O “meu 8 de Março” Estaca II: Os tempos da Escola Industrial 1º de Maio (antiga ‘Mouzinho de Albuquerque’) e a passagem pela central de comunicações e sinalização dos CFM Sul
02-03-2018
Começo em 1974-1975. Eu tinha por aí 16-17 anos. Era estudante na Escola Industrial Mouzinho de Albuquerque (mais tarde ‘1o de Maio’). Cursava electricidade geral, e mais tarde electrotecnia. Formalmente era estudante em tempo inteiro, embora na realidade já fosse estudante-trabalhador em outras coisas que não electricidade ou electrotecnia, exercendo artes de madeira que havia aprendido com meus irmãos, e cujos rendimentos suplementavam o esforço que os meus pais faziam para me manter na escola.
[Flash back]. No tempo colonial a Escola Industrial Mouzinho de Albuaquerque era uma “panela de pressão” que as autoridades mantinham sob vigilância discrete (eu não sabia até mais tarde). Por exemplo, soube mais tarde que um dos padres que nos dava educação de "Religião e Moral’ era um informador. Tudo tinha a ver com o substracto social dos estudantes: filhos de colonos operários e agricultores, dos poucos negros moçambicanos pobres e alguns assimilados que podiam mandar seus filhos para lá, de funcionários públicos de escalão inferior (por exemplo o meu pai que era um servente de 2a clase nas alfândegas), entre outros. Este substracto social era terreno fértil para potenciais “rebeliões” políticas. Não conheci nem fiz parte de nehuma rebelião desse tipo. Mas retrospectivamente noto que a pancadaria que algumas vezes arrebentava em tempos de ‘praxe de caloiros’ muitas vezes tomava tonalidades políticas por causa dos incidents de racismo que aconteciam envolvendo estudantes negros e brancos.
Uma dessas pancadarias aconteceu no ano em que eu entrei lá. Acho que foi em 1972-73. O meu herói nessa batalha foi um mais velho, que entrou também no mesmo ano que eu, o Gregório Tembe (creio que na altura ele morava lá pelas bandas do Chamanculo, se não estou em erro). Ele resistou a tentativas de com uma tesoura lhe fazerem uma cruz na cabeça. Os estudantes brancos que eram os protagonistas disso (e nunca faziam cruzes a outros estudantes brancos) acharam que era um atrevimento e atiraram-se a ele em grupo. Mas o Gregório era um corajoso, e tinha corpo para isso. Pegou em tudo o que lhe apareceu pela frente: paus, ferros, pedras (tudo isso existia em quantidade e em todos os cantos da Escola Industrial), encostou-se à parede de uma das oficinas (para ninguém lhe atacar por trás), e enfrentou o grupo. Essa imagem não me sai da cabeça. Claro que daí nasceu uma grande solidariedade com ele e outros estudantes ganharam coragem e se juntaram. Foi uma batalha campal. Houve um pandemónio total na Escola. Acho que não houve aulas por um dia ou dois. Não me recordo de ter vindo polícia fardada.
[Fast forward] Logo depois dos acordos de Lusaka que em 1974 declararam fim do colonialismo e estabeleceram o calendário para a indpendência, a FRELIMO enviou para a Escola Industrial 1o de Maio uma nova equipa de direção. [FRELIMO no período antes de 1977 refere-se à Frente de Libertação de Moçambique, não ao seu successor marxista-leninista em que a Frente se converteu partir do seu Congresso de 1977]. O Embaixador Mussagy Jeichande (espero estar a escrever corretamente o seu nome), que de facto só se tornou Embaixador mais tarde, foi o primeiro director moçambicano daquela escola, trazido pela FRELIMO logo depois da sua entrada em Maputo para tomar parte no Governo de Transição conjunto com as autoridades portuguesas. Acho que veio de Bagamoio, um centro educacional da FRELIMO durante a luta de libertação nacional. A direcção era colegial, um "triunvirato" que incluia o Professor Ian Draisman (também espero estar a escrever corretamente o seu nome) e creio que algum outro docente que já lá estava na Escola e não vindo da FRELIMO.
