terça-feira, 27 de março de 2018

TEMA DA SEMANA


 Frelimo reunida na Matola TEMA DA SEMANA 2 Savana 23-03-2018 TEMA DA SEMANA A II Sessão Ordinária do Comité Central (CC) da Frelimo, que hoje arrancou na Matola, província de Maputo, pode ser o momento decisivo para a definição do xadrez sobre os edis do partido no poder rumo às V eleições autárquicas de 10 de Outubro próximo. Formalmente, o encontro de três dias, 23 a 25 de Março, não prevê discussões sobre potenciais candidatos para as 53 autarquias, quando faltam cerca de sete meses para o quinto pleito na história das eleições municipais no país. Confrontado pelo SAVANA, esta quarta-feira, numa conferência de imprensa convocada para o anúncio da agenda do encontro, o secretário do CC para Mobilização e Propaganda, Caifadine Manasse, afastou o assunto da agenda da reunião desta semana. “O Comité Central não vai discutir candidaturas, vai discutir uma visão geral sobre a gestão dos municípios onde estamos e vamos aprofundar sobre melhorias para que o país e os munícipes continuem a viver com tranquilidade”, respondeu Manasse. O secretário para Mobilização e Propaganda, que também é porta-voz da Frelimo, disse que, no seu partido, os candidatos a edis são eleitos na base e não no CC. “Nós, a Frelimo, o nosso processo de eleição dos candidatos é diferente daquelas indicações que são feitas a partir de um ponto, que o candidato é X e fulano. Nós deixamos que as bases indiquem aqueles que são os candidatos. As autarquias são um poder local e nós como Frelimo deixamos que essas bases escolham um candidato que lhes possa governar”, respondeu. Para além do que chamou de “gestão dos municípios”, o porta-voz disse que a II Sessão Ordinária do CC irá se debruçar também sobre o desempenho do Governo, tendo em conta o manifesto que a Frelimo apresentou aos eleitores. Na lista das matérias consta ainda a discussão da proposta de regulamento dos estatutos aprovados no XI congresso, ano passado, bem como a recente intercalar de Nampula, nomeadamente, uma avaliação sobre o que aconteceu e sobre como a Frelimo pode caminhar aos próximos pleitos. Mas também irá acontecer a eleição de secretários do Comité Central visto que as vagas não foram completamente preenchidas no Congresso do ano passado. Embora não conste da agenda, o SAVANA apurou que os membros do Comité Central poderão introduzir para debate a questão dos consensos alcançados entre o presidente da República, Filipe Nyusi e o líder da Renamo Afonso Dhlakama. É que alguns membros entendem que a bancada da Frelimo na Assembleia da República não pode sufragar os consensos sobre o pacote de descentralização sem “um compromisso por escrito” de Afonso Dhlakama”. “O nosso presidente (Filipe Nyusi) disse que o documento que submeteu ao Parlamento é resultado dos consensos alcançados com Dhlakama. Mas não há nada que nos garanta que mais tarde Dhlakama não irá dizer que não se revê nos consensos. Já aconteceu no passado”, frisou um membro do CC da Frelimo. Questionado sobre a avaliação preliminar dos resultados de Nampula, Caifadine Manasse respondeu que “o que tiramos como ilação é que a Frelimo continua cada vez mais fortificada e coesa porque, na primeira eleição, o nosso candidato teve maioria de votos e, na segunda eleição, tivemos mais 7 mil votos e isso significa que a Frelimo tem bases e está enraizada em Nampula”, acrescentando que não foi só o MDM, mas todos outros partidos da oposição que se juntaram à Renamo. Caminho aberto Contudo, diferentemente do que diz o porta-voz da Frelimo, o SAVANA apurou que a II Sessão do CC pode vir a ser decisiva para o alinhamento de posições rumo às autárquicas de Outubro. Mesmo sem constar do programa oficial, o assunto pode vir a ser levantado nos debates sobre “a gestão dos municípios”, seguindo a tradição do partido, em que assuntos sensíveis sobressaem no calor das discussões. O que é certo, para já, é que nos bastidores, a corrida para as próximas autárquicas já está a mexer com os camaradas. Junto de fontes próximas dos processos, o SAVANA quis saber como está o cenário nas autarquias mais importantes do país. Na capital moçambicana, por exemplo, o nome de que mais se fala é de Samora Machel Jr., mais conhecido por Samito, o filho do primeiro presidente de Moçambique, Samora Machel, que tem estado a desdobrar-se em encontros à busca de apoios. Apesar de garantir que tem apoio de importantes sectores do partido governamental, não é líquido que tenha garantias de apoio do Presidente da Frelimo, Filipe Nyusi. Tradicionalmente, o candidato da Frelimo para Maputo tem apoio sem reservas do Presidente do partido. Ao que apurámos, Nyusi não viu com bons olhos o facto de Graça Machel, que está por detrás das movimentações de Samito, ter argumentado na Sessão do Comité Central de 2013 a abertura para entrada de mais candidatos à candidato da Frelimo para as presidenciais de 2014. Graça Machel apoiou abertamente Luísa Diogo, Frelimo reunida na Matola O CC que pode decidir sobre futuros edis Comité Central vai analisar o desempenho dos municípios e as causas da derrota em Nampula que obrigou Nyusi a uma segunda volta, o que não terá sido de agrado do actual líder do partido e dos seus apoiantes. Esta semana, Samora Machel Jr. promoveu um encontro com jornalistas algures em Maputo, interpretado como parte das alianças que vem estabelecendo a vários níveis. Como potenciais rivais de Samito, perfilam nomes como o empresário do mundo do “showbiz” Gilberto Mendes, o actual primeiro secretá- rio da Frelimo na cidade de Maputo, Francisco Mabjaia e do empresário e antigo “testa de ferro” e sócio de Armando Guebuza na Intelec Holding, Salimo Abdula. Está completamente fora de hipótese um terceiro mandato para o actual edil, David Simango. Enquanto isso, pelas bandas da Matola, também um dos mais importantes municípios do país, pode haver um plano para fazer cama ao actual edil, Calisto Cossa, bastante aplaudido pelos munícipes pelas suas intervenções, sobretudo, na infra-estruturação rodoviária do município, mas combatido por “alguns camaradas” donos de grandes empreendimentos “vítimas de buldózeres” por terem sido erguidos ao arrepio das normas e em lugares impróprios. A vencer a “ala conspiratória”, Cossa pode vir a dar lugar a Aiuba Cuereneia, antigo delfim de Armando Guebuza, em cujo reinado foi ministro da Planificação e Desenvolvimento. Cuereneia foi um dos defensores da Ematum, que chegou a argumentar no Parlamento que a constituição da empresa visa viabilizar a “estrada nacional número zero”. Cuereneia chegou a ser vaticinado como candidato presidencial, mas depois “pecados internos” afastaram-no. Recentemente tem estado activo nos bastidores políticos-partidários da Frelimo na Matola, onde fixou residência após ter deixado o ministério de Planificação e Desenvolvimento. Na Beira, a segunda maior cidade do país, o apresentador da televisão pública, Atanásio Marcos, que muito cedo se colocou na rampa para as autárquicas de 2018, encontra resistência no seio do partido, que pode voltar a confiar em Lourenço Bulha, o candidato derrotado por Daviz Simango nas autárquicas de 2008. Inicialmente apontado em certos sectores como aposta da Frelimo para suplantar o actual edil, Daviz Simango, Atanásio Marcos chegou a mudar-se para a Beira, ano passado, onde era visto em campanhas “filantrópicas”, distribuindo comida e sacos de cimento a famílias afectadas por desastres naturais. Em Quelimane, outra cidade politicamente estratégica, também começaram campanhas nas bases partidá- rias. Ao que apurámos, perfilam Aly Abooobacar, director provincial da Cultura e Turismo, Carlos Carneiro, administrador de Quelimane, Beto Dias, director provincial da Juventude e Desportos, Manuel Morais, director da Universidade Pedagógica em Quelimane, João Mendes, ex-director administrativo da UP em Quelimane e Amostra Sobrinho, recentemente, deslocado para Sofala, onde é director provincial de Cultura e Turismo, o mesmo cargo que desempenhava na Zambézia. Ao que consta, os seis prováveis candidatos têm estado no terreno a angariar apoios. Em Nampula, não está garantida a continuidade de Amisse Cololo António, o candidato de “papo fá- cil” que foi derrotado pela força do voto e das diferentes artimanhas, que não triunfaram na segunda volta da intercalar devido à presença massiva de observadores e media e que consagrou Paulo Vahanle da Renamo como edil de Nampula. Cololo poderá ser substituído por Francisco Mucanheia, membro do Comité Central e deputado na Assembleia da República e oriundo da zona costeira de Angoche. Porém, um dos grandes sonhos de Mucanheia é ser governador de Nampula. Samora Machel Júnior David Simango Calisto Cossa  Aiuba Cuereneia Francisco Mucanheia TEMA DA SEMANA Savana 23-03-2018 3 Q uarenta dias depois de o presidente da República ter submetido, na Assembleia da República (AR), a proposta para a revisão pontual da Constituição da República de Moçambique (CRM), o pacote, tido como de carácter “urgentíssimo”, continua sem data concreta para seu debate na plenária. O facto foi confirmado, esta quarta-feira, pela presidente da AR, Verónica Macamo, que falava no decurso da sessão que aprovou, em definitivo, a proposta de revisão da Lei que cria o Gabinete de Informação Financeira de Moçambique (GIFiM), e, na generalidade, da Lei que Estabelece os Princípios e Regras Aplicáveis ao Sector Empresarial do Estado. Na sessão, que marcou a retomada dos trabalhos da VII Sessão Ordinária da VIII Legislatura, depois de uma interrupção de 15 dias para dar lugar a eleição intercalar de Nampula, Verónica Macamo precisou que o assunto será agendado para debate em plenário assim que as condições estiverem criadas. As condições, argumentou, passam por as Comissões dos Assuntos Constitucionais, Direitos Humanos e Legalidade e a da Administração Pública e Poder Local concluírem o processo de elaboração dos pareceres atinentes à revisão pontual da CR. proposta da revisão pontual da AR. Talapa desvalorizou a ideia de demora no agendamento do debate deste instrumento, reiterando que a bancada que dirige está pronta para viabilizar os consensos saídos do diálogo-político entre o presidente da República, Filipe Nyusi, e o presidente da Renamo, Afonso Dhlakama.   Para Talapa, é importante, devido à delicadeza da matéria, não “correr com o processo”, sob pena de se incorrer no risco da aprovação de uma Constituição prenhe de artigos inconstitucionais.   “Não se pode pensar que é uma demora. Trata-se de uma revisão da Constituição. Não podemos aprovar em cima do joelho senão podemos criar problemas de constitucionalidade, por isso, nós como bancada da Frelimo reafirmamos fazer tudo para a viabilização deste processo o mais rápido possível. Naturalmente que houve muitas opiniões e ouvimos. Há grandes avanços”, defendeu.   Por sua vez, Maria Ivone Soares, chefe da bancada parlamentar da Renamo, para além de saudar os avanços alcançados até o momento, disse ser necessário definir com clareza as competências do governador e do representado do Estado na província (Secretário do Estado). A título de exemplo, Soares defendeu que os administradores dos distritos devem ser nomeados pelos 0DLVGHXPPrVDSyVDVXEPLVVmRGDSURSRVWDQD$5 Revisão pontual da Constituição ainda sem data 9HUyQLFD0DFDPRGL]TXHVHUiDJHQGDGDTXDQGRDV´FRQGLo}HVHVWLYHUHPFULDGDVµ tomaticamente, outorgado presidente do município.   “Um dos grandes consensos é que, definitivamente, deve haver eleição directa dos presidentes a Conselhos Municipais que, desta vez, será via cabeça de lista. Isto é, o cabeça de lista será, naturalmente, o presidente do Conselho Municipal, caso essa lista seja a mais votada pelos eleitores munícipes”, considerou. (Ilódio Bata). “Logo que as condições para o debate da proposta da revisão pontual da Constituição da República estiverem criadas, ou seja, com os pareceres produzidos, conforme impõe o nosso regimento, agendaremos, imediatamente, este ponto para o debate em plenário”, disse a presidente do mais alto órgão legislativo do país. %DQFDGDVDOLQKDGDV PDV« Por seu turno, as três bancadas que compõem o parlamento moçambicano, nomeadamente a Frelimo, Renamo e Movimento Democrá- tico de Moçambique (MDM), garantiram que todas as atenções estão viradas à produção e conclusão dos referidos pareceres. Margarida Talapa, chefe da bancada parlamentar da Frelimo, disse, embora sem dar muitos detalhes, que já há “consensos” à volta das grandes questões constantes da governadores provinciais. Aliás, reforçou que se deve clarificar o “raio de actuação” do Secretário do Estado.        “É preciso definir com clareza as competências dos governadores. Queremos que fique bem claro que os governadores é que devem indicar os administradores, que vão trabalhar na implementação do programa da província ao nível dos distritos. Deve haver clareza sobre onde começa o espaço do governador e onde termina, bem como onde começa e termina o espaço do representado do Estado na província”, disse. O MDM, através do vice-chefe da bancada parlamentar, José Lobo, disse, por exemplo, que já havia consensos em torno do modelo de eleição dos presidentes dos municípios. Assim, segundo explicou o vice-chefe da bancada do “galo”, o cabeça de lista vencedora será, auVerónica Macamo, Presidente da AR TEMA DA SEMANA 4 Savana 23-03-2018 O Governo moçambicano pediu aos credores das chamadas dívidas ocultas um perdão de 50% correspondentes aos juros em atraso, o equivalente a USD124,5 milhões dos USD636 milhões de dólares de dívida que já devia ter sido saldada, assinalando que só conseguirá liquidar todos os encargos inerentes aos referidos empréstimos em 2028. Os credores, nomeadamente o grupo da Ematum, reagiram com brutalidade e chamaram à posição de Maleiane e os seus assessores internacionais, de um “não começo” na discussão da dívida. Numa intrincada operação destinada a conseguir um acordo de restruturação da dívida, uma delegação chefiada pelo ministro moçambicano da Economia e Finanças, Adriano Maleiane, assessorado por técnicos da Lazard Fréres SAS e da White & Case LPP, encontrou-se, esta semana em Londres, com os credores dos empréstimos secretamente avalizados pela administração Guebuza, entre 2013 e 2014, superiores a dois mil milhões de dólares. Os empréstimos, com garantias do Estado, foram operacionalizados por pequeno círculo de oficiais do SISE, liderados por António Carlos do Rosário, então director de Inteligência Económica da secreta moçambicana, créditos contratados ao arrepio das normas legais e na calada das instituições que deveriam ter tomado conhecimento de uma operação de tal envergadura. No documento que apresentou na capital britânica, Moçambique propõe um perdão de 50% nos juros passados (“hair cut” , “corte de cabelo” na gíria financeira internacional) e em eventuais sanções pecuniárias, bem como alterações às taxas de juro e à maturidade da emissão de dívida, cujo prazo inicial terminava em 2020 e já foi alargado para 2023 no final de 2016. Moçambique sempre jogou no sentido de chutar a dívida para além de 2023, ano em que se acredita que irá começar a jorrar o primeiro gás. O ministro Maleiane referiu que a dívida externa representava, em Dezembro de 2017, 212% do PIB (Produto Interno Bruto) uma situação considerada insustentável sendo o serviço das “dívidas comerciais” (subdjacente o entendimento que se trata das dívidas da Ematum Proindicus e MAM), 40% do total do serviço da dívida a honrar por Moçambique. A reformulação dos termos e condições da estrutura da dívida inclui três cenários, nomeadamente “um cupão e taxas de juro muito baixas até 2023, uma taxa de juro ou cupão para além de 2023 em níveis moderados para lidar com os constrangimentos no serviço da dívida, um perdão nos juros passados e capitalização do saldo, limitadas amortizações até 2028 e oferta de pagamentos em moeda local aos detentores nacionais da dívida”. Na apresentação aos investidores e credores sobre os passos que o Governo defende para reestruturar a dívida pública, que atingiu níveis insustentáveis para as finanças pú- blicas moçambicanas, o Governo apresenta três opções. Em todas as opções, a maturidade é alargada em oito, 12 ou 16 anos, sendo que nesta última seria pago duas vezes por ano um cupão de 2% até ao quinto ano, e depois um de 3% entre o quinto e o décimo ano, que sobe para 6% a partir desse ano. Na prática, Moçambique suaviza as prestações da dívida nos próximos anos e aceita pagar mais no final do período, contando com as receitas do gás natural, que deverão entrar em força a partir da próxima década. 1mRKiFRQYHUVD &UHGRUHV Algumas horas após as autoridades moçambicanas terem dado a conhecer a sua posição, o representante do grupo de investidores que detém mais de 80% da dívida pública rejeitou a proposta. “Vamos transmitir a ideia de que a chamada proposta não serve para início de conversa”, disse à agência de informação financeira Bloomberg o advogado Thomas Laryea, conselheiro legal do autodenominado Grupo Global de Detentores de Títulos de Dívida de Moçambique, que diz representar mais de 80% do total de 727,5 milhões de dólares emitidos em 2016 em relação à Ematum. Os bancos que emprestaram o dinheiro foram o Credit Suisse e o russo VTB, cuja actuação está também a ser investigada pela polícia federal (FBI) e Ministério da Justiça dos Estados Unidos, além dos reguladores financeiros do Reino Unido e da Suíça. Entre os investidores com que o Governo tem de negociar, há detentores de 727,5 milhões de dólares em títulos de dívida denominada Mozam2023 (renegociada em 2016 para a Ematum), que já tiveram um corte no rendimento devido ao ‘default’ (incumprimento) de Moçambique na respectiva remuneração. Os juros não pagos das obrigações Mozam2023 totalizam USD136 milhões. Os detentores destes títulos (que resultam da troca por obrigações da Ematum) recusam ser equiparados a bancos e investidores que emprestaram os restantes 1,4 mil milhões de dólares às empresas públicas Mozambique Asset Management (MAM) e à Proindicus. A dívida a 20 de Março corrente da MAM era de USD345 milhões e a da Proindicus de USD154 milhões. Ontem, quinta-feira, venceu mais uma prestação (não paga) da Proindicus no valor de USD119,4 milhões e com os juros correspondentes de USD36 milhões. Já no fecho desta edição, os credores aceitaram encontrar Adriano Maleiane nas reuniões de primaveira do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Abril em Washington. “Vamos continuar os encontros com os conselheiros de Moçambique e temos uma reunião planeada com o ministro da Finanças nos Encontros da Primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI)”, disse Thomas Laryea, o porta-voz do Grupo Global de Detentores de Títulos de Dí- vida de Moçambique. No final do encontro desta quarta-feira, em Londres com a comitiva liderada pelo ministro Maleiane, Laryea disse à Lusa que “apesar de continuar a manter que as chamadas linhas mestras da reestruturação não servem para iniciar qualquer conversa que leve a uma resolução fazível, a declaração emitida hoje (quarta-feira) reflete o sentimento relativamente a uma reconsideração da abordagem de Moçambique”. 