Thursday, April 30, 2015

A força do TINA

OPINIÃO




30/04/2015 - 05:03


Convém começar por aceitar o que não podemos mudar, para depois mudar aquilo que podemos.



TINA, que é como quem diz, “There Is No Alternative”, é um acrónimo que teve grande popularidade durante os anos de Margaret Thatcher à frente do governo britânico, e foi depois recuperado no decorrer da crise de 2010 para sublinhar algo tão simples quanto isto: não há uma verdadeira alternativa ao caminho de austeridade em países profundamente endividados como o nosso, totalmente dependentes de financiamento exterior para fazer face às obrigações mais elementares. Estando o país nas mãos dos credores, a margem de manobra para lutar contra as políticas que nos são impostas de fora é pouco mais do que nula. Daí o TINA. Ou, na língua de Camões, o NHA – Não Há Alternativa.

No entanto, os críticos das políticas da austeridade esforçaram-se ao longo dos últimos anos para transformar o TINA numa espécie de grau zero do pensamento político – invocar a ausência de alternativas seria equivalente a uma suspensão da democracia, seria um acomodamento derrotista aos ditames da troika, seria uma rendição inaceitável à ideologia neoliberal. Embora tenha sido por causa da troika que o país não faliu, e sendo bastante óbvio que sem o auxílio de um programa de resgaste a inevitável bancarrota teria arrasado toda a economia, muito boa gente parece, ainda assim, não se ter dado conta deste óbvio paradoxo: as almofadas internacionais que hoje impedem a falência de um país e os efeitos dramáticos de uma Grande Depressão são as mesmas que possibilitam aos partidos políticos mais extremados acharem que elas são dispensáveis e opressoras.

Para me queixar de um corte numa mão é preciso que o braço ainda lá esteja, mas quando estamos perante uma mão que sangra, dizer ao seu dono “repara na sorte que tiveste em não ter ficado sem o braço” é um discurso insensível e pouco eficaz. Daí as dificuldades mediáticas e políticas do TINA. Mas, claro está: não é por um discurso ser difícil que o seu conteúdo deixa de ser verdadeiro, e a melhor forma de nos apercebermos disso é quando um partido como o Syriza faz o favor de chegar ao governo e embater com a realidade – aí, o TINA volta a mostrar toda a sua força, e o NHA de “Não Há Alternativa” transforma-se num néon piscante por cima da cabeça de todos os países com as contas públicas em desordem.

NHA, NHA, NHA seria, aliás, um bom resumo das negociações da Grécia com os seus parceiros europeus. Por um lado, porque o senhor Varoufakis parece ter muito mais estilo do que substância, sendo acusado de se limitar a arrastar as negociações e a esgotar a paciência dos seus colegas, um dos quais já o classificou como “gastador de tempo, jogador e amador”. Por outro, porque aquilo que o Syriza tem ouvido dos parceiros é a necessidade de continuar a impor a austeridade, o que implica atirar com as suas promessas eleitorais para o fundo do mar Egeu. Não, não há alternativa – a não ser, claro, sair do euro, algo que a esmagadora maioria dos gregos recusa de forma peremptória.

O mal que isto faz à Grécia está na proporção do bem que faz a Portugal. Não espanta, aliás, que o entusiasmo do PS com o Syriza se tenha evaporado, e o programa económico de Mário Centeno e companhia esteja dois metros à esquerda do PSD e dois quilómetros à direita do Bloco e do PCP. Quem ainda sonha com amanhãs que cantam não deve ter ilusões: atinar com o TINA é tão-só abandonar o estado de negação e dar um passo para sair do buraco. Convém começar por aceitar o que não podemos mudar, para depois mudar aquilo que podemos.


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