, acabou competentemente no Instituto Superior da Função Pública. João Tique era desenhador, acabou arquitecto, depois de o metermos em programas de informação, não só porque era do Secretariado, mas demonstrou! Nas Relações Exteriores, idem aspas, e assim foram-se revelando muitos jovens anónimos.
Efectivamente …
Assim a OJM foi fazendo quadros, fomo-nos fazendo, fomos penetrando em todos os locais de trabalho, de residência, na Universidade... Fomos descobrindo e fazendo talentos, como por exemplo Alcinda Abreu, a secretária-geral adjunta, com muita dedicação e polivalência, tivemos, de repente, administradores distritais quando era necessário implantar o poder popular: Eliado Mussengue, José Manuel Jamissa, Valdemiro Mutumane, esses rodaram o país como administradores a partir de provas dadas na OJM. O ministro Ivo Garrido, Tomaz Salomão, João Leopoldo da Costa, que chegou ao cargo de presidente da CNE, Eduardo Mulémbwè, ex-presidente da Assembleia da República, Ângelo Mondlane, que estava na SADC, o falecido Jorge Marcelino, que era inspector, Arlindo Chilundo, hoje governador no Niassa, Alberto Mondlane, no mesmo cargo, mas em Manica, Amélia Bazima, hoje na Assembleia da República, Francisco Zimba, eu mesmo estava na Assembleia, Eliseu Machava, actual secretário-geral da Frelimo, foi eleito lá em Gaza, todos, de forma natural.
Mas acha possível resgatar a juventude tão comprometida como antes?
Tudo é possível. Mesmo hoje, quem sustenta o partido Frelimo, no poder, é a juventude, se bem que só é sustentável o que tem continuidade. Mas os desafios da juventude, em geral, e da OJM, em particular, são enormes, o maior dos quais é abraçar a história. A história da pátria e do próprio movimento juvenil moçambicano, para ver se o caminho está correcto ou não.
Mas era mesmo necessário que cada partido tivesse a sua juventude, sendo esta uma categoria específica da sociedade, tendo ainda em conta que na designação da primeira organização juvenil (OJM) nada entra em contradição com as ligas que se foram criando por aí ...
Acho que precisamos de fazer um debate sobre isso. Que seja franco, aberto e sem preconceitos. Na minha opinião o que é fundamental é o patriotismo, pertença a que grupo pertencer, se pusermos em primeiro lugar a Pátria, tudo bem. O debate devia começar por aí. Esquecer os partidos, que são criados, mas a Pátria é uma, à qual todos pertencemos. Infelizmente, pouco se fala de patriotismo hoje. É verdade que estamos numa época de multipartidarismo, da globalização, mas são fenómenos que temos a obrigação de interpretá-los correctamente. Ocorrem em determinados lugares, sem nos desviarmos dos nossos objectivos estratégicos de construir uma Nação Una e Indivisível. Primeiro a Pátria, depois a riqueza dessa pátria, que tem de ser para todos. Deixar as guerrinhas pelo poder, isso não leva a longe, o resto tem de aparecer naturalmente, como não me canso de dizer!
TRAÇOS BIÓGRAFICOS
DE AMOUR ZACARIAS KUPELA
-Nasceu em Maúa, Niassa, e muito cedo foi viver com os seus pais em Zanzibar, Tanzânia.
- Ensino primário e secundário em Zanzibar
- Pós-graduação em Relações Internacionais em Dar-Es-Salaam, Tanzânia
- Representante adjunto da FRELIMO em Zanzibar
- Colaborador do Departamento de Informação e Propaganda da FRELIMO em Dar-Es-Salaam e Nachingwea
- Curso interrompido de Economia
- Deputado e presidente da Comissão dos Assuntos Sociais da Assembleia Popular
- Secretário-geral da Organização da Juventude Moçambicana (OJM)
-Director do Instituto Moçambicano de Apoio aos Migrantes
-Director da Direcção para países da Ásia e Oceânia, no Ministério dos Negócios Estrangeiros e Cooperação.
- Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário de Moçambique em Cuba, Nicarágua, Burundi e Ruanda.
- Alto-comissário de Moçambique no Reino da Suazilândia e na República Unida da Tanzânia
- Medalha de Veterano da Luta Armada de Libertação Nacional.
Texto de Pedro Nacuo
VENDA DE ROUPA: Boutiques a céu aberto
A sobrevivência exige criatividade, que o digam os jovens que, nos últimos tempos, nas artérias mais movimentadas da cidade de Maputo, usam carros particulares para vender roupa feminina, masculina, sapatos, cintos e carteiras, entre outros acessórios. Tudo novo. Muitas vezes importado da China, Portugal e África do Sul. É uma espécie de “boutiques ambulantes” que têm conquistado o seu espaço.
É uma forma de ganhar a vida. Diariamente, às primeiras horas, os donos das lojas ambulantes estacionam as viaturas nas artérias da cidade e começam a bicuda tarefa de convencer os transeuntes a adquirir artigos expostos nas suas montras. Um detalhe que salta à vista é que os jovens possuem uma capacidade extraordinária de persuadir a clientela.
Uns fazem uma espécie de sociedade, criando um grupo de dois ou três elementos, ou seja, sócios, em que cada um tira o valor para a compra de um stock de artigos, que são expostos e vendidos em veículos. Semanalmente ou mensalmente dividem os lucros e reforçam os produtos.
Esta actividade tem sido praticada, por exemplo, no Brasil, Espanha, Estados Unidos, entre outros lugares.
Lucas Tamele, proprietário de uma loja móvel, pratica esta actividade desde 1994. O nosso interlocutor disse ao domingo que durante este período conseguiu comprar duas viaturas: uma, usa como boutique para vender cintos, carteiras femininas e masculinas. “Geralmente comunicamo-nos por telefone com clientes que estão distantes. Quando o cliente não vai à loja, a loja vai ao cliente”.
Num outro desenvolvimento, Lucas Tamele contou-nos que empreender é o sonho de muitos moçambicanos, pois na sua óptica alguns gostariam de ser donos de uma loja ou restaurante, mas por causa dos custos de investimento, pagamento de rendas, trabalhadores, entre outras despesas nem todos conseguem. São vários custos que, às vezes, inviabilizam o projecto.
A nossa reportagem encontrou, pelas ruas de Maputo, um outro jovem comerciante, Emílio, um autêntico “lobo da Wall Street”. Possui uma capacidade suprema de persuadir os clientes. Ele contou-nos que comprou carro para fins comerciais. Começou a trabalhar no ramo há mais de duas décadas, num primeiro momento vendendo vestuário masculino para funcionários de algumas empresas e para pessoas próximas. Mas as dificuldades para se deslocar, uma vez que sempre andava carregado, levaram-no a decidir-se pela compra da viatura.
A sua experiência faz com que se dispense um canto para se provar a roupa. Emílio conhece as medidas certas para cada silhueta, mas quando alguma coisa corre mal nesses cálculos os clientes devolvem as peças.
Lourenço Nhamule, outro proprietário de uma “boutique de rua”, garantiu que uma fórmula infalível para amolecer o coração dos clientes, é vender modelos que são “top de gama” nos países de onde são importadas.
Tratando-se de uma actividade ainda não legalizada, estes comerciantes anseiam por acertos com a Polícia Municipal. “Pretendemos pagar taxas, mas pedimos que nos deixem exercer a actividade sem interpelações maliciosas”.