Na Escola Industrial foi estruturado o Grupo Dinamizador (GD), do qual mais tarde fiz parte com outros colegas, embora nunca tenha sido membro do Partido FRELIMO que sucedeu a Frente – ler nos proximos dias Estaca VII. [Grupo Dinamizador era a estrutura de organizaão de base implantada pela FRELIMO em todos os locais de residência, trabalho, e estudo, e que foram mais tarde sucedidos pelas “Células do Partido’ que ainda hoje, na época do multipartidarismo estão enraizadas em muitos desses locais].
[Flash back]. Antes de me envolver com o GD da escola Industrial eu mantinha um activismo de base no meu bairro de residência (Chinhambanine, actualmnte ‘Luís Cabral’), onde houve incidentes interessantes. Depois do 25 de Abril surgiu um grupo de pessoas que começaram a organizar debates politicos. Eles simpatizavam com a FRELIMO, mas percebia-se que não tinham nenhuma ligação organica com ela. Eles tinham a idade dos meus irmãos mais velhos (que nunca se meteram nisso). Mas eu estava sempre lá, a ouvir os debates desse grupo (sempre gostei de estar entre os mais velhos!). Eram discussões teóricas, um pouco estéries, muito intelectuais, e havia muitas querelas a volta de maoismo, marxismo-leninismo, e até havia um que era “especialista” da filosofia de Confúcio, e coisas do género. Um deles tinha uma grande admiração pela Dra. Joana Simeão, e várias vezes se referia a ela como uma mulher linda, inteligente e corajosa.. Tinha estudado no liceu onde ela ensinava. Ele era dos poucos bem instruídos naquel grupo.
Quando se dão os tumultos do “7 de Setembro” de 1974 eu (muito expontaneamente, e quase que instintivamente) dirigi um grupo de jovens que dissuadiu a população de assaltar e queimar as lojas do bairro. Dissemos as pessoas que iríamos necessitar das lojas e deviam ser deixadas intactas. Conseguimos salvar as lojas dos “chineses” e alguns “indianos”, mas a loja do Simões, um colono portugues, não escapou embora ele tenha escapado. O Simões e a esposa e alguns outros seus empregados vindos da metropole até nem eram pessoas más, mas dentre eles havia um que era mesmo muito mau ao ponto de ser fisicamente violento e abusador com as populações. Foi mais por caça a esse sujeito que a população naquele caso não nos acatou. A loja foi assaltada, saqueda e queimada, mas ele já havia sido “evacuado”.
Esse grupo de “miúdos” solidificou-se como um grupo de estudo politico, e actividades culturais e desportivas. Eramos muito activos, e fazíamos os nossos debates na escola primária da “Unidade 5”. Unia-nos também o facto de que nos conheciamos bem das equipas de futebol do bairro onde jogávamos desde a infância. Desinteressei-me dos debates filosóficos dos mais velhos. No nosso grupo dos mais novos começamos a fazer coisas muito práticas como organizer limpezas do bairro (já se começava a sentir o desmoronar dos serviços camarários de Loureço Marques), estudar as cartihas de propaganda da FRELIMO, etc.
O nosso bairro não parece ter tido as redes clandestinas da FRELIMO no tempo colonial. Os irmãos Litsuri (um dos quais foi preso politico da PIDE, a polícia política Portuguesa no tempo colonial) parece que estavam mais ligados as células clandestinas de Chamanculo, Xipamanine e Matola.
A certa altura e de repente, surgiu um outro grupo de “mais velhos”. Não sei como apareceram, mas vinham já com “autoridade” da FRELIMO. Aí surgiram problemas. Nós (no grupo dos “miúdos”) tínhamos visibilidade e estima na população por causa do que tínhamos feito durante as escaramuças do “7 de Abril” (mais tarde as pessoas apreciaram muito que tinhamos ajudado a salcvar algumas lojas). Mas não só éramos “miúdos” (eu tinha 15-16 anos), como também não tínhamos ligação nenhua com a FRELIMO, senão que líamos coletivamente as cartilhas de propaganda da organização.
Tivemos discussões sérias com esse grupo novo dos mais velhos pois eles queriam organizar um Grupo Dinamizador que nos excluisse e nós não entendíamos porquê.
