OPINIÃO
03/04/2015 - 05:51
Para nossa desgraça, António Costa, talvez por falta de inspiração própria, não mostrou até agora capacidade para inspirar ninguém.
O menos que se pode dizer da operação que levou António Costa a secretário-geral do PS e a candidato a primeiro-ministro é que não foi “elegante”.
Nessa altura, muita gente desculpou ou justificou a grosseria e a brutalidade da coisa, porque esperava de António Costa uma nova oposição ao governo lúcida e compreensível e, sobretudo, com princípio, meio e fim. A discrição e as meias-frases na Quadratura do Círculo davam a impressão de esconder um pensamento sólido e um plano político original, que nos tirasse do lugar-comum e da pura irrelevância do debate instituído. Infelizmente, não aconteceu nada disso. Nem nos rituais do Congresso Socialista, nem a seguir em meia dúzia de entrevistas de uma “prudência” claramente exagerada e de uma ambiguidade extrema, António Costa saiu da mastigação das velhas lamúrias da esquerda e da extrema-esquerda.
Esperança não trouxe nenhuma; e extinguiu depressa o entusiasmo das “primárias” do PS, em que não se sabe ao certo quem votou. Apareceu então um putativo salvador que se calava ou, quando se mexia, era como se andasse a pisar ovos. O que, de resto, não o salvou de erros sem desculpa. Prometeu baixar o IVA da restauração para 13% (como se os 23% não tivessem também o objectivo de melhorar a qualidade dos serviços prestados); prometeu a “reposição total” dos salários (do Estado, claro) e das pensões, sem explicar onde iria buscar o dinheiro para essa extravagância; prometeu que os municípios passariam a reter uma indeterminada percentagem do IVA, gerado localmente; e prometeu um “programa nacional” de “requalificação urbana”, aparentemente financiado pela “Europa”. Ora isto por um lado é muito, e por outro lado muito pouco. Meia dúzia de medidas não faz um plano estratégico; e um plano estratégico precisa de uma inspiração unificadora, capaz de ser adoptada e compreendida pelo cidadão comum.
Mas, para nossa desgraça, António Costa, talvez por falta de inspiração própria, não mostrou até agora capacidade para inspirar ninguém. No governo foi um razoável ministro; na câmara um administrador sofrível; e no partido um ambicioso hábil. O que não chega para um país sem futuro certo ou destino visível. Tropeçando de papel em papel e de comissão em comissão, António Costa vai fatalmente desaparecer, já desapareceu, no cansaço e no desespero dos portugueses.
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