Texto de Idnórcio Muchanga
idnorcio.muchanga@snoticias.co.mz
idnorcio.muchanga@snoticias.co.mz
PROFISSÕES: Ser modelo não se resume a dez dias de MFW
– Júlia Manguene, modelo e estudante universitária
Em Moçambique ainda não se enche o peito para falar de moda. É que na realidade “não temos agências. Está-se a tentar criar”, palavras de Júlia Manguene, modelo e estudante universitária, em conversa com o domingo. Diante desta carência, nada mais resta senão contentar-se com as esporádicas solicitações ou aparições em eventos de pequena ou grande envergadura. É total desilusão para os amantes do mundo fashion, afinal,“ser modelo não se resume a dez dias de Mozambique Fashion Week”, considera Júlia.
Como explicar o desinteresse por esta área no nosso país?
Veja, internamente, a moda e a actividade a ela inerente é mero divertimento, não existe ainda uma indústria forte virada para esta actividade,diferente de países como Angola e África do Sul, aqui no nosso continente, só para citar alguns exemplos. Isto contrasta com a Europa ou outros pontos do universo, onde se faz carreira como modelo e vive-se disso, para além de que faz parte da cultura desses povos. Já aqui…
Sim, por aqui…
Envolvemo-nos nisto por amor à camisola, não se espera nenhum reconhecimento, faltam-me, inclusive, palavras para denominar a forma como se encara esta actividade no nosso país… fico-me pelo mero divertimento.
Mas Júlia Manguene é modelo e, diga-se de passagem, um monumento perdido entre nós…
Bem, foi graças aos concursos em que participei: o Miss 2011, entre escolas, o que me conferiu o passaporte para participar no concurso da Elite Model Look Mozambique, no mesmo ano. Venci este concurso e representei o país em Xangai, na China.
Sempre se interessou pela moda? O que a levou a apostar em si?
É engraçado que fui por curiosidade, não acreditava que me pudesse sair bem…
Como não?
É que na verdade, quando criança, não era assim tão vaidosa, o único indicador de que existia algum fascínio pela carreira de modelo era a minha forma de caminhar. Isto aos 14/15 anos. Acabei cultivando a vaidade para ultrapassar algumas coisas que achava que não estavam bem em mim. Por exemplo, achava-me excessivamente magra. Então criei formas de desviar a atenção das pessoas para aspectos que me tornavam interessante.
De que forma?
Mexendo no cabelo de várias formas: desfrisando-o; cortando-o à channel; pintando-o de diferentes cores… enfim, fazendo coisas que eu própria nunca imaginei que pudesse executá-las.
Já agora, repara na forma como os outros se vestem?
Reparo e não gosto de trajes vulgares. Mas, atenção, que há um vulgar que pode ser considerado fashion!
Ah sim? Quer se explicar?
Isso depende muito da atitude de quem se veste, da forma como a pessoa defende as suas escolhas.
Como se apresenta no seu dia-a-dia?
Tenho um estilo eclético, isto é, sem preferências marcantes: saia curta ou comprida; de vez em quando faço misturas: vestido com sapatilha… às vezes seguindo tendências, outras seguindo ideias próprias.
DA BANDA MODEL
PARA O MUNDO
Os concursos organizados internamente abriram-lhe portas para novas experiências. Fala-nos da sua vida como modelo.
Primeiro deixe-me explicar que, após participar no Miss 2011 e no concurso da Elite Model Look Mozambique, a organização destes eventos interessou-se por me encaminhar para o mundo da moda. Então, através da Banda Model Manangment, uma agência internacional, procurou-se formas de catapultar a minha carreira. Com efeito, de 2011 a 2013, viajei muito para vários lugares – Amesterdão, Hamburgo, Berlim, Portugal, Paris… – para participar em castings. E, mais do que cultivar o sucesso no mundo da moda, conheci muita gente, moldei a minha personalidade, amadureci.
Enfrentou dificuldades nesse entremeio?
Muitas! Foram os momentos mais difíceis da minha vida, pois tive de ficar longe da minha família e, ao mesmo tempo, adaptar-me ao temperamento das pessoas que estavam à minha volta, a génios difíceis. Mas havia, sobretudo, um grande nó que era o facto de disputarmos as mesmas coisas. Um lugar de destaque...
Conseguiu alcançar os seus objectivos, ser modelo de sucesso?
O que lhe posso dizer é que ainda almejo estar em melhores agências, construir uma carreira sólida. Contudo, pelo facto de ser uma pessoa extremamente objectiva e não sonhadora estou também virada para a minha formação académica, ao nível superior. Frequento o curso de Contabilidade e Auditoria, e já me formei em Relações Públicas e Marketing até para ter desenvoltura em questões de protocolo. Depois de alguns anos de trabalho e grande parte do tempo fora do país, sobretudo de 2011 a 2013, neste momento estou mais virada para a minha formação académica.
Afinal de contas, o que é ser modelo?
Não foge do que é ser actor, temos de encarnar uma personagem ou personagens, não só no que somos, mas também o que vestimos. Através desses trajes procuramos passar uma imagem; e essa coisa de moda envolve criação e inovação.
Tem planos de se dedicar à área da moda, até mesmo na formação dos seus sucessores?
Gostaria de criar uma escola de moda, mas tudo depende do mercado, e há que contar com a cooperação dos outros que actuam nesta área, afinal se trata de um campo no qual se movimentam peças de um lugar para outro… da África do Sul para Angola, daqui para outros lugares…sozinha seria impossível conseguir materializar este desejo.
Conversa corrida
Idade?
22 anos
Residência?
Maputo
Altura?
1,79 m
Onde compra as suas roupas?
Onde passo e vejo o que me agrada…
Gosta de viajar?
Muito
Qual é o lugar dos sonhos?
Milão
É casada?
Não
Onde gostaria de passar a lua-de-mel?
Nunca parei para pensar nessas coisas (risos).
Um perfume.
TruthOr Dare
Um carro.
BMW
Modelo de eleição ao nível nacional?( )
Ao nível internacional?
Tyra Banks.
Uma figura nacional que admira.
Mingas. Mas, deixe-me fazer uma ressalva, a minha mãe é a mulher que mais admiro no mundo, é uma mulher de fibra. E…
Sim?
Também um homem que deve entrar na lista dos que merecem a minha homenagem: o Ibraimo, irmão mais novo da minha mãe. É uma pessoa a quem serei grata para o resto da vida. Cuidou de mim desde bebé e foi sempre um grande companheiro.
Sabe cozinhar?
Cozinho muito bem. De tudo. Faço bolos e outros doces.
Como é que se imagina daqui a cinco anos?
Com dois filhos gémeos.
Vai fazer inseminação artificial?
(risos).
Texto de Carol Banze
carolbanze@snoticias.co.mz
carolbanze@snoticias.co.mz
EMPRESARIADO: Na Bloomberg apresentámos a visão económica da CE-CPLP
-Salimo Abdula sublinha que o sector económico empresarial será um dos pilares do Brasil no âmbito da presidência rotativa da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
A liderança moçambicana na Confederação Económica da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CECPLP) teve um papel decisivo no dinamismo imposto por Timor-Leste que na hora da passagem de testemunho para o Brasil, no âmbito da presidência rotativa da CPLP, viu como ganho o reconhecimento de que o sector económico-empresarial será um pilar da nova chefia.
Na hora de balanço, quais foram as principais realizações da CE-CPLP em 2016?
Tivemos várias realizações em diferentes espaços da CPLP desde actividades empresariais, que eram encontros de negócios bito-bis, fóruns de negócio, sempre no espírito de sensibilizar a sociedade, os Estados, da necessidade de olharmos para uma comunidade económica em que os empresários podem ser um grande activo da CPLP.