'HSXWDGRVEULWkQLFRV No entanto, um grupo de 100 deputados do Reino Unido assinou uma petição em que exige transparência aos bancos, que concederam empréstimos ilegais a Moçambique. A informação correu o mundo, esta segunda-feira, através de agências internacionais de notícias que citam um comunicado da Jubilee Debt Campaign, uma organização que advoga o cancelamento de dívidas dos países em desenvolvimento. De acordo com a Jubilee Debt Campaign, citada pela imprensa internacional, a petição dos deputados britânicos “expressa preocupação com os supostos empréstimos secretos concedidos pelos bancos com sede em Londres, em 2013, para empresas moçambicanas, com garantias do Governo de Moçambique e sem aprovação do Parlamento”. Por isso, os parlamentares solicitam, na moção, “medidas para garantir que todos os empréstimos concedidos pela lei do Reino Unido a governos ou com garantias governamentais sejam divulgados, publicamente, no momento em que são feitos e cumpram a lei do país em questão”. O documento foi divulgado um dia antes da reunião, esta terça-feira, em Londres, do Governo de Moçambique com os credores das dívidas ocultas. Roger Godsiff, deputado citado pelo grupo promotor, considerou “muito preocupante” que os empréstimos tenham sido concedidos “sem a supervisão parlamentar adequada em Moçambique”. “No Reino Unido, precisamos de reconhecer o nosso papel neste escândalo. A Autoridade de Conduta Financeira deve utilizar todos os meios à sua disposição para manter os bancos com sede em Londres para serem contabilizados”, desafiou. Ao mesmo tempo, considerou necessárias “novas medidas para garantir que todos os empréstimos concedidos a governos pelas instituições financeiras baseadas no Reino Unido ou empréstimos concedidos de acordo com a lei do Reino Unido sejam divulgados publicamente”. Os credores, esses, que procurem os bancos para serem ressarcidos. Por sua vez, a directora da Jubilee Debt Campaign, Sarah-Jayne Clifton, é citada a referir que “os credores e funcionários do governo que estão nos bastidores desses acordos ultrajantes precisam ser responsabilizados por suas acções”. É preciso sublinhar que a responsabilização das dívidas contraídas durante a administração Guebuza, e ao arrepio da legislação e instituições moçambicanas, tem sido o nó de estrangulamento entre Maputo e a comunidade internacional, com os doadores a deixarem claro que a retomada da ajuda ao Orçamento do Estado vai depender do desfecho do caso. Por sua vez, as autoridades moçambicanas, através da Procuradoria-Geral da República (PGR), têm optado por arrastar o caso até onde poderem, cientes de que o seu esclarecimento pode provocar profundas feridas dentro do partido que dirige o país desde 1975. E quem tem pago caro por essa estratégia é o povo moçambicano que, a cada dia, vê o custo de vida a se agravar. Entretanto, para a directora da Jubilee Debt Campaign, “o povo de Moçambique não deveria ter de pagar um centavo sobre essas dívidas secretas” e “qualquer credor que se sinta enganado deve procurar ser ressarcido pelos bancos que organizaram os empréstimos secretos”, ou seja, o Credit Suisse e VTB, bem como “por qualquer pessoa que possa ter lucrado com os negócios”. 'tYLGDVRFXOWDVHPQHJRFLDomR ( ) 156470)16 44)%45 02716 " Total o/w principal o/w interest $ " $ $ !26%/ A petrolífera norte-americana Exxon Mobil está à procura de uma firma internacional de assessoria jurídica com vista à sua participação no projecto de desenvolvimento de gás natural liquefeito (GNL) na Área 4 da Bacia do Rovuma, em Cabo Delgado. De acordo com a Zitamar, a Exxon Mobil quer um assessor jurídico com experiência reconhecida na área de projectos de liquefacção ou grandes projectos energéticos na África Sub-sahariana. Nesse sentido, o consórcio Exxon Mobil-Eni lançou na semana passada dois concursos para a selecção de uma firma jurídica para a restruturação do projecto de desenvolvimento de GNL e de outra visando a estruturação do projecto de financiamento do empreendimento. A primeira firma vai aconselhar a equipa comercial do consórcio sobre as estruturas do projecto, desenho e revisão de documentos sobre a fábrica de GNL, nomeadamente sobre acordos suplementares sobre contratos de exploração e produção, bem como documentos relacionados com os acordos de partilha de infra-estruturas da península de Afungi. A segunda vai encarregar-se da assessoria jurídica à equipa responsável pela montagem do processo de financiamento do empreendimento. A firma terá a seu cargo a análise das possíveis estruturas de financiamento do projecto, revisão de documentos, incluindo contratos de engenharia, procurement e construção e análise dos requisitos exigidos pelos potenciais financiadores do projecto. A Zitamar adianta que o consórcio Exxon-ENI espera submeter às autoridades moçambicanas o projecto de desenvolvimento até ao final do ano em curso. Além do consórcio Exxon-ENI, a Bacia do Rovuma conta com um consórcio liderado pela Anadarko na Área 1, tendo apresentado no ano passado o seu plano de desenvolvimento, com uma estimativa de produção de 12,9 milhões de toneladas anuais de GNL. 3URMHFWRGD%DFLDGR5RYXPD Exxon Mobil procura consultoria jurídica Governo de corda ao pescoço em Londres &UHGRUHV UXGHV GmRQHJDQRSULPHLURround 1RYRroundSUHYLVWRSDUD:DVKLQJWRQHP$EULO Fonte: Governo de Moçambique Resumo dos incumprimentos da dívida comercial externa a 20.03.2018 montantes em atraso *Na proindicus, não inclui dívida de capital e juros vencidos a 21.03.18 TEMA DA SEMANA Savana 23-03-2018 5 PUBLICIDADE 6 Savana 23-03-2018 SOCIEDADE SOCIEDADE A guerra fria na versão Sec. XXI, desta vez entre a Rússia e o Ocidente, também tem réplicas e trava-se noutros palcos, tal como o embate antecessor da confrontação indirecta que por uma unha negra provocava uma III Guerra Mundial. Esta semana, a embaixada da Rússia em Maputo emitiu uma declaração em que explica, em português, os argumentos que Moscovo tem vindo a esgrimir à volta do misterioso envenenamento do agente duplo, de origem russa, Sergei Skripal e sua filha Yulia. O Reino Unido não tem dúvidas sobre o envolvimento da Rússia na tentativa de homicídio de Skripal e sua filha, tendo, na sequência, expulso 23 diplomatas russos. Moscovo não tardou e respondeu na mesma medida, repatriando 23 diplomatas britânicos. No comunicado que divulgou em Maputo, a missão diplomática russa considera falsas as acusaprimeira-ministra britânica, são unilaterais e não transparentes, constituindo uma tentativa de campanha infundada anti-russa. É uma arma química russa – Reino Unido Reagindo ao pronunciamento da embaixada russa em Maputo, a missão diplomática do Reino Unido em Moçambique assinala que Sergei Skripal e sua filha Yulia foram envenenados com uma substância química de calibre militar de um tipo desenvolvido na Rússia. Esta substância faz parte de um grupo de agentes químicos denominados ‘Novichok’, refere a nota. “Nós concluímos que é altamente provável a responsabilidade da Rússia na tentativa de assassinato de Sergei e Yulia Skripal. Estamos absolutamente certos desde o princípio desta conclusão”, lê-se no comunicado. A nota diz que as autoridades britânicas chegaram àquela conclusão com base na identificação da referida arma química pelos maiores peritos mundiais do LaEnvenenamento do espião Skripal Rússia e Reino Unido replicam tensão em Maputo ções de Londres sobre o envenenamento do ex-espião. “O pretexto falso no alegado envolvimento de Sergei Skripal é a provocação bruta e sem precedentes e prejudica os fundamentos do diálogo normal entre os nossos países”, lê-se na declaração. A Rússia, prossegue a nota, considera categoricamente inadmissível e indecorosa a actuação do Reino Unido, que optou por agravar ainda mais as relações bilaterais, ao anunciar uma série de medidas hostis, incluindo a expulsão de 23 diplomatas russos. “Em vez de concluir a sua pró- pria investigação, usando os respectivos procedimentos internacionais, incluindo no âmbito da Organização para a Proibição de Armas Químicas, (para o que nós estivemos dispostos), o governo britânico optou pelo confronto com a Rússia”, diz a nota. Para a embaixada da Rússia em Moçambique, as medidas anunciadas por Theresa May, boratório de Ciências de Defesa e Tecnologia de Porton Down. Reforça a probabilidade do envolvimento russo, continua a carta, o conhecimento de que o país produziu este tipo de agente químico e teria ainda hoje a capacidade de o fazer. “O historial da Rússia no cometimento de assassinatos em nome do Estado, em seu território e fora, e a nossa avaliação de que a Rússia olha para os seus desertores como alvos legítimos para assassinatos” também consolidam a teoria do envolvimento russo, argumenta ainda a missão diplomática britânica. Para as autoridades britânicas, existem duas explicações plausíveis: ou foi um acto directo do Estado russo contra o Reino Unido ou o governo russo perdeu controlo desta substância química potencialmente catastrófica e permitiu que caísse em mãos de outras pessoas ou entidades. Alexander Súrikov, embaixador da Rússia em Moçambique Alta-comissária do Reino Unido em Moçambique, Joanna Kuenssberg SOCIEDADE Savana 23-03-2018 7 PUBLICIDADE 8 Savana 23-03-2018 INTERNACIONAL SOCIEDADE A solução ideal que seja para férias ou para uma viagem de negócio. O ambiente é extremamente confortável e cuidados ate nos mínimos pormenores. Com uma localização privilegiada, é um excelente ponto de partida. O The Matola HoteOÀFDQDDYHQLGDSULQFLSDOGD0DWROD DSHQDV NPGH0DSXWR O Hotel tem também uma posição ideal para percorrer a região, visitando as Cascatas da Namaacha, e países vizinhos como Suazilândia e África de Sul. 2VHVSDoRVFRPXQVVmRSDUWLFXODUPHQWHDSUD]tYHLVHUHSRXVDQWHV6RÀVWLFDGR e acolhedor o The Matola HoteOWHPjVXDGLVSRVLomR TXDUWRVFRPDGHcoração e posições variadas, e 5 suítes de alto padrão distribuídas nas seguintes categorias: 4 suítes VIP’S 1 suíte presidencial. O The Matola Hotel oferece WDPEpP DSDUWDPHQWRVVRVVHJDGRVFRPSOHWDPHQWHHTXLSDGRVHGHFRUDGRV de forma a proporcionar o máximo conforto num ambiente elegante e actual $Y 'D1DPDDFKD.P 0DWROD +258 84 3116 573 info@thematolahotel.co.mz www.thematolahotel.co.mz C ampanha do ano passado foi “criminosa” e teve como objectivo “subverter a vontade das pessoas”. Houve acusações de “fraude maciça” e pelo menos 16 pessoas morreram em confrontos. Os pedidos para uma investigação às actividades da Cambridge Analytica chegaram esta quarta-feira à oposição no Quénia, depois de a empresa britânica se ter gabado de gerir toda a campanha do actual Presidente. Uhuru Kenyatta renovou o mandato no ano passado, mas as primeiras eleições foram anuladas pelo Supremo Tribunal devido a acusações de fraude. Num vídeo gravado em segredo por um jornalista do Channel 4 britânico, um dos directores da Cambridge Analytica, Mark Turnbull, conta como a empresa esteve envolvida na campanha do partido de Kenyatta, o Jubileu: “Mudámos todo o branding do partido duas vezes, escrevePRVRPDQLIHVWRH¿]HPRVSHVTXLVD análise e comunicação.” “Penso que escrevemos todos os discursos e montámos aquilo tudo – todos os elementos que compunham esse candidato”, diz Turnbull na gravação, acreditando que estava a falar com o intermediário de um milionário com interesses nas eleições no Sri Lanka. Que a Cambridge Analytica esteve envolvida em campanhas eleitorais no Quénia não é novidade – a própria empresa apresenta no seu site, como um caso de sucesso, a primeira vitó- ria de Uhuru Kenyatta, em 2013: “A análise da Cambridge Analytica segmentou a população do Quénia em grandes audiências-chave. Entre as DXGLrQFLDV TXH IRUDPLGHQWL¿FDGDV o nosso trabalho detectou que os jovens eram um valor subutilizado pelo partido, e que podiam ser muiWRLQÀXHQWHVVHIRVVHPPRELOL]DGRV Para criar uma união com essa audiência, a equipa de comunicações e de estratégia da Cambridge Analytica fez uma campanha online nas redes sociais para gerar uma base de seguidores gigantesca e activa.” “Fraude maciça” Em Setembro do ano passado, o Supremo Tribunal do Quénia tomou uma decisão inesperada e inédita ao anular os resultados das eleições presidenciais que renovariam o mandato de Kenyatta. O candidato da oposição, Raila Odinga, rejeitou os resultados e disse que o sistema informático da comissão eleitoral foi pirateado, o que resultou numa “fraude maciça” a favor de Kenyatta. Odinga acabaria por não participar na repetição das eleições e fez as pazes com Kenyatta no início de Março – uma viragem positiva para o país que pode cair por terra após as recentes revelações sobre o trabalho da Cambridge Analytica. Também em Setembro do ano passado, Hillary Clinton chamou a DWHQomR SDUD D LQÀXrQFLD GD &DPbridge Analytica: “As eleições no Quénia acabaram de ser anuladas, e o mais interessante é que essas eleições foram mais um projecto da Cambridge Analytica, a empresa detida pela família Mercer que foi instrumental no referendo sobre o Brexit”, disse Clinton numa entrevista à NPR, notando ainda que a empresa “esteve envolvida com a campanha de Trump depois de ele ter sido nomeado”. Para além da família Mercer, a Cambridge Analytica teve no topo da sua hierarquia outra pessoa que foi pró- xima de Donald Trump – quando foi chamado para director de campanha, o populista e nativista Steve Bannon estava na administração da Cambridge Analytica. “Campanha criminosa” Para a recente onda de indignação contra a empresa britânica contribuem duas novidades: a acusação de que tem um esquema montado para se apoderar de gigantescas quantidades de dados pessoais sobre milhões de utilizadores de redes sociais FRPRR)DFHERRN HDFRQ¿VVmR QRV vídeos escondidos do Channel 4, de que usa esses dados para aprofundar divisões, extremar comportamentos e acicatar ódios. Suspeitas que chegam ao Qué- nia, onde a violência da campanha do ano passado fez pelo menos 16 mortos; mas também aos Estados Unidos, onde a campanha para as SUHVLGHQFLDLVGH ¿FRXPDUFDGD por uma profunda divisão entre os apoiantes de Donald Trump e os de Hillary Clinton; e ao Reino Unido, onde os argumentos sobre o referendo do “Brexit” assentaram, muitas vezes, na intolerância e no racismo. “O que sabemos agora é que a Cambridge Analytica ajudou a sequestrar a democracia do Quénia. Manipulou eleitores com anúncios apocalípticos e difamou o opositor de Kenyatta, Raila Odinga, chamando-lhe violento, corrupto e perigoso”, diz o jornalista queniano Larry Modowo, num texto publicado no Washington Post. Ouvido pela BBC, o líder do maior partido da oposição no Quénia, NorPDQ0DJD\D GL]TXHDLQÀXrQFLDGD empresa britânica nas duas últimas eleições no país deve ser investigada. “Foi uma campanha criminosa, com o objectivo de subverter a vontade das pessoas através da manipulação, da propaganda. Tem de haver culpados”, disse Magaya, apelando ao Reino Unido e aos Estados Unidos que ajudem nas investigações. Ainda é possível consultar os canais criados pela Cambridge Analytica no Twitter, no Facebook e no Youtube contra o candidato Raila Odinga, que perdeu as eleições mas ganhou no Supremo uma acusação de fraude contra Uhuru Kenyatta. “Tudo é emoção” “A nossa função é fazer descer o balde a uma maior profundidade no poço, para perceber os medos enraizados, as preocupações. Não serve de nada lutar numa campanha com factos, porque numa campanha tudo é emoção”, disse Mark Turnbull, da Cambridge Analytica, num dos ví- deos gravados pelo Channel 4. Nesses vídeos, Turnbull e o presidente da empresa, Alexander Nix, gabam-se de terem gerido toda a campanha de Donald Trump – e de esse trabalho ter dado ao candidato do Partido Republicano as vitórias tangenciais nos três estados que foram cruciais para derrotar Hillary Clinton, apesar de ter recebido menos três milhões de votos a nível nacional. Nos casos dos Estados Unidos, do Quénia ou do referendo do Brexit, a mensagem da Cambridge Analytica não é simplesmente a de que FRQVHJXH LGHQWL¿FDU EHP RV YiULRV segmentos dos eleitores e dirigir-se a eles com mensagens adequadas – isso é o que tenta garantir qualquer especialista em campanhas. Acima de tudo, de acordo com Christopher Wylie, antigo trabalhador da Cambridge Analytica e principal autor das denúncias sobre o roubo GH SHU¿V GR )DFHERRN D HPSUHVD vende aos seus clientes “uma ferramenta de guerra psicológica”. Investigação da Cambridge Analytica Quénia pede ajuda a Londres e Washington Savana 23-03-2018 9 PUBLICIDADE SOCIEDADE 95 500 LIGUE apoio.clientemz@zap.co.ao Todos os dias, incluindo feriados, das 7:00 às 24:00 CARREGAR A ZAP DURANTE 2 SEMANAS, TÁ FÁCIL! CARREGAMENTO TÁ FÁCIL DISPONÍVEL NAS LOJAS ZAP OU AGENTES AUTORIZADOS COM REGARGA ELECTRÓNICA. Visite-nos em e siga-nos 10 Savana 23-03-2018 SOCIEDADE O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, mantém o sonho de ver o empresariado nacional a investir na África do Sul, para que o país consiga inverter o saldo negativo da balança comercial entre os dois países. O assunto voltou a ser tema de debate na visita de trabalho que o estadista sul-africano, Cyril Ramaphosa, realizou no passado sábado a Moçambique. Os dois países esperam assinar um memorando de entendimento para a viabilização desse desiderato, no decurso da 3ª Cimeira Bianual, que terá lugar ainda este ano na África do Sul. O debate para que os empresários moçambicanos invistam na África do Sul vem de há longa data, mas ganhou forma com a visita que o Presidente moçambicano efectuou àquele país, em Outubro de 2015, na altura com Jacob Zuma na condução dos destinos daquele país. Nyusi entende que, penetrando naquele mercado competitivo, os empresários moçambicanos podem ganhar mais experiência e mais tarde replicarem no país, de modo a inverter o actual cenário, em que mais de 70% do consumo é exportado. Perante este repto, a CTA apontou a institucionalização do “black empowerment”, como a principal barreira para que o empresariado estrangeiro invista naquele país. A lei do “black empowerment” estabelece privilégios às empresas sul-africanas dirigidas por negros nos diversos projectos de investimento, pelo que os moçambicanos que pretendam investir naquele país devem firmar parcerias com os locais ou entrar em forma de sub-contratados nos concursos públicos. No passado sábado, dia em que completava um mês e um dia após a tomada de posse como novo Presidente da República sul-africana, Cyril Ramaphosa visitou Filipe Nyusi para o reforço da cooperação bilateral. Ramaphosa está num périplo de apresentação aos seus homólogos da região, onde dirige o órgão da Troika da SADC, e chegou a Moçambique depois de visitar Angola, Botswana, Zimbabwe. Nyusi referiu que nos debates havidos entre as duas delegações, incluindo o encontro a dois, privilegiou-se a cooperação económica e político-diplomática de modo que os acordos existentes sejam materializados. Destacou que o governo moçambicano estabeleceu como meta a maximização das vantagens competitivas para promover a competitividade de ambas as economias, pelo que urge, segundo Nyusi, encontrar mecanismos que garantam uma maior fluidez na interacção sectorial. Disse aguardar com espectativa a realização da 3a sessão da cimeira bianual entre a RSA e Moçambique, que terá lugar ainda este ano, no país vizinho, para que traga respostas às inquietações dos moçambicanos. Dentre os resultados esperados, destaca-se