segunda-feira, 5 de março de 2018

UMA POLÍTICA DE EQUIDADE PARA A SÍRIA



Não tomo partido por qualquer dos exércitos que se defrontam na Guerra da Síria. Sei o suficiente - incluindo de posições que tomei no passado e hoje admito terem sido mal informadas e precipitadas - para perceber que não existem mãos limpas nos conflitos do Oriente Médio. E que os grupos chamados «moderados» são uma minoria, quando não uma ficção, sem força política e militar na região, sem base social significativa e raramente de confiança.
Sei também que na guerra, em QUALQUER guerra, a manipulação da informação e da opinião pública são levados a cabo por TODAS as partes. A contra-informação não é uma invenção de romancistas. Apesar da presença no terreno de centenas de repórteres profissionais, que não podem ser enganados todos ao mesmo tempo. Sei ainda que a região é alvo dos interesses geo-estratégicos das grandes potências, dos EUA à Rússia, passando por alguns Estados europeus, que não estão ali para espalhar propriamente a boa-vontade.
Mas é por isso mesmo que não aceito a culpabilização de apenas um dos lados - o daqueles, associados por vezes a correntes islamitas radicais, ou a algumas potências ocidentais, que lutam contra Assad - e a desculpabilização ou a aceitação das razões do outro, protagonizado pelo ditador sírio, com recurso ao suporte militar da Rússia (diz-se que também da Coreia do Norte), usado sobre as regiões dominadas pelas forças voltadas contra o poder de Damasco.
Acontece que, pelo meio, têm estado, em diversas frentes, largas centenas de milhar de pessoas inocentes, que vêm a suas vidas destruídas, são chacinadas ou sofrem horrores sem uma proteção internacional eficaz e decente, apenas porque têm o azar de se encontrar em território controlado por uma das fações, e não pela outra.
A proteção dos civis e dos refugiados tem de ser a prioridade primeira de uma política internacional justa e equitativa para a Síria. Mas para que ela seja possível é necessário reconhecer esta urgência. Não fazer de conta que os problemas acontecem apenas num dos lados e muito menos tomar o partido do outro lado, legitimando como benévolas e necessárias as suas acções mais agressivas. Pelo que é possível saber-se, ambos são maus e ambos olham as pessoas comuns como carne para canhão.
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Comentários
José Soudo Texto muito reflectido...
A ler com muita atenção...
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22 h
Cristina Seabra Excelente post
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22 h
Maria Jorgete Teixeira É muito assim que penso.
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21 h
Isabel Prado Castro Bom texto que estabelece claramente as prioridades e não embarca em leituras fáceis.
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21 h
Isabel Lhano Muito bom Rui Bebiano. Abraço triste por essa realidade.
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20 h
Maria Dulce Santos É isso mesmo.
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20 h
Marilia Soares Subscrevo.
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20 h
Graça Clímaco Belo texto , esclarecedor !
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19 h
Carlos Jorge Pedrosa Gonçalves O cidadão comum não pode ter a veleidade de mandar bitaites sobre a verdade de qualquer guerra. 
Até nós tivemos a Psico a trabalhar em todas as frentes das nossas guerritas!
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Maria Cabral Gostei muito de ler o seu comentário. A necessidade de apoiar as populações que estão a ser literalmente chacinadas é premente. Exige que não se tome posição, exige um equilíbrio difícil mas essencial. Eu tenho lido e ouvido muito sobre esta guerra desumana e NÃO HÁ MÃOS LIMPAS, mas HÁ GENTE QUE SOFRE HORRORES. O médio Oriente é o palco ensanguentado de interesses do mundo ocidental, do eoriental e das próprias potências locais. O Yemen foi e está a ser dizimado. Um grande silêncio cobre os seus mortos.
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Catarina Costa subscrevo na integra

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