Tiveram ganhos?
Sim, há poucas semanas colhemos frutos desse esforço, dessa dedicação, quando ouvimos pronunciamentos no Brasil de dirigentes de alguns países, incluindo chefes de Governo, dizer, finalmente, que a livre circulação de pessoas tem de acontecer, e que o sector económico e empresarial passa a ser um pilar da CPLP. Até há pouco não era assim.
E o que é que isso representa?
Para nós é o corolário. É o momento mais elevado do trabalho que temos vindo a fazer. Estamos também focados no reforço institucional. Tivemos de reestruturar a nossa instituição de modo que ela seja menos onerosa mas mais objectiva. Estamos focados também num sistema de apoios em alto sourcingcom entidades profissionais que vão apoiar especificamente as partes legais, dossiês económicos, objectivos a atingir, networking, tudo isso de forma a criarmos um ambiente propício para que a envolvência nesta parceria entre o sector privado e os Estados da CPLP seja em harmonia e profícua.
Como?
Elevando o standard de vida das pessoas desta comunidade. Criando melhores possibilidades de negócios, porque é com o somatório das empresas da CPLP a crescer que o somatório da riqueza dos Estados também aumenta. A nossa comunidade, não obstante ainda não consolidada, já representa mais ou menos quatro por cento do Produto Interno Bruto (PIB) mundial.
CONQUISTANDO
MAIS COMUNIDADES
Significa que…
É desta forma conjunta, com visão comum, que podemos atingir os nossos objectivos. No dia 19 de Dezembro teremos a última reunião da Direcção em Cabo Verde. Já a assembleia geral, que vai aprovar o plano de actividades e orçamentais para 2017, na segunda semana de Dezembro, terá lugar em Portugal. E começámos a abrir antenas e escritórios representativos fora da comunidade. Já temos um na Itália e brevemente vamos abrir outro na França, porque nos interessa fazer ligação com outras comunidades. E digo mais.
Por exemplo?
Este ano tivemos um convite muito específico da Bloomberg(uma empresa de tecnologia e dados para o mercado financeiro e agência de notícias operacional em todo o mundo com sede em Nova Iorque), em Londres, onde apresentámos aquilo que é a visão específica da CE-CPLP. A exposição da Confederação a nível internacional passou a ser mais visível. Agora estamos de malas aviadas para a Alemanha, onde a convite da Sociedade Alemã para os Estados Africanos de Língua Portuguesa (DASP) vou apresentar a visão da Confederação ao mundo, isto é, as oportunidades e desafios existentes para o sector empresarial nos países africanos de língua portuguesa e a CPLP.
Como é que as várias câmaras nacionais da Guiné-Bissau, Cabo Verde, Angola, entre outras, olham para a
CE-CPLP?
Estamos todos muito unidos em volta desta causa. Temos sentido uma presença massiva dos dirigentes de todos os países. Aliás, todos os países têm acento na Confederação. Têm uma vice-presidência. O reconhecimento da CE-CPLP na passada Cimeira de Chefes de Estado no Brasil entusiasmou a todos e mostrou que vale a pena continuar a trabalhar. A CPLP é uma comunidade de nove países em quatro continentes.
Como é que a classe empresarial moçambicana se posiciona nesta dinâmica de negócio e “know how”?
Moçambique deve-se socorrer das capacidades tecnológicas, em primeiro lugar, dos países falantes do português. Como já temos referenciado, a língua é um activo que representa sete por cento no custo das Pequenas e Médias Empresas (PME).
Nós ainda não temos capacidade de sozinhos explorar os nossos recursos. Hoje, se calhar, já temos alguns quadros experientes em Angola, Cabo Verde, Brasil e Portugal. Isso vai-nos permitir processar rapidamente as oportunidades de negócio que vão surgindo em Moçambique seja na área de recursos minerais, turismo, energia, infra-estruturas, etc., etc.
Mas…
Temos emitido sinais muito fortes de que é preciso abrir a livre circulação de pessoas e bens e, de seguida, os complementos necessários para que se efective a integração da comunidade para que não apenas empresários, mas também o próprio cidadão da CPLP se possa sentir parte activa deste processo. Todos os nossos países estão num processo de desenvolvimento e devemos aproveitar este activo porque a CPLP tem activos para num período de 20 anos mais ou menos se tornar numa das comunidades líder deste globo. Um dos órgãos da Confederação, a União dos Exportadores, tem estado a interagir com as PME. Fruto dessa colaboração, estão a surgir em todos os nossos países muitos negócios que paulatinamente vão crescendo.
Como é que as empresas desta comunidade se podem posicionar no mercado mundial?
As empresas começam a unir ideias para se posicionar na conquista do mercado global em vários sectores a começar pelo agro-alimentar, onde os nossos países têm as melhores reservas de terra do planeta. Este processo bola de neve vai atirar-nos para a condição de maiores produtores e fornecedores de alimentos neste planeta que vai crescendo com a classe média e precisa de se alimentar cada vez mais e melhor.
Com a actual crise financeira como é que a Confederação é vista pelos empresários?
Empresários são pessoas, há uns com mais cepticismo e outros com uma dinâmica diferente, onde as grandes crises são as grandes oportunidades para refrescarmos as nossas máquinas de trabalho. Penso que, acima de tudo, esta grande crise, sobretudo nos PALOP, é o momento em que devemos usar as nossas energias para aumentar a impedância da produção nacional, porque é nas crises que somos obrigados a ter iniciativas, a inovar e transferir tecnologias que possam trazer valor acrescentado às nossas economias.
ÁREAS DE CONSERVAÇÃO: Madeireiros invadem áreas protegidas
Está a aumentar o número de casos de operadores florestais ilegais que invadem parques e reservas nacionais para explorar recursos florestais que depois são exportados em toros para o mercado europeu. A constatação foi feita pela World Wildlife Fund (WWF) que revelou que estas práticas estão a ser levadas a cabo com alguma intensidade no Parque Nacional das Quirimbas, em Cabo Delgado, na Reserva Nacional de Gilé, na Zambézia, e no Parque Nacional de Mágoè, na província de Tete.
Segundo Rito Mabunda, coordenador do Programa de Florestas no World Wildlife Fund (WWF), a maior parte dos exploradores que invadem as áreas de conservação busca madeira para exportar em toros com a finalidade de exportá-la para o mercado europeu onde se regista uma crescente procura.
Entre as espécies mais procuradas na Europa encontra-se o pau-preto, que é usado para a produção de componentes de instrumentos musicais como clarinetes e pianos, e também buscam o pau-ferro. O receio da WWF é que estas espécies comecem a escassear no país.
Com vista a minimizar a situação, aWWF-Moçambique, em coordenação com a Direcção Nacional das Florestas (DINAF), do Ministério de Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural (MITADER), está a criar uma base de dados de operadores florestais em regime de Licença Simples ou de Concessão Florestal, de modo a se imprimir um maior dinamismo na gestão de recursos e na fiscalização florestal e faunística.
Por outro lado, Rito Mabunda aludiu que estão a ser desencadeadas várias medidas de carácter coercivo cujo efeito tem estado a ser minimizado pelas limitações que ainda se verificam no sistema de fiscalização que continua deficiente por ser caracterizado pela falta de meios humanos e materiais.