a necessidade da assinatura de um memorando de entendimento em torno da cooperação económica. Nyusi espera que este memorando, aliado a outros instrumentos, possa encorajar o investimento do empresariado moçambicano naquele país e vice-versa. Ainda neste domínio, diz que gostaria de ver incrementado o uso das ferrovias, devido às múltiplas vantagens no transporte de mercadorias. A aposta neste meio de transporte pode aliviar o escoamento do tráfego na EN4, sobretudo os acidentes, bem como a durabilidade da estrada. O recurso a camiões na EN4 para o transporte de mercadorias para o Porto de Maputo tem sido duramente criticado, sobretudo, por provocar congestionamento, degradação da via e insegurança rodoviária. O congestionamento na EN4 resulta da maior pressão exercida pelo crescimento do tráfego rodoviário de mercadorias, em detrimento dos modos tradicionais de transporte, nomeadamente o marí- timo e ferroviário. A carga de natureza ferroviária, particularmente a de minérios a granel, estão a ser transportadas via rodoviária para o Porto de Maputo. Em 2017, 52% da carga foi transportada por via ferroviária, 36% por via rodoviária e menos de 1% por via marítima. Promover a paz Por seu turno, o estadista sul-africano, Cyril Ramaphosa, disse que os interesses económicos das partes encontraram expressão nas discussões havidas. Para Ramaphosa, a avaliar pelo nú- mero de questões debatidas, pode se assumir que existe muito potencial para que os dois países aspirem à prosperidade económica. Enalteceu a importância da cimeira bianual, defendendo a necessidade de serem colocados aspectos práticos para que sejam realizados. Falou também do imperativo de assegurar a paz e prosperidade na região, bem como nos dois países. Disse que na qualidade de presidente da Troika da SADC, vai enfatizar a importância da paz. Por seu turno, a ministra dos Negó- cios Estrangeiros sul-africana, Lindiwe Sisulo, anunciou que, a partir de Abril, a fronteira dos Libombos, em Ressano Garcia, passará a estar operacional 24 horas por dia. Disse tratar-se de um pedido especial do executivo de Maputo que deve ser cumprido. Por Argunaldo Nhampossa Filipe Nyusi e Cyril Ramaphosa reforçam laços de cooperação bilateral Nyusi quer moçambicanos a investirem na RSA A bancada do Movimento Democrático de Moçambique (MDM) na assembleia municipal de Maputo propôs uma moção de censura contra a governação de David Simango, no municí- pio de Maputo. A reprovação do desempenho do Simango surge na sequência da omissão do seu dever de velar pelo bem-estar dos muní- cipes da capital. O MDM acusa o edil de Maputo e a sua equipa de ter sido negligente para além de ter mostrado incompetência na gestão da lixeira de Hulene, o que culminou com a morte de 16 pessoas devido ao aluimento da montanha de lixo. O pedido foi apresentado esta quarta-feira, 21, durante dos trabalhos da 73ª Reunião Plenária na XXI Sessão Ordinária da Assembleia Municipal. O incidente da lixeira de Hulene foi o assunto que denominou os debates da reunião e que foi caracterizado por troca de acusações entre as bancadas do MDM (27 assentos) e da Frelimo (38 assentos). Segundo o MDM, o deslizamento da parte da lixeira podia ter sido evitado pela edilidade, pois, a mesma já tinha conhecimento de que o depósito representava um perigo à saúde e vida humana. Para o chefe da bancada do MDM na assembleia municipal, Ismael Nhacoco, foi bastante chocante chegar ao local do incidente e deparar-se com uma situação daquelas, que poderia ter sido evitada caso o edilidade não tivesse tratado o assunto de forma “leviana, superficial e negligente”. Desta forma, o partido do galo diz que já não acredita na competência de David Simango. O MDM entende que Simango é o principal responsável pela perda de vidas humanas na madrugada de 19 de Fevereiro passado e que, moralmente, já não está em condições de continuar a dirigir o município, pelo que, pede que coloque o seu lugar à disposição. Contudo, o desejo do MDM foi chumbado pela Frelimo cuja bancada é maioritária na assembleia municipal. Para a Frelimo, David Simango é a única pessoa, neste momento, capaz de dirigir os destinos dos munícipes da capital, para além de que chegou à posição através do voto dos citadinos de Maputo. Depois do voto de confiança do seu Negligência no desmoronamento da lixeira de Hulene partido, David Simango dirigiu-se à plenária e garantiu que todas as medidas estão a ser tomadas para dar a devida assistência e acompanhamento às vítimas da tragédia. Simango falou de apoio moral às famílias enlutadas assim como de sensibilização para evitar que as pessoas voltem a viver naquele local. Quanto ao reassentamento, Simango afirmou que esta situação está a ser resolvida, e que até, ao momento já foram demarcados 406 talhões de 15/30 metros em Possulane, distrito de Marracuene, província de Maputo, onde serão construídas casas do tipo 3 para todas as famí- lias. Estima-se que as obras tenham a duração de um ano, enquanto isso as famílias terão de viver em casas que serão arrendadas pelo Município de Maputo em parceria com outras empresas. Balanço das actividades No decorrer da reunião, as comissões fizeram a apreciação do relatório de balanço das actividades relativo ao quarto trimestre de 2017, onde destacaram a recolha dos resíduos sólidos, manutenção e pavimentação de estradas. Por seu turno, Ananias Couana, director de Finanças no município de Maputo, referiu que a introdução do novo sistema electrónico móvel vai facilitar a cobrança dos impostos. “Com a aplicação deste novo sistema houve 7% de crescimento, correspondente a 29 milhões de meticais acima do cobrado no mesmo período em 2017, o que mostra que de facto este método trouxe algum crescimento em termos de cobrança”, esclareceu Couana. MDM propõe moção de censura contra Simango Savana 23-03-2018 11 PUBLICIDADE SOCIEDADE Asseguramos que pode transaccionar a qualquer hora, Assim como o gás cujo o fl uxo não interrompe às 17h00. As nossas soluções digitais inovadoras permitem-lhe poupar tempo e dão acesso a serviços bancários dia e noite. Conosco não precisa de esperar o amanhecer para aproveitar a oportunidade. Para que o seu negócio prospere para além do normal, precisa de um banco fora do normal. Ligue-se ao FNB Negócios. Email Business@FNB.co.mz FNB Mozambique O FNB Moçambique é uma subsidiária do Grupo FirstRand como podemos ajudar? 12 Savana 23-03-2018 INTERNACIONAL SOCIEDADE SOCIEDADE S aturadas com a apatia das autoridades governamentais ao nível do distrito de Marracuene, perante a impunidade dos supostos nativos nos contínuos e cíclicos actos de invasão, parcelamento e venda de terrenos em propriedades alheias, as comunidades de Fafetine e Inguelane encostaram Juvêncio Mutacate, administrador do distrito, à parede. Perante o cerco das comunidades, Mutacate prometeu negociar com os invasores para pôr termo às suas incursões criminosas. Depois de vários adiamentos e tentativas de contornar os afectados pelas incursões dos “assaltantes” de terras, o administrador de Marracuene reuniu-se, no último sábado, 17, com as comunidades nativas para discutir a questão de negócio de terra. A chuva e o vento que se fizeram sentir na manhã daquele sábado não foram suficientes para afastar as comunidades do encontro. Temendo revolta popular, o administrador chegou ao local escoltado por agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM). Tal como era do domínio público, as comunidades queriam saber do mais alto responsável do governo do distrito as razões do silêncio perante constantes actos de invasão, parcelamento e venda de propriedades alheias. A quebra de paciência resulta da invasão, arruamento, parcelamento e venda de terrenos na propriedade da empresa Sunset Land – Agropecuária, uma firma dedicada à criação de gado bovino e à actividade agrícola. Parte da comunidade que está a pressionar o administrador presta serviços na Sunset. A propriedade em alusão possui uma área de 115 hectares 90 foram tomados pelos invasores e localiza-se no bairro de Zintava, ao longo da entrada circular. Imitando a tónica das reuniões presidenciais, depois das apresentações e introdução da agenda do encontro, Juvêncio Mutacate pediu que cinco participantes se pronunciassem. Também ficou, de forma tácita, consensual que antes das explicações do administrador, o proprietário da área invadida, Milton Vale Torre, também se deveria pronunciar. Cláudia Gindale, moradora do bairro Fafetine, zona limítrofe da propriedade assaltada, foi o rosto da preocupação e inconformismo dos residentes locais perante o silêncio cúmplice do governo do distrito na invasão das suas terras. Gindale apelou ao administrador para que usasse o seu poder e escorraçasse os criminosos que estavam no terreno da empresa Sunset Land a vender terras. “Senhor administrador, agora que Cansadas da apatia das autoridades, comunidades encurralam administrador de Marracuene estamos aqui, lá no interior da propriedade do senhor Milton estão pessoas a desbravar matas, parcelar e a vender terrenos. Há pessoas que estão a construir casas, juntar areia, pedras e blocos. Também se está a montar sistemas de abastecimento de água. As pessoas que estão a praticar esses crimes não estão foragidas. Estão no local, é só querer que vão encontrar. Agora, porque é que não estão a agir? Nós, como população, sabemos que o governo é que nos deve proteger, mas quando estamos perante uma situação em que somos invadidos por bandidos, comunicamos ao governo e este fica no silêncio, o que podemos fazer como povo”, questionou. Cláudia Gindale continuou a sua explanação referindo que a população de Fafetine bem como de Inguelane não conhecem aquelas pessoas que ocuparam de forma ilegal a propriedade da empresa. Por serem indivíduos estranhos à comunidade bem como à empresa Sunset, quando invadiram a parcela, a comunidade mandou-os embora e destruiu suas cabanas. Porém, o governo veio dizer que isso é proibido porque era justiça pelas próprias mãos. Os invasores regressaram novamente, informamos o governo, mas este não está a agir. Isso leva a população a desconfiar que esses bandidos são aliados de pessoas que trabalharam para o governo. João Mário, também residente de Fafetine, disse que, nas suas incursões criminosas, os invasores dão indicações de que nada temem e controlam a polícia e o governo. “Senhor administrador, será que é possível um ladrão entrar na sua residência, à luz do dia, na sua presença e você ficar apático às suas incursões ou nada fazer para tentar recuperar seus bens?”, interrogou. Mário sublinhou que os invasores fazem o seu trabalho a bel-prazer, ameaçam as comunidades, as estruturas locais e mandam prender todos aqueles que tentam inviabilizar suas acções. “A forma como os bandidos actuam não deixa dúvidas de que são coniventes de algumas pessoas ligadas ao governo e à polícia. É que nós sabemos que o senhor administrador emitiu uma ordem de expulsão dos criminosos e embargo de todas as suas actividades ilegais na propriedade da Sunset Land, mas o grupo invasor continuava, numa clara demonstração de força e desrespeito às ordens das autoridades locais do Estado. Mesmo eu, que estou a falar, corro perigo de ser detido ou ameaçado porque os invasores também estão aqui neste encontro e mandam lá na polícia, procuradoria e no tribunal”, lamentou. No encontro, também soube-se que os “assaltantes” recorrem à mão-de-obra nativa para auxiliar no desbravamento das matas e colocação de marcos. Por cada parcela de 20/40 desbravada, o contratado recebe três mil meticais. Os primeiros dois depoimentos terão, em algum momento, embaraçado o administrador que tratou de interromper os desabafos populares antes de chegar ao número que anteriormente pediu. Mesmo o proprietário da área invadida não conseguiu manifestar seus sentimentos. Negociar com invasores Perante as queixas populares, Juvêncio Mutacate referiu que o governo de Marracuene tem mostrado o seu cometimento em relação à questão da gestão da terra. Sublinhou que é preciso ficar claro aos servidores públicos, as comunidades e aos agentes económicos que a terra é propriedade de Estado e o que é atribuído ao cidadão é do Direito de Uso e Aproveitamento de Terra (DUAT) que tem três dimensões mormente: costumeira, boa-fé e aquisição formal e o papel do governo é resolver as preocupações da população. Mutacate referiu que há uma prá- tica consuetudinária que é ilegal, mas que há tendências de ser legitimada. Alguns líderes comunitários estão a vender a terra a terceiros, o que é proibido e que, em caso de descoberta, as pessoas serão responsabilizadas criminalmente. “Aqui em Marracuene temos problemas de conflitos, mas não graves. Muitas vezes, as pessoas levantam este pequeno problema de forma sensacionalista”, replicou. Mutacate explicou à população que invadir propriedade alheia é crime, vender terra é crime e esses assuntos estão a ter o devido tratamento junto das autoridades policiais e judiciárias. A população deve ficar calma porque todos os envolvidos nestes esquemas vão responder pelos seus actos. Explicou que é preciso que os agentes económicos com grandes parcelas de terras submetam seus planos de exploração ao executivo para este saber qual é capacidade que o titular do DUAT tem para explorar uma certa área. Falando concretamente da propriedade de Sunset Land, Juvêncio Mutacate disse que o seu governo está a trabalhar na reposição da legalidade. Porém, o que acontece é que a vítima tem um certo nível de expectativa e o governo também deve agir dentro de limites normativos e isso provoca esse pânico que todos estão assistir. “Vocês dizem que os supostos invasores estão a parcelar e a vender terras alheias. Sim sabemos disso e aqueles vão sair daí. Agora, quanto aos compradores, é bom que fique claro que quem atribui DUAT é o governo e nós, como governo, não aceitaremos legalizar terrenos adquiridos de forma ilegal. Os que estão a aceitar ser enganados é que vão perder porque não terão nenhum documento sobre as suas parcelas”, explicou sem convencer. Mutacate continuou sua explanação referindo que a ineficácia do governo deve ser aferida a partir do momento em que aceitar regularizar terrenos de parcelas invadidas e não agora. Procurando contornar o centro da questão, Juvêncio Mutacate voltou a atacar os agentes económicos, referido que os empresários devem ser honestos e reconhecer que não estão em condições de ocupar toda a área atribuída para o governo redimensionar. Sublinhou que há zonas que no passado foram concessionadas para agropecuária, mas que hoje já não há viabilidade para tal. Há que requalificá-las para outros fins. “No caso concreto das terras da Sunset Land, estamos preocupados com as invasões, aquilo é um assunto de tratamento criminal, contudo, o empresário deve perceber que a sua zona já não é adequada para continuar com a sua actividade agropecuária”. Por exemplo, continuou, no nosso distrito, ao nível da localidade sede, já não há condições para criação de gado, contudo, temos zonas como Machubo que tem grandes extensões terra para pastagem de gado e é lá onde indicamos os empresários que querem apostar nessa área. Em zonas como Marracuene sede temos de começar a pensar em imóveis habitacionais verticais, condomínios, supermercados, estações de serviços entre outros investimentos. Queremos requalificar aquele lugar e dar outros fins. “Nós queremos ajudar o empresário, mas tem de ter serenidade e confiança no governo. Vamos averiguar, dialogar com os ditos invasores e chamá-los à razão. Garanto-vos que dentro de sete dias vamos trazer resposta”, disse. Sobre a incumprimento da ordem de embargo, Juvêncio Mutacate disse que não está a ser desautorizado, o governo está a agir, está atento às incursões dos ditos invasores e tem a situação sobre controlo. “No seio das pessoas existe um hábito de acusar sem fundamento. Encorajámos denúncias, mas devem estar munidas de provas. Também não podemos actuar sobre um indivíduo na base de denúncias apenas, é preciso averiguar, o cidadão goza de presunção de inocência até o veredicto do juiz. As pessoas devem dizer-nos quem são essas redes para agirmos, muitas vezes são insinuações. Contudo, estamos a trabalhar para estancar estes males”, finalizou. Por Raul Senda Comunidades de Marracuene exigem que o administrador explique as razões do silêncio das autoridades perante a invasão da propriedade de Sunset Land Mutacate promete negociar com invasores de terras Juvêncio Mutacate diz que há tendências de se dramatizar o assunto, mas a situação está sob controlo Savana 23-03-2018 13 DIVULGAÇÃO PUBLICIDADE SOCIEDADE 14 Savana 23-03-2018 Savana 23-03-2018 15 NO CENTRO DO FURACÃO Em Moçambique, a produção de monoculturas começa nos finais do século XIX, com a entrada das companhias majestáticas. Estas companhias produziam em grandes extensões, com base em trabalho intensivo. Produziam para exportação (algodão, açúcar, chá, copra e sisal). É principalmente a partir de meados do século XIX que emergem os médios e pequenos produtores privados, com algum nível de mecanização e trabalho assalariado. Esta evolução deu origem ao incremento do nível de rendimento destes. Existiram apoios do Estado, como por exemplo, o recrutamento obrigatório de trabalho. A cultura do algodão foi introduzida como obrigatória para todas as famílias camponesas. Após a independência seguiu-se um período de estatização destas empresas no quadro de um sistema de economia de planificação centralizada. Seguiu-se, a partir de finais da década de 80, um processo de liberalização económica com a privatização do sector estatal. Foram raras as empresas de capital privado que permaneceram activas desde o período colonial até ao momento. Desde o final da guerra civil em 1992, e principalmente na última década, a penetração de capital externo nos diferentes sectores da economia, revelou ser um dos principais motores de crescimento e desenvolvimento da economia moçambicana. Este fluxo de capital é justificado por: (1) emergência de novos investidores como, e principalmente, a China, a Índia e o Brasil; e, (2) o aumento do preço de produtos alimentares no mercado internacional que provocou, não só o aumento da procura de grande quantidade de terra para a prática agricultura em escala e sua integração no agro-negócio internacional. Os grandes investimentos podem ser uma forma de incentivar a emergência de um tecido empresarial local, a transferência de tecnologia, acesso aos mercados, melhoria de infra-estruturas, criação de emprego, mais qualificação de recursos humanos, aumento do nível de rendimento da população (pelo possível emprego e actividades em subcontratação), desenvolvimento de actividades e serviços, entre outros benefícios. Também, mas não menos importante, os grandes investimentos podem resultar em pouco emprego por ser intensivo em capital, intensificação das desigualdades sociais, aumento da pobreza da maioria da população envolvida em reassentamento, baixos salários, conflitualidades no acesso aos recursos terra e água, entre outros. Em Nampula, no distrito de Monapo, está localizada a empresa Matanuska Moçambique Limitada. Foi criada em 2008, pelo grupo Rift Valley e publicada no Boletim da República, número 25, série III. De acordo com a empresa, a mesma tem uma área total de 3.680 hectares; a primeira fase do projecto visou a implantação de 3.000 hectares de plantações de banana. Até 2017 foram plantados 1.500 hectares, em sistema irrigado. É um investimento de capital estrangeiro, destinado à produção e exportação de banana. As plantações de banana estão em zonas anteriormente ocupadas por empresas algodoeiras. De acordo com os dados oficiais da Direcção de Planificação e Desenvolvimento de Monapo, a Matanuska é a principal entidade empregadora do distrito. A produção está orientada para o mercado externo (Moçambique, juntamente com a produção de outras províncias, passou a ser o terceiro maior exportador de banana de África, ultrapassando, em 2014, os 70 milhões de dólares e mais de 124 mil toneladas). A banana, em poucos anos, passou a ser o segundo produto agrícola mais exportado por Moçambique, depois do tabaco. Este Destaque Rural tem por objectivo estudar a implementação da Matanuska e seus efeitos sobre a pequena produção. A presente análise assenta na recolha de dados primários, obtidos em 2017, a partir de 160 inquéritos aos pequenos produtores e entrevistas aos diferentes indivíduos e instituições ligadas ao tema em análise. Na fase final da conclusão deste trabalho, a empresa Matanuska Moçambique iniciou um processo de encerramento, o que é referido na parte final deste texto; o referido resulta de informações directas dos responsáveis da empresa. As metodologias (sobretudo algumas perguntas do questionário e as entrevistas) e os resultados da pesquisa estão influenciadas, em parte, da realidade da empresa sob uma gestão anterior à actual. Este documento resulta de uma análise em curso no âmbito do projecto de investigação intitulado “Efeitos dos grandes projectos no meio rural: o caso da Matanuska Moçambique”. As conclusões preliminares que constam neste documento foram discutidas com as pessoas no terreno (comunidades, quadros da Matanuska e autoridades locais), com outras organizações da Sociedade Civil que trabalham ou que possuem interesses nesta temática e, no final, com alguns dos mais altos responsáveis da empresa. 