17/02/2011
em http://delagoabayword.wordpress.com/2011/02/17/a-beira-e-o-grande-hotel-da-beira/
Agradecimento prévio – o texto aqui reproduzido é já uma segunda versão, elaborada após lidos textos e recebidos comentários preciosos de um número de pessoas que leram a versão original, directamente ou através do que haviam já publicado. Deixo alguns nomes: Adelino Serras Pires, João Manuel Cabrita, Francisco Ivo, Paola Roletta, Zé Paulo, António Albuquerque e José Manuel Fernandes.
Confesso que não entendo de todo o fascínio com o tópico do Grande Hotel da Beira, antes e agora, e muito menos a pretensão de dialética tépida que meia volta alguém se lembra de dizer existir em relação àquilo. Um filme recente, decalcado na apresentação em cima, é um desses exemplos, talvez elevado a um novo nível, em que intercala o passado e o presente com o fim de…..bem, não entendo.
O Grande Hotel da Beira foi aquilo que os americanos chamam (transliterando) um Elefante Branco do tempo da administração portuguesa. Não pelo desígnio, mas devido ao que aconteceu logo a seguir.
Um tal Sr. Saúl Brandão (“um tal” é eufemismo meu: ele era o Número Um da Companhia de Moçambique, ou Entreposto, que na altura era ainda um potentado na Beira) lembrou-se de fazer um mastodonte grande demais, caro demais, na altura errada e no sítio errado. Pensava-se que o hotel serviria para as zonas adjacentes, incuindo o magnífico Parque Nacional da Gorongosa, uma das maravilhas de Moçambique e do mundo, ali ao lado.
Só que nada aconteceu, a não ser o governo rodesiano ter apresentado uma queixa formal em Lisboa contra o funcionamento do hotel.
Porquê?
Na verdade a história por detrás do Grande Hotel é outra.
Hoje provavelmente poucos se lembram que o nome formal do hotel era para ser “Grande Hotel Casino da Beira”. O Grande Hotel era para ter um casino, que seria a chave crucial para o seu sucesso, sem a qual nada daquilo faria sentido. Só que a Rodésia já (ou também) tinha um hotel com um casino em Victoria Falls. Pressionado, púdico e revelando uma atroz falta de visão – e ainda mais inacreditavelmente, Salazar já havia ordenado o encerramento em Lourenço Marques dos Casinos Bello e Costa (que ficavam na Rua Araújo) – o governo português, que tudo indica ter entretido a hipótese de autorizar o jogo na Beira, retira a possibilidade da concessão de uma licença de jogo ao Grande Hotel, prenunciando a sua morte prematura mesmo antes da sua inauguração.
Para os padrões da época em Moçambique, especialmente na pacata cidade da Beira, a obra parecia faraónica. O seu desenho de base foi do arquitecto José Porto, o mesmo que concebeu o plano de urbanização para a Beira naquela altura, plano esse que, precisamente, incluia a implantação de um hotel e uma piscina de dimensões olímpicas na Ponta Gêa, uma zona nobre da cidade. Mas faltavam os planos de pormenor. Em 1953, António Arantes e Oliveira, que era um dos administradores da Companhia de Moçambique na Beira (irmão do que foi mais tarde o Governador-Geral que teve por missão assegurar a conclusão da agora “revertida” Barragem de Cabora-Bassa) contrata para essa tarefa o Arquitecto Francisco de Castro, então um jovem que tinha acabado de concluir um brilhante percurso académico mas ainda sem obras de referência, que fizera escola com Pardal Monteiro, António Lino, Nuno Craveiro Lopes, Henrique Albino, Ruy Athouguia, Formosinho Sanchez e António Gomes Egea. Francisco de Castro mete-se num avião e ruma para Moçambique, onde as obras do hotel já haviam começado, e acompanha todos os pormenores da sua construção e conclusão. No final, estima-se que o seu custo final (90 mil contos na moeda da altura) fora o triplo da estimativa inicial e a data de inauguração, que era para ser em 1954, na realidade só ocorre em finais de 1955.
Ajudou muito que o dono da obra – a Companhia de Moçambique (mais tarde metamorfoseada no Entreposto, que eventualmente teria dois grandes braços, um em Moçambique e outro na então “Metrópole”) era rico. O interior do hotel era, segundo os relatos, de um luxo e requinte palpáveis, não se tendo poupado para em tudo se obter do bom, do melhor e do mais moderno que havia no mundo de então. Para a modesta e pacata população urbana beirense, maioritariamente brancos de origem portuguesa de primeira, segunda e terceira geração, habituados aos rigores espartanos de uma vida quase de fronteira, aquilo era um deslumbre quase total.