A nossa fonte defendeu que seria proveitoso se as autoridades de fiscalização pudessem se deslocar para as zonas de corte, serrações e portos para verificarem o cumprimento das normas estabelecidas para a exploração, transporte, processamento e comercialização de produtos florestais. Porém, em quase todo o país, a fiscalização está dependente apenas dos pontos fixos.
Mabunda revelou ainda que a Direcção de Florestas está a criar a Agência Nacional de Qualidade Ambiental (ANQA) que será autónoma em termos administrativos. Entretanto, a WWF sugere que esta entidade também tenha autonomia financeira para poder actuar com maior prontidão na implementação de estratégias claras para estancar a exploração de recursos florestais e faunísticos de que o país dispõe nas áreas de conservação.
“Como sociedade civil temos estado a promover a boa governação florestal e procuramos motivar diversos autores, como o Governo, a implementar o quadro legal nacional. Neste momento, está em desenvolvimento a linha de base sobre a gestão florestal em Moçambique”, disse Rito Mabunda durante o lançamento do fórum de jornalistas pró-conservação da biodiversidade ocorrido há dias em Pemba, Cabo Delgado.
FERRAMENTAS DE AVALIAÇÃO
A nossa Reportagem apurou que está em curso o aperfeiçoamento da ferramenta que serve para contabilizar o número de operadores legais que trabalham numa determinada área. Trata-se de uma iniciativa que se insere no quadro da Reforma Florestal que o Governo moçambicano está a levar a cabo e que com a qual se pretende reduzir as perdas pela exploração ilegal de madeira. “Por ser um programa novo precisa-se que se faça uma reflexão sobre a metodologia usada, os resultados alcançados, entre outros”.
De referir que no ano de 2015 foram inscritos 906 operadores, dos quais 741 operadores em regime de licença simples e de 165 em regime de concessão florestal. No entanto, as províncias com maior número de operadores são Tete com 252, Zambézia 169, Manica 124 e Sofala com 97 exploradores madeireira.
Dizimados 170 elefantes nas Quirimbas
O Parque Nacional das Quirimbas, localizado na província de Cabo Delgado, na zona de Taratibu, perdeu nos últimos cinco anos perto de 170 elefantes, mortos por caçadores furtivos, de um total de duzentos que existiam naquele local e que ajudavam a dinamizar a economia através de receitas provenientes da exploração turística.
Segundo Jacob Landsberg, responsável pela conservação da biodiversidade naquela área,as incursões dos caçadores furtivos fizeram-lhe perder cerca de duzentos mil dólares norte-americanos de receitas de exploração turística que poderiam ser usados para vários fins, com ênfase para o pagamento de fiscais, abertura de mais de 100 quilómetros de via de acesso, entre outrasactividades, incluindo a construção de infra-estruturas turísticas orientadas para o desenvolvimento do ecoturismo.
Actualmente, o parque das Quirimbas conta com cerca de trinta elefantes e uma flora que apresenta sinais de degradação por estar sujeita a queimadas descontroladas provocadas por caçadores furtivos. Aliás, aqui também se evidencia a dificuldade de fiscalizar a área que compreende cerca de 34 mil hectares, mas que conta com apenas quatro fiscais. “Pelo menos conseguimos expulsar os operadores florestais, mas na mesma dinâmica não conseguimos minimizar a matança dos animais”, reconheceu.
Jacob Landsberggarantiu ao nosso jornal que a maior parte dos caçadores furtivos residente no distrito de Ancuabe, na província de Cabo Delgado, e outros são provenientes de Montepuez. Há informações de que o mandante reside em Nampula e financia-os com os materiais furtivos para fazer trabalho a troco de mil e quinhentos meticais por quilograma de marfim.
Texto de Idnórcio Muchanga
idnorcio.muchanga@snoticias.co.mz
idnorcio.muchanga@snoticias.co.mz
DISTRITO DA MANHIÇA: “Reis do gado” e de dificuldades
O povoado de Mirona, distrito da Manhiça, em Maputo, é um ilustre desconhecido para a maioria dos moçambicanos. É tão discreto que o acesso é complicado. Só se chega àquele destino com viaturas 4X4. Por ali, as dificuldades se multiplicam como praga, pior com a ajuda da seca. Alegra ver as imensas manadas de gado bovino que estão a sobreviver graças à recente construção de um furo multifuncional pelo projecto ProSUL. Senão seria o caos.
O povoado de Mirona, localizado no interior do Distrito de Manhiça, está situado no meio do nada. Predomina a areia solta, com mais peugadas de manadas de bois e cabritos que de humanos, floresta serrada e uma escassa população humana que não tem como esconder os sinais do sofrimento, das longas caminhadas, do confinamento, enfim.
Para os residentes, a seca é um dos maiores desafios a superar. Mas as dificuldades não se ficam pela falta de água para o consumo, irrigar as áreas de cultivo e abeberar o gado. O acesso é uma autêntica dor de cabeça. É preciso caminhar naquele areal quente até à estação ferroviária que ninguém sabe dizer com exactidão qual é a distância a percorrer. Uns 10 quilómetros, no mínimo.
Os mais novos falam em duas horas de marcha. Os mais velhos duplicam esse tempo por razões de mobilidade, temperatura, peso da carga que levam às costas, estado de saúde, entre outros. Por tudo isto, ir à sede do distrito equivale a viajar sem garantias de poder regressar no mesmo dia.
Para quem entende chegar à cidade de Maputo, a alternativa é fazer a caminhada até à estação e aguardar pela passagem do comboio que por ali trafega aos finais de semana, mas sem hora marcada. “A única certeza que temos é que virá, mas nunca sabemos a hora. Por vezes chega de madrugada”, contaram.
De outro modo, a população de Mirona faz figas para que apareça uma viatura que lhes dê boleia até à vila. Porém, esse exercício tem mais contras que prós devido à incerteza que é peculiar a uma espera pelo “Deus dará”. O que complica o quesito transporte é o facto da via não ser adequada para a passagem de qualquer viatura. Só four by four (4X4).
Assim sendo, muitos confiam nos pés. Caminham a bom caminhar até à Estrada Nacional número Um (EN1) onde chegam naturalmente exaustos tendo em dívida de fazer o mesmo exercício no regresso. Pura tortura.
Na ligação entre a EN1 e aquele povoado, a única infraestrutura visível é a linha férrea do Limpopo, que permite a ligação Maputo-Chókwè-Chicualacuala. O resto é aquela vegetação agreste. Pessoas a circular? Nem pensar. Durante quase todo o percurso até chegar ao povoado de Mirona não encontramos uma “alma viva” porque muitos usam corta-mato.
“Temos falta de transporte, quando temos que ir a Maputo saímos daqui até zona VI (perto da Manhiça) a pé e de lá seguimos de carro. São cerca de quatro horas de caminhada”, lamentou Hélia Carlos, residente de Mirona.
Para além da falta de transporte, cada família busca meios alternativos de energia, uma vez que não nenhuma ligação com a rede nacional de energia. O sinal de telefonia móvel chega tão fraco que mal se recebe chamadas e as mensagens comuns ou das redes sociais ficam “penduradas” a aguardar melhor disponibilidade de rede. No entanto, os residentes já conhecem as “esquinas” onde é possível captar algum sinal.
domingoapurou que a principal actividade que sustenta o povoado de Mirona é a prática da agricultura e a criação de gado, sobretudo o bovino que os residentes só sabem dizer que é muito. “Mil cabeças? Isso não é nada. Temos bastante”, afirmam.
