quarta-feira, 17 de outubro de 2018

milionária do Mónaco e o genro polaco que ordenou a sua morte


A milionária do Mónaco e o genro polaco que ordenou a sua morte

Hélène Pastor, de 77 anos, foi morta a tiro em Nice juntamente com o motorista, em 2014. Depois de anos a negar, Wojciech Janowski, ex-cônsul honorário da Polónia no Mónaco, admitiu em tribunal que foi ele que mandou matar a sogra. Foi condenado a prisão perpétua
A 6 de maio de 2014, a mulher mais rica do Mónaco saiu do hospital L'Archet em Nice (França), depois de visitar o filho que tinha sofrido um AVC e estava parcialmente paralisado. Hélène Pastor, de 77 anos, entrou numa carrinha preta Lancia Voyager onde o seu motorista de há longos anos a aguardava.
A milionária subiu para o lugar do passageiro porque Belle, o seu cão de montanha dos Pirenéus branco estava no banco traseiro. Quando o carro arrancou e virou à direita, nem a milionária nem o condutor, Mohamed Darwich, de 64 anos, viram os sinais que um homem que estava num snack-bar do outro lado da rua fez, levando um segundo jovem a sair das sombras com uma espingarda de canos serrados e a disparar dois tiros contra o vidro da frente.
Pastor e o motorista foram atingidos no rosto e no peito. Darwich morreu quatro dias depois e a milionária sucumbiu aos ferimentos a 21 de maio. "Tenho medo, quero voltar a falar com vocês porque tenho mais que contar", chegou a dizer aos investigadores, depois de dar uma descrição dos atacantes. Belle sobreviveu.
As especulações sobre os motivos do crime foram muitas. Hélène, que vestia sempre Chanel, era a única herdeira de Gildo Pastor, o magnata do imobiliário que tinha sido encarregado pelo príncipe Rainier, em 1966, de construir os arranha-céus da nova Monte Carlo. O seu irmão, Michel, tinha morrido em fevereiro. O outro irmão, Victor, morrera em 2002. Sendo um ataque profissional, estaria a máfia italiana interessada no império da família? Seria o culpado um dos inquilinos dos milhares de apartamentos que geria?
Mas o responsável estava bem mais perto. O mandante do crime foi o seu genro, o polaco Woiciech Janowski, de 69 anos, e o motivo não podia ser mais simples: dinheiro. A fortuna de Hélène Pastor, considerada a mulher mais rica do Mónaco, estava avaliada em 25 mil milhões de dólares.

Confissão

"Wojciech Janowski é culpado de ter ordenado o assassinato de Hélène Pastor. Estas palavras, que vocês esperavam que ele pronunciasse, saem da minha boca", disse o advogado Eric Duponf-Moretti durante a audiência de tribunal de Aix-en-Provence na última terça-feira. "Ele queria dizê-las, mas não conseguia", acrescentou, ao lado do seu cliente que estava em lágrimas. O advogado rejeitou contudo que Janowski tenha ordenado a morte do motorista.
Janowski, que nasceu a 15 de agosto de 1949 em Varsóvia, era filho de um gerente de uma fábrica de químicos. Tendo estudado Linguística, foi viver para Londres em 1971. Ali, trabalhou para um grupo financeiro britânico que administrava vários estabelecimentos de jogo. Casou com uma francesa, Sylvie Chouler, e mudou-se para o Mónaco em 1985, onde foi contratado como diretor de relações pública da Société des Bains de Mer, empresa controlada pelo Estado que detém vários hotéis e casinos. Mas acabaria por deixar o cargo.
O polaco entrou na vida de Hélène Pastor quando conheceu a sua filha mais velha: Sylvia Ratkowski-Pastor, nascida em 1961, fruto de uma relação que Pastor tinha tido, à revelia da família, com Alfred Ratkowsi (curiosamente, também polaco).
Há versões que dizem que Sylvia, que trabalhava nos negócios imobiliários com a mãe, já era divorciada quando conheceu Janowski, outras que se divorciou depois e que foi viver com ele ao final de apenas uma semana. Com ela levou a filha, que Janowski educou como sua. Ambos tiveram mais outra filha, mas nunca casaram, tendo vivido 28 anos juntos.
Pastor dava a Sylvia 500 mil euros por mês. Dinheiro que também acabava nas mãos do genro, em quem a milionária não confiava totalmente. Os 500 mil euros pareciam suficientes e Sylvia acreditava que o companheiro ganhava dinheiro também com os seus negócios. Mas aquela era a única fonte de rendimentos e Sylvia tinha sido diagnosticada com um cancro da mama. Janowski, altamente endividado, temia perder o pouco da fortuna dos Pastor a que tinha acesso.
No Mónaco, o polaco era conhecido pelo seu trabalho com várias associações de caridade, como a Mónaco Contra o Autismo (cuja presidente honorária é a princesa Charlene, a mulher do príncipe Alberto), tendo sido distinguido em 2010 com a Ordem Nacional de Mérito da República Francesa, pelo então presidente Nicolás Sarkozy. Desde 2007 que era cônsul honorário da Polónia no Mónaco.
"Não tenho nada a acrescentar, quero apresentar as minhas desculpas à Sylvia e aos meus filhos", afirmou esta quarta-feira o arguido, poucos momentos antes de os jurados terem deixado a sala de tribunal para deliberar. Horas depois, vinha a decisão: Janowski foi condenado a prisão perpétua.

