quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

As eleições acabadinhas de acontecer no País


Elisio Macamo
O que me vai na cabeça neste momento são as eleições acabadinhas de acontecer no País:

É como no futebol

Vejo alguns paralelos entre o futebol e a política, sobretudo no nosso País. O primeiro refere-se à relação entre regras e conteúdo. Na política e no futebol as regras são muito claras, tão claras que até são – para dizer as coisas com base no filósofo americano da linguagem,John Searle – con...stitutivas da política e do futebol. O problema, contudo, é que quer na política, quer no futebol quem deve cumprir as regras – e fazê-las cumprir – são pessoas. E para piorar as coisas, tanto o futebol quanto a política são coisas extremamente imprevisíveis. E é aí onde tudo se estraga. Porque nem sempre ganha o melhor – senão, por exemplo, o Clube de Gaza seria campeão eterno do Moçambola – uma boa parte da energia de quem se interessa por futebol – e política – vai para a interpelação constante das regras e, sobretudo, das motivações das pessoas que as deviam fazer cumprir. E o curioso no meio de tudo isto é que futebol e política deixavam de ser o que são sem aquelas discussões apaixonantes sobre as decisões do árbitro e da Comissão Nacional de Eleições. A falibilidade humana – que não é a única razão por detrás do não cumprimento das regras, naturalmente – vira, por causa da imprevisibilidade, algo calculado, intencional e maldosamente planeado. Futebol sem discussão sobre a interpretação de “fora de jogo” deixa de ser futebol, razão pela qual eu sou contra a introdução de aparelhos electrónicos para determinar isso.

O segundo paralelo é o do amor à camisola. Futebol e política é assunto de fé, não necessariamente de razão. O que acabo de escrever não é bem verdade. Aqueles que jogam, treinam e gerem o futebol pensam, desenham estratégias e definem filosofias. Acontece o mesmo com aqueles que fazem política. Mas tanto o futebol quanto a política acontecem no contexto de seguidores. Os chamados “fãs”; “torcida” para os brasileiros. E a relação que estes têm com os seus clubes e partidos é, invariavelmente, uma relação baseada na fé. O problema disto é que quando o clube ou o partido perdem – e perder é sempre uma possibilidade – a reacção de muitos deles é, primeiro, interpelar as regras, e, segundo, odiar ainda mais o adversário ou todo aquele que se mostra neutro. Os mais equilibrados ainda podem interpelar o seu clube, mas quando é assim é mais em sinal de frustração pela fé que julgam ter sido traída. E começam a pedir para que saia o treinador (ou o secretário geral). Uma coisa com a qual é difícil lidar é com o simples facto de perder e ganhar serem componentes estruturais do jogo e da política. Não podem ganhar todos, nem todos podem perder. Sendo assim, perder ou ganhar não é sempre sinal de ter feito tudo errado, ou bem. É um resultado estruturalmente determinado.

Há de certeza mais paralelos, mas fico por esses dois. Interessam-me duas consequências que noto para o caso de Moçambique, sobretudo em relação à política. A primeira é do clubismo que parece se apossar da política. Noto que no Facebook as vitórias eleitorais (de ambos os lados) estão a ser festejadas quase da mesma maneira como se festejam as vitórias do FC Porto, Benfica e Sporting e, se calhar, com os mesmos níveis nojentos de barulheira pelas artérias das cidades. Não se festeja o facto duma ideia, duma filosofia, dum projecto político terem vingado na sociedade. Nada disso. Festeja-se o facto de a aleatoriedade estrutural da política ter bafejado alguns com sorte e outros com azar. Se calhar sou o único a ver, e a ter, problemas com isto. E pouco surpreendemente quando se discute o rescaldo não é o que será feito (e como) que está no centro das atenções, mas o facto de se ter ganho apesar das regras ou das circunstâncias e a promessa-ameaça de que da próxima haverá nova “surra” ou desforra.