FURO MULTIFUNCIONAL DO ProSUL
domingo apurou que nos últimos anos, a actividade agrícola naquele povoado não tem rendido como era habitual por causa da seca, causada pelo fenómeno El Ninõ, que atingiu uma proporção tal que tem falta de sementes para prosseguir à sementeira caso chova nos próximos tempos.
Ainda como consequência da seca, aquele povoado tem problemas sérios de água. O único sistema de abastecimento de água foi construído em meados de 2015 faz parte do Projecto de Desenvolvimento de Cadeias de Valor nos Corredores do Maputo e Limpopo (ProSul), um programa desenhado pelo Ministério da Agricultura e Segurança Alimentar (MASA).
Com esta iniciativa, o ProSUL pretende mitigar os efeitos da seca nas zonas recônditas através da construção de furos multifuncionais para assegurar a disponibilidade de água para o consumo humano e abeberamento do gado.
Na verdade, o projecto está inserido num contexto muito maior orientado para o alcance da “meta 1c” dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio (ODM1c) cuja finalidade é reduzir para menos de metade a percentagem de pessoas que sobre de fome em Moçambique e que é financiado pelo governo moçambicano, União Europeia e pelo Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrário (FIDA).
“Este sistema é bem-vindo para nós. Ajudou-nos muito. Antes dependíamos de água de poços e charcos onde disputávamos a água com o gado. Hoje não nos queixamos propriamente da falta de água, mas sim do funcionamento do sistema que tem ainda algumas deficiências”, disse António Budui, professor de Mirona.
Conforme testemunhamos no local, aquele sistema foi instalado no inverno e os painéis solares que lhe fornecem corrente eléctrica estão orientados para a nascente, quando deviam estar voltados para o ponto onde o sol atinge o apogeu, ao meio dia, o que limita o funcionamento das bombas.
Entretanto acredita-se que este problema poderá ser resolvido nos próximos dias pelo empreiteiro que também foi chamado pelo projecto a instalar baterias e a estabelecer um escritório para os gestores do sistema.
“Deviam existir mais projectos destes. Com a abertura do furo multifuncional estamos satisfeitos e temos mais tempo para cumprir com outros afazeres. Agora só queremos que resolvam o problema das baterias e da posição dos painéis solares”, sublinhou Rosa Massunga, residente.
O sistema de abastecimento multifuncional é composto por um conjunto de torneiras para o consumo humano, bebedouros para o gado com capacidade para dar de beber a pouco mais de 60 bovinos ao mesmo tempo e um espaço com tanques para lavar roupas e que pode receber cinco famílias em simultâneo.
Ainda para fazer face à seca, os residentes de Mirona aprenderam técnicas de preparação de fardos de feno para a suplementação alimentar do gado bovino, o que vai facilitar a alimentação dos animais nos meses mais críticos de falta de pastagens.
ESCOLA PRIMÁRIA
COM APENAS 98 ALUNOS
Em Mirona existe uma escola primária completa (lecciona da primeira a sétima classe) que só tem 98 alunos, sendo que as turmas mais numerosas têm em média 18 alunos. Este efectivo escolar é assistido por cinco professores.
“Esta é a realidade da população escolar daqui de Mirona. Somos muito poucos e não temos casos de crianças que não estudam ou de abandono escolar. Somos felizes nesse aspecto”, sublinhou António Budui.
A nossa Reportagem apurou que por falta de uma escola secundária em Mirona a maior parte dos alunos termina a sétima classe e dificilmente prossegue com os estudos porque as escolas do nível seguinte estão localizadas longe dali.
Aliás, para o caso das meninas acabam optando pelo casamento, tal como aconteceu com uma das nossas entrevistadas, Hélia Carlos, de 18 anos, com filha. Para além de cuidar do lar, dedica-se à produção de carvão vegetal. “Eu já não vou a escola porque terminei a sétima classe e para continuar com os estudos precisava ir a Maputo ou Manhiça e não tinha condições”, lamentou.
DRAMA DE SALÁRIOS
Em Mirona, tal como acontece em todo o país, existem funcionários públicos, nomeadamente professores, enfermeiros e serventes da pequena unidade sanitária local, os quais são forçados a realizar deslocações regulares para Manhiça ou Maputo para levantarem os respectivos salários.
Por causa da falta de transportes quando chega esta época tanto os professores como os enfermeiros e serventes do centro de saúde vão até a vila e as vezes não tem como regressar, pois dependem unicamente do comboio e de boleias que raramente aparecem.
Quando isso acontece os doentes ficam praticamente sem atendimento e os alunos sem aulas. Esse facto deixa os pais e ou encarregados de educação agastados, uma vez que sabem que os seus filhos não completam a matéria do ano lectivo.
“Quando os poucos funcionários públicos saem e não conseguem transporte para regressar, os alunos perdem aulas, os doentes ficam sem a necessária assistência, enfim, mas compreendemos que eles não têm culpa”, adiantou Rosa Massunga.
Mais furos multifuncionais
O Projecto de Desenvolvimento de Cadeias de Valor nos Corredores do Maputo e Limpopo lançou recentemente um concurso público para a abertura de mais 14 furos multifuncionais nas províncias de Maputo, Gaza e Inhambane, no âmbito do Plano de Resiliência Climática que o MASA desenhou e submeteu ao Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrário (FIDA).
Dados em nosso poder indicam que este ano foram abertos dez furos multifuncionais em regiões remotas, sendo dois em Namaacha, um em Mirona, outro em Maluana, na província de Maputo, quatro em Massingir, outro em Chigubo e em Chókwè está em curso abertura de um furo.
“A nossa perspectiva é colocar esses furos em pontos mais críticos onde o acesso a água tanto para pessoas como para o gado bovino é difícil. Por exemplo, aqui em Mirona o ponto mais acessível para tirar água dista há uns quatro quilómetros”, disseEgídio Muthimba, assessor para a Área de Adaptação a Mudanças Climáticas no ProSUL.
Segundo Muthimba, cada família beneficiária desembolsa 10 meticais pelo seu consumo mensal e mais 10 meticais por cabeça de boi. “É um valor simbólico para que valorizem a infra-estrutura, caso contrário seria difícil fazer a manutenção sem o cometimento da população”.
Dado o sucesso que esta iniciativa está a registar, um grupo de gestores de iniciativas semelhantes da Etiópia, Botswana, Malawi, Ruanda, Tanzânia, Quénia, Itália, Chile e Uganda foram selecionados por concurso para colherem a experiência do ProSUL que é tida pelo FIDA como bastante positiva e promissora.
“O nosso país foi escolhido e a visita serviu para mostrar aquilo que são os furos multifuncionais para melhorar o acesso a água das comunidades assim como o gado bovino”, sublinhou Egídio Muthimba.
Por outro lado, os visitantes tiveram a oportunidade de ver como é que se podem usar estufas para a produção de hortícolas durante todo o ano sem que os agricultores se preocupem com a época quente ou fria, altura em que a produção baixa.
Segundo Muthimba também tiveram a oportunidade de ver a cadeia de mandioca para mostrar como se faz a multiplicação de estacas de variedades tolerantes à seca, mas que também são resistentes a algumas doenças, principalmente o mosaico africano.
Texto de Angelina Mahumane
angelina.mahumane@snoticias.co.mz
angelina.mahumane@snoticias.co.mz
EXPOSIÇÃO: Expor no Museu de Arte significa crescimento
Há salas, galerias e outros espaços onde os artistas plásticos podem mostrar suas obras. Cada local para exposição tem o seu requinte, o seu glamour. Contudo, o lugar nobre para os artistas é a sala do Museu nacional de Arte (MUSART), onde poucos têm o privilégio de desfilar.
