Passos e Portas tiveram pavilhões cheios aos jantares mas também hostilidade nas ruas.
Embalada pelas sondagens favoráveis, a campanha da coligação Portugal à Frente andou animada entre as suas hostes, mas não teve apoio popular nas ruas. Nem teve sequer Passos Coelho e Paulo Portas saíram muitas vezes à rua. Preferiram visitas a fábricas e instituições. Assim se evitou alguma hostilidade entre os populares e sobretudo os lesados do BES.
A mensagem foi quase sempre a mesma: o Governo recuperou a economia do país e agora é possível iniciar um ciclo de crescimento. Na segunda semana foram suavizados os ataques a António Costa. Era preciso conquistar os indecisos com um tom de moderação.
Com estilos pessoais diferentes, Passos e Portas também geriram à sua maneira as críticas que foram ouvindo nas ruas. O líder da coligação PSD/CDS tende a demorar-se com quem se queixa e dá explicações detalhadas sobre questões fiscais ou sobre as pensões. É até compreensivo quando lhe dizem que os impostos são altos. Os sacrifícios que foram feitos pelos portugueses estiveram muitas vezes nos discursos como custos incontornáveis do ajustamento.
A coligação compreende até a hostilidade nas ruas, mas pouco a terá sentido. Passos e Portas estiveram sempre rodeados de seguranças e de elementos das juventudes populares. Eram simpatizantes e apoiantes os que mais se aproximavam dos líderes e era quem estava mais ao longe que insultava a caravana. À noite, os jantares-comício enchiam pavilhões gigantes, com a organização sempre a falar em recordes. À porta havia autocarros estacionados, mas também muitos automóveis particulares.
Numa atitude que contrasta com a de Passos Coelho, Paulo Portas aposta no cumprimento rápido e segue em passo rápido quando percebe que vem aí uma crítica incómoda. O candidato a primeiro-ministro só se afastava quando havia agressividade. Ou quando considerou que os protestos eram organizados e que se repetiam.
Os lesados do antigo BES fizeram mossa no distrito do Porto, onde apareceram em duas acções de campanha no mesmo dia. Em Paços de Ferreira, os manifestantes obrigaram os dois líderes a desviar-se para outro ponto do jardim, naquele que foi um dos maiores momentos de tensão da campanha.
As ruas nunca se encheram para ver passar os líderes da coligação. Nem Viseu, o chamado Cavaquistão pelo seu domínio social-democrata, atraiu pessoas para a tradicional arruada do partido. O próprio Passos Coelho justifica a fraca mobilização para comícios com uma tendência geral de há vários anos e não apenas destas eleições. Se as sondagens apontam para uma vitória da coligação PaF, ela não se sente nas ruas.
Em toda a campanha oficial, a mensagem forte dos discursos manteve-se, sofrendo apenas algumas variações. A ideia da herança da bancarrota socialista e a recuperação económica por parte deste governo foi o eixo central, que é facilmente entendível e aí pode estar um dos pontos fortes da campanha.
Na segunda semana, Passos Coelho tentou virar-se mais para os proximos quatro anos, mas nada de promessas nem de euforias. Foi repetir até à exaustão a ideia de que foram lançadas as bases para um crescimento económico sustentável, que foi restaurada a confiança. E que um governo socialista – encostado à esquerda radical – pode deitar tudo a perder.
A aposta foi claramente tentar conquistar o eleitorado ao centro. Passos sempre com um discurso mais institucional, Portas com uma mensagem de ataque ao PS. Nos últimos dias, abrandou e só nos últimos dois voltou a ter gás contra Costa. Os votos ao centro não se conquistam “aos berros”, como se diz na coligação.
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