MARCO DO CORREIO por Machado da Graça
minuce@gmail.com
Bom dia amiga Lídia
Como vai essa saúde? Os teus filhos estão bem?
Estou-te a escrever hoje por causa de uma coisa que me perturbou bastante.
Mas eu explico.
Em todos estes dias que decorreram desde que Nelson Mandela nos deixou tenho visto dezenas, talvez centenas, de fotos e de vídeos em que ele aparece junto de imensas pessoas, seja chefes de estado e outros governantes, seja junto de pessoas simples, muitas das quais crianças.
Pois no meio dessas centenas de pessoas nunca vi, em caso nenhum, o Madiba com o nosso Chefe de Estado Armando Guebuza.
Talvez por problemas de agenda, por todo o tipo de desencontros, não parece que alguma vez eles tenham sido apanhados juntos por um fotógrafo atento.
Isto apesar de o Gabinete de Trabalho de um ser mesmo em frente à residência do outro, dos dois lados da Avenida Julius Nyerere. A sensação que dá é que a avenida não deve ter sido cruzada muitas vezes, num sentido ou no outro, se é que alguma vez o foi.
E é por isso que fiquei tão negativamente surpreendido com uma foto que vi de um cartaz esticado por cima de uma avenida da nossa capital, em que se afirma que Mandela e Guebuza são “dois grandes líderes inseparáveis na humanidade africana”.
Sabendo nós que Madiba ganhou muito do seu prestígio pela forma sábia com que conseguiu impedir uma guerra civil, na África do Sul, que parecia inevitável, parece totalmente incorrecta esta comparação com o homem que não conseguiu encontrar vias políticas para impedir que os moçambicanos voltassem a andar aos tiros uns aos outros.
Comparar o homem que lutou pela inclusão de todos os sul-africanos no seu país a um dirigente que tem excluído da partilha da riqueza nacional todos os que não pertencem ao seu círculo, dentro do seu partido, é algo profundamente chocante.
Roça quase a heresia, como disse alguém que comentou a foto.
O mesmo cartaz anunciava uma marcha e uma feira para o passado dia 15. Estando fora de Maputo não sei se se realizaram e, no caso de se terem realizado, se o tema foi o mesmo do cartaz.
Sinceramente espero que não porque, para abuso, já bastou o tal cartaz. Coisa absolutamente impensável, só possível numa sociedade gravemente doente.
Machado da Graça
CORREIO DA MANHÃ – 17.12.2013
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