Noel langa é um felizardo porque fê-lo pela segunda vez. Nos meses de Outubro e Novembro, levou para as paredes do MUSART quarenta obras, fruto do seu trabalho mais recente. O título era“Fragmentos do Arco-Íris”.
“ O Museu Nacional de Arte é o nosso centro, o lugar de eleição. Quando não se expõe naquele lugar, sentímo-nos diminuídos porque mostrar suas obras naquela casa significa crescimento. Felizmente, faço-o pela segunda vez”, afirma Noel Langa.
Terminada a mostra no MUSART, Noel Langa, decidiu prosseguir, mas desta vez no Centro Cultural Arco-Iris. “ A exposição continua no Centro Cultural. Os que gostam da arte podem cávir e ver. Estará patente até próximo ano. isto é, logo que as festas terminarem”, explica Noel langa.
PALESTRAS EM TORNO DO ARTISTA
Ao longo do percurso da exposição o Museu Nacional de Arte acolheu três palestras no âmbito da mesma. A primeira foi para falar dos 60 anos da obra de Noel Langa. A segunda era em volta da galeria do Mestre Noel Langa e o Arco-Íris. A terceira última, visava abordar a obra do Noel Langa na voz dos seus contemporâneos.
Silva Dunduro, Ministro da Cultura e Turismo, presenciou um dos debates. A respeito disso, destacou que o MUSART tem estado a valorizar os ícones da cultura moçambicana facto que é na sua opinião muito positivo. No que concerne ao Mestre disse que “Langa é um dos poucos da sua época que trabalha ainda com afinco. É um homem cuja obra retrata a história de Moçambique. Precisamos de lhe dar força e isso só é possível valorizado cada vez mais o seu trabalho.”
Noel Langa é considerado pela crítica um dos mais importantes artistas plásticos moçambicanos e um dos componentes da chamada “geração de ouro”, ao lado de proeminentes figuras como Malangatana, Alberto Chissano, Samate, Shikane, entre outros.
Noel Langa é um pintor com um longo percurso, com exposições realizadas dentro e fora do país. Os seus quadros encontram-se expostos em coleções particulares dentro do nosso continente, bem como na Europa e América.
A direcção do Museu Nacional de Arte, considera : a mostra que muda as nuances do habitual de Noel Langa ao retratar um conjunto da moçambicanidade e dá um grande contributo para a cultura do país, foi bastante positiva e que é uma honrosa oportunidade ter obras de um artista desta dimensão e simplicidade aqui na galeria do Museu. Ficamos muitos felizes por isso”.
A pintura de Noel Langa, toda ela repleta de cores e significados, tem sido de grande importância na redescoberta da nossa moçambicanidade. Tal como ele próprio, as obras que compõem “Fragmentos do Arco-íris” são simples, quase naifes e que nos fazem despertar sentimentos e emoções que considerávamos adormecidos dentro de nós.
Para alem disso, “Fragmentos de um Arco-íris” é uma viagem no tempo, nas memórias de um passado distante que ainda soam nas vivências actuais, assim, a exposição junta o que Noel conheceu durante a sua juventude e compara com a actualidade, que muito se distancia da sua mocidade.
Noel Langa revê-se em tudo que faz e vive
- Julieta Massimbe, Directora do MUSART
Julieta Massimbe, fala de Noel e frisa que entrar no Xitalamati dá gosto quando a direcção é para a preciosidade que se chama Noel Langa.
“Bem disposto, cordial e afável, recebe-nos no seu atelier com muito carinho. É tão bom estar ao redor de alguém tão doce e tão cândido e, rodeado por obras inebriantes! Cada obra é um livro ou a sua capa, contando histórias que contém inúmeros episódios da vida. Estas obras são aprendizagem”, afirma.
Ela perguntei ao mestre Noel sobre a sua cor. A resposta não tardou. “Ele disse sem pestanejar que a sua côr é a côr do arco-íris, aquele que uma vez apareceu no céu, e eu contente, vendo que tinha o dia ganho, apressei-me a trabalhar. Simulei as minhas criações, sonhei no que faria mas, qual não foi o meu espanto, quando piso o chão deparo-me com uma inundação. Senti a “traição do arco-íris”. Afinal, era a traição da natureza, do bairro que engolia a água e, agora a devolvia à superfície”. .
Julieta Massimbe defende que “são estes fragmentos que hoje concluídos compõem uma terapia. Por isso, podemos afirmar que, só morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música e quem não encontra graça em si mesmo. Noel revê-se em tudo isto”.
Fragmentos do arco-Íris
são cores e seus significados
- Nataniel Ngomane, académico
Nataniel Ngomane fala da obra de Noel Langa, contando um episódio imaginário que nos conduz à descoberta e paixão pelo arco-iris.
“Num belo dia, um jovem passeava-se pelas veredas da urbe. Subitamente, encantou-se com um simples fenómeno natural: era o arco-íris! Sorriu e, com certo alívio, pensou para com os seus botões: “não vai chover mais!” Tomou o caminho de casa, onde trabalhou e, a noitinha, dormiu tranquilamente. A meio da noite, porém, despertou. Ao colocar os pés no chão, e a contragosto, sentiu-os a mergulhar em água até acima dos tornozelos. Espantou-se e perguntou-se: “wé, quando choveu?” Não escutara sequer um pingo a tombar. Lembrou-se do arco-íris...”, conta Nataniel.
Explica Nataniel acerca do sonho que “de facto, não chovera mais, depois daquele arco-íris. Simplesmente, as águas caídas em bairros circunvizinhos tinham escorrido lenta, mas vigorosamente ao longo da noite, indo desaguar e acumular-se naquele seu bairro, o ponto mais baixo da região: Xitalamati! O arco-íris não mentira. O jovem decidiu atribuir o nome de “arco-íris” àquele micro-lugar, o seu espaço, onde pintava longamente: Arco-Íris! Passados muitos anos, voltou a dar esse mesmo nome ao Centro Cultural que ele mesmo criara naquele mesmo espaço: Centro Cultural Arco-Íris”.
O arco-íris é um fenómeno luminoso, observável quando a luz do Sol incide sobre a atmosfera, produzindo o aparecimento de um arco com as cores do espectro solar. Também é conhecido por “arco-celeste”, “arco-da-aliança”, “arco-da-velha”, “arco-de-deus”. “Na essência, é composto por uma infalível combinação de cores alinhadas sempre na mesma ordem: vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil (ou índigo) e violeta. Cada uma destas cores é prenhe de significados, enriquecendo o seu sentido”, afirma Nataniel Ngomane.
Segundo Nataniel, o vermelho, por exemplo, simboliza paixão, amor, coragem; energia, excitação. É a cor do elemento fogo, do sangue e do coração humano. “A cor laranja é associada à alegria, à vitalidade, prosperidade e sucesso. Basta lembrar as qualidades da laranja, da cenoura, da abóbora, associadas à saúde. Tem a ver com a criatividade, ao resultar da mistura do vermelho e do amarelo, chamadas cores primárias. Cor quente, carrega consigo, ainda, os símbolos de energia, entusiasmo, comunicação e espontaneidade. A cor amarela significa luz, calor, descontração, optimismo, alegria. Símbolo do Sol e do verão, o amarelo também se associa à prosperidade e felicidade”, afirma Nataniel.
