Monday, April 20, 2015

O "Club-K" e a prova do tempo - José Ribeiro

 

Luanda - A Máquina do Tempo é uma poderosa ferramenta de trabalho. É uma solução informática que permite traçar o perfil pessoal de alguém e aceder à sua rede de relacionamentos.

Fonte: Jornal de Angola

O “Club-K” e seus rebentos transformam o Estado num monstro


Nas bases de dados e na Internet essa aplicação é um instrumento eficaz e na análise dos “media” tem um valor enormíssimo. Do estudo sociológico de grandes volumes de notícias extraem-se conclusões de grande significado. É possível detectar nomes de pessoas, cargos que ocuparam, o que disseram e o que fizeram em determinado momento.

Essa plataforma pode, por exemplo, mostrar quem aparece mencionado nas notícias sobre determinada personalidade nos arquivos de quase 100 anos existentes no Jornal de Angola.

A Portugal Telecom propôs em 2013 à Edições Novembro a exploração dos conteúdos do Jornal de Angola com essa ferramenta. A ideia era trabalhar as notícias sobre personalidades e, a partir daí, criar o seu perfil e rede de relações, diversificando a qualidade de conteúdos para os nossos internautas. Uma solução dessas, desenvolvida pela Universidade de Aveiro, já é usada no portal SAPO.

Se vier a lançar esse novo produto, o Jornal de Angola vai reafirmar o seu pioneirismo na esfera do “on line”, depois de ter sido o primeiro órgão a lançar a tecnologia da “realidade aumentada”.

O grande problema da Máquina do Tempo é que ela só mostra o relacionamento entre o que está inserido na base de dados utilizada. O que está de fora não conta, é excluído à partida. Aí se coloca o problema da responsabilidade do operador da ferramenta.

O “Club-K” abriu uma guerra contra o Jornal de Angola desde que sou director deste jornal. Sem saber porquê, há oito anos que esse portal ilegal e caluniador lança informações falsas e ofensivas contra mim, contra camaradas meus que trabalham no jornal e contra a empresa que dirijo. Algumas dessas informações partem de gente que ficou zangada com a recuperação feita no jornal, com um sucesso editorial, publicitário e de vendas que seria maior se não se levantassem logo aqueles sempre prontos a criar dificuldades. Ainda não tinha eu aquecido o lugar e já o “Club-K” e seus rebentos me chamavam bajulador, se calhar por acharem que quem trabalha bem não deve ser elogiado e a solidariedade e a gratidão devem dar lugar ao ódio.

Depois passaram a designar-me cidadão português e mercenário que beneficiava de privilégios à entrada em Portugal, talvez por considerarem que um angolano é incapaz de fazer um bom jornal e dirigir bem uma empresa. Vieram em seguida os ataques por causa do reforço da equipa editorial com bons profissionais, antigos e novos jornalistas, de dentro e de fora, que acrescentaram valor ao “projecto”. No ano passado, intensificaram os ataques e agressões e noticiaram que eu tinha abandonado “o posto” na empresa – eu que sou um viciado no jornalismo e nada mais faço do que dedicar-me ao trabalho. O chefe da bancada parlamentar da UNITA, Raul Danda, ostentou contratos assinados por mim. E, finalmente, na última semana, os franco-atiradores e sociopatas que disparam do “Club-K” contra a honra e o bom nome dos cidadãos procuraram pôr-me contra o Presidente da República, contra a Primeira-Dama, contra ministros e ex-ministros, administradores e outros mais, afirmando que faço “cabritismo” no jornal e sou um corrupto.

Ficou assim fechado o cerco contra mim. De bajulador passei a inimigo do “regime”. A Máquina do Tempo do “Club-K” reduziu o meu perfil e história de vida a um estrangeiro malfeitor que veio para Angola, minha terra e meu país, perturbar a harmonia social. Nada que não faça com outros servidores públicos. Mas se analisarmos tudo o que esse matadouro já escreveu sobre Angola, órgãos de soberania, detentores de cargos públicos, empresários e até simples cidadãos, o retrato que sai do portal é assustador. O país é um inferno, onde os bons são os maus e os maus os bons. Aqueles que fizeram a paz, reconstruíram o país e abrem as portas ao desenvolvimento, aparecem como assassinos, intolerantes e corruptos. Aqueles que fizeram a guerra, destruíram e fogem da governação, surgem como vítimas de um regime repressor e são os defensores da democracia.

O “Club-K” e seus rebentos transformam o Estado num monstro. A isso, o “Club-K” chama, pomposamente, o “contraditório”. Ora, a noção de contraditório vem do Direito e nada tem a ver com o Jornalismo. A prática profissional do Jornalismo tem regras próprias que asseguram os princípios da objectividade e a exaustão da informação. A infiltração em moda de conceitos do Direito no Jornalismo, como se o repórter conduzisse um processo legal e a sua função fosse julgar e condenar, explica o oportunismo crescente entre jornalistas, advogados, opositores e activistas. Essa confusão não é desinteressada, mas no balanço final quem sai a perder é o Jornalismo.

É evidente que a propaganda agressiva é apenas alimentada por pessoas frustradas. Mas um país que precisa de manter a estabilidade e atrair investimento não pode negligenciar centrais de desinformação que minam os pilares da democracia e do Estado de Direito. Noutros quadrantes isso é exemplarmente punido.

O “Club-K” encaixa, de facto, no modelo de terrorismo mediático. Antes de tudo, é um portal ilegal, anónimo, e o terrorismo age dessa maneira. Ninguém conhece os representantes legais, não há ficha técnica nem endereços. Se querem copiar o “Tugaleaks”, tudo bem, mas pelo menos indiquem de quem é a propriedade da casa. Gente civilizada procede assim. De outra maneira, o combate é desigual e injusto e a concorrência desleal. No Jornal de Angola apenas sabemos que nos roubam os conteúdos editoriais e os publicam sem autorização no “Club-K”. O nome do ladrão é desconhecido.

Durante a semana, o “Club-K” lavou o rosto da página e endureceu os ataques contra mim. Os anúncios de publicidade desapareceram, à excepção de um. Se os anunciantes abandonam o circo, fazem bem. Não vá o diabo tecê-las, um dia destes, podem, também eles, ser atingidos pela lama da difamação e transformar-se, na máquina torturadora do “Club-K”, em seres abomináveis.

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