A Recusa
Quando toma conhecimento da recusa governamental em conceder uma autorização do jogo para o hotel, Brandão ficou fora de si. Para cúmulo, a seguir o dono do casino de Victoria Falls, o Senhor Simon Arch, vem à Beira e tenta comprar o complexo a Brandão. Mas Brandão não vende e manda fechar as instalações. Furioso, desinteressa-se pelo projecto. O grande Adelino Serras Pires, que viveu e acompanhou de perto o processo, referiu:
“Na altura viajei ao lado do Brandão no percurso Johannesburg-Paris, tudo organizado por mim e pelo Simon Arch, proprietário do casino de Victoria Falls e dono de várias joalherias em Salisbury, Lusaka, etc. O Brandão, furioso porque em Lisboa tinham cancelado a licença do casino, recusou vender o hotel ao March e declarou se marimbava para o hotel. Em França, estive uma semana em casa do Simon, que ficava em Nice. Ele era um Judeu, um homem brilhante.”
Porque no que concerne o resto, os rodesianos que vinham a Moçambique acampavam nas praias e os milionários americanos e europeus que iam ao Parque da Gorongosa de facto gostavam de pernoitar nas suas parcas instalações ao estilo de John Wayne no filme Hatari.
A agravar mais a situação, quase simultaneamente, e também com um projecto da autoria do Arquitecto Francisco de Castro, constrói-se na mesma altura na Beira o Hotel Embaixador, que abre logo a seguir (14 de Agosto de 1958) competindo directamente, e com muito mais sucesso contra o Grande Hotel pelo negócio (Francisco de Castro foi ainda co-autor da Estação Ferroviária da Beira, um dos grandes monumentos da cidade).
Para complicar um pouco mais o enredo, Saúl Brandão era um dos accionistas do Hotel Embaixador (mas creio que a título pessoal).
Sem o jogo, praticando preços quase proibitivos para os bolsos de quem visitava a cidade, e com uma gestão aparentemente questionável, o Grande Hotel teve prejuízos operacionais inaceitáveis praticamente desde o dia em que abriu as portas.
E assim como qualquer negócio em qualquer parte em que não havia procura para o seu produto, aquilo cedo faliu e fechou.
E permaneceu mais ou menos fechado mas mantido impecavelmente por quem de direito (o Entreposto, sucedâneo da Companhia de Moçambique) até 1975. Ocasionalmente o edifício era utilizado para funções específicas – recepções, cerimónias, festas, casamentos, etc, e a piscina manteve-se em uso durante todo este período.
Eu, que competi na natação nessa altura em (e por) Moçambique, conhecia muito bem o Grande Hotel, pois efectuei dois estágios na Beira, em 1972 e 1973 em que a Selecção de natação de Moçambique usou a sua piscina olímpica para treinos. Durante esses estágios, que duraram dois meses cada um, pude ver a sua equipa de manutenção em acção, mantendo o inóvel impecável e os jardins arranjados. Tudo boa gente.
Para mim, é mais ou menos fim de história quanto a esse capítulo.
Ainda assim, para além do que foi dito, não me parece à partida que este percurso dê para se tirarem grandes ilações ou se tecerem extraploações sobre o que quer que seja, mesmo à luz da dialética rasca, hipócrita e popularucha de alguns no após- Independência, que aponta aos projectos da época desígnios predatórios da elite e da máquina colonial, mas que não os contrapõe contra o cenário actual, em que – como aliás é normal – se faz precisamente a mesmíssima coisa, sendo a única diferença palpável, afinal, quem financia, e quem é o dono da obra.