2. Principais resultados Os principais resultados da pesquisa são os seguintes: 2.1 Dinâmicas económicas e sociais A produção de banana realiza-se em áreas anteriormente ocupadas por plantações de algodão, o que significa que existe um ajustamento produtivo à evolução do agro-negócio internacional e que Moçambique possui vantagens para atracção do capital, possivelmente (segundo outras culturas) pelas seguintes razões principais: (1) proximidade dos mercados consumidores (médio oriente); (2) terra e trabalho abundante e, portanto, baratos; (3) benefícios fiscais, entre outras. A produção de banana representa uma importante actividade económica, considerando a área, a produção e os volumes de exportação. A doença de Panamá afectou drasticamente a produção. Inicialmente, houve alguma morosidade de intervenção sobre a doença, por duas razões (1) coincidência com a falta de energia e impossibiliade de rega que também provoca o amarelicemento da planta; (2) os serviços de sanidade não estavam preparados para esta doença que surgiu pela primeira vez em Moçambique; as amostras tiveram de ser analisadas na África do Sul, que tardou meses em responder. Não está registado nenhum apoio à produção camponesa. A pesquisa revelou que a implantação da empresa não está a provocar alterações nas técnicas de produção dos produtores (prevalece o uso de enxadas de cabo curto, queimadas descontroladas, tracção animal, etc). Pode-se reter do inquérito que houve uma redução significativa da produtividade por hectar e da superfície trabalhada das principais culturas (algodão, milho, mandioca e mapira). Ao nível local, a agricultura familiar continua sendo a principal actividade. Não se verifica o surgimento de novos sectores económicos fornecedoras de serviços tanto para a empresa, assim como para as comunidades circunvizinhas. 2.2 Emprego e relações laborais De acordo com os dados oficiais da Direcção de Planificação e Desenvolvimento de Monapo até 2014, a empresa empregava pouco mais de 2.500 trabalhadores. Actualmente o número de trabalhadores baixou para menos de 50% (de 2681 para os 1168 postos de trabalho). A empresa resume esta redução em dois principais factores: (1) doença do Panamá, em 2013 e à consequente redução da área plantada e da produtividade; e, (2) clima e incertezas na produção. As relações laborais têm resultado em conflitos de diferentes tipos2: (1) relações entre os trabalhadores e empregadores; (2) processo de demissões por, ou não, justa causa3; (3) não cumprimento das prestações das indemnizações; (4) greves 4; (5) assiduidade e burocracia no processo de justificação de faltas. Os trabalhadores têm falta de condições para desempenhar as funções para as que são contratados. Os mesmos afirmam terem sido disponibilizadas botas. Como afirmou um trabalhador da empresa “só somos dados botas, uniformes de trabalho e água, só quando a empresa recebe uma visita”. Contudo, a emEfeitos dos grandes projectos em Moçambique: o caso da Matanuska* Por Yasser Arafat Dadá e Yara Nova1 presa afirma garantir equipamento suficiente de seis em seis meses. 2.3 Ocupação da terra Considerando a Lei de Terras no âmbito da autorização do Direito de Uso e Aproveitamento da Terra (DUAT), o cumprimento, ou não, pela Matanuska Moçambique constitui um tópico de debate não conclusivo. Por se tratar de uma área superior a 1.000 hectares e que não excede os 10.000 hectares, competiu ao Ministro da Agricultura e Pescas a autorização do DUAT (no 2 alinha a) do Artigo 22 da Lei de Terras. Para efeitos de confirmação de que a área está livre e não tem ocupantes, o processo de titulação da terra inclui o parecer das autoridades administrativas locais, precedido de consulta às comunidades (no 3 do Artigo 13 da Lei de Terras). O disposto no capí- tulo X, do decreto no 23/2008, de 1 de Julho, a expropriação de terra por interesse, necessidade ou utilidade pública dá sempre lugar ao pagamento de uma justa indemnização nos termos de lei. Na fase inicial, com excepção dos líderes locais que receberam mensalmente 5.000 meticais, as mais de 400 famílias afectadas não receberam qualquer compensação pelas terras cedidas. Um dos lí- deres comunitários afirmou “Davam, davam 5 mil meticais por mês quando chegaram, mas agora não dão nada”. A Matanuska afirma não ter indemnizado por estes, não possuírem o DUAT. Sendo certo que os ocupantes não detinham algum documento, a Lei de Terras prevê que a ocupação por pessoas singulares nacionais e pelas comunidades não prejudica o direito do uso e aproveitamento da terra adquirido por ocupação nos termos das alíneas a) e b) do artigo no12. A Matanuska afirma ter realizado consultas e reuniões com as comunidades e autoridades locais. Afecto a esta situação, a empresa afirma ter compensado cerca de 667 indivíduos, pertencentes a Metocheria.5 Contrariamente, os produtores afectados afirmam (99% dos inquiridos) não ter havido qualquer consulta, e não participaram em reuniões do mecanismo de gestão de reclamações da empresa. Aproximadamente 97% dos inquiridos afirma estar envolvido no conflito de terra desde a fase de implementação do projecto. O Governo e a liderança local recorreram à persuasão no processo de negociação entre a empresa e a comunidade, resultando na cedência de terras. Constata-se um alinhamento de interesses do governo com os interesses do privado. 2.4 Responsabilidade social Em entrevista com a empresa, constatou-se que a mesma não possui um Programa de Responsabilização Social, mas sim acções pontuais. Foram identificadas as seguintes direccionadas às comunidades circunvizinhas, (1) abertura de 13 furos de água; (2) doação de kits de material de saú- de; (3) construção de um posto de saúde; e, (4) doação de bananas a hospitais, creches e escolas. Portanto, a Matanuska têm feito uso das acções de responsabilidade social como um instrumento para compensação (pela perda ou ao reduzido acesso à terra) para assim garantir um bom relacionamento com as comunidades locais. No entanto, para os directamente afectados pela ocupação das terras, não existe alguma acção de compensação. 3. RESUMO A introdução da banana como nova produção em escala alargada em Moçambique é consequência das evoluções do agro-negócio internacional. A Matanuska realizou um grande investimento, com resultados produtivos e de produtividade elevada, contribuindo para a balança de pagamentos. A doença “Panamá” afectou a totalidade da área plantada e é necessário o replantio total com uma variedade resistente à doença. A intervenção sobre a doença foi tardia pelas razões apontadas. A Matanuska contribui de forma limitada para o desenvolvimento da pequena produção a nível local, inclusive para as famílias afectadas. A empresa não está a promover a produção da banana devido às exigências internacionais de qualidade. Contudo, é importante que a empresa promova a produção para o mercado interno. Não obstante, verifica-se:(1) a formação de quadros nacionais para o desempenho de funções na empresa, (2) ligações com empresas locais para o fornecimento de bens e serviços. As acções de responsabilidade social, como é prática em outros investimentos, realiza-se em actividades da responsabilidade do Estado. A compensação entregue aos lí- deres locais e não às famílias afectadas, a redução significativa, em qualidade e quantidade da terra, o inexistente apoio à produção, a inexistência de sinais de transferência de tecnologia, entre outros, são sinais de concentração da riqueza e aumento da pobreza e das desigualdades sociais. Em síntese seria importante que: (1) o Estado assuma as suas responsabilidades; (2) a empresa promova um desenvolvimento inclusivo; (3) maior diálogo entre as instituições públicas locais, a empresa e as comunidades para, de forma não conflituosa, se ultrapassarem as questões à volta da terra e das relações laborais; (4) organizar os trabalhadores e comunidades para possuírem maior capacidade de diálogo e, se necessário, de reivindicação. 4. Lições do encerramento da Matanuska Moçambique A empresa iniciou o seu processo de enceramento em Março de 2018. A crise da “doença de panamá”, que arrasou a totalidade da plantação, implicou custos financeiros e capacidade de recuperação insustentáveis. Primeira conclusão: o país e os seus serviços de sanidade são frágeis, incapazes de previsão e combate a condições sanitárias. Faltam recursos humanos, financeiros e técnicos, como por exemplo laboratório. Situação similar aconteceu com o quase extermínio do maior palmar do mundo na província da Zambézia. A empresa teve de investir em todo o sistema logístico, armazenamento e transporte para a exportação de banana. A logística representava cerca de 70% dos custos da empresa. Não houve investimento públicos. Segunda conclusão, o país não possui infra-estruturas e organização para facilitar o investimento especializado e de grande escala. A Matanuska era um dos um dos poucos “green field” da agricultura pós independência, que poderia ter um dos maiores impactos no futuro da indústria da fruta no País. Muita desta fruta manga, abacate, ananás) poderia ser produzida pelo sector familiar, o que significaria uma possibilidade de relações mutuamente vantajosas entre diferentes tipos de produtores. Em resumo, o êxito da opção de Moçambique no agro-negócio como pilar fundamental do modelo de desenvolvimento agrário, exige a capacitação das instituições públicas especializadas, a criação de condições de operação do investimento, uma relação funcional entre os centros de decisão e os investidores, e mecanismos de implementação que evitem situações de conflitualidade diversas e articulações que revertam em benefício das partes envolvidas, isto é, um desenvolvimento inclusivo e sustentável. *artigo retirado do “Destaque Rural Nº 33” editado pelo Observatório do Meio Rural (OMR) 1Yasser Arafat Dadá - Licenciado em Economia e Mestre em Desenvolvimento e Cooperação Internacional. Investigador assistente no Observatório do Meio Rural.Yara Pedro Nova – licenciada em Economia e Monitora de investigação no Observatório do Meio Rural. 2A actual Direcção da Matanuska refere não ter conhecimento de algum caso, nem haver algum processo nas instituições do Estado que tutelam estes assuntos. 3“Expulsaram-me lá sem nenhum motivo. Perguntei aos chefes, não falaram nada. Como não tinha defesa, agradeci e sentei em casa. Não me deram dinheiro, nem nada”. Em entrevista com um dos trabalhadores expulsos pela Matanuska. 4 Na maioria dos casos, as greves e reivindicações para além de exigências de melhores condições, são relacionadas com a revisão salarial e condições de trabalho em geral. 5Informação prestada pela empresa, após conclusão da pesquisa sem confirmação pelo contraditório. 16 Savana 23-03-2018 PUBLICIDADE Parte 1: Introdução e Resumo Geral 1.Introdução As organizações Centro de Integridade Publica (CIP); Centro Terra Verde (CTV), Centro de Estudos e Pesquisa de Comunicação SEKELEKANI; Conselho Cristão de Moçambique (CCM) e Associação Juventude, Desenvolvimento e Ambiente KUWUKA-JDA, realizaram uma missão conjunta de monitoria ao processo do reassentamento em curso na Península de Afungi, distrito de Palma. A missão, que decorreu de 28 de Janeiro e 02 de Fevereiro de 2018, escalou ainda a Cidade de Pemba. As cinco organizações integram um mecanismo de trabalho em rede, denominado Coligação Cívica sobre Indústria Extractiva (CCE). 2.Objetivo A missão tinha como principal objectivo, recolher informação e perceções das comunidades locais, do governo e das empresas, sobre o processo de implementação do Plano de Reassentamento das populações cujas zonas de residência serão abrangidas pelas obras de construção de infra-estruturas da fábrica de liquefação e gás natural (LNG), a ser extraído da bacia do rio Rovuma, num futuro breve. A monitoria recaia sobre os resultados da chamada Fase Zero do Plano de Reassentamento, que decorreu de 01 de Novembro de 2017 a 31 de Janeiro de 2018. Com este propósito, a missão visitou sucessivamente os seguintes locais: sede do governo distrital de Palma; aldeias de Milamba 1, Maganja, Quitupo, Senga e Palma-Sede, aonde se reuniu com as seguintes entidades: Administrador do Distrito, Senhor David Machimbuko (à chegada e ao regresso); comunidades de cada uma das aldeias acima mencionadas; representantes da empresa Anadarko, bem como de organizações da sociedade civil, membros da Plataforma Distrital sobre Recursos Naturais e Industria Extractiva. Na cidade de Pemba, a missão foi recebida pelo Director Provincial da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural, Arlindo Djedje. No total, a missão reuniu com perto de 100 pessoas, incluindo representantes do governo e da empresa Anadarko. 3.Principais assuntos abordados durante a missão Nos encontros mantidos com os diferentes actores e intervenientes na implementação do Plano de Reassentamento, foram abordados, de forma particular, os seguintes quatro assuntos: a) Nível de conhecimento das comunidades sobre o Plano do Reassentamento e respectivo calendário de implementação; b) Avaliação, pelas diferentes partes, da Fase Zero do Plano de Reassentamento, a qual inclui, nomeadamente: a moratória decretada em Dezembro de 2017; o pagamento de compensações a famílias ou indivíduos, por perda de direitos e ou de bens, na aldeia de Quitunda; F &RQKHFLPHQWRJHUDOHHÀFiFLDGR0HFDQLVPR*HUDOGH*HVWmRGH5HFODPDções d) Ambiente político-social envolvente. 4. Resumo das principais constatações e recomendações A missão de monitoria da Coligação Cívica sobre Indústria Extractiva constatou que, de uma forma geral, o processo de implementação do Plano de Reassentamento na Península de Afungi, nesta Fase Zero, tem decorrido de forma HÀFD] DEHUWDHWUDQVSDUHQWH O nível e qualidade de envolvimento e participação das comunidades afectadas é geralmente positivo, ainda que carecendo de melhorias em alguns domí- QLRVHVSHFtÀFRV QRPHDGDPHQWHQRTXHWDQJHDRDFHVVRXQLYHUVDODLQIRUPDomR segura sobre aspectos fundamentais do processo, como, por exemplo, os seguintes: (i) Conteúdo e calendário de implementação do Plano de Reassentamento; (ii) Processo e calendário da atualização do registo do património de cada agregado familiar, com o cálculo atempado do respectivo valor; (iii) Critério e calendário de atribuição de machambas substitutas às famílias a serem reassentadas; (iv) informação de qualidade sobre garantias de acesso a meios de vida após perda de bens e transferência das famílias para novas zonas de residência; e (v) Forma de acesso e de funcionamento do Mecanismo de Gestão de Reclamações; e (vi) opções sobre para onde transferir a comunidade pesqueira de Milamba 1. A missão constatou ainda a existência de um ambiente sociopolítico mais aberto e favorável a uma participação mais activa de todas as partes relevantes, incluindo as organizações da sociedade civil locais, nomeadamente a nível da Direção Provincial de Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural. Contudo, neste aspecto particular, a missão constatou a necessidade de uma melhor comunicação e articulação, entre as autoridades governamentais distritais e as organizações da sociedade civil locais, nomeadamente a Plataforma Distrital sobre os Recursos Naturais e Indústria Extractiva. Entretanto, reconhecendo os esforços empreendidos pelo governo e pelas empresas para melhorar os processos com vista a eliminar irregularidades e assegurar a implantação correcta deste importante empreendimento económico, a Coligação encoraja o governo a tomar as medidas necessárias para, de forma GHÀQLWLYDHQRVWHUPRVGDOHL VDQDUDVLOHJDOLGDGHVTXHFRQWLQXDPDSUHMXGLFDU a qualidade do processo de ocupação de terras pelo projecto, mantendo o Estado em situação de ilegalidade e manchando a licença social da empresa. Perante estas constatações, a missão de monitoria recomenda a todas as partes relevantes, o seguinte: 1. Regularizar, de uma vez, o processo de ocupação de terras pelo projecto do LNG; *DUDQWLUXPDPHOKRULDVLJQLÀFDWLYDGRVVLVWHPDVHPHFDQLVPRVGHFRPXQLcação entre, por um lado, as comunidades afectadas e, por outro, o governo e as empresas; *DUDQWLUXPDPHOKRULDVLJQLÀFDWLYDGDFRPXQLFDomRVREUHRIXQFLRQDPHQWR do Mecanismo de Gestão de Reclamações junto de todas as comunidades afectadas; 4. Trabalhar para garantir uma melhor articulação e colaboração entre o governo distrital e organizações da sociedade civil locais, nomeadamente da Plataforma Distrital sobre Recuros Naturais e Industria Extractiva. 