- Paulo Timóteo
Luanda - Escrevi o ano passado que JES deveria ter hasteado a bandeira branca da “rendição”, para que não fosse humilhado, à semelhança do marechal alemão Von Friendrich Paulus, na Batalha de Stalingrado, na Segunda Guerra Mundial, dada a desproporção descomunal de forças entre ele e JLo. Entretanto, a sua presença na Reunião do Conselho da República no passado dia 22 de Março, veio demonstrar um facto.
Fonte: Club-k.net
JES recuou como o comum dos mortais por dois factores essenciais: a derrota sofrida na Reunião do CC e o factor Miala, pois, não tendo ao seu dispor a essência do poder securitário, tornou-se vulnerável.
Não nos iludamos, entretanto, porque ainda não se “rendeu”, como veremos mais adiante.
Escrevi há precisamente um ano que JLo não seria o Medvedev de JES, mas sim o seu Yeltsin, como este o foi para Gorbatchov. Argumentei na altura que o MPLA nunca em toda sua história tinha tido uma liderança Bicéfala como seu modus operandi.
Escrevi há quase dois anos que tal como Napoleão Bonaparte, a tragédia de JES, seria a das suas ambições terem ultrapassado em demasia as suas capacidades.
Interrogava-me há dois anos: “ Estaremos a assistir o Canto do Cisne de JES? Afirmara que não, pois não havia que menosprezá-lo, mas a descida para a queda, seria íngreme e irreversível”.
Escrevi há um ano:“ A questão que subjaz a JES e que lhe deve tirar o sono é como transferir o seu “fato” para alguém que JES sabe que não será incondicional nem a ele nem à sua família no médio-longo prazos, tal como ele o fizera ao Presidente Neto.”
Escrevi há um ano que JES imporia um colete-de-forças para amarrar JLo e dizia na altura que JES manter-se-ia provavelmente a frente do MPLA, reforçando o poder do Secretário-Geral, Paulo Kassoma, que seria o verdadeiro patrão do MPLA.
Escrevi há um ano que a principal condicionante de JLo era a sua falta de legitimidade politica interna e que as primárias no MPLA teriam resolvido o problema da legitimidade politico-estratégica de JLo no seio do MPLA, face a posição ambivalente de JES.
Compreende-se por isso a curva apertadíssima de JES no actual contexto de sucessão, pois teve imenso tempo para que pudesse negociar um Pacto de Estabilidade no seio do seu Partido e com a Sociedade.
O contexto actual é desconfortante para JES, pois ficou sem grande margem de manobra politica.
A sua sugestão de que o Congresso Extraordinário realizar-se-ia em Dezembro de 2018 ou Abril de 2019 foi nitidamente uma manobra dilatória e uma fuga para frente face a enorme contestação interna dos militantes em que a Reunião dos Membros do CC de Luanda deu o mote, por isso, a sua antecipação na marcação daquelas datas.
Reconheçamos, foi demasiadamente tardia e o resultado sido uma desautorização e uma quase reprimenda ao presidente do MPLA (ouviu-se na sala, um estrondoso apupo, em que só faltou cantar o Milhorró dos Kiezos. Vai, vai-ti mbora , qui nós não queremos...).
Foi esse facto histórico em 38 anos de Poder de JES que marcou indelevelmente a viragem estratégica para o fim da Bicefalia e levou ao recuo tácito de JES, tendo colocado em pânico os seus estrategos.
O fácies hirto de Jú Martins e Norberto Garcia e o sorriso irónico de Dino Matross, eram de incredulidade face ao início do desmoronamento do Castelo. Então perguntar-se-á: como foi possível JES ter ganho com as mesmas pessoas 99,6% dos votos no VIIo Congresso e como dizia Mário Pinto de Andrade na TPA em “voto secreto” e um ano e meio depois, quase que humilhado e acima de tudo desautorizado?
A resposta é demasiadamente óbvia.
JES perdeu legitimidade politica tanto interna como externamente, face ao antagonismo político que conformam os seus interesses estratégicos e de sua Família, aos do Povo angolano.
O seu legado foi o saque incontinente do erário público e o caos económico- social , tornando esse povo miserável.