Continuando na explicação das cores, Nataniel Ngomane diz: “A cor verde significa esperança. Mas também liberdade, saúde, vitalidade. Simboliza a natureza: pense-se na mboa, nyangana, couve e cacana, por exemplo. É a cor associada ao crescimento, à renovação e à plenitude. O azul simboliza tranquilidade, serenidade, harmonia. Cor da aristocracia e da realeza, está associado à frieza, à monotonia e à depressão. Cor fria, símbolo da água, do céu e do infinito, estimula a criatividade e favorece o exercício intelectual tranquilo”.
Para Ngomane, o anil (ou índigo) significa sinceridade, respeito e individualidade; já a cor violeta, também conhecida por “cor roxa” ou “púrpura”, tem a ver com a espiritualidade, com o místico. Magia, mistério. Apesar de transmitir a sensação de tristeza e introspecção, estimula o contacto com o lado espiritual das ideias, do pensamento, proporcionando a purificação do corpo e da mente; liberta os medos e outras inquietações espirituais. É a cor da transformação, apropriada para locais de meditação.
“É, pois, o cruzamento dessas cores, seus significados e infinitas combinações que, em Noel Langa, se reúnem e se recombinam, reluzentes, em Arte. Tal é o longo e maturo percurso, no tempo e no espaço, daquele jovem que um dia se encantou com o arco-íris e o adoptou, não somente como nome dos seus espaços de trabalho, seus atelier, oficina e escola”.
Nataniel Ngomane afirma que Noel Langa preencheu seus espaços com esse nome.“E cada vez mais, esses mesmos espaços e o seu próprio trabalho: as cores do arco-íris e seus significados, de forma fragmentária, mas progressiva, crescente. São essas cores e seus significados, esses Fragmentos do Arco-Íris, plurais e multidimensionais que hoje celebram a Exposição Individual de Noel Langa”.
Texto de Frederico Jamisse & Maria de Lurdes Cossa
Se perguntar não ofende...
Depois de a Renamo, particularmente o seu lider, ter sido excepcionalmente recebido por Filipe Nyusi, que acabava de tomar o posse, por duas vezes em Fevereiro de 2015, sinal de que o novo inquilino da Ponta Vermelha estava aberto a dialogar com todos, Afonso Dhlakama teve força para que se desdobrasse pelo país a contradizer o espirito que norteara a excepçao de ter sido esperado pelo chefe de Estado e com ele trocado impressoes que nos pareciam valiosas.
A seguir deu-se um passo, que foi a tomada de posse dos deputados que antes se recusavam a fazê-lo, pretensamente porque não reconheciam os resultados eleitorais. Imediatamente a seguir, a Renamo veio reequipar-se e com o novo equipamento calcorear o país jurando poder dividir para o governar.
Donde terá vindo essa ideia posterior? Assim, na vergonha de voltar a dar cara a quem havia jurado fazer o impossivel num Estado de Direito, recolheu-se de novo ao mato, para negociar a sua saida para o convivio com o povo que diz dirigir.
A ideia que ficou é que, não havendo como justificar o comboio de mentiras sobre a possivel governaçao parcelar do país, em funçao dos resultados, igualmente, parcelares, tinha que aparecer uma justificaçao, segundo a qual, “foi necessário muito esforço para que me demovessem a voltar sem cumprir a promessa”. É ou nao é?
Sabia, a Renamo, que insiste tratar-se de órgão paternal da democracia, que o sistema político proposto aos moçambicanos defende a escolha de dirigentes ou partidos politicos por meio de voto secreto, universal e decide que ganha quem vence na generalidade? Ou já não estão cá os que introduziram a aula?
Metidos em mais este imbróglio os moçambicanos, a todo o custo (?) querem a paz e a Renamo voltou aonde nunca tinha saido: confiar mais em estrangeiros do que em compatriotas, razão por que também, desta vez, só se poderia conversar na sua presença, com nomes e qualidades iguais às de há 22 anos. Era para quê?
Estarei enganado que era para preparar um encontro de alto nivel, entre o Chefe do Estado e o dirigente do partido inconformado, destruindo toda a confianca que em Fevereiro de 2015 levou a que fosse o presidente da República a esperar pelo cidadão Afonso Dhlakama, simplesmente por ser um dirigente de um partido?
Passado o tempo que passou, sem que a Renamo tenha parado de matar (in) discriminadamente os moçambicanos, será que o encontro entre Nyusi e Dhlakama está próximo, tendo em conta que dele não mais se fala? Pelo contrário nas entrevistas corridas dos preciosíssimos mediadores me chegam informaçoes de documentos que estao a ser preparados para serem Lei, depois de aprovados pela Assembleia da Republica...estou enganado?
Se não estou enganado, o diálogo (des) necessário (que em Fevereiro de 2015 não precisou de rondas negociais) visava criar condições para o encontro entre o presidente da República e o lider da Renamo ou preparar a mudança da legislaçao moçambicana?
Se perguntar não ofende, para mudar a legislaçao moçambicana precisamos de importar peritos estrangeiros que nos vão dizer em quanto tempo o farão para que num outro espaço temporal aprovemos através dos nossos representantes no parlamento?
Sendo verdade que o que está à vista, conforme todos os dias nos fazem saber, é a corrida de levar propostas legislativas saídas das sessões da comissao mista ao parlamento, para quando fica o encontro Nyusi/Dhlakama, que era o objectivo da constituição das equipas?
Por outra, não seria bom dizer publicamente que não conseguiram a missão ou dizer aos moçambicanos que só falarão quando as coisas ficarem amadurecidas?
Se é verdade que não estão a conseguir o encontro, que era o objectivo principal e saltam para outras experimentações, não rezam os modos de humildade dizer claramente da sua incapacidade, antes que a confiança que depositamos na comissão se desvaneça?
Se perguntar não ofende, o Parlamento vai receber por esta via adventícia as propostas de revisão legislativa? Vai aprovar? São muitas perguntas, mas como perguntar não ofende, segundo se diz por todo este país…
Pedro Nacuo
nacuo49nacuo@gmail.com
nacuo49nacuo@gmail.com
DAS NOSSAS LAMENTÁVEIS ATITUDES!