Na esteira desses desentendimentos, um dia foi inventada uma história bizarra de que nós (os “miúdos”) estávamos a organizar um “golpe de estado”. Imaginem! E como se isso não bastasse, mandou-se um “bufo” de alerta a FRELIMO. Ate hoje alguns de nós desconfiamos que foram eles (o grupo de adultos) que inventaram a história do “gople de estado”. Isso já foi depois das escaramuças de Novembro de 1974 quando um grupo de colonos quis tomar a rádio Moçambique e organizar um gople tipo aquele que deu origem a Rodésia do Sul. O “bufo” explorava assim o nervosismo que existia na altura no seio da FRELIMO. E assim um dia quando estávamos reunidos numa das salas da escola da “Unidade 5” lá de Chinhambanine (hoje 'Luis Cabral') apareceu de repente um Jeep com elementos armados das FPLM. Não me recordo se também incljuiam elementos das Forças Armadas Portuguesas mas não vi nenhum indivíduo de raça branca.
Fomos apanhados de surpresa. Cercaram a sala. Mas quando viram que eram “miúdos” creio que não acreditaram na história (quem podia acreditar nisso?!). Não nos fizeram nada, nem me lembro se nos interrogaram seriamente. O químico Orlando Nhantumbo (que estudou na “General Machado” quando eu estava na 'Joanquim de Araújo'), o Alberto Ribeiro (meu primo), e outros dessa época lá no Chinhambanine que me recordem ou corrijam se se lembram dos detalhes. Os guerrilheiros das FPLM foram-se embora sem nos molestarem. Mas deu para o susto. Desliguei-me do bairro e comecei a concentrar as minhas actividades na Escola Indutrial. O grupo dos “filósofos” também há muito que tinha perdido relevância e se dispersado.
[Back to main track] Entre os colegas do GD da Escola Industrial estava o Castigo Langa, a quem tratávamos carinhosamente por ‘Camarada Chefe’, pois ele era o Secretário. Inicialmente eu era o mais novo da equipa do GD, mas logo depois juntou-se um outro “irrequieto” ainda mais novo de todos, o Joselito Mucache. Havia GDs em outras escolas, e havia reuniões inter-escolas regulares. A certa altura ao nível da cidade de Maputo a coordenação dos GDs das escolas era feita por uma equipa baseada na sede da FRELIMO (na Avenida de Angola) na qual estavam o Dr. Ivo Garrido (médico e que mais tarde se tornou Ministro da Saúde) e o Engenheiro Narcisio Matos (que mais tarde se tornou Reitor da UEM). Havia um outro sujeito muito sensato e afavel de cujo nome nao me recordo. Ele era funcionario permanente da sede da FRELIMO, e mantinha os contactos dia-a-dia connosco, enquanto o Dr. Ivo Garrido e o Engenheiro Narciso Matos vinham para as reunioes mensais de coordenação.
A partir de uma certa altura eu fiquei Responsável de Produção no GD da Escola Industrial. Na “hierarquia” do GD esta era uma posição mais para baixo. As posições de maior relevo eram as de “Mobilização” e de “Informação e Propanga”, as quais nunca acedi. Mas a de produção encaixava bem nos meus “talentos”, e eu exerci-a com entusiasmo. Também era politicamente menos controversa, e permitia-me misturar-me bem com outros estudantes. Vale aqui dizer que nós do GD éramos muito puritanos, algumas vezes mais FRELIMO do que a própria FRELIMO, e alguns estudantes mesmo nos detestavam e achavam isso ridículo. Mas a posição de Responsável de Produção era relativamente menos problemática.
[Parenthesis] A propósito do puritanismo daqueles anos, lembro-me de uma situação que se viveu a volta da questão das mini-saias e maquilhagens. As alunas eram “desaconselhadas” de se apresentarem a escola vestidas dessa maneira e com maquilhagens. O fenómeno não era só na escola, nem sequer começou lá, mas todos fomos apanhados na malha. Nas ruas os soldados das FPLM paravam e incomodavam as meninas e senhoras por causa disso. Mas na nossa Escola Industrial tivemos umas duas senhoritas que simplesmente nessa matéria mandaram o GD “a fava”. Nao vou mencionar os nomes delas para nao lhes embaraçar. Paradoxalmente elas eram colaboradoras assíduas do GD.Trabalhavam muito no “Jornal de Parede” da Escola, que era produzido pelo GD. Eram alunas das Artes Visuais e sabiam desenhar e pintar muito bem, talentos esses que eram muito importants para o Jornal. Não sei se o engajamento delas no Jornal de Pared era por convicção ou se era para amortecer as pressões, ou ainda se foram mesmo postas la' como "punição" para lhes "reeducar" das suas maneiras de ser. Mas quanto a vestimenta e maquilhagem, esqueça. Elas não tiravam mesmo. A mini-saia era das bem curtas, e a maquilhagem era mesmo bem forte. Borboletas autenticas.
