Vem esta a propósito de alguns escritos, publicados de forma propositada e também despropositada, no âmbito do sucedido em Muxúngue, terra outrora badalada pela produção do ananás, mas
que agora ganhou o epíteto de território de mau agoiro, onde a morte acaricia e impede que os locais e forasteiros transitem no gozo da sua plena liberdade.
Muitos nem sequer sabiam que Muxúngue existia; só comiam o ananás. Aliás, esta coisa de ter domínio de províncias, distritos, postos administrativos, localidades, cidades, vilas e aldeias não parece ser dádiva. Bula-bula ouviu, outro dia, num canal de televisão, dizer que a nossa Hidroeléctrica de Cahora Bassa ficava na Suécia, só porque a pergunta veio em múltipla escolha. Viu Moçambique, torceu o nariz. Como é que Moçambique pode ter uma das maiores barragens do mundo? Espanha não podia ser, mas entre o Brasil e Suécia, ficou pela Suécia. “É primeiro mundo. Só pode ter coisas grandes”, deve ter pensado.
Retomando o fio da estória, vem todo este palavreado a propósito de artigos publicados no pico dos tristes acontecimentos envolvendo os lamentavelmente célebres homens armados e a FIR. Um certo jornal entendeu espevitar o susto geral publicando uma fotografia dramática, dum cenário que nem era cá da casa, mas com uma legenda com piripiri para dar e vender.
“Neste momento, já há movimentações de populares em fuga da vila, em consequência dos confrontos entre a polícia e os homens armados da Renamo”, diz o aludido matutino em legenda elaborada à medida para gerar pânico enquanto o diabo esfregava o olho.
Bula bula, que não é vesgo embora esteja já a precisar de um par de óculos, deu uma vigiada na imagem e percebeu que as feições das personagens eram extra-muros. Remoeu-se para tentar enquadrar a paisagem num cenário nacional, e nicles. Muxúngue não tem um palmo de terra como aquela. As árvores não lembram nada. As trochas, idem. O ambiente, ibidem.
Como tem algum domínio das TIC´s, ou seja, Tecnologias de Informação e Comunicação, foi ao encontro delas e, num piscar de olhos encontrou a imagem serenamente postada num espaço reservado aos refugiados de guerra congoleses. Lá das bandas de Goma ou Hebo Kananga. Nada parecido com o nosso dilacerado Muxúngue.
Com aquela foto e legenda de mãos dadas, e o ambiente tenso que o país vivia, muitos moçambicanos espalhados pelo planeta, ficaram com o pânico nas goelas. “Fazer as malas também?”
Pessoas, próximas e outras nem tanto, ligaram para Bula-Bula assustadas; queriam saber se o país estava ou não em guerra…
Tudo porque nesta coisa de jornalismo nem sempre o interesse é a verdade. As vezes há quem opte por forçar a notícia.
E por falar em seriedade, uma outra publicação escreveu um autêntico ode à vingança que teria como personagens principais os mesmos célebres homens vestidos de verde e boina preta que pululam em redor de Afonso Dhlakama. Dizia, o referido jornal, que aqueles iriam vingar a morte dum tal rastafári que liderou uma acção deplorável da qual resultou a morte de cinco agentes da polícia.
Em sete parágrafos do mesmo articulado, é possível ler que a morte do fulano vai provocar muita cólera por parte dos que sobraram e que estes vão se vingar.
Emoções à parte, mas ficar prostrado a bradar aos céus para que o país assista à tal vingança cheira a alguma caipirice. Pior ainda porque Afonso Dhlakama veio a público afirmar, alto e em bom som que nunca viu e nem ouviu falar do referido despenteado.
Assim como assim, já dizia o velho Mahatma Gandhi que “assim como uma gota de veneno compromete um balde inteiro, também a mentira, por menor que seja, estraga toda a nossa vida.”
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