1975 e Depois
Após a Independência – sinais dos tempos – as caves do Grande Hotel foram usadas em finais de 1975 para enjaular, em condições precárias, centenas de pessoas, quando o poder instituído (na pessoa do então recentemente empossado ministro do Interior, Armando Emílio Guebuza) se lembrou de inventar uma rusga maciça nas principais cidades do país (na noite de 30 para 31 de Outubro) em que, mais ou menos à toa, foram pura e simplesmente presas, na melhor das hipóteses, na base do “diz que disse”. Provavelmente o regime sentia que não controlava as cidades e buscou algum consolo e uma maior sensação de segurança neste acto de puro terror, agora estatal e dirigido às zonas urbanas. No caso da Beira, conforme refere João Cabrita na página 93 o seu livro Mozambique: the Tortuous Road to Democracy, Raposo Pereira, um antigo advogado do grupo Democratas de Moçambique, tornado chefe da nova Pide moçambicana quando a prática da advocacia foi banida no páis, nomeara nada menos que o Zéca Russo, um pulha e um conhecido criminoso de delito comum dos últimos anos antes da Independência, para gerir a operação local da Snasp, com os resultados previsíveis de este instaurar um reino de terror e de cleptocracia oficiosa, dirigido contra o que então já restava dos originais habitantes da Beira, a maior parte dos quais integraram o que se tornou no maior desastre em 900 de história portuguesa, só comparável aos eventos de Agosto de 1578 em Alcácer-Quibir.
Segundo refere João Cabrita no seu livro, a razão formal que foi usada para os raids conduzidos contra os habitantes das cidades moçambicanas foi a sabotagem, criminalidade e imoralidade que, alegadamente, grassavam nas cidades, o que suspeito fortemente ter sido uma desculpa mal encapotada para uma mera afirmação de força do novo regime, obcecado em decapitar de uma vez a única entidade que alguma vez poderia questionar a sua autoridade, algo que, como se sabe, desde o início de Fevereiro de 1969, deixara de ser aceite na estrutura da nova liderança da Frente de Libeertação de Moçambique. Para quem não tinha ainda entendido, a mensagem era clara: no Moçambique independente, quem não estava com a Frelimo, estava contra ela.
O impacto destas medidas nas cidades foi absolutamente dramático. Do maciço brain drain resultante, o país inteiro se tornou virtualmente num gigantesco Grande Hotel da Beira. As tentativas de colmatar essa fuga com contratos de “cooperação” com os então novos amigos comunistas foi um desastre ainda maior.
Andemos quinze anos para a frente e o país inteiro nessa altura estava a ferro e fogo, a Frelimo a segurar precariamente as principais zonas urbanas, mas não o mato, onde a Renamo agia conforme queria. Era esse o caso com a Beira. Como aconteceu noutros locais, uma parte da população que vivia no mato, simplesmente mudou-se para a cidade para evitar ser chacinada. Alguns apinharam-se no que já então restava do Grande Hotel, e que não era mais do que uma carcaça, uma espécie de bairro da lata superlotado no meio da cidade, em regime de propriedade horizontal.
E como não há dinheiro para fazer nada com aquilo (o negócio imobiliário na Beira por enquanto não tem nada a ver com o que se passa em Maputo), nem as pessoas parece que têm alternativas para onde estão alojadas, aquilo vai ficando como está, uma mórbida, algo grotesca atracção turística da cidade.
Mas também não vejo qual é a grande história em relação a isto, que é relativamente comum. Pelo menos até 2008, no coração de Luanda, na Praça do Kinaxixi, onde agora há uma estátua em homenagem à Rainha Ginga (não sei qual é o anterior nome) à direita de quem sobe da baixa, há uma carcaça de um prédio com mais que vinte andares, inacabado na altura da independência daquele país, mais ou menos nas mesmas circunstâncias. Até agora, ainda não vi ninguém a filosofar sobre o assunto.
Sobre a Beira
A história da Beira, em que o Grande Hotel é apenas um pequeno episódio, é muito mais simples de contar do que a de Maputo, que por comparação parece uma longa ópera italiana.
Após a efectiva anexação pelos Srs Cecil Rhodes e Leander Jameson do que os antigos portugueses consideravam seu – e que hoje constituem o Zimbabué, o Malawi e a Zâmbia – e como se não bastasse, os britânicos encostaram os portugueses à parede e exigiram a construção de um porto e o livre acesso desde o mar até à sua nova colónia.
Galvanizados e receosos de pior para vir, os portugueses agiram. Assinaram em Agosto a convenção com os britânicos e mandaram António Ennes para Lourenço Marques.
No caso da Beira, sem dinheiro, sem gente e como de costume, os portugueses permitiram a criação de uma empresa de capitais maioritariamente britânicos, com poderes majestáticos (ou seja, de Estado) a Companhia da Beira, que tomou conta daquilo.