A segunda consequência é algo para a qual os adeptos alemães de futebol inventaram uma palavra: “Erfolgsfan” (o adepto que só dá na cara quando o seu clube ganha – em Xai-Xai, onde se detém os direitos de autor sobre isso, chamamos a esse tipo de gente “favor do vento”). É o mais odiado, muito mais do que o adepto do maior rival. É odiado porque como ser adepto é coisa de fé – e quem se orienta pela fé é normalmente intolerante – quem faz a sua simpatia depender do desempenho se torna imediatamente suspeito, não como alguém que pensa, mas como alguém que é infiel. Uma vez que em futebol e em política é moralmente injusto que aquele de quem a gente não gosta ganhe, o “Erfolgsfan” é eticamente problemático e, quiça, a razão da falta de sucesso, o elo que nos impede de termos o entrosamento necessário à vitória. O que eu acho curioso, contudo, é que apesar da imoralidade do “Erfolgsfan” a nossa política, pelas suas condições estruturais, produza esta figura aos milhares. Só que não se trata daquele que faz uso da razão para distribuir simpatias. As eleições, sobretudo depois de terem ocorrido, são incubadoras do oportunismo, o qual por sua vez, produz a falta de interesse no futebol e na política como actividades colectivas que, em primeiro lugar, não estão lá para servir os nossos egos, mas sim dar uma ideia de mundos que são possíveis mesmo com árbitros e observadores eleitorais maldosos.
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  • Egidio Canuma Professor, confesso que estive a espera dum texto seu a este proposito e cometi o erro de estabelecer expectativas sobre o mesmo. Bem o meu erro vai passar despercebido porque o texto correspondeu as minhas expectativas.See Translation
  • Antonio Timbana Eu sempre fico a espera de ver os posts do Professor Elisio Macamo. As suas filosofias, as suas análises muitas vezes me deixam claro mas ao mesmo tempo confuso. Ao longo da leitura deste texto muito curto para os habituais textos, parecia que estava a entender o caminho me guiava, no final do texto entendi que não, o pensamento aqui exposto é filosófico e carecerá de diversas interpretações.See Translation
  • Fernando Ernesto Ernesto Pois bem, espero q no fim do mandato de 5 anos, os eleitores tenham motivos para saírem as ruas para festejarem o cumprimento dos programas apresentados em forma de manifestos eleitorais.See Translation
  • Inacio Chire Gostei dessa do Clube de Gaza....See Translation
  • Alcídes André de Amaral Bom professor, gostei da analogia que faz entre o futebol e a política. Gostei! Embora não concorde com esta forma de pensar a nossa política. Muitos analistas aqui da praça, desfilando pelos canais de televisão, apostam ou apostaram muito neste tipo de analogia. Embora não fossem tão coerentes quanto procurou fazer. Na minha opinião acho que para analisar a nossa política, deve-se ir além do futebol. Porque parar ali seria o mesmo que dizer que são dois grupos que treinaram e, para não decepcionarem os adeptos e daí vencerem o jogo, vão ao campo e jogão. Procedimento bem diferente da política. Só para dar uma razão da diferença é que as pessoas vão votar. No futebol as pessoas esperam que a sua equipe vença. Simplesmente! Ao passo que em política as pessoas esperam que um partido ou um cidadão vença e que possa o governar durante cinco anos facto que as faz com que vão votar com base na experiência que tiveram dos cinco anos passados. É por isso que, pelo menos em política, a expressão "QUE VENCEM O MELHOR" é mais vaga do que a expressão "QUE O POVO ELEJA DENTRE TODOS CONCORRENTES O QUE ACHAR CAPAZ DE O GOVERNAR". Escrevi pelo menos em política porque em futebol, diferentemente, a segunda expressão pode ser mais vaga que a primeira. Em futebol joga-se em função do adversário mas em política, o caso concrecto destas eleições, joga-se em função do público, em função dos eleitores ou, na linguagem mais política, em função do povo. Agora, no que diz respeito aos "Erfogsfan", para decorar o vocabulário, de certeza em Nampula assistiu-se pessoas que, como dizem os analistas da praça, "deram a cara" so que resta saber se são esses mesmos que vão segundo a direção do vento. Vale perguntar: onde estavam? Por quê que só agora "deram a cara"? Será que temiam? E se sim o quê e porquê temiam? Etc, etc. Contudo queria enfatizar que para a compreensão da nossa política é necessário que se vá para além de um campo de futebol! Para alem de adeptos mas sim para aquém de um povo que vive e reage segundo o que vive e viveu. Estamos juntos!See Translation
  • Antonio Timbana Alcides Andre de Amaral fiquei impressionado com a sua leitura, faltava-me exactamente isso para entender, daí que afirmei ue estava confuso.See Translation
  • Junaide Vieira Gosto do texto e do paralelismo estabelecido. Alias consideremos (também) que a arte de ludibriar e ou defraudar no futebol é futebol e é também política. E ainda no que concerne aos gostos, também do ''Erfolgsfan'', a sua aplicabilidade e a sua explicação. Apenas fracassei à quando a minha tentativa de pronunciar a mesma. Cumprimentos Professor.See Translation
  • Eliha Bukeni Professor, gostei do texto e do paralelismo que estabelece entre a política e o futebol. Efectivamente, no futebol quando a equipa "não joga" e perde a competição, não se sacrifica os 11 jogares em campo ou os 25 do plantel, é o treinador que vai, ainda que nos campeonatos anteriores tenha conquistado os títulos. O professor já disse que tinha alguma simpatia com o esquema táctico de AEG, quero crer que há de compreender o posicionamento dos adeptos que entedem que a equipa perdeu, por isso, pedem a cabeça do treinador!...
  • Alcídes André de Amaral António Timbana é simplesmente a forma que acho ser mais viável para compreender a política no nosso país. Por outras palavras, é a minha opinião, somente a minha opinião, a esse assunto! See Translation
  • Salomao Moiane O Meu amigo Zet Tamele, nas vésperas do escrutínio/durante a campanha ESCREVEU:

    CAMPANHA ELEITORAL VAZIA I


    Para mim, CAMAPANHA ELEITORAL é divulgação de um PROJECTO de governação COMPLETO de um certo candidato e/ou partido. Neste caso considero COMPLETO todo aquele projecto que tenha o perfil, por exemplo, de um projecto científico - projecto que aos eleitores de todos os segmentos sociais traga a percepção do que se pretende fazer, onde, quando, porquê (qual a prioridade), como (com que fundos), para quê, etc.

    Acontece, porém, que os políticos moçambicanos fazem apenas promessas e não campanha eleitoral propriamente dita - como se descreve no parágrafo anterior - se não vejamos:
    1. O candidato/partido X promete, por exemplo, alargar a rede sanitária mas não diz aos eleitores em que região, com que fundos, qual é o período para o cumprimento da promessa, que prioridade isto tem para os eleitores,...
    2. O candidato/partido que quer renovar mandato promete CONTINUIDADE, mas nunca aparece a justificar o incumprimento de certas promessas e medidas de correcção.
    Nos últimos 15 dias andei atento, à minha maneira, para ouvir qual seria o projecto de governação que merecesse o meu voto - não porque comungo a mesma linha ideológica do proponente mas, sim, porque o projecto promete soluções das minhas inquietações como munícipe - e acabei percebendo q nenhum (e nenhum mesmo) dos candidatos/partidos apresentava sequer um PROJECTO DE GOVERNAÇÃO. Todos eles (os candidatos/partidos) faziam promessas, ao meu ver, infundadas. Portanto, deu para deduzir que a CAMPANHA ELEITORAL que se fazia era, no seu todo, VAZIA. Agora, se não se apresentou projecto de governação algum o que fazer? Deixar de votar? Não, alguem o faria em meu lugar! Fazer "voto branco"? Não, alguem ajudaria a preencher depois de abrir as urnas! Fazer "voto nulo"? Não, ficaria com ressentimento de exercício de cidadania mal feito!

    Eu achei muito interessante pois e o que devia ser.
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  • Filipe Ribas A minha mãe adora futebol e não é adepta de equipa alguma. Ela aplaude os golos, sejam de quem for. Ela curte a beleza do golo, como resultado de um desempenho. De modo que acabei por entender que ela apoia o projecto que resulta.Não precisando de lealdades ou fidelidades cromáticas, que por vezes lhe poderiam fazer chafurdar na frustração. Portanto e em política, tanto quanto me parece, nenhum partido se pode chamar dono de parcelas da população. Ai, se o gordo fosse forte e o magro fraco, o mundo seria um pombal.See Translation
  • Ilidio Da Silva ....Não se festeja o facto duma ideia, duma filosofia, dum projecto político terem vingado na sociedade. ... Meus Caros concordaria com esta opiniao se partirmos do principio que todos temos a mesma percepcao da estrutura que deve guiar um projecto. Ou seja por exemplo o projecto de edificacao de uma casa de canico( k um leigo como eu podera projector) vai de certeza alegrar ao individuo que dorme ao relent e nao tem abrigo. Mas de certeza que nao alegrara aquele que esta com expectativas de ter uma casa de dois pisos com piscina etc( ai como diz o Salomao vai ser necessario um conhecimento mais cientifico). No entanto em qualquer dos casos estaremos perante um projecto em minha opiniao, E embora para situacoes diferentes ambos estarao completes para a respective situacao . Sera que por exemplo aquele que sofreu na PELE( e ossos) so pelo facto de expresser sua discordancia em relacao a ideia politica defendida pelo outora governante, nao devera ter motivos que suficientes para comemorar o facto de os resultados das eleicoes PROJECTAREM a ideia de que vai poder continuar a usufruir desse PODER de expresser suas ideias ?? Uma questao nao sera tambem motive de alegria a existencia de Erfolgsfan divergentes . Aquele abracoSee Translation

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