Tendo-se cristalizado no tempo, JES esqueceu-se de um primado em politica. Quem detém o Poder do Estado, detém em última análise a iniciativa politica. Na competição entre JLo e JES para o domínio do espaço politico, JLo teve sempre uma maturidade estratégica irrepreensível, pois não cometeu o erro de há 15 anos, reduzindo o legado de JES a uma nulidade atroz. Iniciou uma governação de proximidade a que chamaria “Presidência Aberta” cujo objectivo politico major foi e é o de demonstrar as enormíssimas fragilidades da governação do seu antecessor, em que a sua ida ao Sanatório de Luanda, foi o corolário desse posicionamento.
As imagens chocaram e feriram a alma do eleitorado tornando risível e indefensável no plano estratégico esse legado.
A denúncia de transferências efectuadas pelo BNA, nomeadamente os 500 Milhões de dólares de forma fraudulenta e criminosa, que tornaram arguido Walter Filipe e Zenú dos Santos, alegadamente com o seu beneplácito, tornaram bizarramente insustentável a prazo, a sua continuidade à frente da liderança e dos destinos do MPLA, como Actor Moral da tramoia.
Face à impossibilidade de concorrer à sua própria sucessão por manifesta falta de legitimidade política, JES quer ganhar tempo (daí a não “rendição”) e alvitrou um cenário de sucessão quase dinástica, passando a DENOMINAR o seu SUCESSOR com o único propósito. Manter a Bicefalia com outro actor que não ele, face a imagem desgastante e a deterioração do seu estado de saúde.
E qual é a narrativa? A de que o PR JLo não pode ser simultaneamente presidente do MPLA e PR.
Concordaria com a argumentação num contexto político absolutamente diferente, para o reposicionamento dos “checks and balances”. Todavia, esse argumento não é sustentável do ponto de vista da análise política, por uma razão fundamental.
A CRA feita aprovar por JES em 2010 consagra de forma inequívoca que o Cabeça de Lista do Partido mais votado torna-se automaticamente o PR. Ora é esse o Nó Górdio que não é desatável no presente xadrez politico, a não ser que se altere a Constituição.
Pois perguntar-se-á, quem é o Lider de qualquer um dos Partidos políticos em Angola que não quererá ser o Cabeça de Lista?
A não ser que seja um fantoche, pois toda liderança partidária tem um único propósito político que é o de ganhar as eleições e tornar-se o líder máximo de uma Nação. Vê-se que JES tem em mira as Eleições Gerais de 2022, porque com base na actual CRA, o lider partidário será sempre o Cabeça de Lista. JES só não o foi por estar manifestamente doente e, com uma popularidade risível, caso contrário ter-se-ia candidatado.
É por isso suicidário para JES nas condições actuais tentar arregimentar a indicação de um outro candidato, que não seja o seu vice.
Repito, a desproporção de forças é descomunal.
JLo deverá jogar na antecipação, impondo a necessidade de liberdade de escolha, isto é, quem quiser concorrer contra ele que concorra, precisará destas eleições para ter legitimidade interna e, nesta condição, impor igualmente ao Partido a real democracia interna e a revisão da CRA depois das Eleições de 2022.
Então, perguntar-se-á, o que faz JES acelerar, perante uma curva apertadíssima, sabendo que trará danos colaterais e, com consequências nas
Eleições Autárquicas e Gerais para o Partido que actualmente dirige? Serão somente as Eleições Autárquicas?
Julgo que não, pois perdeu essa legitimidade ao não as ter realizado em tempo útil e durante o seu consulado, aliado ao facto de lhe ter sido retirada essa iniciativa política, com o seu agendamento na Reunião do Conselho da República, aliás um Órgão do qual faz parte, como o comum dos mortais Volto a pergunta de há dois anos: “ Estaremos a ver o Canto de Cisne de JES ?“
A resposta é categórica: Obviamente que sim, porque perante uma curva apertadíssima e a aceleração indesejável, o final pode ser trágico, pois o código de estrada, impõe que abrandemos e se possível recuemos, porque pode estar a montante, o precipício e, ninguém de bom senso desejará essa tragicomédia.
(PT)
Sem comentários:
Enviar um comentário