segunda-feira, 15 de abril de 2013

Há muito que Guebuza é ameaça à estabilidade de Moçambique

 

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“A governação do País ficaria seriamente prejudicada com um presidente inspirador de temor e revolta entre os cidadãos” – Carlos Cardoso (1997)
Se o jornalista Carlos Cardoso estivesse vivo estaria hoje a testemunhar a consumação da sua grande profecia sobre o instinto calamitoso de um homem que bem conhecia: Armando Emílio Guebuza. Chegou até um dia a escrever: “Guebuza Não!”
Os acontecimentos de Muxúnguè levam-nos forçosamente a nos lembrarmos de um passado de triste memória que certamente nenhum moçambicano de bom senso quer voltar a viver: a guerra civil que durou 16 anos, semeou a destruição de bens e equipamentos, atrasou o desenvolvimento do País enquanto durou e ainda hoje isso se faz sentir, e sobretudo fez milhões de vítimas humanas entre refugiados, estropiados e mortos.
Nessa guerra de triste memória foi derramado sangue de gente inocente e de soldados do exército nacional enganados por uma política que agora se percebe melhor o que com ela pretendia quem a suscitou.
Os que se deixaram levar pela mentira e foram para a guerra civil em defesa de um grupinho que ainda se mantém no cerne do poder, sabem bem que ofereceram a sua juventude por uma causa de que não tiraram qualquer benefício. Serviram apenas de carne para canhão.
Hoje ao vermos os desmobilizados de guerra na rua a protestarem contra quem os enganou, percebe-se melhor quem destruiu completamente um projecto de República ainda em construção.
Hoje vemos que essa guerra dos 16 anos teve mais impacto económico, social e psicológico nas pessoas inocentes do que propriamente nos que a provocaram e a sustentaram.
Hoje só não vê quem não quer: os que não combateram são os que mais proveito tiraram da guerra.
Foi a arrogância, o desprezo para com quem pensa diferente, a ganância, o regionalismo, o racismo e práticas manifestamente tribais que levaram Moçambique à guerra que destruiu o País e ceifou milhares de vidas inocentes.
Foram práticas e discursos decadentes que levaram a que parte dos moçambicanos se sentissem estrangeiros no seu próprio País.
Foram ódios criados em todo um processo de luta pela independência nacional de que não escaparam muitos destacados nacionalistas que acabaram por quase eternizar a guerra.
Foram ódios cultivados pela Operação Produção, Operação Tira-Camisa, e tantas outras safadices do género empreendidas por sádicos disfarçados de políticos com o propósito de servir Moçambique, que levaram o País à desgraça cujo balanço não é hoje segredo para ninguém.
20 anos depois de Roma, o senhor Armando Guebuza tem estado, com suas práticas, a trilhar exactamente os mesmos perigosos caminhos que nos empurraram para o conflito armado terminado em 1992, embora ele tenha sido um dos negociadores dos acordos que permitiram que até agora tenha havido relativa Paz.
De um Presidente da República esperam-se palavras apaziguadoras, mas a prática de Armando Guebuza deixa em crer que estamos perante um homem sem escrúpulos e dado a projectos políticos que não são do interesse nacional.
Quando se esperava que Guebuza fosse um apaziguador, ele aparece apenas com um discurso de paz para disfarçar. O seu silêncio, ao não condenar a Polícia por tão grave iniciativa contra a sede civil da Renamo em Muxúnguè, coloca-o por trás da acção e como patrocinador do insulto, da arruaça, da exclusão e do desprezo por moçambicanos que embora não pensem como ele não tomaram nenhuma iniciativa concreta contra a Paz.
Quando de um chefe de Estado era de se esperar palavras que condenem actos que ponham em causa a Paz, Armando Guebuza aparece-nos claramente a liderar o terror e a violência, pois não se pode acreditar que tão numeroso e bem equipado grupo militar e para militar esteja a agir no terreno sem seu conhecimento prévio e mais: sem as suas ordens.
Com a iniciativa ilegal e extra-constitucional tomada pela Polícia na quarta-feira 03 de Abril em Muxúnguè – uma autêntica operação de guerra contra homens desarmados, reunidos em espaço privado e civil, era de se esperar que rapidamente o ambiente se transformasse num barril de pólvora. E poucas horas depois a resposta não se fez esperar: a Renamo retaliou violentamente acabando por provar que as forças de defesa e segurança, apesar de relativamente bem armadas, não passam de tigres de papel perante homens com tão elevada experiência de guerra e continuamente habituados e forjados na vida dura do interior do País – o mato.
Várias vezes tivemos o cuidado de chamar a atenção neste mesmo espaço para o perigo que a postura do senhor Armando Guebuza representa.
Guebuza nunca teve postura de Estado e nós avisámos. Temos inclusive sérias dúvidas de que venha a tê-la algum dia ainda que seja um alívio para todos nós sabermos que está constitucionalmente obrigado a deixar o posto dentro de pouco mais de um ano, se bem que se conheçam as suas manobras dilatórias para continuar a ser preponderante no centro das grandes decisões nacionais.