O crime

Segundo a defesa, Janowski resolveu matar a sogra para proteger a sua companheira, que era alvo de violência psicológica da mãe. Sylvie, que chegou a ser interrogada pela polícia, está hoje livre de cancro e assistiu ao início do julgamento do ex-companheiro.
A acusação alegou contudo que o motivo era financeiro, que Janowski estava atrás de parte da herança de Sylvie para salvar as suas empresas.
Janowski terá pedido a Pascal Dauriac, seu treinador pessoal e massagista e Sylvie, com quem trabalhava há mais de três anos e que tinha envolvido numa teia de promessas e de riqueza, para recrutar uma equipa para organizar a morte de Pastor. Em troca, este recebeu um envelope de mais de 200 mil euros: parte do dinheiro era para si, o restante para os outros envolvido.
Dauriac, que alegadamente teria assistido de perto à forma como Hélène tratava a filha, não conhecia ninguém que pudesse fazer o crime. Mas a namorada, a pintora Sabrina Belkhatir (que não estava a par do crime), conhecia. O irmão, Abdelkader Belkhatir, tinha ligações ao mundo do crime de Marselha. Dauriac pediu-lhe ajuda durante um encontro familiar - a defesa de Belkhatir negou que ele tivesse conhecimento do crime, dizendo que ajudou Dauriac depois de este alegar que a irmã estava a ser ameaçada e que precisava de alguém que pudesse ajudar a castigar os envolvidos.
Foi Belkhatir que recrutou os dois jovens que acabariam por ser os autores do assassinato: Alhaire Hamadi, um ladrão de 31 anos, que ficaria de vigilância, e Samine Saïd Ahmed, um traficante de droga de 24 anos, que seria o atirador. A ideia era que roubassem a mala de Hélène Pastor, para que se suspeitasse que um roubo seria a razão do homicídio. Ambos estavam habituados à pequena criminalidade, mas não tinham currículo para este tipo de crime. Razão pela qual deixaram tantas provas.
A polícia tinha vídeos de ambos a sair de Marselha e a chegar a Nice, os dois comunicaram por telemóvel antes e depois do crime, e havia impressões digitais numa embalagem de gel de duche no quarto de hotel que alugaram à saída do comboio. Usaram bonés de beisebol, mas não máscaras durante o crime e foram reconhecidos por testemunhas, mas também eram visíveis nos vídeos de vigilância. Ambos foram também condenados a prisão perpétua. Dauriac recebeu 30 anos de prisão.

Confissão

Foi através dos autores materiais do crime que a polícia acabou por chegar a Janowski. Primeiro descobriram contactos no telemóvel com Belkhatir, que descobriram ser irmão da namorada de Dauriac. Depois, que este tinha tentado contactar repetidamente uma empresa de Janowski.
O cônsul-honorário da Polónia chegou a confessar à polícia ter sido o "instigador" do crime, mas recuou uma semana depois, diante de um juiz, alegando que os investigadores tinham forçado a sua confissão, que "tinham feito tudo, exceto arrancar-lhe as unhas". Também chegou a alegar que tinha dificuldade em perceber os termos legais em francês e que tudo tinha sido feito para que parecesse culpado.
Só no penúltimo dia do julgamento voltou a admitir, através do advogado, ser o responsável pela morte de Hélène Pastor. Mas não do motorista - uma versão que Duriac (que além de arguido foi a principal testemunha) negou, dizendo que as ordens eram para matar ambos.
No total, dez pessoas sentaram-se no banco dos acusados, pelo seu alegado envolvimento na morte. Além de Janowski, o treinador e os dois responsáveis pela morte, outras quatro foram condenadas a penas até os 15 anos de prisão pelo seu envolvimento no plano e duas foram ilibadas.

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