Mais tarde, em 2003 conheci e trabalhei com a filha de uma delas sem saber. Em conversa-puxa-conversa acerca do passado comigo e com a mãe, a senhorita fez a ligação, e eu e a mãe dela ficamos curiosos em nos encontrarmos. A filha organizou um almço, e quando nos encontramos rimo-nos até cair de lado. Elas havim nos dado uma licão na vida!
[Back to main track] A tarefa do Responsável de Produção era coordenar com os professors e facilitar a mobilização dos estudantes a participarem em actividades de produção em benefício da escola, tanto dentro como fora dela, aplicando e aperfeiçoando os conhecimentos técnicos adquiridos nas oficinas da Escola, e no processo aprendendo dos trabalhadores experientes na prática e ao mesmo tempo passar-lhes alguns conhecimentos teóricos. Mas o departamento da produção era quase um “faztudo” de tudo aquilo que implicava organizar actividades manuais em massa.
Uma das coisas em que nos especializamos foi na organização de limpezas rápidas de lugares como estádios e praças depois de grandes eventos públicos. Por exemplo, sempre que havia os longos comícios do Samora Machel no Estádio da Machava ou na Praça da Independência, no fim nós ficávamos atrás e montávamos um cordão de estudantes que no caso do Estádio da Machava descia a partir das bancadas topo recolhendo à mão cada pedaço de lixo e metendo em sacos, e ir descendo até ao centro do relvado. Em menos de uma hora todo o Estádio da Machava ficava completamente limpo, pronto para receber a rega em preparação para jogos oficiais que em alguns casos eram no dia seguinte.
Houve um tempo em que organizamos brigads de limpeza da cidade de Maputo em apoio aos serviços da Câmara Municipal na altura presidida pelo falecido Alberto Massavanhane. Lembro-me de ter ido com o Professor Ian Draisma, um dos Directores da escola para falarmos e orgnizar esse tipo de actividade com Presidente Massavanhane e a sua equipa de funcionários e técnicos. Outros estudantes entravam em outras áreas da Câmara, como os serviços de manutenção e reparação de veículos e outros equipamentos dos serviços de salubridade urbana. Várias vezes fui ao campo dos trabalhadores da salubridade sito nas bandas do Xipamanine em conexão com estas actividades.
[Fast forward] O nosso papel inicial na implementação das decisões de “8 de Março”, aquele em que eu participei na qualidade de membro do GD, foi ajudar a seleccionar os melhores de entre nós que pudessem ir continuar os estudos ou desempenhar as várias tarefas de gestão da produção nas fábricas e organismos públicos, e outros ainda para os vários ramos das forças de defesa e segurança. Isto decorreu durante algumas semanas ou mesmo meses depois do anuncio da decisão.
Depois de termos feito essa parte do nosso trabalho, fomos mandados para os nossos destinos. Eu que tinha feito o curso de eletrotechnica até a 11a Classe (embora que a “pé-coixinho”), fui alocado à Central de Comunicações e Sinalização dos Caminhos de Ferro de Moçambique Sul. A central funcionava numa sala do edifício da Estação Central de Maputo, alí onde agora é um lugar cultural do Café CFM (nao sei se assim se chama). Da central fazia-se o comando de sinalizacão e monitoria de todas as linhas dos CFM Sul, e ainda as comunicações telefónicas com as estações e a Administração da empresa. Encontrei lá e trabalhei com dois operários que me ensinaram muito. Os engenheiros e outros técnicos médios portugueses haviam deixado o país (quando lá chdeguei ainda havia um técnio médio português que saiu poucas semanas depois, de regresso a Portugal).
