A história e o partido
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Marques Mendes disse ontem na SIC que o primeiro-ministro, Pedro Passos
Coelho, que conhece bem, "desistiu" de ganhar as próximas eleições, pelo menos
as autárquicas. E que, neste momento, só está a trabalhar para a história: a de
apertar os cordões do espartilho das obrigações orçamentais que os parceiros
europeus nos impõem.
O primeiro-ministro também não quis esconder que desistiu de pensar nas
próximas autárquicas. Ontem mesmo, em Pombal, numa iniciativa para assinalar o
39.º aniversário do PSD, deixou claro que se o partido for vencido este ano não
se demitirá. Ora, um líder político, em véspera de eleições, por muito derrotado
que pense estar, nunca assume essa possibilidade perante as bases que esperam
sempre, uma palavra galvanizadora de incentivo ao combate político. Passos não
falou para aqueles militantes. Falou para o País. Foi aos portugueses que quis
dizer que não desiste como fez António Guterres, em dezembro de 2001, quando o
PS perdeu as eleições autárquicas. O líder do Governo pode ganhar ou não o País
com a ideia de que é corajoso, que enfrenta ventos e tempestades até final de um
mandato, que só terminará em 2015 (salvo se o CDS-PP de Portas quiser romper a
coligação).
Mas se o líder do PSD não mudar de discurso dentro do partido vai ter
militantes, autarcas, dirigentes distritais e até deputados a sentirem que é
tudo para perder - autárquicas, europeias e legislativas. E o partido, esse, não
lhe perdoará. Nem que a história acabe por lhe dar razão... .
Um ano de Hollande
Quando foi eleito, a 6 de maio de 2012, François Hollande encarnou a
esperança da esquerda europeia numa mudança de políticas: da austeridade
preconizada pela Alemanha de Merkel para o crescimento económico defendido pelo
primeiro presidente socialista de França desde François Mitterrand. Mas um ano
depois da vitória sobre Nicolas Sarkozy, Hollande está em queda acentuada nas
sondagens. Se os franceses fossem hoje às urnas, o socialista arriscava-se mesmo
a não passar da primeira volta, com as sondagens a colocá-lo atrás de Sarkozy e
da líder da Frente Nacional, Marine Le Pen.
Das suas 60 promessas de campanha, a aprovação do casamento gay foi a vitória
mais mediática. Mas a verdade é que muito continua por fazer. O Presidente que
levou França para a guerra no Mali, para fazer recuar as milícias islâmicas que
dominavam metade daquele país africano, não conseguiu impor-se na Europa. Depois
da relação especial com Sarkozy, Angela Merkel não parece disposta a substituir
o "Merkozy" pelo "Merkollande" e continua empenhada em impor o rigor orçamental
nos países mais afetados pela crise. Mesmo se Paris já disse que cumprir o
défice de 3%, nunca antes de 2014, e se a Comissão Europeia já afirmou ser
"razoável" dar-lhe mais dois anos.
Com o imposto de 75% para os detentores de fortunas acima de um milhão a ser
apenas uma das promessas adiadas, Hollande tem pela frente quatro anos para
provar aos franceses que estavam certos quando o escolheram para mudar o rumo do
país. Resta ver se lhe dão o benefício da dúvida.
1 comment:
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