Do mar para a então Rodésia, no sítio onde hoje está a Beira, e que era uma praia nojenta ao pé de um pântano nojento na foz de um rio nojento, lá se fizeram umas paliçadazitas e se edificou um cais de madeira e os primeiros pavilhões. Por um puro acto de charme político, chamou-se àquele miserável e insalubre canto “Beira”, o título do Príncipe Real Luis Filipe de Bragança, primogénito de D. Carlos, o então monarca português, que nascera naquela altura. Dezassete anos mais tarde e escassos meses antes de ser assassinado, o Príncipe da Beira visitou brevemente a já então cidade que ostanta até este dia um dos seus títulos de nobreza.
Logo a seguir veio a linha de caminho de ferro. Pelo meio, o dúbio experimento desenvolvimentalisteiro muito na moda na época, a companhia majestática. Foi um desastre controlado (mas segurou os ingleses e a então colónia) e Salazar acabou com aquilo eventualmente.
Para lá migraram alguns portugueses (de referir o enigmático Jorge Jardim, uma espécie de quinta coluna de Salazar) e uma curiosa mistura de gentes vindas de todo o mundo, entre elas o pai da actual Duquesa de Kent, um senhor barão alemão fugido dos Nazis ou dos Aliados (nunca percebi mas muitos britânicos juram a pés juntos ele que era um ex-Nazi) que acampou numa herdade que comprou, a meio caminho entre a Beira e a fronteira britânica a Oeste, onde viveu calmamente até 1976, quando se fartou da Grande Revolução e deixou a então nascente nação.
A Beira cresceu vigorosamente, especialmente entre 1960 e 1974, pois a economia moçambicana então estava em fase de pré-takeoff e a Rodésia (mais tarde dominada por Ian Smith) ainda mais. O porto e o caminho de ferro eram a sua espinha dorsal e, sendo a única cidade digna desse nome na região, era o centro administrativo, político e económico do centro de Moçambique. Generosamente, os CFM ali mandaram fazer uma estação de comboios que é um verdadeiro monumento ao espírito da época ( e em que Francisco de Castro foi co-autor). Quando refizeram o aeroporto nos fim dos anos 60, era maior que o da capital ao Sul. Para a Beira e quem vivia lá, era tudo sobre construir o Futuro.
Em meados 1975, o novo líder de Moçambique, Samora Machel, para quem a Luta de Libertação afinal só começara, quer dentro quer fora do nascente país, mandou bloquear o acesso rodesiano ao mar e desligar o pipeline. Formalmente, estava apenas a cumprir com estipulações de entre outros, as Nações Unidas e a Grâ-Bretanha. Claro que na realidade a intenção era “libertar” o povo vizinho do jugo do regime racialmente afectado dos rodesianos e instalar lá o seu homem: o então discreto e culto Robert Mugabe.
Nesse dia, para todos os efeitos, um pouco como acontecera com o Grande Hotel anos antes, a Beira inteira fechou para obras.
No Grande Hotel, persisitiu por mais algum tempo a situação de encerramento e uso ocasional. Numa peça que a genial jornalista Paolla Roletta publicou no jornal moçambicano Savana há alguns anos, refere-se o uso daquele espaço para uma reunião oficial em 1979, o casamento de um dos dirigentes da Frelimo e, finalmente, uma última festa: a passagem de ano, no dia 31 de Dezembro de 1980.
Após a inauguração do mandato de Robert Mugabe em 1980 (que após 31 anos seguidos ainda perdura) a situação na então Rodésia-Zimbabué melhorou, e era suposto melhorar muito para Moçambique e para a Beira, não fosse o facto de que então a Renamo, cuja base logística havia sido transferida da Rodésia para a África do Sul, já estava no terreno em Moçambique a causar todo o tipo de desacatos. O terror voltava a Moçambique, e desta vez era a Frelimo que estava na posição exacta onde apenas meia dúzia de anos antes estavam as forças armadas portuguesas: liderando um exército convencional a a tentar combater essencialmente uma força de guerrilha bem armada, com o apoio logístico de um país vizinho e que agia sem contemplações.
Os 13 anos que de horror se seguiram, fizeram os 13 anos de guerra pela independência parecer um piquenique de crianças por comparação.
Em 1994, a coisa desanuviou em Moçambique com os acordos de paz negociados e assinados em Santo Egídio, Roma. Lentamente, começou novamente a falar-se em fazer alguma coisa na então já martirizada cidade e região circundante. Com o que ainda sobrava da Beira colonial, podia voltar a fazer-se negócio novamente com o (agora) Zimbabué.
Só que este foi sol de pouca dura, por duas razões.
