Os conquistadores e dominadores que de fora vieram para nos explorar, negavam a nossa História e Cultura, fazendo da sua chegada o momento do início da civilização e da História.
Queriam-nos submissos e por isso mesmo só possuindo eles como ponto de referência do começo da existência humana. Vinham civilizar-nos e trazer a fé, a salvação, até nos baptizavam no embarque para os navios negreiros.
Retirando todas as referências tornavam-nos títeres manipuláveis, submissos, olhando para a metrópole como a nova Santa Cidade de Jerusalém.
Nascido no Zambeze, um dos maiores rios do mundo, até ver o Tejo acreditava que este rio português em muito superasse no tamanho o Nilo, o Congo, o Zambeze. Sempre me haviam ensinado que Vasco da Gama descobrira o caminho marítimo para a Índia, até que lendo e buscando melhor constatei que um moçambicano da Ilha de Moçambique, Ibn Magid, farto de navegar para o Kerala na Índia, para lá o levara. Vasco da Gama ameaçou enforcar no mastro grande da caravela a família raptada do moçambicano, se ele recusasse conduzi-lo à Índia. Curiosamente, ainda antes dos portugueses no Kerala, com uma grande população negra, diz-se msumbiji referindo-se à tez escura ou negra, tal como nas Seicheles, Reunião, Madagáscar.
No Século XX e XXI até vemos Chefes de Estado que fazem questão de possuir uma mansão na metrópole, onde se instalar se indo para a reforma como Senghor, ou depostos como Bokassa e Mobutu.
Entre nós vimos dirigentes da Guiné (B) a começar por Luís Cabral que, depostos, partiram para a metrópole, preferida à solidariedade oferta por Moçambique e Angola. Fraquezas humanas, cordões umbilicais difíceis de extirpar.
Li, faz algumas semanas, que a polícia deteve uns jovens que hasteavam a bandeira portuguesa na antiga sede da PIDE em Maputo. Não percebi:
1. Se pretendiam enaltecer a PIDE;
2. Se afirmar um saudosismo do colonialismo;
3. Se apenas não passavam de miúdos estúpidos e talvez embriagados ou drogados.
Ao fazerem esse acto de enaltecimento (?) à PIDE ofenderam os moçambicanos e os próprios portugueses que tanto sofreram nas jaulas desses carrascos. Revelaram sobretudo a ignorância mais crassa e por isso mesmo a mais perigosa, porque voluntária e incurável.
Lendo e ouvindo o que propagam certos círculos de saudosistas do colonial-fascismo e do apartheid fico com náuseas quando alguns, cá na terra e em letra de forma, papagueiam as calúnias e sandices, dando vontade de lhes perguntar quem pagou a triste encomenda.
Afirmam-se afinal como meros títeres, venais e submissos.
Transformam-se massacres como os de Mueda, Wiriyamu, Mkumbura, Inhaminga, Nyazónia, Homoíne em pequenos episódios em que as forças coloniais, rodesianas e os BA apenas deram uns sopapos e depois ofereceram uns refrescos. Outras vezes, como no caso de Homoíne, pretende-se alterar o autor do crime, imputando-o a quem combatia do lado das vítimas. Veja-se o que se afirma sobre o assassinato de Mondlane e de Samora. Acusa-se a URSS do crime. Os pilotos do TU 134 A não passariam de kamikazes ignorantes, embora com mais de 20.000 horas de voo, e provas comprovadas de competência.
Fala-se de guerra civil em Moçambique. O facto de moçambicanos se encontrarem nas hordas criadas por Orlando Cristina e colonos, rodesianos e o apartheid transformou em guerra civil a agressão racista? Também havia moçambicanos, angolanos, guineenses (B) nas tropas do colonialismo português. Tratou-se então e também de guerra civil?
Esforçam-se por qualificar os desertores, traidores, participantes do 7 Setembro em heróis? De quem?
Aqui, uns tantos, à falta de melhor, pretendem estigmatizar a geração dos ditos Históricos, os que fundaram a FRELIMO, desencadearam a luta de libertação nacional. Acusa-os, não sabemos bem de quê, de quererem manter-se no poder aos setenta e oitenta anos? De discordarem de certos rumos e decisões? De mencionarem o que entendem como erros ou desvios nas políticas e governação, local ou central?
Cada geração possui os seus méritos e desafios e nenhuma pode considerar que aquela que a sucede ou precede se mostra inferior. Não achamos que os nossos avós analfabetos possuam menos valores e hajam contribuído menos que nós. Igualmente os nossos netos com dez doutoramentos não nos devem desprezar, para lá chegarem nós fizemos. O resto não passa de complexo de inferioridade ou mero oportunismo mesquinho e carreirista, por vezes encomendado.
Um abraço ao enaltecimento da nossa História e às gerações que construíram e constroem esta pátria de heróis,
P.S. Notei que nesta II Sessão do Comité Nacional o Presidente da Associação dos Combatentes da Luta de Libertação Nacional qualificou de insulto à alma da FRELIMO a compra de votos. Logo depois do X Congresso em Pemba, Guebuza mencionou essa infâmia como assalto à consciência do Partido.
Estas compras de voto, acções de racismo, tribalismo, regionalismo constituem outras tantas facetas do oportunismo mais reles e destruidor da alma da FRELIMO e da consciência do Partido.
Vimos o que aconteceu na URSS e no PCUS quando esta escumalha se apoderou dos postos de comando no partido e no país.
Pela vigilância e respeito da ética, o meu abraço,
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