5. Desenvolver mais esforços no sentido de encontrar soluções mais consensuais sobre a transferência da comunidade pesqueira de Milamba 1; 6. Desenvolver mais esforços para tornar os critérios de compensação em terras ou machambas, aos agregados e indivíduos a serem transferidos das suas zonas de origem, mais justos e equitativos. Parte 2: Informe detalhado, conclusões e recomendações 1. Informe detalhado da missão Como acima referido, a missão da Coligação Cívica sobre Indústria Extractiva decorreu tendo como questões fundamentais de monitoria, as seguintes: a) Nível de conhecimento das comunidades sobre o Plano de Reassentamento e respectivo calendário de implementação; b) Avaliação, pelas diferentes partes, da Fase Zero do Plano de Reassentamento, a qual inclui, nomeadamente: a moratória decretada em Dezembro de 2017; o pagamento de compensações a famílias ou indivíduos, por perda de direitos e ou de bens, na aldeia de Quitunda; F &RQKHFLPHQWRJHUDOHHÀFiFLDGR0HFDQLVPR*HUDOGH*HVWmRGH5HFODPDções d) Ambiente político-social envolvente. A seguir se apresentam, de forma desenvolvida, as principais constatações feitas em torno de cada uma destes questões. a) Nível de conhecimento das comunidades visitadas, sobre o Plano de Reassentamento e respectivo calendário. De uma forma geral, as comunidades mostram possuir informação geral sobre R 3ODQR GH 5HDVVHQWDPHQWR PDV DÀUPDP GHVFRQKHFHU R FRQWH~GR FRQFUHWR dos respectivos documentos, em particular o calendário da sua implementação em cada aldeia. A falta de informação sobre o calendário indicando as diferentes fases do reassentamento cria especulações, ansiedade e incertezas junto das diferentes comunidades, que querem saber, naturalmente, do seu futuro, pelo menos a curto e médio prazos. Um dos indicadores mais comuns do sentimento de incerteza, criando ansiedade e especulações, extrai-se do seguinte facto: 1RSHUtRGRHQWUH'H]HPEURGH HÀQDLVGH-DQHLURGH DHPSUHVDSDgou o valor de compensações a diferentes famílias ou indivíduos que possuíssem machambas, casas ou outro tipo de direitos e bens, na aldeia de Quitunda. Noventa e oito pessoas, entre homens e mulheres, naquelas condições , foram retiradas e compensadas em dinheiro. Nove famílias que ali viviam foram reassentadas na aldeia de Senga, em casas provisórias. Assim, a aldeia de Quitunda ÀFRXGLVSRQtYHOSDUDRWUDEDOKRGHGHVWURQFDHOLPSH]D RUDHPFXUVR O processo de evacuação dos habitantes de Quitunda e de compensação de quantos ali possuíssem machambas ou benfeitorias – que corresponde à chamada Fase Zero do Plano de Reassentamento - explica-se pelo facto de ser esta aldeia que vai receber as famílias a serem retiradas de outras aldeias, nomeadamente da aldeia pesqueira de Milamba 1, e de Quitupo, a maior e a mais populosa de todas. Este processo comportou dois factos importantes, que criaram mal-entendidos junto das comunidades, nomeadamente: Primeiro, a preceder a atribuição das compensações pelos bens que os camponeses iriam perder, a empresa Anadarko procedeu à atualização do registo de tais bens, o qual havia sido efectuado pela primeira vez em 2014. Em segundo lugar: uma vez que, entre as famílias que possuíam machambas em Quitanda, havia algumas residentes em outras aldeias, como Quitupo, Maganga e Senga, estas foram contactadas, quer para a atualização do registo dos seus bens, quer para o recebimento das correspondentes compensações. Coligação Cívica sobre Indústria Extractiva Monitoria da Implementação do Plano de Reassentamento de Palma Relatório de Missão 28 de Janeiro a 02 de Fevereiro de 2018 Savana 23-03-2018 17 PUBLICIDADE Entretanto, outras famílias residentes nestas mesmas aldeias, mas sem qualquer património em Quitunda, não foram, obviamente, contactadas. Ora, este facto criou mal-entendidos e muita agitação, pois estas famílias consideraram-se excluídas, quer da atualização do seu património, quer das correspondentes compensações. Avaliação, pelas diferentes partes, da Fase Zero do Plano de Reassentamento Cabe referir, para começar, que a empresa, em coordenação com o Governo, IH]XPHVIRUoRDVVLQiYHO GH QDIDVHGDVFRQVXOWDVFRPDVFRPXQLGDGHV À[DU uma tabela detalhada, dos valores dos bens elegíveis a compensação, facto que ajudou as famílias a construírem uma ideia do valor do seu património. $VWDEHODV À[DGDVSULPHLURHP IRUDPDFWXDOL]DGDVHP Assim, por exemplo, um hectare de machamba com culturas, tais como manGLRFD WHPRYDORUÀ[RGHGX]HQWRVHWULQWDPLOPHWLFDLV 0W HQTXDQWRRYDORUGHXPDiUHDVLPLODU PDVVHPTXDOTXHUFXOWXUD HVWiÀ[DGRHP cem mil meticais (100.000,00 Mt). Árvores de fruta e outras plantas, tais como FRTXHLURV FDMXHLURV PDQJXHLUDVHRXWUDVWrPWDPEpPDVVXDVWDEHODVÀ[DV Entretanto, ao avaliar a forma como decorreu o processo, os camponeses consultados dizem o seguinte: $QWHVGRUHFHELPHQWRGRYDORUGDFRPSHQVDomR RVEHQHÀFLiULRVIRUDPLQVtados a assinar um documento, cujo conteúdo alegam não ter conhecido antes. Trata-se do Acordo de Compensação e Reassentamento, que estabelece os termos sob os quais é efectuada a compensação, incluindo o reassentamento dos agregados familiares. Por outro lado, no momento do recebimento do valor, que é efectuado através de transferência bancária ou depósito bancário na conta do agregado familiar, RVEHQHÀFLiULRVDÀUPDPQmRWHUHPWLGRTXDOTXHURSRUWXQLGDGHRXH[SOLFDomRSUpYLD SDUDFRQÀUPDU TXHUDOLVWDÀQDODFWXDOL]DGDGRVEHQVSHUGLGRV TXHURVYDORUHVÀQDLVDWULEXtGRVDFDGDEHP (PYH]GLVVR HOHVDÀUPDPWHrem apenas sido solicitados a assinar o documento da compensação monetá- ria aonde vêm alistados os referidos bens e correspondentes valores (Anexo A do Acordo). Além da empresa e de um representante do governo, nenhuma entidade independente monitorou este processo ou assessorou as famílias e indivíduos abrangidos, de modo a garantir-se maior transparência e conforto das comunidades afectadas. Entre outras, estas anomalias têm potencialmente as seguintes consequências: a) Suspeita das comunidades sobre o conteúdo das declarações assinadas e, consequentemente, sobre a justeza das compensações recebidas; E ,PSRVVLELOLGDGH GRVEHQHÀFLiULRV GHDFLRQDUTXDOTXHUPHFDQLVPRGHUHclamação ou de pedido de esclarecimento, nomeadamente quanto aos valores recebidas das compensações, após a assinatura “às cegas”, de um documento HPTXHHOHV´FRQÀUPDPµDDXWHQWLFLGDGHGRVHXFRQWH~GR LLL &RQKHFLPHQWRS~EOLFRHHÀFiFLDGR0HFDQLVPR*HUDOGH*HVWmRGH5Hclamações O surgimento de reclamações ou de pedidos de esclarecimentos, por parte de pessoas afectadas por programas de reassentamento é um fenómeno previsível e inevitável, dada a complexidade deste exercício, com implicações económicas, sociais, ambientais, culturais e mesmo emocionais de natureza GLYHUVD $FULDomRHIXQFLRQDPHQWRHÀFD]GHPHFDQLVPRVGHUHFHELPHQWRH JHVWmRGHWDLVUHFODPDo}HVp SRUWDQWR IDWRU FKDYHSDUDXPDJHVWDRHÀFD]GR processo. À pergunta, feita junto das comunidades visitadas, sobre se elas sabiam da existência de mecanismos ou canais para a apresentação de reclamações ou pedidos de informação ou de esclarecimentos, atinentes a assuntos decorrentes da implementação do plano de reassentamento, sugiram respostas vaULDGDV 8QVLGHQWLÀFDYDPRVOtGHUHVFRPXQLWiULRVFRPRRVFDQDLVDGHTXDGRV para esse efeito; outros indicavam a Anadarko. Quase ninguém indicava o governo, incluindo o próprio governo distrital! A Anadarko e o Governo distrital apontaram a empresa como sendo a entidade que recebe, analisa e processa as respostas a reclamações da comunidade. Segundo a Anadarko, foram recebidos e respondidas mais de 400 reclamações ou pedidos de esclarecimento, desde o anúncio da moratória, em princí- SLRVGH'H]HPEURGH DWpÀQDLVGH-DQHLURGH 2PDLRUYROXPHGH pedidos de esclarecimento recaia sobre os seguintes assuntos: a) Processo de delimitação de limites de terras ou de machambas, onde se colocam questões de distinção entre titular originário do direito de uso e aproveitamento de terra; herdeiro ou meeiro; b) Calendário e critérios de atualização do Inventário Patrimonial dos Agregados Familiares; c) Método de cálculo da quantidade de plantas, fruteiras e outros bens e do correspondente valor de compensação. d) Critério de determinação da área dos terrenos ou de machambas de substituição e altura da sua distribuição; e) Tratamento de campas e de recursos naturais de uso comum, como rios e ÁRUHVWDV a) Ambiente político-social envolvente. De um modo geral, o ambiente político-social envolvente é favorável à condução de processos de diálogo e interação aberta entre as comunidades, o governo e as empresas diretamente envolvidas na implementação do Plano de Reassentamento na Península de Afungi. Durante a sua missão de monitoria, a equipa da CCIE foi recebida em ambiente de cordialidade e abertura, quer pelos representantes do governo contactadas, nomeadamente o administrador de Palma, David Chambuko, quer pelo Director Provincial de Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural, Arlindo Djedje. Nos seus contactos com as comunidades visitadas, a equipa ia acompanhada de XPD2ÀFLDOGR*RYHUQR'LVWULWDO TXHWDPEpPLQWHUDJLXFRPDVFRPXQLGDGHV Contudo, a missão anotou a existência, por um lado, de situações de claro “divórcio” ou tensões, entre algumas comunidades e os respectivos líderes e, por outro, entre o governo distrital e a Plataforma Distrital sobre Indústria Extractiva de Palma. 5HODWLYDPHQWHDRSULPHLURFDVR ÀFRXSDWHQWHTXHDVFRPXQLGDGHVGH4XLWXSR e de Senga estão de “costas voltadas” com os respectivos líderes comunitários, desacreditados em consequência do seu papel na condução das relações com as outras partes relevantes, nomeadamente o governo e as empresas. Por seu lado, nos encontros mantidos, quer com o Administrador do Distrito, quer com representantes das organizações membros da Plataforma Distrital sobre Industria Extractiva, foi evidente alguma crispação, em que ambas as partes exigem mudança de atitude da outra parte, como forma de permitir um diálogo mais produtivo. 2. Nível de satisfação das reclamações apresentadas Enquanto para o governo do distrito, na voz do Administrador, David Machimbuko, todas as reclamações e pedidos de esclarecimento das comunidades receberam respostas satisfatórias para os interessados, já a Anadarko, na pessoa de Ivo Lourenço Jr. Gestor de Implementação do Plano de Reassentamento, UHFRQKHFHDSHUVLVWrQFLDGHSHUJXQWDVVHPUHVSRVWDVÀQDLV QRPHDGDPHQWHHP relação aos seguintes assuntos: b) O princípio de atribuição de 1,5 hectares de terra a qualquer agregado familiar a ser reassentado, independentemente das áreas que possua no local de origem. c) A decisão da transferência da comunidade de Quilamba 1, com tradições pesqueiras, para uma zona agrícola, em Quitunda; d) A transladação de campas de famílias muçulmanas, em vez da sua vedação no local original. 3. Conclusões e recomendações Nos termos do Plano de Reassentamento da Península de Afungi, o dia 31 de Janeiro de 2018 sinalizou o término da chamada Fase Zero, de um processo que deverá prolongar-se até 2023. O processo da implementação o Plano de Reassentamento da Península de Afungi está dividido em quatro fases, alternando-se entre as de pagamento de compensações, transferência de famílias e as da construção da vila do reassentamento, na região de Quitunda. A Fase Zero, que abrangeu menos de 100 famílias, terá de ser tida como fase-piloto, da qual se deverão extrair lições – negativas e positivas – a servirem de referência para as fases seguintes, já mais complexas, do ponto de vista dos seus impactos sociais, económicos, culturais e, mesmo, emocionais. As principais lições a extrair desta Fase Zero parecem induzir às seguintes conclusões e recomendações: 1. Estão estabelecidas bases políticas e sociais favoráveis a um processo onde todas as partes relevantes, com destaque para as comunidades direta ou indiretamente afectadas, possam participar, exprimindo abertamente as suas opiniões e preocupações; 2. Existe um consenso generalizado sobre a necessidade e a premência de meFDQLVPRVHSODWDIRUPDVHÀFD]HVGH FRPXQLFDomRHQWUH DVGLIHUHQWHVSDUWHV UHOHYDQWHV FXMDHÀFLrQFLDHFRQVLVWrQFLDGHYHPVHUDSULPRUDGRV 3. Existe um consenso generalizado sobre a premência de mecanismos de reclamação e de pedidos de esclarecimento sobre diferentes questões a emergir ao longo do processo, e que necessitam de serem aprimorados e massivamente disseminados junto de todas as partes relevantes. 4. Os critérios de compensação por perda de terras e de machambas deverão observar princípios de justiça e de equidade, garantindo que nenhum agregado familiar ou individuo saia prejudicado, como determina a legislação pertinente. 5. O sucesso e sustentabilidade do processo do reassentamento implicam a sua abordagem como um fenómeno social , económico e cultural com impactos de longa duração, apelando à intervenção coordenada de todas as partes relevantes, nomeadamente o governo, as empresas, e organizações da sociedade civil, de níveis distrital, provincial e nacional. 18 Savana 23-03-2018 OPINIÃO Registado sob número 007/RRA/DNI/93 NUIT: 400109001 Propriedade da Maputo-República de Moçambique KOk NAM Director Emérito Conselho de Administração: Fernando B. de Lima (presidente) e Naita Ussene Direcção, Redacção e Administração: AV. Amílcar Cabral nr.1049 cp 73 Telefones: (+258)21301737,823171100, 843171100 Editor: Fernando Gonçalves editorsav@mediacoop.co.mz Editor Executivo: Francisco Carmona (franciscocarmona@mediacoop.co.mz) Redacção: Raúl Senda, Abdul Sulemane, Argunaldo Nhampossa, Armando Nhantumbo e Abílio Maolela )RWRJUDÀD Naita Ussene (editor) e Ilec Vilanculos Colaboradores Permanentes: Fernando Manuel, Fernando Lima, António Cabrita, Carlos Serra, Ivone Soares, Luis Guevane, João Mosca, Paulo Mubalo (Desporto). Colaboradores: André Catueira (Manica) Aunício Silva (Nampula) Eugénio Arão (Inhambane) António Munaíta (Zambézia) Maquetização: Auscêncio Machavane e Hermenegildo Timana. Revisão Gervásio Nhalicale Publicidade Benvinda Tamele (82 3171100) (benvinda.tamele@mediacoop.co.mz) Distribuição: Miguel Bila (824576190 / 840135281) (miguel.bila@mediacoop.co.mz) (incluindo via e-mail e PDF) Fax: +258 21302402 (Redacção) 82 3051790 (Publicidade/Directo) Delegação da Beira Prédio Aruanga, nº 32 – 1º andar, A Telefone: (+258) 82 / 843171100 savana@mediacoop.co.mz Redacção admc@mediacoop.co.mz Administração www.savana.co.mz Cartoon EDITORIAL O meu irmão era um boé- mio incondicional, e se, no meio de semana, cumpria escrupulosamente o seu papel de educador, aos fins-de-semana era o vê se te avias. Entre excursões de autocarro para a praia de São Martinho de Bilene ou de comboio para Ressano Garcia ou Malvérnia, o único cuidado que tinha comigo era deixar-me comida suficiente para aguentar aqueles três dias em que passaria sozinho. Era então que eu tomava consciência do imenso peso da solidão que se abatia sobre mim. Durante a semana conseguia disfarçá-la em jogatanas de futebol, com as aulas, com a cozinha e com a lavagem de roupa – isto depois de ter ultrapassado a barreira da língua, uma vez que, quando cheguei a Lourenço Marques, mal falava português e de ronga entendia tanto como entendo agora de mandarim. Mas descobri, em contrapartida, uma grande compensação: nos subúrbios de Lourenço Marques havia três ou quatro donos de instrumentos que, aos fins-de-semana, se digladiavam fortemente emitindo a favor do vento música para o uso e prazer dos frequentadores dos seus barracões, e para prazer dos que podiam ouvir essa música Memória Dançante II sentados ao longe, como acontecia no meu caso. Sentado na soleira da porta, esses sons chegavam-me muito difusamente. Rapidamente, porém, descobri uma saída: nas traseiras da nossa casa de chapa de zinco havia uma imensa goiabeira, cujos ramos permitiam o acesso fácil ao topo da casa. Passei aí imensas noites de verão, deitado de costas sobre o zinco, a beber o som que me vinha de todos os lados dos subúrbios de Lourenço Marques, desde as zonas do Vieira, lá para a Praça de Touros, até à Urbanização, Vulcano, Xitala Mati, Xipamanine, Chamanculo ou Minkadjuíne. Passei ali imenso tempo a ouvir o repertório, que aliás nem era tão variado. De facto, quem estava a dar as cartas no tipo de música era a sungura, orquestrada por bandas maioritariamente do Quénia, da Tanzânia ou de Zanzibar. Todas as letras eram em suaíli, cujos estribilhos, na maior parte dos casos, eram traduzidos em ronga, para as adaptar a situações do quotidiano da vida real, relacionadas com pequenos escândalos familiares ou pequenas alegrias amorosas, tanto mais que quase todas as letras daquelas canções giravam à volta do amor, com os seus prazeres, felicidades, angústias, obsessões, frustrações e o acicate para decisões extremas, invariavelmente à volta de dois nomes: Maria ou Verónica. Este mundo teve o seu fim abrupto com o advento dos gira-discos movidos a pilhas; isto e mais as colunas que se podiam mover perfeitamente dentro das salas das casas onde se faziam as tardes dançantes. E mais, o mundo Lourenço-marquino começou a ser invadido pelo dilúvio das canções do Roberto Carlos, do Agnaldo Timóteo, do Otis Redding, Percy Sledge, e por aí adiante. Não me apercebi, na altura, mas agora, passadas estas dezenas de anos, casado, com filhos e com o peso da vida a dobrar-me as costas a cada dia que passa de forma mais acentuada, descubro que aquela foi a época da minha vida mais dourada e em que gozei em pleno a tranquilidade, a profundidade e a paz de espírito, de tal forma que quando tenho, hoje, o privilégio de ouvir Maria bibi yango ou Veronica mpendzi yango, não consigo suster a torrente de lágrimas que me escorre pela face, lágrimas que correm em rios finos, mansos e sem dor, e me põem na boca um forte sabor a sal, este sal que afinal acaba por constituir a razão de eu continuar vivo. S ó por algum milagre se poderia esperar qualquer outro resultado na eleição intercalar da semana passada em Nampula, ganha pelo candidato da Renamo, Paulo Vahanle. O ambiente político que precedeu àquela eleição dava sinais claros de um eleitorado com uma predisposição de votar, na sua maioria, a favor da oposição. E oposição significa Renamo, cujo boicote das autárquicas de 2013 ditou que o município caísse para as mãos do Movimento Democrático de Moçambique (MDM). Nas várias análises sobre este resultado, surge a tendência de o interpretar como um voto de protesto contra a Frelimo. Mas não se pode embarcar neste tipo de avaliação sem se correr o risco de retirar o mérito que a vitória representa para a Renamo e para o seu candidato. De facto, numa democracia, onde os titulares de cargos públicos na governação são decididos pela via da eleição, a possibilidade de vitória ou de derrota é perfeitamente normal. E nessa esteira de pensamento, é preciso reconhecer que a Renamo ganhou graças ao apoio e confiança de que o partido goza no seio da maioria dos eleitores daquela autarquia. Eles acreditam que é a Renamo quem irá dar resposta às suas necessidades, e esse é um direito democrático que lhes assiste. Contudo, estaria a incorrer numa fatalidade estratégica se a Frelimo não se submetesse a uma introspeção sobre os principais factores subjacentes à sua derrota. Sem retirar mérito à Renamo, para a Frelimo, esta derrota deve ser analisada no contexto de uma crescente onda de insatisfação popular sobre o seu desempenho não só em Nampula, mas também noutros pontos, com particular incidência para as regiões centro e norte do país. Que a oposição ganhe eleições, sejam elas autárquicas ou gerais, faz parte do jogo democrático. Não deve, por isso, ser motivo de espanto quando a Frelimo perde, muito embora por razões históricas, prevaleça ainda entre alguns a tendência de olhar para a Frelimo como o poder natural. Infelizmente para a Frelimo, a derrota em Nampula significa muito mais do que o mero sentimento de confiança e apoio dos eleitores pela Renamo. É um julgamento sobre o partido. Há uma realidade que, se