Não é exagero dizer que o Brasil para em dias decisivos - não para os próprios brasileiros, mas para os personagens! Por que será que a novela exerce uma influência tão gigantesca no cotidiano e na sociedade do nosso país? No ar nos canais de TV do Brasil desde a década de 60, estima-se que mais de 400 novelas já tenham sido produzidas. A audiência já deu sinais de sucesso absurdo, como no caso de "Tieta", que tinha média de 63 pontos no Ibope, e Senhora do Destino (2004), que registrou 8 de cada 10 tvs ligadas no canal no dia do último capítulo.
Há uma série de fatores que tentam explicar o porquê de as novelas serem um ícone cultural tão consolidado e uma produção artística com tanta garantia de sucesso:
Tradição
Sabe-se que, no Brasil, a tradição oral tem maior força que a tradição escrita. O que significa que uma história contada oralmente, com personagens interpretando suas ações, conquistam mais o público brasileiro do que um romance em livro. Tanto que, por muitas vezes, as novelas até se utilizaram de tramas inspiradas em histórias clássicas da literatura mundial, como Romeu e Julieta, por exemplo. A professora Maria Lourdes Motter, do Núcleo de Pesquisa de Telenovela da USP, já chegou a afirmar que o sucesso das novelas ocorre justamente por isso: apesar de as épocas e os autores serem diferentes, os temas são universais e basicamente os mesmos: amor, segredo, traição, reencontro, brigas. Fica fácil para o público criar uma identificação instantânea.
Identificação
A maioria das novelas brasileiras costuma ter entre 50 e 100 personagens. Isso acontece para dar mais complexão à trama e para mostrar diferentes núcleos, com personagens de diferentes faixas etárias, níveis financeiros e situações emocionais. Hoje, não há mais necessariamente só a mocinha rica, o mocinho pobre, a vilã inescrupulosa e o personagem atrapalhado do núcleo cômico. Há uma série de características que tornam esses personagens mais humanos, menos estereotipados e, consequentemente, mais próximos da realidade do público.
Além disso, para atingir ainda mais identificação com as pessoas, muitas novelas estão levando a realidade socioeconômica atual do Brasil para a telinha. Um bom exemplo foi a novela "Cheias de Charme" (2012), que levou para a TV três empregadas domésticas nos papéis principais e foi um enorme sucesso não só entre a classe C, mas entre todos os níveis de telespectadores. O autor Aguinaldo Silva comentou, em uma entrevista, que, uma vez que a novela é feita para um público médio de 40 milhões de pessoas, o autor deve criar "histórias que certamente serão aceitas por todos".
Reflexão
Muitas novelas históricas da TV se consagraram por conseguirem refletir no enredo um pouco da realidade pela qual o Brasil passava na época. "Que Rei Sou Eu?" (1989), por exemplo, era uma paródia da situação política brasileira no fim da década de 1980. Vale até ir um pouco mais longe para explicar tanto sucesso: em "O Clone" (2001), a exibição da vida na sociedade muçulmana coincidiu com os ataques de 11 de setembro, atiçando ainda mais a curiosidade do público e fazendo da novela uma produção extremamente bem-sucedida.
Tanto sucesso também vem, claro, do hábito brasileiro de se juntar à família e assistir televisão à noite, no chamado "horário nobre". E esse hábito também já está migrando para fora do Brasil. As novelas brasileiras são um item de exportação extremamente valorizado, sendo que atualmente são consideradas um símbolo de cultura brasileira nos países estrangeiros. A recordista de exibições em outros países é "Escrava Isaura"!
Relembre algumas novelas que são definitivamente a cara do Brasil!
Vale Tudo: além de fazer uma grande crítica social (com o vilão fazendo uma "banana" no fim da novela), foi de "Vale Tudo" que saiu o maior mistério da história da dramaturgia brasileira! "Quem matou Odete Roitman?" era a pergunta que todos os brasileiros estavam loucos para saber em 1989!
Rainha da Sucata: a novela retratou o universo dos novos-ricos, dos emergentes, tendo como plano de fundo a realidade política que o Brasil vivia na época (o Plano Collor). "Rainha da Sucata" teve personagens marcantes, como Maria do Carmo (Regina Duarte), Laurinha Figueroa (Glória Menezes), Caio (Antonio Fagundes) e Adriana (Claudia Raia).
Roque Santeiro: a primeira versão da novela não foi exibida por causa da censura da ditadura militar, em 1975. Porém, dez anos depois, "Roque Santeiro" foi ao ar - e foi um sucesso! Como esquecer de personagens como Sinhozinho Malta e Viúva Porcina?
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