Eu sabia de esquemas de redes e equipamentos no papel, mas quando ia às gavetas da central não via patavina e aprendi muito com aqueles operários. Eles também aprenderam algumas coisas do que eu sabia dos papéis (um deles até já fazia o ensino nocturno creio que na Escola ou no Institutio Industrial de Maputo), e a coisa funcionou muito bem. Nos seis meses ou pouco mais em que eu fiquei lá não tivemos um único acidente ferroviário em todas as linhas dos CFM sul (pelo menos que eu me recorde; estamos em 1977), exceptuando discarrilamentos em situações de chuva e ouros defeitos de linha. Nada a ver com falhas de commando e sinalização a partir da central. Aliás, quando eu cheguei lá os operários já haviam estabilizado e assegurado a funcionalidade dos sistemas depois do primeiro êxodo dos técnicos portugueses, e eles nunca haviam tido nenhum acidente de vulto. Portanto, o meu papel lá foi limitado e foi mais de aprendizagem.
Mas só fiquei lá cerca de seis meses ou um pouco mais. Fui tirado quando já estava a gostar e a electrotecnia que havia aprendido na escola começava a fazer sentido. Havia ido lá com um certo remorso pois preferia que tivesse sido um daqueles que foram seleccionados para seguir as engenharias na UEM. Hoje seria um engenheiro electrotécnico (embora duvide que o Tibana eletrotécnico pudesse ser tão bom como o Tibana Economista em que mais tarde me transformei).
Dalí fui tirado para uma coisa que não só não tinha absolutamente nada a ver com a minha formação ou com o que eu quisesse fazer com a minha vida. E foi uma coisa completamente inesperada. Fui chamado para a sede da FRELIMO na Avenida de Angola, para ir ter com o Zacarias Kupela, que era o chefe da junventude da FRELIMO. Ele disse-me que eu havia sido seleccionado para ir a Roménia frequentar um Curso de Formação da Juventude por um período de três meses na Secção da Juventude da Academia Stefan Georgiu do Parido Comunista da Roménia. Isto em Setembro de 1977. Seria a minha primeira viagem ao estrangeiro. Nem a Swazilandia eu havia pisado antes.
Soube mais tarde que a trama toda foi orquestrada pela Ministra da Educação e Cultura na altura. Diz-se que depois de toda a lufa-lufa do processo “8 de Março” terminar ela perguntou as pessoas aonde é que estava aquele rapaz “irrequieto” que ela uma vez tinha visto na Escola Industrial. Mandou que me fossem tirar da Central de Comunicações e Sinalização dos CFM para me meter nesse tal programa da Juventude para a Romenia. Assim num programa aparentemente da OJM da FRELIMO, com o Partido Comunista Romeno pelo meio, tudo foi pago pelo Ministério da Educação e Cultura.
Claro que nessa altura, apesar de “irrequieto”, não fiz perguntas sobre aonde é que isto tudo levaria um rapaz que estava a ganhar um gosto crescente e a começar a entender melhor a electrotecnia, e a gostar de viver entre as gavetas e armários cheios de equipamentos cintilates e tilintantes. Era uma aventura que parecia valer a pena abraçar. O resto se veria a frente, embora ainda tivesse preferido ingressar na UEM!
Viajamos para a Romenia eu e mais um outro colega meu de curso de electicidade (o Abílio Mondlane). Ele era operário e nos cruzamos no curso nocturno na escola industrial (houve uma fase em que a electrotecnia da 10 e 11a so' era ensidana a noite - creio que era para acomodar a disponibilidade de professores, que eram poucos). Mais tarde o Abilio Mondlane tornou-se um empresário na área.
Chegados ao aeroporto de Mavalane para a partida, encontramos e viajamos também com dois oficiais da Organiozação dos Trabalhadores Moçambicanos (OTM), uma “Organização Democrática de Massas” da FRELIMO como a OJM. A bordo de um Antonov, pelo caminho pegamos uma Angolana, Tanzanianos, Serra Leones, e outros africanos da francofonia. Dentre esses outros africanos já havia jovens estudantes e mesmo professores universitários. Mais uma vez eu era o mais novo de todos.
(Continua na Estaca III – Bucareste, na Stefan Georgiu e com os filhos dos Chefes)
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