domingo, 26 de fevereiro de 2017

O like ou a vida


Pode um like no Facebook pagar uma cirurgia a um menino doente? Bastará uma partilha para ganhar um Audi vermelho? Não, e é preciso que se saiba porque é que estes posts virais e fraudulentos continuam a aparecer nos nossos feeds.
Reuters/THIERRY ROGE
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REUTERS/THIERRY ROGE
Na terça-feira, a britânica BBC noticiou o fenómeno viral em torno das imagens de uma criança com visíveis problemas de saúde. "Este bebé tem cancro e precisa de uma cirurgia", lia-se na legenda de um conjunto de fotografias de um menino repleto de marcas na pele. "O Facebook decidiu que vai ajudar com dois dólares por like, quatro dólares por comentário e oito dólares por partilha", incluía a nota. Sem surpresa, o post foi partilhado cerca de meio milhão de vezes, tornando-se omnipresente no feed dos utilizadores anglófonos daquela rede social.
A má notícia: o Facebook não vai dar nem um cêntimo para pagar a cirurgia. A boa notícia: Jasper, o menino nas imagens, não precisa de uma cirurgia porque não tem cancro – as fotografias são antigas e ilustram apenas um caso de varicela.
E agora a explicação para esta fraude bizarra e recorrente. As fotos de Jasper foram roubadas e o objectivo de quem as publicou sob uma falsa campanha de solidariedade é a angariação massiva de likes, fãs e seguidores. 
A finalidade é tudo menos nobre. O que começa habitualmente por ser uma campanha de angariação de fundos, uma passatempo que parece bom de mais para ser verdade ou um movimento de indignação contra uma figura pública torna-se, passado uns tempos, numa página adormecida que é posteriormente vendida a um anunciante, um meio de comunicação ou mesmo a um movimento político (e esta pode ser a explicação para o facto de ainda não ter percebido porque é fã de certas páginas no Facebook).
Depois da notícia da BBC, o Facebook suspendeu a conta associada ao post falso. Já é a segunda vez que o utilizador, cuja identidade se desconhece, é bloqueado este ano, pelo que se questiona porque é que a conta tinha voltado a ser autorizada (a rede social diz que está a investigar o caso).
Num momento em que a imprensa e a opinião pública dão mais atenção ao fenómeno da difusão de notícias falsas com fins propagandísticos nas redes sociais, é importante chamar a atenção para outro tipo de truques igualmente nocivos. Que, muitas vezes, acabam por ter o efeito de descredibilizar campanhas de solidariedade legítimas.

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