Negociar a paz efectiva em segredo contraria o discurso de inclusão, que o Filipe Nyusi pronunciou no acto da sua investidura no cargo de Presidente da República de Moçambique, no dia 15 de Janeiro do ano corrente (2015), na Praça da Independência, Cidade de Maputo.
A paz efectiva não deve ser negociada em segredo. Ninguém quer viver eternamente com um segredo. Quem não se lembra que o Joaquim Chissano (JAC) fez revelação de uma "mentira" com a qual se conseguiu que o Afonso Dhlakama aceitasse assinar o Acordo Geral de Paz (AGP), em Roma, Itália, a 4 de Outubro de 1992? Numa entrevista concedida à Rádio Moçambique (RM), em Outubro de 2012, o JAC disse ter ludibriado o Afonso Dhlakama para o fazer rubricar o AGP sem mais delongas. Foi assim mais ou menos como se segue.
À última da hora, quando tudo parecia estar aposto para a assinatura do AGP, cuja cerimónia tinha sido inicialmente marcada para ter lugar no dia 01 de Outubro de 1992, a Renamo lembrou-se de questionar como seriam administradas as porções do território nacional (moçambicano) que estavam sob o seu controlo. Para atender esta questão, o JAC teve que elaborar, ele próprio, três protocolos cuja autoria ofereceu ardilosamente à equipa de mediação, para que a Renamo não os recusasse. E assim foi: os três protocolos foram aceites pela Renamo—esta pensando que eram da autoria da equipa de mediação—e, assim, o Afonso Dhlakama aceitou sentar-se à mesa, ao lado do JAC, como por este previsto, para juntos rubricarem o AGP.
Veja-se que o arranjo relatado acima, entre a equipa dos mediadores e o Governo de Moçambique, foi secreto. Quando o JAC—de novo ardilosamente—revelou este facto na citada entrevista por ele concedida à RM, dias depois ouvimos dizer que o Afonso Dhlakama tinha saído da Cidade de Nampula, onde se encontrava a viver, e se fora aquartelar em Gorongosa, junto com os seus homens armados. Daí não tardou que se iniciassem as movimentações dos "homens armados residuais" da Renamo, facto que conduziu ao início das hostilidades militares ocorridas entre 2012 e 2014. Estas hostilidades levaram ao diálogo bipartido Governo-Renamo, que vinha decorrendo no Centro Internacional de Conferências até recentemente, diálogo esse que produziu o Acordo de Cessação das Hostilidades Militares, assinado a 5 de Setembro de 2014, por Armando Guebuza (então Chefe do Estado e do Governo) e Afonso Dhlakama (líder da Renamo).
Claramente, este episódio de arranjos secretos no diálogo pela paz ensina que a «paz efectiva», duradoura, não se ganha com secretismos. Negociações secretas ou arranjos ardilosos, se insistirmos nela(e)s, só vão gerar descendentes da paz podre que ora vivemos em Moçambique, esta paz podre que é consequência de arranjos ardilosos feitos no passado. Por esta razão, eu considero que quem apregoa negociações secretas não deseja paz genuína e duradoura em Moçambique.
Vamos lá acelerar a abertura do diálogo pela «paz efectiva» em Moçambique e assegurar a participação de todos os sectores da nossa sociedade neste diálogo, pois a paz é todos nós e a sua manutenção é nossa responsabilidade colectiva e não só de alguns! Dialogando todos em paz e pela paz, será mais fácil identificarmos e isolar os inimigos da paz. Em contraste, dialogando no secretismo, emulamos a desconfiança e minamos a paz.
Viva a paz!
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