queira aceitar ou não, torna-se cada vez mais evidente em muitas regiões a norte do Rio Save. É a ideia de toda uma região dominada e subjugada pelo sul. Este sentimento prevalece mesmo entre os membros e simpatizantes da Frelimo, onde o clamor pelo “equilíbrio regional” não é mais que a expressão eufemística da necessidade de distribuir o poder por igual entre as elites regionais. É um sentimento que é acompanhado pela narrativa de uma região sul mais desenvolvida em detrimento do resto do país. Não importa que muitas vezes se confunda a região a sul do Rio Save com a parte urbana da cidade de Maputo. Atribui-se um certo comportamento de arrogância aos cidadãos oriundos do sul, ao que muitas vezes é correspondido com algum sentimento de ódio e de repulsa. Regra geral, estas percepções não têm que necessariamente corresponder à verdade, mas elas informam uma atitude generalizada, que no campo político se resume à rejeição da Frelimo, vista como indutora do subdesenvolvimento e da submissão a que as populações dessas regiões se sentem sujeitas. São sentimentos que muitas vezes são explorados oportunisticamente pelas elites locais para atingir objectivos específicos ou ainda para justificar fracassos individuais. Por isso, a reacção popular perante os resultados da eleição intercalar de Nampula foi menos uma manifestação de alegria pela vitória de um candidato de preferência, do que o sentimento de se terem libertado de um fantasma que se chama Frelimo. Infelizmente, devido ao seu instinto centralizador e pretensão de ter tudo sob seu controlo, a Frelimo contribui bastante para o enraizamento destas crenças. Muitas vezes evocando temores de uma possível fragmentação do país, a Frelimo teve sempre uma atitude hostil perante a necessidade de se prosseguir decididamente para um sistema mais avançado de governação descentralizada. Não se pode minimizar a frustração de províncias que votam sistematicamente a favor da oposição, para depois terem nos cinco anos seguintes um governador imposto pelo poder central. A exigência da Renamo para a governação das seis províncias do centro e do norte obedece precisamente a esta lógica da necessidade de se quebrar o domínio do sul sobre o resto do país. No auge das exigências da Renamo, quando informado de que o seu partido não tinha obtido maioria na província do Niassa, Afonso Dhlakama teria respondido, e estamos a citá-lo de memória, que não via nenhum problema nisso, porque aquela região precisava também de ser libertada. O alcance desta afirmação é auto-elucidativo. Excluir Cabo Delgado deste conjunto de províncias era uma questão estratégica, como quem estaria a dizer que “não vamos esticar muito a corda, ao ponto de obrigar a Frelimo a apartar-se da sua história”. Nasce assim um novo paradigma no exercício do poder político em Moçambique, onde afinidades étnico-regionais passam a sobrepor-se aos programas de governação que qualquer partido vier a oferecer aos eleitores. Uma eleição histórica em Nampula Savana 23-03-2018 19 OPINIÃO 572 Email: carlosserra_maputo@yahoo.com Portal: http://oficinadesociologia.blogspot.com Há um ano e picos que tenho uma rotina diária. De manhã, abro a net, vou ao Google e digito: Trump notícias. Fico sempre bem servido, é um verdadeiro circo. Nunca fica nenhum anãozinho do canhão por ser disparado. E como o Trump é um génio e pelo meu lado nunca ganhei nenhum jogo de xadrez na vida, estudo todas as trajectórias dos seus disparos, a ver se compreendo o que nele legitima tanto amor-próprio. A semana passada fui excitado por duas trajectórias de assombro. A primeira. Disse Trump aos fuzileiros navais em San Diego: “O espaço sideral é um domínio de guerra, bem como a terra, o ar e o mar.” E continuou, “talvez precisemos de uma nova força a que chamaremos “Força Espacial” - aqui fez um silêncio, após o qual comentou o que acabara de dizer - “… bem, eu não estava a falar a sério, mas, vendo melhor, esta é uma ideia fantástica!”. Fala alguma vez a sério, o Donald? E tem alguma noção do peso das suas palavras, ou brinca consoante o vento? O espaço sideral é um domínio de guerra? E onde vê ele o que mais ninguém descortina? Donde lhe chegam ideias tão peremptórias? Com que clareza detecta os indícios de guerra entre Júpiter e Urano, por exemplo? Os Stephen Hawkings deste mundo andam à procura de sinais de vida inteligente no espaço, mas Trump já divisa rasto de lança-chamas entre os meteoros, o rebentamento de mísseis nas crateras lunares e o sulco dos submarinos nos anéis de Saturno. Os antigos falavam da “música das esferas” (os planetas) para contrapor a harmonia do mundo à disparatada propensão para a guerra e a discórdia entre os homens. Mas Trump vê cowboys na ponta dos telescópios e a dispararem contra os chineses e os russos de um planeta tão vermelho como Marte. Só vejo uma explicação. Ele entrou uma vez num cinema para assistir ao primeiro episódio da Guerra das Estrelas e só foi resgatado pelos bombeiros vinte anos depois, perdido entre a “Força” e o “Buraco Negro” de algum rincão galáctico – daí o cabelo ionizado que ele carrega. Andou perdido nos sonhos de ser um Darth Vader. E agora só vê inimigos camuflados nas poeiras espaciais. De qualquer dos modos, a notícia acabou por me fazer deslindar um enigma. Tinha guardado esta notí- cia, do ano passado: «Uma tragédia chocou os moradores de Rubiataba, interior do Goiás (Brasil). Um adolescente de 16 anos morreu após se masturbar 42 vezes. Segundo relatos, ele teria começado por volta da meia-noite, e masturbou-se toda a noite sem intervalo. Terminava uma e começava outra. A mãe do menino já desconfiava de sua compulsividade por praticar o acto: “Era de hora em hora”, contou a mãe do jovem. No computador do adolescente foram encontrados cerca de 17 milhões de vídeos eróticos e de 600 milhões de fotos.» De facto, é chocante o jovem não ter chegado pelo menos às cinquenta. Há metas que não se devem falhar. Este jovem teria lido que o Hércules desvirginou as 50 filhas de Téspio numa noite? Era esta façanha que ele queria imitar? É improvável. Já ninguém lê as mitologias gregas. Bom, e na verdade o que é isso comparado com a cópula do gafanhoto, que dura 16 horas? Se ele tivesse sido previamente treinado para a ejaculação prematura teria sido tudo mais rápido e o coração ficaria menos exposto. Mas as mães hoje não educam os filhos. Por outro lado, 600 000 000 de fotos é o suficiente para atapetar um pequeno país como a Suazilândia. Aqui, sim, fiquei impressionado. Contudo, et voilá!, num acervo de 16 milhões de vídeos eróticos é impossível que não estivessem lá todos os filmes protagonizados pela actriz Stormy Daniels, a diva porno que o Trump quer silenciar. A causa da morte é evidente: o ingénuo quis imitar a potência do presidente americano e impressionar a actriz. Foi abatido pelo «complexo de Trump». Os seus espermatozóides entraram em guerra uns contra os outros e ejectaram-lhe o coração para o espaço sideral. Foi o primeiro a querer imitar a virilidade titânica de Donald e a ser emulado no teatro de guerra onde se representa o Poder da Imitação Eis o segundo anão disparado que me deixou de cara à banda: o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, gabou-se de ter inventado dados estatísticos sobre comércio numa conversa com o primeiro-ministro do Canadá. Para ilustrar a mentira de que havia um desequilíbrio na balança comercial entre os EUA e o Canadá, Trump inventou uns números e depois gabou-se disso, de ter sido um espertalhão. Este tipo de manobra não será incomum na retórica política, às vezes inventa-se, para tentar persuadir o outro. O que é novidade é que o manhoso a seguir se gabe, e sobretudo se é o presidente da maior potência do mundo, o qual devia parecer, aos olhos de todos, confiável. A minha alma está burra, como dizia a minha avó. E este jogo é ainda mais perigoso que o de sugerir batalhas galácticas num espaço sideral que ele nunca terá o prazer de sulcar, porque deita às favas qualquer moral política e vai induzir mil oportunistas sem escrúpulos, por todo o mundo, a imitá-lo. O poder da imitação N a primeira República já havia “camaradas” aspirantes a Capitalistas. Quem, ontem, defendia uma sociedade comunista, acabou metendo todo um Estado no seu bolso.  Abordando as Dívidas Inconstitucionais aquando da abertura da Sessão Parlamentar que decorre, iniciei dizendo que “temos vindo a terreiro falar das Dívidas Inconstitucionais e ilegais contraídas pelo Governo da Frelimo.” Questionei na ocasião “o que teme a Procuradoria Geral da República ao não publicar o relatório completo da auditoria feita pela Kroll?” Tendo reiterado a necessidade de  “responsabilização dos autores morais e materiais dessa desgraça que prejudica ao povo moçambicano.” Interpelando a Procuradoria Geral da República solicitei que  publicasse “na íntegra, com carácter de urgência, o relató- rio completo dessa auditoria elaborada pela Kroll que, aliás, já devia ter sido publicado há cinco meses” e ao Conselho Constitucional a se pronunciar urgentemente sobre as Dívidas Inconstitucionais. Até porque todo o povo quer saber o que acontece a quem, deliberadamente, viola a nossa Constituição. Os ideólogos da Frelimo e os seus principais executores têm plena consciência de que o Socialismo praticado na primeira República baseado no legado deixado pela Revolução Francesa – os homens nascem livres e iguais perante a lei – escondia cinicamente muitos camaradas aspirantes a capitalistas! Dado o contexto político de então, esses mesmos “camaradas” meteram-se pelo buraco da liberdade, adoptando de boa mente o axioma fundamental de Rosseau, segundo o qual cada um é lei de si mesmo.  Foi assim que através desse axioma sobressaíram todas as aldrabices políticas que hoje todos testemunhamos. E lá foram os mesmos “camaradas” apregoando a doutrina marxista-leninista, segundo a qual o erro e a verdade o bem e o mal, têm direitos iguais. E foi o que se viu mais tarde! Com a coreografia da arrogância de certos dirigentes, confiantes de que o fiscal (Parlamento) de tudo faria para legalizar a ilegalidade em defesa dos chefes) o que fez crescer a vaidade e prepotência política guiando o país para as Dívidas Inconstitucionais. Portanto, o raciocínio desses “camaradas” tem sido o seguinte: se existe entre Homens desigualdades revoltantes, tantas vezes pioradas pelo meio social, reprimi-las é seguir a natureza. A igualdade assim muda-se em justiça que não envolve necessariamente trato proporcional ao mérito, mas igualdade pura e simplesmente que trata a todos de modo idêntico, sejam quais forem os seus títulos ou os seus merecimentos – quer dizer, temos de pagar todos as Dívidas Inconstitucionais, mesmo que uns poucos tenham sido os mentores-beneficiários. Isso ninguém, em sã consciência, deve aceitar. Essas Dívidas têm dono e que seja esse grupo a ser exemplarmente responsabilizado como, aliás, insto com frequência. Mas é interessante verificar como essas Dívidas Inconstitucionais se ajeitam nos “camaradas” e sugere uma intenção altamente premeditada – alinear o Povo de maneira a esquecer-se do tempo que passou! Por isso insistirem no velho cântico cujo verso popular quase que hipnotiza “não vamos esquecer o tempo que passou(...)quem pode esquecer o que passou?” Assim as Leis, expressão da vontade colectiva, que deveriam ser estritamente cumpridas estão bloqueadas, feitas letra morta. Foi a Constituição da República de Moçambique, flagrantemente, violada e pelos vistos nada acontece(rá) ao dirigente, servidor público e seus comparsas que a pontapeia(ra)m. Ora, se “isto” não é abrir as janelas, de par em par, ao Socialismo das Dívidas Inconstitucionais não sei então o que é.  Será que os novos teóricos da quarta República têm a resposta? * Chefe da Bancada da Renamo na Assembleia da República O socialismo das dívidas inconstitucionais Por Ivone Soares* Há quem defenda que uns pensam e outros sentem; que uns pensam superiormente e outros, inferiormente; que pensar é tarefa de intelectuais, que ser pensado é tarefa dos objectos humanos dos pensadores. Todavia, não há quem pense mais ou melhor do que outrem, há apenas quem pense de forma diferente. O único problema reside em que uns têm melhores condições sociais do que outros para levar-nos a pensar que pensam e que o seu pensamento é oracular, mediúnico, único. Se determinadas obras do pensamento são mais realçadas do que outras isso tem a ver não com o pensamento em si, mas com as condições sociais, os modos de produção e os processos de selecção social. “A humildade exprime uma das raras certezas de que estou certo: a de que ninguém é superior a ninguém” – escreveu um dia Paulo Freire. Pensar 20 Savana 23-03-2018 OPINIÃO SACO AZUL Por Luís Guevane A moção assinada por uma centena de parlamentares britânicos contra as dívidas ocultas na véspera da reunião do Governo de Moçambique com os credores deixa claro que a responsabilidade sobre os mais de dois mil milhões de dólares norte-americanos deve ser imputada aos seus actores. Como referiu Sarah-Jayne Clifton, da Jubilee Debt Campaign, “os credores e os representantes do Governo responsáveis por essas dí- vidas escandalosas devem ser chamados à responsabilidade pelas suas acções.” Estas palavras, já muito antes, vinham sendo repetidas e destacadas entre os cidadãos moçambicanos (e não só). Por seu turno, a PGR, pela atitude que tem vindo a tomar, ou pela qualidade de serviço que tem vindo a prestar, remete-nos permanentemente à ideia de existência de luta de motivos, isto Moção de Londres para o Índico é, como defender em simultâneo a lei e as pessoas visadas? O maior problema é o “reconhecido” peso que os visados têm em manter, até ao momento, a balança da justiça em seu favor, admitindo que contrariam o discurso politicamente correcto da separação de poderes. No dia 20 de Março (2018), após a assinatura da referida moção, o Governo da República de Moçambique reuniu-se em Londres com os credores das tristemente famosas dívidas ocultas, tendo apresentado três propostas que foram chumbadas e, em alguns meios, consideradas como “round” de exibição de “ingenuidade”. O pedido de perdão dos 50% da dívida atrasada, como era expectável, criou assim o devido desagrado. Mesmo com a autoestima a tingir o chão do perdão, a missão de proteger os representantes do Governo responsáveis pelas dívidas ocultas continuou inabalável, transbordando “firmeza” e crença em prováveis ganhos futuros a obter desta acção. Enfim, pretende-se que a dívida seja reestruturada. Mas, em contrapartida, deixa-se de lado uma outra necessidade de reestruturação: a da PGR. É urgente a agilização dos processos. Com a dívida pública em níveis insustentáveis para Moçambique, cuja prova é a própria reunião de Londres e respectiva agenda, arriscamo-nos a dizer que menos de 1% de moçambicanos sabe, de facto, o que realmente foi feito com os dinheiros que endividaram o país até ao rubro. Entre as provas disso estão o secretismo, a “civilizada” protecção e acarinhamento político dos “responsáveis” das “ocultas”, estão os barcos da Ematum enferrujados pela inacção de quem de direito, as reevindicações que tiveram lugar, por exemplo, na Ematum, devido ao atraso e/ou dificuldade no pagamento dos salá- rios; os discursos políticos supostamente encomendados pelos “responsáveis” das “ocultas” no sentido de se insistir na responsabilização do país. Neste perspectiva, a história pesa sobre importantes figuras do xadrez político e governativo. A heroicidade de ontem é posta em causa pela dívida do presente. O vício do culto de personalidade cega as decisões técnicas, clara e objectivamente. Cá entre nós: se as honras cabem aos generais, a quem caberão as dívidas ocultas? Diz-se que a ponte Maputo-Katembe é obra do governante fulano; mas, nunca se diz que a mesma é obra dos engenheiros, operários e todos outros colaboradores. Vindo de Londres essa moção contra as dívidas ocultas, é provável que nos próximos tempos a PGR comece a clarificar o seu lugar no discurso de separação de poderes. Deste lado do Índico esperamos pelo milagre de ver membros de todos os partidos políticos a assinarem uma moção de censura contra as dívidas ocultas. N a minha opinião, os negociadores dos EUA usarão a ameaça de impor tarifas aos produtores chineses como forma de persuadir o governo da China a abandonar a política de transferências “voluntárias” de tecnologia. Como quase todos os economistas e a maioria dos analistas políticos, prefiro tarifas comerciais baixas ou nenhuma tarifa de todo. Como é que se pode justificar a decisão do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de impor tarifas substanciais sobre as importações de aço e alumínio? Sem dúvida que Trump vê potenciais ganhos políticos em distritos produtores de aço e alumínio e no aumento da pressão sobre o Canadá e o México, numa altura em que a sua administração renegocia o Acordo de Livre Comércio da América do Norte. A União Europeia anunciou planos para retaliar contra as exportações dos EUA, mas, no final, a UE pode negociar - e concordar em reduzir as actuais tarifas sobre os produtos norte-americanos que excedem as tarifas dos EUA sobre produtos europeus. Mas o verdadeiro alvo das tarifas sobre o aço e o alumínio é a China. O governo chinês prometeu, há muitos anos, reduzir o excesso de capacidade no aço, cortando assim a produção excedente que é vendida aos Estados Unidos a preços subsidiados. Contudo, os políticos chineses foram adiando essa promessa como resultado da pressão doméstica para proteger os próprios empregos no sector do aço e alumínio na China. As tarifas dos EUA equilibrarão as pressões domésticas e aumentarão a probabilidade de a China acelerar a redução do excesso de capacidade subsidiada. Uma vez que as tarifas estão a ser cobradas ao abrigo de uma disposição da lei de comércio dos EUA que se aplica à segurança nacional, será possível isentar as importações de aliados militares da NATO, bem como o Japão e a Coreia do Sul, concentrando as tarifas na China e evitando o risco de uma guerra comercial mais ampla. O governo dos Estados Unidos ainda não disse que irá concentrar as tarifas dessa maneira; mas, dado que a sua introdução prevê um período inicial durante o qual os parceiros comerciais podem pedir isenções, essa segmentação parece ser o cenário mais provável. Para os EUA, a questão comercial mais importante com a China diz respeito às transferências de tecnologia, e não às exportações chinesas de aço e alumínio subsidiados. Embora esses subsídios prejudiquem os produtores norte-americanos de aço e alumínio, os baixos preços resultantes também ajudam as empresas americanas que usam aço e alumínio, bem como os consumidores norte-americanos que compram esses produtos. Mas a China prejudica inequivocamente os interesses dos EUA quando rouba a tecnologia desenvolvida pelas empresas dos EUA. Até há poucos anos, o governo chinês estava a O verdadeiro motivo das tarifas de Trump sobre o aço e o alumínio usar os conhecimentos cibernéticos sofisticados do Exército Popular de Libertação (PLA) para se infiltrar em empresas americanas e roubar tecnologia. As autoridades chinesas negaram todas as irregularidades até que o presidente Barack Obama e o presidente Xi Jinping se encontraram na Califórnia em Junho de 2013. Obama mostrou a Xi uma prova detalhada que os EUA obtiveram através da sua própria espionagem cibernética. Xi concordou então que o governo chinês já não usaria o PLA ou outras agências governamentais para roubar a tecnologia dos EUA. Embora seja difícil saber com certeza, parece que esse tipo de roubos cibernéticos diminuiu drasticamente. O roubo de tecnologia actual assume uma forma diferente. As empresas americanas que querem fazer negócios na China são muitas vezes obrigadas a transferir a sua tecnologia para empresas chinesas como condição de entrada no mercado. Essas empresas transferem “voluntariamente” o seu know-how de produção porque querem acesso a um mercado de 1,3 mil milhões de pessoas e a uma economia tão grande como a dos EUA. Essas empresas reclamam que o requisito de transferência de tecnologia é uma forma de extorsão. Além disso, temem que o governo chinês muitas vezes atrase o seu acesso ao mercado para que as empresas nacionais usem a sua tecnologia recém-adquirida para ganhar quota de mercado. Os EUA não podem usar os remédios tradicionais para disputas comerciais ou procedimentos da Organização Mundial do Comércio para impedir o comportamento da China. Nem podem ameaçar levar a tecnologia chinesa ou exigir que as empresas chinesas a transfiram para empresas americanas, porque os chineses não têm o tipo de tecnologia de ponta que as empresas dos EUA têm. Assim, o que é que os responsáveis políticos dos Por Martin Feldstein* O conceito de portagem significa que quem paga pelo uso da estrada o faz para encurtar o tempo de viagem para o seu destino. Se uma estrada de portagem não dá resposta a esta necessidade, que devo dizer que é opcional, então estamos perante uma BURLA de proporções monumentais. É precisamente isso o que a TRAC está a fazer. Para quem, como eu está na condição acima referida, gasta 70 Meticais por dia para usar aquela estrada. Se considerarmos o câmbio de 63 Meticais por dólar, então a tarifa mais baixa que se paga na portagem, que é de 35 Meticais, corresponde a 55 cêntimos do dólar. Para uma distância de vinte quilómetros, isto representa quase 3 cêntimos por quilómetro. Não conheço nenhuma estrada de portagem no mundo que tenha uma tarifa a este nível. Mesmo assim, o que está aqui em causa não é tanto o valor. É o retorno que se obtém na forma da qualidade do serviço prestado. A má qualidade do serviço que a TRAC presta não justifica esta tarifa. Não posso pagar este valor para ficar sentado duas horas dentro de uma viatura, chegando ao meu destino cansado e atrasado. A N4 deve ser a única estrada de portagem no mundo que passa por uma zona residencial densamente povoada, onde pessoas estão constantemente a atravessar a rodovia em condições de segurança extremamente precárias. Não há ramais de desvio ou de junção de tráfego nos cruzamentos. A quantidade de camiões de grande tonelagem que circulam constantemente por aquela via constitui um verdadeiro perigo para a segurança pública. Aqui apenas um parêntesis para questionar porque é que não se usa a linha férrea? Como se tudo isto não bastasse, a N4 deve ser a única estrada de portagem no mundo sem qualquer tipo de iluminação. O governo de Moçambique tem a obrigação de velar pela segurança e o bem-estar dos seus cidadãos. Ao fechar os olhos às arbitrariedades cometidas pela TRAC torna-se cúmplice, e deve ser responsabilizado judicialmente pelos danos sofridos pelos utentes daquela via. Só uma Acção de Grupo poderá fazer valer aquilo que são os direitos dos utentes. O primeiro passo para a resolução dos problemas acima referidos deve ser um intercâmbio e diálogo permanentes entre o governo, a TRAC e o público utente. Para isso, o contrato de concessão deve ser tornado público, de modo a permitir que todos os interessados estejam devidamente informados sobre em que condições devem usar aquela estrada. É o mínimo que se pode esperar de um governo numa sociedade onde os governantes são eleitos para servir, têm consciência da necessidade de prestação de contas aos seus cidadãos e se dizem empenhados na luta contra a corrupção. EUA podem fazer para garantir condições de igualdade? Esta questão leva-nos de volta às tarifas sobre o aço e o alumínio. Na minha opinião, os negociadores dos EUA usarão a ameaça de impor tarifas aos produtores chineses como forma de persuadir o governo da China a abandonar a política de transferências “voluntárias” de tecnologia. Se isso acontecer, e as empresas dos EUA puderem fazer negócios na China sem serem obrigadas a pagar um preço competitivo tão elevado, a ameaça das tarifas será uma ferramenta bem-sucedida de política comercial. *Martin Feldstein, professor de Economia na Universidade de Harvard e presidente emérito do Departamento Nacional de Investigação Económica, presidiu ao Conselho de Assessores Económicos do Presidente Ronald Reagan de 1982 a 1984. E m resposta à crescente onda de críticas por parte dos utentes, a TRAC montou, na semana passada, uma operação de charme bem coreografada, numa inglória pretensão de estar a dar resposta às inquietações daqueles que diariamente pagam para usar a Estrada Nacional Número Quatro (N4). Mas no lugar disso, falou-se mais da própria TRAC do que propriamente das inquietações dos vários milhares de utentes daquela via. A arrogância demonstrada pelo Senhor Fenias Mazive, representante da TRAC, naquela conferência de imprensa, é simplesmente inaceitável numa sociedade baseada em regras e leis. Eu sou residente na cidade da Matola, e trabalho em Maputo. Sendo assim, sou utente regular daquela estrada no troço dos cerca de 20 quilómetros que separa estas duas centralidades. Sinto-me, por isso, com autoridade para comentar sobre o calvário por que passam diariamente tantos outros como eu e outros na situação inversa à minha, ou seja, que trabalham na Matola, sendo residentes na cidade de Maputo. Irei resumir aqui a seguir as minha constatações e inquietações sobre o que se passa naquela via. A N4 deve ser a única estrada de portagem no mundo onde se leva duas horas para percorrer uma distância de 20 quilómetros. O governo deve intervir para travar os abusos da TRAC António Freitas Savana 23-03-2018 21 PUBLICIDADE 22 Savana 23-03-2018 PUBLICIDADE DESPORTO A visita do Presidente da República, Filipe Nyusi, ao Ministério da Juventude e Desportos, no ano passado, foi, na altura, entendida como o abrir de uma nova página, pois, depois das observações que foram feitas, o então Ministro da Juventude e Desportos, Alberto Nkutumula, procedeu a profundas transformações na sua equipa, as quais trouxeram resultados tangíveis. Mas como cada dirigente escolhe o seu staff, a saída de Nkutumula criou insegurança nos quadros que transitaram para o mandato da actual timoneira, não sendo de estranhar que, com esta maneira de ver as coisas, muito mais pessoas competentes sejam afastadas. Vamos aos factos. Negligência aos assuntos da juventude A primeira e maior insatisfação do PR relaciona-se ao facto deste ministério ter dado primazia ao desporto, em detrimento dos assuntos da juventude. “Desde que chegamos aqui, concentramo-nos mais no desporto. É reflexo daquilo que é o Ministério. O MJD negligencia a juventude, que é a base desta nação. Já ouvimos projectos na área da indústria, agricultura, desenvolvimento rural, mas ainda não senti um programa de impacto para a juventude”, disse Nyusi, durante o Conselho Consultivo alargado aos movimentos juvenis e desportivos. “O vosso trabalho é promover a juventude. Devem criar um movimento que julgue porquê há violência neste país; porquê há casamentos prematuros; porquê há abandonos nas escolas”, recomendou Nyusi. O Presidente do Conselho Nacional da Juventude (CNJ), Manuel Formiga, presente no encontro, numa atitude considerada de escova e para queimar o ministro, revelou que há três anos que a sua instituição não recebe o financiamento do MJD, na totalidade, ignorando que em face à crise mesmo às organizações desportivas viram o bolo que tem direito, a diminuir drasticamente. “Desde 2014 que o CNJ não recebe 50% do valor projectado para o seu funcionamento, através dos contratos-programa. Para este ano, do valor projectado, recebemos 10% e no ano passado não passou dos 20%”, disse. O Director Nacional dos Assuntos da Juventude, Roy Tembe, disse que os assuntos da juventude são transversais, mas Filipe Nyusi realça que “todos assuntos são transversais”, pelo que é necessário “trabalhar e não fazer política”. Nyusi defendia ser dever deste pelouro preocupar-se com a situação MJD “ livra-se” de Arsénio Sarmento, um quadro tido como altamente competente Mais cabeças por rolar Por Paulo Mubalo do emprego e habitação do jovem, as maiores preocupações desta faixa etá- ria, o que pressupunha uma articulação com os ministérios que tutelam essas áreas. Situação das infra-estruturas O caso gritante e que mereceu apreciação negativa do PR foi o da Piscina Olímpica do Zimpeto, onde a água encontrava-se suja; as casas-de-banho entupidas e encerradas; rachas nas paredes; corrosão das estruturas de apoio; infiltração; extintores fora de prazo; parede desabada não reconstruída; e confiscação das chaves do espaço de lazer pelo explorador. “Fomos bem recebidos, mas estragaram-me o dia quando trouxeram-me para visitar estas infra-estruturas (Estádio Nacional do Zimpeto) e a Piscina Olímpica. Estamos influenciados com aquilo que fazem, que é negativo”, reagiu o PR. “Não sei quando vai cair de novo aquela coisa da Piscina. Fiquei muito decepcionado. Não sei se o Ministro não lhe doeu a cabeça”, acrescentou, antes de recomendar ao MJD a organizar palestras para debater a questão das infra-estruturas desportivas. Aliás, a Escola Superior de Ciências de Desporto, da Universidade Eduardo Mondlane, em colaboração com o Ministério da Juventude e Desportos, viria a organizar um seminário nacional, que juntou especialistas em diversas áreas, tendo produzido diversos resultados. Adamo Bacar deixa FPD Não foi a primeira vez que Filipe Nyusi se mostrou agastado com a situação das infra-estruturas desportivas. Em 2015, o PR visitou e deplorou o estado de conservação do Parque dos Continuadores, facto que custou a “cabeça” de Inácio Bernardo, então Director-geral do FPD. Adamo Bacar (engenheiro) foi o escolhido para ocupar o cargo, mas, volvido um ano, o Conselho de Ministros corrigiu os resultados do casting, tendo o substituído por Arsénio Sarmento, que assumiu as pastas no dia da visita. Arsénio Sarmento: um jovem com visão proactiva A liderança de Arsénio Sarmento, no Fundo de Promoção desportiva trouxe uma lufada de ar fresco ao MJD em geral e, especialmente, àquela instituição. O seu primeiro trabalho foi credibilizar o Fundo, o que conseguiu, estabelecendo várias parcerias com o empresariado local. Graças à sua visão proactiva logrou angariar fundos para várias selecções nacionais que tinham compromissos internacionais. Igualmente, conseguiu, em curto espaço de tempo, transformar o Estádio Nacional do Zimpeto de elefante branco em elefante preto. À sua chegada, o Estádio Nacional do Zimpeto continuava a consumir, mensalmente, 1.500 mil meticais e gerando cerca de 500 mil meticais, o que representava um deficit de 66,7%, cenário que estava a mudar, através de iniciativas que o Fundo de Promoção Desportiva foi levando a cabo, como a exploração do restaurante, lojas de conveniência, bombas e aluguer de instalações para diversos fins. A cedência do espaço frontal do ENZ à petrolífera sul-africana Engen para a construção de bombas de combustível trouxe ganhos assinaláveis, porquanto a Engen paga entre USD 8,500 a USD 15 mil, mensalmente. O único pecado de Arsénio Sarmento, talvez seja o facto de ter aderido à iniciativa relacionada com a vinda das lendas do Barcelona, onde os bilhetes custaram entre 600 meticais a seis mil meticais, num projecto onde falharam os estudos de viabilidade, se é que existiram. Aliás, é a este mesmo assunto que se relaciona a saída de Alberto Nkutumula, que também deixou obra feita no Ministério. Sabe-se que o afastamento de Arsénio Sarmento não foi a primeira mexida de Nyeleti Mondlane, empossada em Novembro de 2017. Nyeleti Mondlane fez como primeira mexida a nomeação do académico Francisco da Conceição, para o cargo de Director do Instituto Nacional do Desporto, uma instituição responsá- vel pela implementação da política do desporto. Nyeleti Mondlane, Ministra da Juventude e Desportos Arsénio Sarmento R eina um ambiente de mal estar entre alguns atletas filiados na Associação de Natação da Cidade de Maputo e a federação moçambicana da modalidade. O pomo de discórdia tem a ver com a não inclusão destes na selecção nacional que participa no africano de Malawi, em benefí- cio aos de Sofala. Alguns atletas que falaram ao SAVANA argumentam que, em Maputo, tinha sido constituída uma pré-selecção e que, inclusivamente, houve até investimento a partir dos próprios atletas, pois treinaram muito para tomar parte no evento, o que não aconteceu. “Os próprios pais dos atletas e os clubes fizeram um investimento, mas os atletas não viajaram”, lamentaram. Relativamente a este último aspecto, a Federação Moçambicana de Natação (FMN), através do seu preAmbiente de cortar à faca na natação Por Paulo Mubalo sidente, Fernando Miguel, explica que o primeiro objectivo da selecção era, de facto, lutar pelos lugares de pódio, mas em face das dificuldades financeiras, teve de reformular os objectivos, passando não necessariamente pela conquista de medalhas, mas em participar na competição. Enquanto isto, as nossas fontes, que falaram na condição de anonimato, dizem desconhecer os critérios que nortearam a escolha dos atletas de Sofala para representarem o país. A esta inquietação a FMN esclareceu que há aspectos a tomar em conta, entre eles, os logísticos e outras decisões internas que cabem a cada federação. Anotou, ainda o presidente da federação, que não vê nenhum problema quando a selecção faz-se representar por atletas de uma província, pois “só seria perigoso” se fosse representado por estrangeiros. Fernando Miguel ajuntou, em seguida, que a federação optou por enviar os atletas de Sofala pela proximidade desta província com o Malawi. Outrossim, desmentiu a versão que foi sendo propalada, dando conta de que os atletas seleccionados, contrariamente aos da capital de país, não possuíam nenhuma experiência e que praticamente estavam em inactividade. Observou que alguns estiveram no último CAN da modalidade, outros são campeões nos respectivos escalões, para além de possuírem alguma experiência internacional. Anotou que, mesmo com esta reengenharia institucional, a federação ficou com dívidas por liquidar, mas que acima de tudo, era imperioso que Moçambique tomasse parte no certame. Enquanto isto, os queixosos dizem que o mais estranho no meio de tudo isso é que a federação não realizou o Campeonato Nacional de Verão e uma série de actividades. Também não entendem como é que alguns atletas de Maputocidade foram preteridos se alguns pais comprometiam-se a contribuir de modo a arcar com algumas despesas. “O que na realidade terá travado a ida de atletas de Maputo ao Malawi, tendo em conta esta realidade?”, questionam. Entendem ter faltado comunicação entre a federação e a associação, pois só tomaram conhecimento de que não iriam participar do evento na semana passada. Em função disso tudo, as nossas fontes acham que situações desta natureza podem fazer baixar a sua moral, daí que apelam para que seja a última vez que a federação envereda por esse caminho. “Consequentemente, parte de nós, atletas da cidade de Maputo estamos com sentimento de frustração e aguardamos, serenamente, pela explicação da associação e, sobretudo da federação, que é o organismo que lida com a selecção nacional”, desabafaram. Entretanto, tentativas para ouvir a versão da associação redundaram em fracasso, mas continuamos abertos à explicação deste organismo. Savana 23-03-2018 23 PUBLICIDADE DESPORTO 24 Savana 23-03-2018 CULTURA P ara encerrar a semana da francafonia, o Centro Cultural Franco-Moçambicano (CCFM) recebe o concerto do músico e compositor Teófilo Chantre, nesta sexta-feira, 23 de Março, às 20:30h. Para este concerto no CCFM, Teó- filo Chantre será acompanhado pelo acordeonista francês Frank Fourniret e pelos músicos moçambicanos Walter Mabas (guitarra), Hélder Gonzaga (baixo), Tony Paco (bateria) e Idálvia Baúle (voz). Cada vez mais, Teófilo Chantre afirma-se como um excelente intérprete em língua francesa. Reconhecido compositor cabo-verdiano, especialmente pelas suas canções muito cantadas por Cesária Évora, o autor surgiu depois de cerca de quinze anos como um dos artesãos essenciais do sucesso da música cabo-verdiana no mundo. Além dos seus talentos de compositor, Teófilo Chantre segue uma caloTeófilo Chantre destaca-se com toque blues rosa carreira a solo, iniciada em 1993 com o álbum “Terra & Cretcheu”, à margem de modas e outros fluxos efémeros da sociedade. Ancorada na saudade, este sentimento atlântico em que o arrependimento, o desejo e a tristeza se misturam, a música de Teófilo Chantre expressa a partida aos quatorze anos da sua ilha natal São Vicente para a Europa e as várias viagens que fez. Músico há trinta anos, Chantre atinge hoje uma maturidade impressionante, tanto como intérprete quanto como compositor de clássicos cabo-verdianos. Teófilo canta em francês e crioulo, numa linguagem com uma doçura de vida que lembra a morabeza cabo-verdiana sublinhada pelo acordeão agridoce de Jacky Fourniret, que o acompanha desde o início da sua carreira. Os arranjos de cordas destacam a música naturalmente fluida de Teófilo, às vezes tocada, sempre encarnada, alcançando uma harmonia emocionante entre palavras e música. Teófilo destaca-se em músicas com um toque de blues, como Além Disso, Lua Desencantada ou Alma Morna, com um exausto apagamento. A sua sensação inata de melodia, combinada com uma peça amplamente acústica, sempre soa verdadeira, referindo-se à saudade contida da ilha que deixou para viajar no exílio, subindo o Atlântico. A.S O artista contará com o suporte rítmico de músicos nacionais A Capoeira dos Sete Pintos é o título da mais recente obra literária do escritor moçambicano Celso C. Cossa, que sai sob a chancela da Escola Portuguesa de Moçambique – Centro de Ensino e Língua Portuguesa, EPM-CELP, lançada recentemente na Associação dos Escritores Moçambicanos, em Maputo, cuja apresentação foi feita pelo escritor Aurélio Furdela. Ilustrado pelo artista plástico e designer Alberto Correia, A Capoeira dos Sete Pintos é um conto infanto-juvenil, recriado a partir do conto A Galinha Costureira e o Milhafre Esfarrapado do livro 7 Estórias Sobre a Origem de Quem Come Quem, do mesmo autor. Entre a fábula e o fantástico, a obra conta a aventura de um pai (o autor) que depois de ler uma estória de emA Capoeira dos Sete Pintos balar para o seu filho ele também acaba por adormecer e sonhando o mesmo sonho pai e filho são levados para um mundo desconhecido, onde um novelo de acontecimentos envolvendo os Sete Pintos, a Galinha Costureira, o Milhafre Esfaimado, a Feiticeira Esfarrapada e a Galinha Anciã têm lugar. Celso