segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Cavaco mandou votar contra a libertação de Mandela em 1987


Hoje, o presidente fala da estatura moral e da universalidade do legado do líder sul-africano; mas em 1987, quando era primeiro-ministro, Portugal votou, ao lado dos EUA de Reagan e do Reino Unido de Thatcher, contra uma resolução que exigia, entre outras coisas, a libertação de Mandela.
Cavaco Silva: depois do voto de Portugal, Mandela ainda ficou mais três anos na cadeia.
Em 1987, o governo português chefiado por Aníbal Cavaco Silva votou contra uma resolução que exigia a libertação incondicional de Nelson Mandela na ONU, Juntando o seu voto apenas aos Estados Unidos de Reagan e ao Reino Unido de Margareth Thatcher. A resolução pode ser lida aqui (em inglês).
A resolução da Assembleia Geral é a 42/23A e tem como título “Solidariedade com a Luta de Libertação na África do Sul”. Teve 129 votos a favor, 3 contra e 23 abstenções. A votação, país por país, pode ser conferida aqui (link is external).
Mandela ficaria ainda mais três dos 27 anos que passou na prisão.
Hoje, o mesmo Aníbal Cavaco Silva que mandou votar contra a libertação do líder sul-africano, elogia a sua estatura moral e lembra o “extraordinário legado de universalidade que perdurará por gerações”.
Outra resolução
A mancha que essa votação ao lado dos últimos defensores do apartheid deixou em Portugal não desaparece pelo facto de o país ter votado a favor de uma outra resolução, mais moderada, mas que exige a libertação de Mandela. Numa comparação entre as resoluções A e G, salta à vista que esta última não se refere à legalização do Congresso Nacional Africano, de Mandela, partido que se encontrava banido. A resolução G pode ser lida no mesmo PDF que contém a A e a votação está aqui (link is external).
Seria interessante ouvir as explicações do então ministro dos Negócios Estrangeiros, João de Deus Pinheiro, sobre os motivos destas votações contraditórias, que ocorreram no mesmo dia. Os EUA e a Grã-Bretanha votaram contra as duas.
A memória não é curta
Numa nota no Facebook, Francisco Louçã lembrou este facto e comentou. “A memória não é curta”.
A eurodeputada Ana Gomes recordou uma outra votação das Nações Unidas sobre as crianças vítimas do apartheid: “Lembro-me de um episódio em 1989, quando tínhamos uma resolução sobre as crianças vítimas do apartheid apresentada pelo grupo africano. Vergonhosamente, tivemos instruções para votar com os Estados Unidos e a Grã-Bretanha, numa posição contrária a essa resolução”, disse à TVI24, acrescentando que “havia muita gente em Portugal que achava que os nossos interesses estavam do lado do apartheid”. O primeiro-ministro era, igualmente, Cavaco Silva.

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Termos relacionados Mandela, Política

Comentários

É impressão minha, ou os links para os quais o corpo do texto remetem, acabam por ir no sentido oposto ao do post? Não gosto do Cavaco, mas acho que temos que ser sérios. Gostaria de esclarecer esta questão ...

É impressão sua... Os links estão claros. Na votação da resolução 42/23A, aparece um N ao lado de Portugal, dando conta que Portugal votou CONTRA. Na 42/23G, aparece um Y, dando conta de que votou a favor, tal como é dito no artigo.

não, não é impressão. Cavaco votou a favor de uma resolução que tambem exigia a libertação de Mandela.
Quem escreveu este artigo apenas quis aldrabar as pessoas que não se dão ao trabalho de confirmar...
Tristes..

Esta notícia é falsa! Portugal votou contra uma resolução generalista de embargo económico e político à Africa do Sul (RES/42/23/A), onde se incluía , entre outras coisas a libertação de Mandela. Na altura, o embaixador de portugal na ONU, um tal de Ramalho Ortigão (tem o mesmo nome do escritor) defendeu que não concordava com o texto agressivo da resolução A, mas que Portugal era completamente contra o regime do apartheid, não concordando igualmente com o embargo económico, certamente pensando nos inúmeros emigrantes que lá tínhamos e temos. No entanto, numa resolução específica sobre as medidas a tomar pela ONU onde se pedia, também entre outras coisas, "a libertação incondicional" de Mandela (RES/42/23/G), Portugal votou a favor! Apenas os americanos votaram contra. Portanto esta notícia não passa de oportunismo político , puro e duro. E eu nem gosto de Cavaco! Mas a verdade acima de tudo.

Na lista aparece "Y Portugal" que corresponde a um Yes (Sim) de Portugal para a Acção internacional concertada para a eliminação do apartheid: resolução / adotada pela Assembléia Geral. Logo a notícia não corresponde à verdade.

Realmente a esquerda portuguesa da um excelente contributo a este país... já não basta não explicarem porque e Portugal votou contra ainda dão mais ênfase a esse voto do que ao Homem que Mandela é...

Foi ontem explicado numa reportagem televisiva. No mesmo dia votou contra a libertação, por entenderem que a resolução incitava a violência e votou a favor da libertação de Nelson Mandela, numa segunda resolução, já sem qualquer menção á luta armada. Mais uma notícia falaciosa, incorrecta e difamatória que em nada dignifica o nosso País.

Acho que fazer propaganda política, mesmo com o pretexto do falecido Nélson Mandela é ir muito abaixo. Cavaco Silva, representando Portugal, votou contra a medida de libertá-lo recorrendo à violência. Como qualquer país que se preze e que não seja de 3º mundo, todos votaram ou contra ou absteram-se. Apenas os países que não era desenvolvidos, ou não têm 2 dedos de testa é que querem libertar o símbolo da PAZ com VIOLÊNCIA...
Estou muito desiludido com o BE... é pena

É uma pena fazerem artigos destes. O jornalismo é uma coisa séria. Deve ser para transmitir informação, e não para influenciar opiniões. Tudo bem, referiram que a libertação de Mandela não era o único factor, mas não escreveram o artigo de forma imparcial. Gostava que tivessem atenção à escrita no futuro.

Na resolução G claramente lê-se no 4c) que todas as restrições serão levantadas aos indivíduos e pessoas - logo ao ANC que seria legitimado. Na resolução A no ponto 2 legitima-se o uso de todos os meios necessários incluindo a violência. É isso o legado de Nelson Mandela? Por mais razões que haja para cascar no Cavaco usam a forma mais baixa que é não só usar a morte de um grande homem como mentir e deturpar? Estou muito desiludido.

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