A primeira é que – e não pretendo entender de políticas locais – curiosamente, o eleitorado da Beira, se calhar um pouco como nos tempos da outra senhora, em que persistia um ambiente de amigável rivalidade com Lourenço Marques (em resposta a um lema da Beira que era “Beira, Cidade do Futuro”, os de LM maliciosamente complementavam a frase com “… a Aldeia do Presente”) e em aparente total falta de sintonia com praticamente todo o país, vota maioritariamente na Renamo para presidir à municipalidade, situação que dura até agora. Assim, politicamente, aquilo hoje é um pouco como aquela aldeia de gauleses dos livros do Astérix, rodeada do inimigo romano por todos os lados, neste caso a Frelimo fazendo o lugar dos romanos. Com as previsíveis consequências de, certamente por pura coincidência, ou não, ali digamos parecer menos urgente mostrar serviço ou fomentar a . Na última eleição presidencial, o boss da Beira, o Sr. Simango, até formou um partido e concorreu a presidente da república.
A segunda razão para os azares da Beira foi que, por causa de uma trica tipicamente africana no Zimbabué. Os brancos locais tiveram a lata de se atreverem a apoiar em bloco a oposição ao partido do Sr. Mugabe numa eleição e em resposta este decidiu puxar-lhes o tapete por debaixo dos pés, com aquele discurso, sempre tão popular em África, do colonialismo centenário, dos brancos usurpadores, da necessidade de corrigir os males do passado, que África é para os pretos, que os brancos não podem ter terra, etc e tal. Nunca falha. No espaço de poucas semanas, os brancos estavam a levar pontapés na cara e a economia do Zimbabué deu um dos estoiros mais épicos de que há memória naquele país. Como dizia a personagem, para variar, um rodesiano, interpretada pelo actor Leonardo Dicaprio no filme Diamantes de Sangue, “TIA”: This Is Africa.
Só que, por tabela, adivinhe o exmo. Leitor quem foi entre os primeiros a sofrer com as consequências.
A cidade da Beira, claro (por outro lado, para o Chimoio, a cidade no interior anteriormente conhecida como Vila Pery, foi uma bonança).
Assim, até ver, o Zimbabué está mais ou menos de pantanas.
Mas há sempre esperança para a Beira. Em breve o porto vai voltar à vida, se se tiver em conta a reactivação da linha ferroviária para Tete, que vai finalmente começar a trazer as montanhas de carvão que lá estão debaixo do chão.
E o Senhor Mugabe por estas alturas tem para aí uns 87 anos de idade. É seguro estimar-se que ele não vai durar para sempre.
Em breve, então, a Beira está condenada a voltar à vida.
E isso ditará o que vai acontecer à ruína que resta do Grande Hotel da Beira.
Nessa altura, aposto dez dólares que a sequência de eventos será mais ou menos esta: 1) alguém de Maputo cujo nome ninguém conhece, através de uma empresa criada para o efeito, com os habituais vinte por cento de uma grata figura da Nomenclatura, obterá a concessão do terreno onde está situado o que resta do Grande Hotel; 2) um misterioso e bem oleado consórcio se formará do nada, cheio de dinheiro de proveniência mística (preferencialmente, do Dubai) e anunciará a construção de um mega-complexo qualquer; 3) as pessoas que ainda lá estão, discretamente levam um pontapé para um subúrbio qualquer; e 4) a ruína é demolida.
E a vida continuará, desta vez, espera-se, sem a dialética mística, escorregadia e esdrúxula do outrora malfadado hotel da Ponta Gêa, retratada em filmes como referido em cima.
Um comentário final a algo que é dito no filme em cima, que é regularmente repetido em comentários e publicações sobre o tema – e que é uma vergonha: Saúl Brandão era tudo menos louco. Provavelmente, foi um visionário, cuja visão quanto ao futuro do turismo no centro de Moçambique e o papel de motor de uma tal operação para a cidade da Beira – que na altura, podendo-o ser, não era um destino turístico – em retrospectiva estavam absolutamente correctos, mas que esbarrou contra o provincianismo bacoco dos poderes vigentes na época. Quem tiver dúvidas quanto a isso, estude o mercado da região na altura, estude o percurso de Las Vegas e logo compreenderá o alcance daquilo que ele, e a Companhia de Moçambique, pretendiam.
O Grande Hotel foi uma oportunidade única para a empresa, para a Beira e para Moçambique.
E essa oportunidade foi perdida.
1 comentário:
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