Um Presidente da República que fomenta a exclusão, a fofoca pública e institucional, a incompetência e o desprezo por cidadãos que não comungam dos seus sonhos, não poderia levar Moçambique a outro destino que não fosse este em que vivemos agora, de medo e incerteza, após Muxúnguè.
O Canal de Moçambique foi o único jornal que esteve em Muxúnguè no momento mais crítico de toda esta infâmia governamental e conseguiu evitar que as autoridades mentissem aos moçambicanos e ao Mundo como pretendia fazê-lo o general Pedro Cossa, porta-voz do Comando Geral da PRM. Não queremos louros por isso. O que queremos é que se saiba que quem começou este conflito foi o próprio Governo.
Testemunhamos no terreno que foi a intolerância política do senhor Armando Guebuza que precipitou a actual situação e nos levou a este clima de guerra eminente.
Foi a Força de Intervenção Rápida que foi atacar a sede do partido Renamo que sempre esteve lá.
Não foram forças estacionadas em Muxúnguè que quebraram a Paz. Foram forças para ali enviadas para provocar.
Quando a FIR atacou a sede da Renano nenhum membro da Renamo estava armado, nem lá havia armas como o próprio administrador de Chibabava declarou ao Canal de Moçambique e temos gravado.
A prática de atacar sedes e membros de partidos da oposição não é nova desde que Chissano saiu do poder, substituído por Guebuza. No ano passado a FIR atacou a sede do mesmo partido, Renamo, em Nampula, pondo em pânico a sociedade.
Um pouco por todo o País, as sedes dos partidos da oposição são constantemente vandalizadas.
Membros da oposição são constantemente agredidos por agentes identificados do partido dirigido pelo senhor Armando Guebuza. Nunca foram responsabilizados os culpados nem a dita Justiça alguma vez fez esforço para se provar apartidária e credível.
Por isso perguntamos: Há alguma dúvida que é a liderança do País que está por detrás deste clima de violência e intolerância? Há alguma dúvida que Guebuza está a dar ordens para que este clima de intolerância e medo se instale?
Não agrada a nenhum moçambicano de bom senso o actual clima que se vive. Mas todos os moçambicanos conhecem a fonte suprema desta situação.
O senhor Guebuza sempre se pautou pelo desprezo e banalização das pessoas que não pensam como ele. No dia 16 de Abril de 2012, disse de viva voz, durante uma reunião na Escola Central do seu partido, na Matola, que a agenda era “continuar a irritá-los”, a eles os da oposição.
Recorreu à habitual táctica de emitir insultos sem destinatário, para depois deixar tudo ao critério da hermenêutica, da interpretação.
Hoje está claro, medindo pelo descontentamento generalizado que se sente por todos os cantos do País, que Guebuza acabou mesmo por irritar meio Mundo, não apenas da oposição.
Irritou não só os seus adversários. Irritou também os seus próprios camaradas que hoje pedem Paz.
Preocupam-nos as agendas pessoais do senhor Guebuza, quando ele transforma essas mesmas agendas em agenda do Estado.
Um presidente que jurou servir os moçambicanos quando nos apercebemos que hoje está seriamente comprometido em irritar os próprios moçambicanos, só tem um caminho: deixar o cargo e permitir que os moçambicanos possam viver em Paz.
Por racionalização de espaço, não vamos transcrever aqui todo o monte de discursos infantis proferidos pelo senhor Guebuza, claramente a ameaçar a estabilidade nacional.
No debate político nunca permitiu a discussão de ideias e por isso ficou encravado na dicotomia: desprezo e ameaça à guerra.
Hoje, mais do que nunca, de dentro da própria Frelimo chegam-nos sentimentos de indignação contra as práticas do senhor Guebuza que, inclusivamente, no quadro das suas ambições, não tem poupado nem mesmo a maioria dos seus “camaradas”.
Este autêntico esforço de guerra para o qual o senhor Guebuza lançou a Polícia, bem equipada mas extremamente infantil nas suas efectivas aptidões, tem, para além do mais, o objectivo de catalisar os “camaradas”contra o tal “inimigo” sem o qual a Frelimo não sobrevive.
Mas depois do assalto ao quartel da FIR em Muxúnguè está mais claro em todos os agentes policiais que se se deixarem ir atrás de quem hoje os dirige, o seu destino é serem carne para canhão.
O balanço de mortes de parte a parte não deixa agora dúvidas, para quem ainda as tinha, que só a paz nos pode servir.
Mas o nosso posicionamento editorial não iliba a própria Renamo das suas responsabilidades.
É, no nosso modesto entender, tempo de a Renamo perceber que a política do século XXI não se faz com discursos inflamados, por mais que a fonte da inflamação sejam as futilidades do actual Presidente da República.
A Renamo não pode continuar insistentemente a proferir discursos de ameaça de retorno à guerra em qualquer debate civil.
A Renamo não pode continuar a ter nas armas a sua principal base de sobrevivência política, como agora nos parece, embora se compreenda que para um Presidente da República que não respeita a essência da democracia, só possa haver uma resposta: violência equiparada que o meta na ordem.
Se todos soubermos dizer não à guerra, nenhum tirano passará.
Se todos soubermos dizer não a quem fomenta a instabilidade, Guebuza terá de se render e Moçambique vencerá! Mãos à obra é o nosso apelo.
Canal de Moçambique – 10.04.2013

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