Talapa deixa escapar que a bancada só vai chancelar a proposta do chefe
O segundo dia dos trabalhos da VII Sessão Ordinária da Assembleia da República (AR) terminou, esta quinta-feira, de forma pouco comum. Os parlamentares, depois de terem aprovado, na generalidade, a revisão da lei que cria o Gabinete de Informação Financeira de Moçambique e iniciado a discussão da proposta de lei que estabelece os Princípios e Regras Aplicáveis ao Sector Empresarial do Estado, entraram numa acesa discussão.
A razão para a troca de palavras tinha a ver com o agendamento do debate da proposta de emenda pontual da Constituição de República (CR), enviada à casa do povo pelo Presidente da República, Filipe Nyusi.
O barulho foi tanto que a chefe da bancada parlamentar da Frelimo, Margarida Talapa, no calor do debate, acabou deixando escapar que a proposta depositada pelo Presidente da República seria aprovada, tudo porque o documento vinha do Chefe de Estado.
O “bate-boca” iniciou quando o deputado da Renamo, Saimone Macuiana, interpelou a mesa da Assembleia da República para pedir que a presidente daquele órgão, Verónica Macamo, estabelecesse um prazo para a conclusão dos pareceres atinentes à revisão pontual da CR, que estão a cargo da 1a e 4a Comissões.
Recorde-se que a 1a Comissão, a dos Assuntos Constitucionais, Direitos Humanos e Legalidade,presidida por Edson Macuácua, depois de ter dito após a recepção do despacho da presidente, que concluiria o parecer dentro de 15 dias, apareceu ao longo desta semana a dizer que precisa de mais tempo para a sua conclusão.
Em torno desta colocação, Macamo disse que não podia acolher o pedido do deputado Macuiana porque havia sido clara na explicação que dera minutos antes. Verónica Macamo explicara que “a sessão será interrompida de hoje (ontem) até ao dia 20, mas se as comissões terminarem os pareceres voltaremos para debater o assunto da revisão da Constituição”. A justificação de Verónica Macamo não satisfez a preocupação de Macuiana, de tal forma que voltou a insistir na necessidade da definição dos prazos para a conclusão dos pareceres.
Diante da falta de consenso, a Presidente da AR submeteu o assunto aos chefes de bancadas. Intervieram, na ocasião, Margarida Talapa e Lutero Simango. Maria Ivone Soares não esteve presente na sessão desta quinta-feira.
Foi nesse exacto instante, que Margarida Talapa disse que não passava pela cabeça dos deputados da bancada que dirige, votar contra a emenda pontual da CR. Ajuntou que procederiam nesse sentido (votar contra) porque o Presidente (Filipe Nyusi n.d.r.) já havia assinado.
“Ninguém vai estar contra um documento que o nosso presidente (Filipe Nyusi .n.r.d.) já assinou”, disparou Margarida Talapa, afirmando, de seguida, que a bancada estava perfeitamente alinhada com o sinal emitido pelo Presidente da República ao enviar o documento à AR.
Por seu turno, Lutero Simango, chefe da bancada parlamentar do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), voltou a alertar para a necessidade da inclusão da bancada que dirige no debate sobre a proposta de revisão da CR. Aliás, Simango disse que chamou atenção na reunião ao nível da Comissão Permanente, órgão deliberativo da AR, sobre a importância da inclusão da sua bancada na discussão deste dossier.
Adiante, o homem forte do “galo” na AR, avançou que caso fossem excluídos do debate não lhes restaria outra via, senão a reprovação desta proposta, tida como chave para a materialização da descentralização política e administrativa do país.
Esta proposta (revisão pontual da Constituição da República), recorde-se, resulta dos entendimentos alcançados entre o Presidente da República e líder da Renamo, no âmbito do diálogo político com vista ao resgate da paz efectiva.
Importa salientar que na legislatura passada (VII legislatura), a Assembleia da República recebera das mãos do anterior Presidente da República, Armando Guebuza, duas propostas, igualmente resultantes do diálogo político. Com a Renamo.
Foram, no concreto, o pacote eleitoral e a lei da amnistia. Estas duas proposituras foram aprovadas por consenso e aclamação pelas três bancadas parlamentares que compunham o órgão há altura dos factos. (Ilódio Bata)
MEDIA FAX – 02.03.2018
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