“Senhor, salva o teu povo, e abençoe a tua herança; apascenta-os e exalta-os para sempre” Sl 28:9
Eu faço tudo o que é possível para seguir o conselho do Buda Sakyamuni.Ele, um dia ensinou a um dos seus seguidores que: “Não viva no passado, não sonhe com o futuro, mas concentre a sua mente no momento presente”. Quero, veementemente, consertar a minha mente, somente no presente, porém…existe um passado que impregnou-se indelevelmente na minha mente e persegue-me implacavelmente. É o saudoso passado vivido com as minhas avós. Cada ano que passa, separando-me do convívio delas, separando-me daquele tempo que eu era criança, cheio de esperança e de ilusões, do tempo em que elas ensinavam-me os princípios de Sakaymani, os bons costumes e as boas maneiras inculcando-me que eu por minha vez deveria transmiti-las aos meus filhos. Foi um vasto leque de verbos de todas as conjugações gramaticais! Recordo-me delas e desse passado com nostalgia. Esse passado com elas, que não me larga, e porque é passado que não pode ser presente, entristece-me. Foi com elas que aprendi e transmiti o que delas aprendi aos filhos da filha da minha sogra. Para as minhas avós, as nossas atitudes nunca deveriam ser censuráveis. Para elas, uma pessoa imoral era alguém que revelava imoralidade, sem pudor, e estava ligado à libertinagem e obscenidades. Uma pessoa assim era descrita por elas (avós), como devassa, indecente e desonesta, pois revelava falta de carácter e vivia sem regras, sem auto-estima. Essa era, para as minhas avós, uma pessoa “Txipumbu, Xiphukuphuku, Wo Hunguka, Wo Xanga”, em suma, uma pessoa lamentável, ignorante, pois para elas, a ignorância era a causa de todos os problemas. Para elas, quem não respeitasse os “tabus”, era ignorante. Uma das minhas avós era analfabeta, mas não era ignorante. Elas nunca confundiam analfabetismo com ignorância. Tudo isso transmiti aos filhos da filha da minha sogra e eles, não me desiludiram até hoje. As minhas avós, empanturraram-me com muitos tabus que agora perante os filhos dos filhos da filha da minha sogra revelam-se como perda de tempo, uma estupidez! Cada ano que passa, os filhos dos filhos da filha da minha sogra crescem e se tornam fisicamente robustos, mas do ponto de vista moral, não passam de estátuas grandes, “cujo esplendor é excelente, mas a sua vista terrível, cabeças de ouro fino; peito e braços de prata; ventre e coxas de cobre; pernas de ferro; pés em parte de ferro e em parte de barro” (Dn 2:31-35). Eu sinto-me um inútil perante eles, porque o que ensinei aos pais deles, já não tem enquadramento no diário destes. Para eles a solidariedade e a moral que deviam ser a “guarda-chuva” da sua vivência e convivência, tornaram-se uma letra morta, sem valor nem autoridade. Segundo as minhas saudosas avós, uma das coisas mais importantes nos relacionamentos interpessoais, era o respeito mútuo, para que a convivência na sociedade fosse mais agradável. Por exemplo, passar no meio entre duas pessoas, cruzar com alguém sem cumprimentar, comprazer-se com o sofrimento alheio, assobiar de noite, tudo isso para elas era um verdadeiro atentado ao pudor, típico de ignorante. Vem este todo “arrazoado” a propósito do que os filhos dos nossos filhos, encabeçados por alguns adultos praticam diariamente. Num acidente de viação, os jovens (e alguns adultos), os mais “sensatos”, ao invés de socorrer as vítimas, tiram fotografias para enviar no “Wats up”. Os mais “ousadas”, desapropriam os haveres dos acidentados o máximo que puderem. Em linchamentos, assistimos com tristeza, imagens horríveis de jovens, (instigados por alguns adultos), gritando de júbilo, como numa orgia de loucos pela morte do linchado. Nós, avós, só conseguimos fazer passar para os filhos dos filhos das filhas das nossas sogras, verbos da primeira conjugação:assaltar, abafar, arrebatar, cabular, “catanar”, (novo verbo), desapropriar, destruir,devastar, depredar, engomar, esbulhar, escamotear,espoliar, estragar, furtar, imitar,larapiar,pilhar,rapinar, roubar, saquear, surripiar, tirar, trepar, …enfim, atitudes muito lamentáveis. Lamentamos muito quando “a bala sai-lhes pela culatra” como bem sói dizer-se. Que lamentáveis atitudes!
Kandiyane Wa Matuva Kandiya
nyangatane@gmail.com
nyangatane@gmail.com
BEIJO NA SAUDAÇÃO ENTRE HOMEM E MULHER: QUE SIGNIFICADO?
“Todos os irmãos…saudai-vos uns aos outros com ósculo santo” 1Co16:20
Como forma de as pessoas que amiúdes se relacionam comigo compreenderem a razão da minha indisfarçada relutância ou timidez, face à saudação através do beijo, vezes sem conta faço questão de trazer ao de cima as minhas origens. O facto é que, apesar de ter nascido no seio de uma família praticante dalguns valores ocidentais, exemplo da religião Cristã, não obstante, grande parte da minha infância foi influenciada pelas “asas” dos meus avôs paternos, meus aios, que eram marcadamente irreligiosos, ou seja, apesar de teremacerteza da existência de vários “deuses” e de inumeráveis coisas abstractas, ainda assim, não praticavam nenhuma religião, no sentido restrito do termo. Acreditavam, isso sim, na desencarnação do Homem, mas não na sua morte. Por isso na nossa língua, (minha e dos meus avôs), - Txi Txopi - a palavra “Morte”, só se aplicava aos Líderes, “Va Koma”, únicos que morriam e eram atirados numa lagoaça com areias movediças que os engoliam. Daqui o lugar chamar-se “Txi Tshotsha Va Koma”, que significa, lugar onde se “perdem” os Líderes. Os “Peões”, malta “Kandiyane & Compª. Ldª.”, quando “desencarnassem”, só deixavam de existir fisicamente e ficavam feios, (Va Bihid`e), desapareciam, (Va mwalad´e), deixavam-nos, (Va hi Sid`e). Quanto ao lugar onde os reles eram enterrados, o seu conhecimento era proibido para menores e só os mais velhos sabiam da sua localização. Sobre o beijo, não tive professor, porque na cultura da minha tribo publicamente não era praticado. Mesmo nos ritos de iniciação, (Circuncisão por exemplo), onde se ensinavam alguns princípios e algumas maneiras, nada dele falavam. Só ouvi pela primeira vez da sua prática na Bíblia:“Na escuridão da noite, ele subiu ao monte até chegar ao jardim onde Jesus havia ido orar. Guiando uma multidão armada, Judas se aproximou do Senhor e o beijou” (Lucas 22:47-48).E, a História Universal ensina-nos que, para a antiguidade grega e romana, o beijo era comum entre guerreiros no retorno dos combates. Era uma espécie de prova de reconhecimento. Apesar de os gregos adorarem beijar, foram no entanto os romanos que difundiram a prática. Os imperadores permitiam que os nobres mais influentes beijassem os seus lábios, e os menos importantes as mãos. Os súbditos podiam beijar apenas os pés. Eles tinham três tipos de beijos: o “basium”, entre conhecidos; o “osculum”, entre amigos; e o “suavium”, ou beijo dos amantes.Na língua dos esquimós, a palavra “beijar” é sinónima de “cheirar”. Por isso que, na hora de dar um “beijo de esquimós”, esfregam-se os narizes. No mundo Bíblico, o beijo era uma saudação comum. O “Ósculo Santo” é uma saudação realizada com um beijo. Para os primeiros cristãos, todavia, tornou-se um sinal do amor fraterno. É por isso que se acrescentou o adjectivo ”Santo”. Pedro chama de “beijo da caridade” (1Pedro 5,14). Tertuliano,um dos padres da Igreja, o definia “osculum pacis” e as Constituições Apostólicas o chamavam de “beijo do Senhor”. Justino, outro Padre da Igreja e mártir, diz que era normal entre os cristãos dar-se um beijo fraterno antes da Santa Ceia. Desta prática deriva o "abraço da paz" que os católicos realizam antes da comunhão, no rito da missa. Agora pergunto eu: entre nós, porquê apenas beijamos as bochechas das mulheres e nós homens só nos abraçamos? Porquê em certas “igrejas”, os homens sentam-se separados das mulheres, num Pais onde todos somos iguais perante a Lei. Não será esta prática segregacionista! Para mim, depositar flores nas Campas, (grande desperdício!) e beijar as faces duma mulher que não seja as da filha da minha sogra, são práticas incómodas. Aliás, no caso do beijo, julgo ser anti-higiénico, pois alguns portadores de doenças e fumadores, limpam os seus lábios sujos nas bochechas duma desgraçada mulher. Eis a questão!
Kandiyane Wa Matuva Kandiya
nyangatane@gmail.com
nyangatane@gmail.com
Sem comentários:
Enviar um comentário