Egidio Guilherme Vaz Raposo7 minutes ago ·
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Um grupo de políticos do partido Frelimo dignou-se em faltar ao serviço para ir limpar as casas de banho dos hospitais da praça. Entre outras actividades, este grupo também se encarregou em triar os doentes incluindo encaminhá-los para as diversas enfermarias conforme as necessidades e possibilidades do momento. Estes políticos da Frelimo fizeram isso em resposta aos seus mais apurados sentimentos de solidariedade à causa humanidade. É que não mais aguentavam VER O POVO A SOFRER. Parabéns.
1. Chamo grupo de políticos da Frelimo porque pelas fotos são quase todos trabalhadores, intelectuais da classe meia-alta e um deles, empresário consolidado da praça, patrocinador do candidato da Frelimo ao cargo de Presidente do Município de Inhambane; doador do maior número de chinelos de casa de banho que a cidade de Inhambane jamais conheceu em toda a sua existência!
2. Trata-se de um grupo sem nenhuma especialidade em medicina ou qualquer área de saúde pública.
3. Tiraram um dia do seu trabalho sério para “responder” ao “chamamento” e à causa da humanidade sem que este “esforço” representasse qualidade de serviços por exactamente não ter impactado sobre o cerne da questão: curar doentes.
Ora, numa breve análise, cabe-me dizer que estes trabalhadores prejudicaram duplamente o seu patrão; seja ele o Estado ou entidade privada pelas seguintes razões - tomara que tenham tirado um dia de folga.
a) Para o tipo do trabalho que se prestaram a realizar hoje, era preferível que tivessem identificado um grupo de desempregados e usassem o seu salário de hoje para pagar estes tarefeiros. É que eles não acrescentaram nenhum valor, nenhum conhecimento e nenhuma vantagem. Tratava-se de um grupo de especialistas de diferentes áreas, menos a da saúde, que se dignaram limpar as casa de banho de um hospital, em solidariedade com o governo do dia.
b) Se pudessem dedicar um dia do seu salário para contratar VÁRIOS DESEMPREGADOS que deambulam pela cidade de Maputo, ajudariam não só a dar comida aos necessitados como também contribuiriam materialmente para a partilha da renda de que tanto se fala, ao mesmo tempo que estariam a trabalhar para os seus patrões, cumprindo assim com a sua verdadeira missão.
c) O que estes senhores fizeram equipara-se àqueles que em ambientes fúnebres choram mais do que os directamente afectados, mesmo sem conhecer o malogrado (para mostrar o quanto estão chocados) em vez de cuidar ou procurar saber de actividades concretas inerentes as cerimónias fúnebres ou pelo menos ajudar na contribuição pecuniária para o reforço das despesas.
Mas não sejamos tão maus no todo. O grupo de políticos que foi limpas as casas de banho proporciona-nos uma boa oportunidade para tirar algumas dúvidas que pairam em relação a greve dos profissionais de saúde.
Sendo eles funcionários de outro sector, ganhadores de salários bem acima dos profissionais a quem foram substituir, importa saber deles, alguns aspectos:
a) São as condições de trabalho encontradas as desejáveis do ponto de vista de segurança de trabalho e de motivação?
b) Se bem que conhecem o salário dos profissionais a quem hoje substituíram (salário que pode ser gasto num almoço de duas pessoas por cada um dos que hoje limpou as casas de banho do HCM), por quanto tempo a mais estariam vocês dispostos a trabalhar efectivamente naquele posto GANHANDO aquele salário? Lembrem-se que há pessoas que estão naquele posto há 20 anos e a beira de reforma mas que nunca viram sua carreira progredir.
c) Se só pelo facto do dia de hoje terem limpado as casas-de-banho do Hospital Central de Maputo receberam elogios dos vossos superiores hierárquicos em reconhecimento da vossa “heroicidade”, imaginem quem lá trabalha há mais de 10 anos?
d) Hoje estes são alvos de todo o tipo de achincalhamento e humilhação por parte dos detentores do poder, que “não compreendem” a sua “falta de sensibilidade”….que contraste!
e) Então por causa do vosso voluntarismo, mereceram todo o tipo de PARABENS mas os mesmos que aplaudem não conseguem ver a heroicidade dos que lá trabalham há mais de uma década e ganham salário de miséria! De que lado deve se posicionar o bom senso?
f) Quer dizer, hoje, porque um grupo de “voluntários bem equipados e protegidos do risco de contaminação de doenças” foram limpar as casas-de-banho do HCM são heróis e os que lá trambalham há décadas e que hoje decidiram exigir melhores condições de trabalho entrando em greve, são VILÕES! UAU.
g) Ainda bem que são políticos, vamos ainda saber um pouco mais da vossa experiencia: O HOSPITAL CENTRAL DEU-VOS COMIDA? Que comeram vocês? Procuraram saber de que dieta vivem os profissionais de saúde? O que lhes foi ou tem sido prometido e o que têm de volta?
Avaliando
h) No fim da jornada, com que impressão saíram? Satisfeitos por terem servido os doentes ou os que para lá vos mandaram? Claro, foram sozinhos. O único que coage pessoas a fazer coisas indesejáveis é o Arroz. Desculpe.
i) Se saíram satisfeitos por terem ajudado pergunte-se: quantos doentes salvaram? Já que a tónica tem sido esta: os profissionais de saúde devem voltar ao trabalho para salvar vidas.
j) Vocês salvaram quantas vidas hoje? Entre vocês e os que estiveram no Banco de Sangue dos Hospital Central doando seu precioso líquido, quem vocês acham que salvou vidas hoje?
k) Hoje é o nono dia da greve. Desde o seu início esta é a primeira vez que puseram lá os pés. Amanhã não irão. A propósito, quantas toneladas de lixo infeccioso recolheram? E o lixo não infeccioso? Como estavam as casas-de-banho do HCM? Uma imundície? E amanha, quem vai limpa-las? E no Sábado? Quão sustentável é o vosso desejo de ajudar? Terão agido para de facto ajudar a quem precisa ou para agradar a quem devia responder pelo descalabro que é o sistema nacional de saúde? FOI O VOSSO GESTO DE QUALIDADE?
l) Terão com o vosso gesto conseguido atingir o âmago da sensibilidade dos profissionais de saúde? Ou terão pelo contrário atingido a visibilidade que desejavam, apresentando-se como os bons samaritanos?
m) Para terminar, um desabafo: a solidariedade não precisa de publicidade. Não se pode dar com uma mão e tirar com a outra. Antes de lá estarem, muito mais pessoas estiveram lá, prestando a sua ajuda gratuita. Entre elas, a Cruz Vermelha que ainda por lá anda.
Imensas desculpas aos amigos e amigas por este introito. Foi apenas uma interpelação que julguei necessária fazer.
1 comentário:
Concordo com n teu historico meu amigo,tens toda sazao
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