sexta-feira, 2 de março de 2018

Refugiados nas cidades italianas estão “longe da vista e excluídos do direito”


Médicos Sem Fronteiras denunciam as condições de vida desumanas em que se encontram milhares de pessoas.
Refugiados da região do Corno de África em Roma
Foto
Refugiados da região do Corno de África em Roma EPA
A organização não governamental Médicos Sem Fronteiras (MSF) calcula que actualmente sejam dez mil os refugiados e requerentes de asilo a sobreviverem em Itália, “totalmente excluídos dos dispositivos de direito comum”. Face a um “sistema de acolhimento saturado e na ausência de solidariedade de outros Estados europeus, Itália conhece hoje uma situação inédita onde estas pessoas não podem ver assegurados os seus direitos nem conseguem viver dignamente”, escreve a associação num relatório com muitos testemunhos intitulado Longe da Vista.
Turim, Milão, Florença, Roma, Foggia, ou nas cidades de fronteira como Bolzano, em todo o lado os MSF encontrarem pessoas que descrevem como “invisíveis”. Vivem em casas ocupadas ou em campos improvisados de tendas; metade dos visitados pela organização não tem acesso a água ou electricidade. Há “lugares improváveis” ocupados só por homens, enquanto noutros sítios sobrevivem “mulheres sozinhas ou mesmo famílias com crianças pequenas”.
A MSF explica que esta situação é o resultado dos inúmeros despejos forçados que se multiplicaram nos últimos meses, forçando estas pessoas a juntarem-se em grupos dispersos e a “viver em condições extremas sem acesso a cuidados médicos ou serviços sociais”.
Os investigadores dos MSF encontraram principalmente somalis, sírios, iraquianos, paquistaneses e afegãos, ou seja, pessoas “que possuem um estatuto de protecção mas não conseguem encontrar alojamento ou emprego estável”. O relatório vem confirmar os testemunhos recolhidos por várias associações suíças que se opõem aos reenvios de pessoas para Itália – se este tiver sido o país de entrada de um requerente de asilo, a lei europeia dita que é nele que tem de se fazer o pedido.
Para Gabriele Eminente, director-geral dos Médicos Sem Fronteiras e italiano, o sistema de acolhimento em Itália “deve ser completamente reformado”. O sistema actual “apoia-se quase exclusivamente nos centros de acolhimento extraordinários improvisados para urgências e preparados para funcionarem durante curtos períodos”, descreve. Para piorar a situação, “estes centros são geridos por pessoas sem experiência, o que também tem de mudar”. 

Sem comentários: