"Eles (suiços)entenderam o quê, Presidente? Que podemos defraudar o Estado a nosso bel-prazer e mesmo assim vão continuar a nos apoiar?"
EUREKA por Laurindos Macuácua
Bom dia, Presidente. Parabéns pelo seu Doutoramento Honoris Causa atribuído pela Suíça. Todavia, fiquei preocupado com a sua argumentação em jeito de balanço do que foi a visita à Suíça.
O Presidente disse que a visita foi positiva, serviu para aprofundar as relações de cooperação e, acima de tudo, no item referente a desmobilização e reintegração dos homens armados da Renamo às Forças de Defesa e Segurança, viram, conjuntamente, que é preciso envolver mais gente por se tratar de um processo sensível. Agora, o Presidente foi ambíguo ao se referir à cooperação económica. Disse que “nós falámos sobre os nossos problemas e eles entenderam”.
Quando ouvi isso, desejei ter estado nessa conferência de imprensa só para lhe colocar esta questão: Eles entenderam o quê, Presidente? Que podemos defraudar o Estado a nosso bel-prazer e mesmo assim vão continuar a nos apoiar?
É que é preciso desmistificar o “eles entenderam”. E creio eu que, eventualmente, a pergunta não feita não por falta de experiência dos repórteres que lhe acompanhavam nessa visita. Foi pelo puxa-saquismo. Seguidismo. Jornalismo rasca. Lambe-botismo. Os adjectivos são tantos…
E jamais vamos construir um país próspero a seguir fariseus!
A preocupação que nos escalda, nós os povo, são as dívidas ocultas.
Esta semana os doadores reiteraram que jamais vão financiar o Orçamento do Estado enquanto não haver responsabilização criminal dos que defraudaram os cofres de todos nós, os moçambicanos. Eles preferem financiar projectos específicos.
Quer dizer, os doadores vão continuar a financiar alguns projectos de desenvolvimento, desde que o financiamento possa contornar o Tesouro. Se somos um País exemplar, idem para o partido que nos governa, conforme o Presidente prefere vender o seu peixe, por que, afinal, nos recusamos a ser transparentes? O que estamos a esconder?
O que está a acontecer agora é que temos a China como nosso credor.
E, por outro lado, financiamo-nos com o dinheiro que era destinado a outros projectos internos. Sufocamos o desenvolvimento do País para protegermos ladrões que outra coisa não fizeram senão satisfazerem os seus apetites. E merecemos doutoramentos pelo mundo fora…
E, outrossim, há uma questão que me apoquenta: é o facto de chamarem o que está em curso de processo descentralização. Afinal, não é processo de reconciliação?
As feridas saram-se com descentralização?. O Presidente está realmente preocupado, como nós, com o processo de reconciliação?
“É tempo de sarar as feridas. É tempo de seguirmos em frente com determinação colectiva de construir um País assente em princípios de um Estado democrático e de direito”, estas palavras são suas, Presidente.
Volto a perguntar: as feridas saram-se com descentralização?
Preocupa-lhe como me preocupa a mim a questão da reconciliação?
Como é que ela será possível por via dum processo que excluiu as vozes que devem ser ouvidas, nomeadamente as vozes dos outros partidos, da sociedade civil organizada e dos cidadãos?
Que reconciliação é possível na base duma constituição refém da arbitrariedade dos políticos cobertos pela sua vulnerabilização?
DN – 02.03.2018
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