AVALIAÇÃO DOS TRÊS PRÉ-CANDIDATOS ANUNCIADOS SEMANA PASSADA
Conjectura-se que a escolha está feita e para a fazer valer há já acções de persuasão em curso. A disputa entre os três pré-candidatos visa essencialmente realçar a figura do escolhido e confortar os preteridos
XAVIER DE FIGUEIREDO *
Análises baseadas em novos e/ou mais sedimentados dados sobre a lista de pré-candidatos às eleições presidenciais de 2014, apresentada pela Comissão Política (CP) da Frelimo coincidem na ideia de que a mesma corresponde a interesses/vontades do Presidente, Armando Emílio Guebuza, tendo em vista a sua “sucessão”. Factores mais considerados:
- Os três pré-candidatos são todos afectos a Guebuza; gozam da sua confiança política e pessoal; dependem em toda a linha do seu apoio; José Pacheco é o mais próximo, mas Alberto Vaquina e Filipe Nyussi colmatariam a contento de Guebuza uma qualquer eventualidade de o primeiro não vir a impor-se.
- A chamada “ala chissanista”, com representação minoritária na Comissão Política (Luísa Diogo, Eduardo Mulenbwé, Eneas Comiche, entre outros), revelou uma atitude considerada de conformação com a escolha dos pré-candidatos, de facto propostos por Guebuza; não esboçou qualquer tentativa de lançar outros nomes.
- O facto de os três précandidatos serem originários do Norte (Nyussi e Vaquina), e do Centro (Pacheco), melhora as condições para a Frelimo ganhar as eleições
– cenário eventualmente também decorrente da ausência de um compromisso político e eleitoral Renamo/MDM, bem como da não apresentação de nenhum candidato independente oriundo da Frelimo.
Guebuza abandona a chefia do Estado, mas tenciona manter-se como presidente da Frelimo, pelo menos até ao Congresso de 2015.
O poder e influências que o presidente da Frelimo detém no actual quadro político, mais o ascendente o mesmo terá sobre o seu substituto, fazem prever que Guebuza continuará a ter papel politicamente preponderante.
2 . A reunião do Comité Central (CC) da Frelimo, ao qual caberá a formalidade de escolher um dos três pré-candidatos, só deverá ter lugar em Fev/Mar de 2014. Em teoria o hiato até ao CC permitirá aos pré-candidatos aplicarem-se em acções destinadas a impôr as respectivas candidaturas.
A ideia geral, porém, é a de que uma tal disputa entre os três será meramente ilusória. Conjectura-se que a escolha está feita e para a fazer valer há já acções de persuasão em curso. A disputa entre os três pré-candidatos visa essencialmente realçar a figura do escolhido e confortar os preteridos.
A presumível inclinação de Guebuza pelo nome de Pacheco é especialmente considerada entre os analistas.
Mas também são conhecidos pontos de vista pertinente segundo os quais Vaquina, que começa a dispôr no partido de uma base de apoio própria, não é um nome a excluir.
Na CP teria mesmo sido o nome mais acarinhado.
O propósito de captar os eleitorados do C e N, onde se situam grandes círculos eleitorais
perdidos pela Frelimo (Beira, Quelimane e Nampula), está patente no facto de a origem dos três pré-candidatos garantir plenamente que o próximo Presidente não será oriundo do Sul, como todos o foram, até agora.
Oficialmente Guebuza é natural de Murrupula, Nampula, no Norte, mas o facto não é considerado suficientemente representativo da sua condição de nortenho, já que os seus progenitores são/eram originários do Sul, que por razões relacionadas com as suas vidas se instalaram no local do seu nascimento do actual estadista.
3 . Em meios políticos de Maputo correm rumores de que as alas ditas “não guebuzistas” do regime provavelmente ainda se entenderão para promover uma candidatura independente provinda da Frelimo. Não é possível estimar a viabilidade de tal hipótese – até devido à apatia revelavada na CP pela “ala chissanista”.
Não é crível que qualquer das figuras geralmente apontadas como tendo perfil para se apresentar como candidatos independentes da área da Frelimo o venha a fazer. Entre as razões principais de tal retracção considera-se que temem consequências pessoais de quebras de lealdade partidária e não dispõem de meios materiais para avançar.
Luísa Diogo e Graça Machel, as duas mulheres em geral vistas como possíveis candidatas independentes, estão ambas “estigmatizadas” por particularidades da sua vida pessoal ou familiar susceptíveis de restringir uma base de apoio eleitoral considerada mínima para não se exporem a previsíveis desaires.
Eneas Comiche (Correio da manhã Nº 4222, pág 1) é consideradoo único dos putativoscandidatos independentescom hipóteses consideradaspalpáveis de conquistar votosao candidato da Frelimo.
Não apenas devido ao seu prestígio interno, como à ideia de que foi “vítima” do actual Presidente, promotor do seu afastamento político.
4 . José Pacheco (55 anos de idade), natural de Ampara, distrito de Búzi, província de Sofala, tem vasta experiência governativa e boas qualificações académicas e políticas.
Entrou no Governo em 1995, como vice-ministro da Agricultura.
É desfavorecido pelo impacto socialmente negativo de episódios da sua vida política associados a venalidade e radicalismo.
Como ministro da Agricultura ministro (e mesmo depois disso) foi apontado como tendose envolvidos em negócios de madeira com chineses; como governador de Cabo Delgado, como responsável moral pela morte por asfixia de 150 elementos da Renamo na cadeia de Montepuez em 2000; como ministro do Interior, como implicado na repressão das manifestações de 1 e 2 de Setembro de 2010.
Alberto Vaquina é médico de profissão (formado em Portugal, onde também exerceu a profissão). Não tem implantação política e não denota dinamismo. A sua condição de originário de Nampula e a postura politicamente serena que revela, julga-se que constituem predicados para travar a expansão do MDM.
Informações de difícil confirmação sugerem que foi Vaquina o nome que na CP suscitou melhor acolhimento – um fenómeno considerado decorrente não apenas de méritos próprios, mas também do facto de capitalizar politicamente com a menor aceitação interna de que Pacheco parece dispor.
Filipe Nyussi nasceu em 29 de Fevereiro de 1969, em Namaua, distrito de Mueda, província de Cabo Delgado.
A sua origem étnica maconde incenttiva apoios provenientes de veteranos da Frelimo, como Alberto Chipande e Raiumundo Pachinuapa, com a mesma proveniência.
Os seus progenitores aderiram de longa data à Frelimo.
É desfavorecido pelas animosidades ainda vivas entre os macondes e os macua (estes ocupam 70% do território de Cabo Delgado). Os macondes também coexistem dificilmente com o grupo minoritário dos kimwane, cuja identificação predominante com a Renamo é considerada uma atitude de rebeldia em relação à Frelimo.
* in Africa Monitor Intelligence
CORREIO DA MANHÃ – 18.12.2013
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