C. Cossa nasceu em Maputo. Possui uma licenciatura pela Universidade Pedagógica. É membro da Associação dos Escritores Moçambicanos. É autor de 7 Estórias Sobre a Origem de Quem Come Quem (Prémio Nacional 25 de Maio, PAWA, edição 2015), O Gil e a Bola Gira e Outros Poemas para Brincar (EPM-CELP, 2016), Dandiwa – a menina que ganhou uma bolsa de estudo (Menção Honrosa no Prémio Matilde Rosa Araújo, edição 2015) e O Sol e o Solzinho (Menção Honrosa no Prémio Matilde Rosa Araújo, edição 2016), estas duas não publicadas. A.S P ara celebrar o duplo centenário de elevação à cidade da Ilha de Moçambique, que virá a ocorrer em 2018, a Associação Kulungwana, em parceria com a Associação Moçambicana de Fotografia (AMF), promove um concurso fotográfico intitulado “Ilha de Moçambique: A Ilha das Duas Cidades”. Este evento está aberto a fotógrafos nacionais e estrangeiros, residentes em Moçambique, devendo os trabalhos serem apresentados até ao dia 13 de Julho de 2018, para que o júri possa seleccionar e premiar os trabalhos apresentados a concurso. A Ilha de Moçambique tem um lugar especial na história de Moçambique. A sua lenda, quase mítica, tem muito que ver com o património construído, único na costa moçambicana, e com a beleza do local e das suas gentes. Pela sua localização geográfica e pela sua importância nas rotas de comérConcurso de fotografia cio internacional, a Ilha de Moçambique foi elevada a vila em 19 de Janeiro de 1763, para, em 17 de Setembro de 1818, ganhar o estatuto de cidade, sendo ainda a primeira capital da colónia de Moçambique. O concurso fotográfico visa contribuir para o conhecimento e divulgação da Ilha de Moçambique ao nível local e internacional, reflectindo sobre a importância do seu património edificado, nas suas múltiplas vertentes, dos seus habitantes, do dia-a-dia da sua população e das diferentes práticas que reflectem a sua cultura. Serão atribuídos três grandes pré- mios, no valor de cem mil meticais para o primeiro, sessenta mil meticais para o segundo e quarenta mil meticais para o terceiro, respectivamente. Os mesmos serão entregues aos artistas premiados em cerimónia pública na inauguração da exposição colectiva dos trabalhos seleccionados, a decorrer no salão da Associação Moçambicana de Fotografia. A.S Dobra por aqui SUPLEMENTO HUMORÍSTICO DO SAVANA Nº 1263 ‡ DE MARÇO DE 2018 NAMPULA 2 Savana 23-03-2018 SUPLEMENTO Savana 23-03-2018 3 Savana 23-03-2018 27 OPINIÃO Abdul Sulemane (Texto) Naita Ussene (Fotos) A notícia do aumento do preço do combustível traz mais uma vez à ribalta a questão sobre como são calculados os preços do mesmo desde a aquisição até ao consumidor final. Momentos de preocupação misturados com alguma sátira têm sido testemunhados em alguns quadrantes, em que os protagonistas são dirigentes deste país. Chegamos a ouvir que o preço do combustível vai baixar no momento da campanha para as eleições autárquicas que se avizinham. Como demonstração de muito trabalho em prol do povo. Cada um resolve a sua situação de maneira diferente. Devem estar a fazer troça disso as três figuras na primeira imagem. Referimo-nos a Carlos Mesquita, Ministro dos Transportes e Comunicação, Max Tonela, Ministro dos Recursos Minerais e Energia, e Celso Correia, Ministro da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural. Quanto aos transportes sabemos que se trata dum problema com barba branca no nosso país, como a questão da energia, combustíveis, recursos minerais, terra e desenvolvimento rural. Talvez estejam a rir por causa dos pronunciamentos do empresário Salimo Abdula que defendeu ser imprescindível a separaçãos à conversa concentrada entre Basílio Monteiro, Ministro do Interior, e Mr. Dube, membro da comitiva sul-africana. A petição dos deputados londrinos quer medidas para garantir que todos os empréstimos concedidos pela lei do Reino Unido a Governos ou com garantias governamentais “sejam divulgados publicamente no momento em que são feitos e cumpram a lei do país em questão”. Este posicionamento deixou Adriano Maleiane, Ministro da Economia e Finanças, com um semblante de preocupação. Não é por acaso que faz o seu desabafo para Yunuss Ismael, empresário da Zambézia. Como se dissesse: desta vez não tenho como fugir com o rabo à seringa como tem sido comum em situações dessas. Esses europeus não brincam com assuntos desses. Mais uma baixa À HORA DO FECHO www.savana.co.mz EF .BSÎP EF t "/0 997 t /o 1263 Diz-se... Diz-se IMAGEM DA SEMANA Naita Ussene Oempresariado nacional manifestou a sua satisfação com a introdução de novas normas e procedimentos cambiais pelo Banco de Moçambique (BM). No rol das decisões recentemente tomadas pelo banco central, inclui-se a supressão da autorização prévia do BM no pagamento das operações no exterior.  PSFT F UPLiberalização de transacções fortalece ambiente de negócios JOWFTUJNFOUP EJSFDUP FTUSBOHFJSP QBTTBS UBNCÏN B TFS FGFDUVBEP KVOUP EP CBODP DPNFSDJBM FORVBOUP JOUFSNFEJÈSJP NBT DPN B OFDFTTJEBEF EF PCFEFDFS EJBT DPOUBEPT B QBSUJS EB EBUB EB FOUSBEB EP JOTUJUVJÎÍP EF DBSJ[ OBDJPOBM QPEF FGFDUVBS QBHBNFOUPT QBSB DPOUBT EPNJDJMJBEBT OP QBÓT FN FTUSBOHFJSB &NQSFTBT DPNP )$# #PMPSÏ $PSSFUPSBT EF 4FHVSPT FOUSF PVUSBT NBOJGFTUBSBN QSFPDVQBÎÍP EVENTOS F oi lançada, esta semana, na vila fronteiriça de Ressano Garcia, distrito de Moamba, província de Maputo, uma campanha de sensibilização de limpeza de lixo, numa acção conjunta das empresas Central Térmica de Ressano Garcia (CTRG) e a Gigawatt Moçambique. As duas empresas estão estabelecidas em Ressano Garcia, uma vila que faz fronteira com a vizinha África do Sul, sendo uma das mais movimentadas do país. A CTRG foi inaugurada em Agosto de 2014 e tem capacidade para produzir 150 MW de energia a partir de gás natural. É considerada a maior central no país construída de raiz e destina-se ao abastecimento de energia eléctrica à zona sul de Moçambique. A Gigawatt Moçambique, uma empresa de produção de electricidade também na base de gás natural, foi concluí- da em 2015 e possui uma capacidade para 120MW. Está avaliada em 200 milhões de dólares. Campanha O primeiro dia da campanha, que envolve a população dos quatro bairros daquela vila fronteiriça, técnicos das duas empresas, de saúde, alunos e outros interessados, foi marcada por acções de limpeza que, entretanto, não lograram recolher todo o lixo, devido à quantidade de resíduos sólidos ali depositados. Segundo a Directora de Responsabilidade Social na CTRG, Marília Manhiça, a ideia começou com a Gigawatt que, após oferecer um trator à comunidade, apercebeu-se da dimensão do problema, tendo se juntado à empresa vizinha para a concretização do seu desejo. “Começamos, primeiro, com a sensibilização da população, mas depois decidimos nos juntar com a comunidade para limparmos a nossa vila”, disse Manhiça. Sem avançar os números projectados para este ano, a directora de Responsabilidade Social daquela Central Térmica garantiu que as Lançada campanha de limpeza em Ressano Garcia suas actividades não param por aqui, estando programadas mais acções nas áreas da educação, saúde e criação de emprego. “Ainda não definimos o tipo de acção na educação e saúde porque estamos à espera da resposta dos serviços distritais, porém, na área da criação de emprego vamos promover uma formação em engenharia, electricidade e mecânica para os alunos da 12ª classe”, sublinhou. Manhiça revela também que a sua direcção não dispõe de orçamento para este ano, mas tem se esforçado para levar a cabo as suas actividades. “Utilizamos o dinheiro que devia ser aplicado para outras coisas, pois, as actividades de responsabilidade social não podem parar”, explica. Por sua vez, o Oficial de Ligação com a Comunidade na Gigawatt, Fortunato Bambo, afirma que, quando chegaram, em Ressano Garcia, perceberam que havia problemas de saneamento, por isso ofereceram um trator e mais dois atrelados para a recolha de resíduos sólidos. Para a Chefe do Posto Administrativo de Ressano Garcia, Mónica Macheque, a campanha é muito positiva, pois a maior fronteira do país transformou-se num repositório de lixo de todos que saem e entram no país. “Com este apoio, pensamos que vamos mudar a imagem de Ressano Garcia”, disse, antes de garantir haver uma boa convivência com a comunidade. “O tractor de recolha de lixo de que dispomos foi nos oferecido pela Gigawatt e a se responsabilizar pela sua manutenção, assim como pelos salários dos próprios tractoristas. (A.M) O posto administrativo de Tomanine, distito de Guijá, recebeu recentemente o Instituto para Promoção de Pequenas e Médias Empresas-IPEME, e a Onu Mulheres, para a realização da quarta edição da feira “PME Mulher Empreendedora” com o lema “Mulheres no acesso aos serviços”. Segundo a organização, para IPEME reconhece papel da mulher na comunidade além de criar um espaço de intercâmbio, esta iniciativa visa incentivar o espírito competitivo das mulheres empreendedoras que actuam no sector informal, de forma a integrá-las no sector formal. Estiveram presentes neste encontro o administrador de Guijá, Arlindo Maluleque, Marie Goretti Nyurarukundo, representante da embaixada da Bélgica em Moçambique, e José Libombo Jr., Director-geral ajunto do IPEME. Nas suas intervenções, os mesmos foram unânimes em destacar a importância da mulher moçambicana no desenvolvimento comunitário. Na feira, participaram 29 expositores, que fazem parte instituições de apoio ao negócio e investimento, dos quais mais de 15 são PME ligadas ao agronegócio, Agroprocessamento e associação de produtores locais. Savana 23-03-2018 EVENTOS 2 A Sociedade de Desenvolvimento do Porto de Maputo (MPDC), os Caminhos-de-Ferro de Moçambique (CFM) e a Associação Moçambicana Para as Vítimas de Insegurança Rodoviária (AMVIRO) lançaram, esta semana, na Praça dos Trabalhadores, o “Momento de Segurança”, um projecto que visa influenciar mudança de atitude de peões e condutores em relação à segurança rodoviária, especialmente no que respeita ao uso de passadeiras e respeito pelo peão. O programa, que contempla a pintura de passadeiras ao redor da Praça dos Trabalhadores e zonas circundantes, tem como parceiros MPDC lança programa de segurança rodoviária o Instituto Nacional dos Transportes Terrestres (INATTER), a Polí- cia da República de Moçambique (PRM) e o Conselho Municipal de Maputo. A iniciativa surge no âmbito de um protocolo assinado entre a MPDC e a AMVIRO para a promoção de acções conjuntas que visam melhorar a segurança rodoviária e contribuir na diminuição das elevadas taxas de sinistralidade nas estradas moçambicanas. Para além deste projecto, a MPDC irá lançar outro ao longo da EN4, com incidência nas zonas de maior tráfego e de concentração de viaturas pesadas. Aliás, a segurança rodoviária tem sido uma preocupação constante daquela empresa, tendo introduzido, no ano passado, um programa televisivo intitulado “Minuto de Segurança”, com dicas práticas sobre segurança para os cidadãos Moçambicanos. Em 2017, a MPDC promoveu também a segurança rodoviária junto aos mais jovens, criando com a AMVIRO um circuito rodoviá- rio educativo num festival infantil de grande afluência. Refira-se que a MPDC é uma sociedade que resulta da parceria entre os Caminhos de Ferro de Moçambique, Grindrod, DP World e Mozambique Gestores, sendo gestora do Porto de Maputo desde 2003. O Standard Bank organizou, na terça-feira, 20 de Março, na cidade de Maputo, um encontro de esclarecimento aos clientes sobre o impacto das novas normas e procedimentos cambiais, no âmbito da aplicação das recentes alterações efectuadas ao Regulamento da Lei Cambial, através do Decreto 49/2017, do Conselho de Ministros. Para além de dar a conhecer as principais alterações efectuadas às normas e procedimentos cambiais, vertidas no Aviso 20/GBM/2017 do Banco de Moçambique, na qualidade de Autoridade Cambial, o encontro tinha como objectivo consciencializar os clientes sobre os aspectos que têm um impacto significativo nas suas actividades. As alterações efectuadas a esta lei visam, essencialmente, ajustar a legislação à dinâmica do mercado, manter o princípio da liberalização das transacções correntes, introduzir a autorização automática de algumas operações de capitais e reforçar a monitoria das operações cambiais. Dirigindo-se aos participantes, Joaquim Uaiene, director de Compliance do Standard Bank, explicou que a realização do encontro surge do facto de os bancos comerciais, à luz deste decreto, passarem a deStandard Bank explica alterações na Lei Cambial sempenhar a função de intermediários entre os clientes e o Banco Central. “O nosso objectivo é ajudar os clientes a efectuarem as operações de forma transparente e de acordo com os princípios legais vigentes no País, por isso promovemos esta interacção entre os clientes e a equipa do banco com a qual lidam no seu dia-a-dia. Dado o facto de a comunicação com o Banco Central ser feita por via dos bancos comerciais, vimos a necessidade de pôr os clientes a par das alterações feitas à Lei Cambial para garantir que as operações continuem a ser feitas sem constrangimentos”, disse Joaquim Uaiene. Dentre os aspectos inovadores introduzidos pelo Aviso 20/ GBM/2017 consta a necessidade de criação de contas específicas, para rendimentos provenientes das operações de exportação de bens e serviços ou de investimentos no estrangeiro, que inclui um conjunto de restrições impostas pelo regulador em relação à utilização dos proveitos de exportação para pagamentos no mercado nacional. Constam, igualmente, a não obrigatoriedade de conversão de receitas de exportação para a moeda nacional (o Metical), a realização de investimentos no estrangeiro por residentes até ao limite de 250 mil dólares, através do sistema bancário nacional, a dispensa de autorização prévia do Banco de Moçambique para efeitos de Investimento Directo Estrangeiro, a autorização da contratação de suprimentos e crédito financeiro recebido do estrangeiro, até ao montante de cinco milhões de dólares. No final, os clientes reconheceram a importância do encontro, dado o facto de esta matéria ter a ver com o dia-a-dia das empresas, independentemente da sua dimensão ou ramo de actividade. “O encontro foi produtivo e notámos que foram feitas profundas alterações à lei. Nem sempre é fá- cil interpretar ou aplicar uma lei, por isso é sempre importante que os bancos interajam com os clientes, para que estes possam colocar as suas dúvidas com vista ao seu esclarecimento”, considerou Nália Timba, assessora do Conselho de Administração da empresa Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM). Por seu turno, Jaime Novela, da Britam Seguros, é da opinião que estas alterações, para além de liberalizar as transacções correntes, “vão robustecer a moeda nacional, o Metical, e, por via disso, evitar flutuações cambiais, uma das razões por detrás das perdas registadas pelas empresas em momentos de instabilidade cambial”. “ É com o mesmo sentimento revolucionário e desafiador que a Fundação Manhiça, uma instituição virada para área de investigação, reconhece o seu contributo para o país e para o mundo na tomada de decisões na área da saúde”. Este sentimento foi manifestado pelo Presidente desta agremiação, Leonardo Simão, numa entrevista ao Savanaeventos. No âmbito das celebrações dos 10 anos da existência da Fundação Manhiça, uma instituição criada, em 2008, pelos Governos Moçambicano e Espanhol, o Instituto Nacional de Saúde de Moçambique (INS), a Fundação Clínic per la Recerca Biomédica e o Dr. Pascoal Mocumbi como membro fundador honorário, Leonardo Simão relembra que a instituição foi concebida para garantir a sustentabilidade do Centro de Investigação da Manhiça (CISM), maior flexibilidade, autonomia e competitividade a nível nacional e internacional. Um dos outros objectivos da criação da FM, era liderar a gestão do CISM, inicialmente feita pela Espanha, através da Fundação CLINIC. No meio de desafios e ganhos, o CISM, que celebra este ano 22 anos de existência, demonstrou ao longo destes anos ter capacidade intelectual para a realização de estudos complexos, e partilha de resultados significativos. A sua contribuição tem melhorado as intervenções na área de saúde em Moçambique e no Mundo. A tí- tulo de exemplo, foi o estudo feito para avaliar a efectividade da vacina da Malária, um dos primeiros estudos desenvolvidos pela centro, pioneiro no mundo. Os resultados deste estudo, apresentados posteriormente, foram validados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que incentivou a realização de uma segunda fase do estudo, numa população mais ampla, a decorrer actualmente no Quénia, Malawi e Gana. Com o seu crescimento e aposta na formação de quadros nacionais na área de investigação, o CISM, passados anos, continuou a desenvolver estudos na área da Malária um dos seus principais focos, mas abraçou estudos de outras áreas de doenças infecciosas como o HIV, Meningite, HPV (Cancro do Colo do Útero), Tuberculose, Diarreias, Fundação Manhiça: 10 anos de desafios e conquistas Doenças Respiratórias agudas, entre outras. Actualmente, dentre os vários estudos, o CISM foi seleccionado para desenvolver um grande estudo na área da Malária (MALTEM), para responder o objectivo de OMS, que é eliminar a Malária até 2030. O estudo, a decorrer no Distrito de Magude, desde a sua implementação em 2015, conseguiu demonstrar uma redução de cerca de 70%, uma prevalência de 9% em 2015 para 2.6% em 2017. “É um desafio, mas achamos que seja possível eliminar a Malária. Os estudos que fazemos têm em consideração os factores que contribuem para a eliminação da Malária. Como a percepção de como os factores ambientais, sócio-económicos podem contribuir ou não para eliminação da Malária. Com o seu foco na Malária e em outras doenças infecciosas, o CISM conta no momento com cerca de 48 investigadores, nas áreas de Malária, Tuberculose, Doenças Respiratórias, Doenças Diarreicas, Ciências Sociais e Saú- de Materna. Conta no momento com 85 estudos a serem desenvolvidos, nas áreas já indicadas anteriormente e, por isso, mais uma vez reconhece o seu papel na pesquisa e divulgação de resultados para tomada de decisão. Para os próximos 10 anos, a FM pretende apostar na sua consolidação no território nacional, criar outros centros de excelência a nível do país, como forma de aumentar a intervenção no país. Ainda nos desafios, Leonardo Simão aponta a sustentabilidade e longevidade do Centro como uma das suas maiores preocupações. “Só a título de exemplo, anualmente gasta-se, para o funcionamento do Centro, um total de três milhões de USD e cinco milhões para os programas de investigação. Estes valores são fornecidos pelos governos moçambicano e espanhol e dos fundos financiados pelas organizações internacionais para o desenvolvimento de estudos.” Simão não escondeu igualmente a sua preocupação com a formação de quadros nacionais na área de investigação. “Queremos impulsionar mais os jovens a formarem-se na área, para que possamos ter mais quadros nacionais. E o objectivo é criar um ambiente saudável e propício para que á área de investigação cresça cada vez mais no país”. Savana 23-03-2018 EVENTOS 3 Savana 23-03-2018 EVENTOS 4 PUBLICIDADE

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