As ‘zungueiras' de Luanda pedem "maior respeito e valorização" pelo trabalho, face às dificuldades que enfrentam todos os dias, em que vendem na rua durante quase 10 horas para garantirem alguns euros para o sustento da casa.
Numa ronda feita hoje pela Lusa, a propósito do Dia Internacional da Mulher, que em Angola é feriado nacional, estas angolanas, que diariamente percorrem vários quilómetros a pé, com o "negócio" à cabeça e normalmente o filho mais novo às costas, queixaram-se sobretudo dos "incómodos" dos agentes da fiscalização como uma das maiores dificuldades.
Há um ano a comercializar iogurte caseiro pelas ruas de Luanda, cujo copo custa entre 50 e 100 kwanzas (menos de 50 cêntimos de euro), Sara Samuel explica que é deste negócio que consegue ajudar a mãe nas despesas de casa e ainda pagar os estudos.
"O meu dia-a-dia é bom, é divertido, gosto do que faço. Saio de casa as 6:00 e regresso às 15:00, e por dia posso render entre 5.000 a 6.000 kwanzas [20 euros]. Com esse dinheiro pago os estudos e ajudo a minha mãe", explica.
A jovem ‘zungueira’, de 21 anos, elege a simpatia para atrair clientes e para já deseja apenas ser uma mulher e ter um lar feliz, mas pedindo uma maior valorização.
"Este mês de março é dedicado [em Angola] à mulher, que representa que nós temos valores, devemos ser valorizadas e bem tratadas. Aprecio este mês", aponta.
Enquanto percorre as ruas do centro de Luanda, a Lusa encontra Rosa Miranda Domingos, que começou a vender Quissanga, uma bebida caseira feita com milho, aos 19 anos. Passaram três anos e Rosa vende hoje até 60 embalagens por dia, ao preço de 50 kwanzas (20 cêntimos de euros) cada.
"Com esse dinheiro consigo sustentar os meus dois filhos. O negócio tem concorrência, infelizmente os agentes da fiscalização incomodam o nosso negócio, mas continuamos a passar por essas dificuldades porque é com o pouco que sai daqui que conseguimos comer", explicou a jovem vendedora ambulante, que anda na ‘zunga', por norma, de segunda a sábado, entre as 08:00 e as 14:00.
Tal como Rosa, também Maria Kuzola, uma viúva de 38 anos, aproveita o dia de mulher apenas para pedir que a venda ambulante possa ser feita sem pressão dos fiscais.
"Vendo pacotes de bolacha a partir de 50 kwanzas. Tirando as corridas dos nossos ‘maridos fiscais', o negócio anda normalmente. Estou na rua desde as 07:00 e posso largar às 16:00 tenho dois filhos e o pouco que consigo compro qualquer coisa para família", conta à Lusa.
Com este negócio, pode levar para casa até 5.000 kwanzas (20 euros) por dia.
"Neste dia só peço ao nosso Governo que não coloque mais fiscais na rua, para poder vender a vontade", desabafa.
Há dois anos que Maravilha Elias dos Santos vai para a rua, todos os dias, servir pão com fiambre aos transeuntes de Luanda, por 100 kwanzas (menos de 50 cêntimos de euro) e, tal como as colegas, conta que "sofre com os incómodos diários" dos agentes da fiscalização.
"A nossa ‘zunga' está mal, somos incomodadas diariamente pelos agentes da fiscalização, mas por dia vendo até 6.000 kwanzas [20 euros]. Esse dinheiro dá para sustentar os meus sete filhos", conta.
Para esta ‘zungueira', de 40 anos, que assume "lutar" para ver os seus filhos formados, a mulher angolana precisa de maior valorização e reconhecimento.
"Quanto ao dia da mulher penso que precisamos de maior reconhecimento. Porque aqui também somos batalhadoras e conseguimos formar os nossos filhos. O meu grande sonho é amanhã viver melhor com condições básicas, como energia e água", desabafa.
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