A Renamo, na cidade de Nampula, já reagiu ao anúncio do apoio ao candidato Paulo Vahanle, manifestado pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM), no âmbito da realização da segunda volta da intercalar da cidade de Nampula. Entende a Renamo que o apoio do MDM não é obra do acaso, mas sim resulta da aná- lise que o partido de Daviz Simango fez em relação ao melhor programa de governação que vai à votação da segunda volta. Diz a Renamo que o programa apresentado pelo seu candidato, Paulo Vahanle, afigura-se como o melhor no que concerne à necessidade de resgate da boa e aprazível imagem da cidade de Nampula. “Não é um apoio que aparece ao acaso. O MDM avaliou o manifesto eleitoral, cujo tema central é de desenvolver a cidade de Nampula”, anotou Issufo Ulane, em reacção ao apoio manifesto, esta terça-feira, pelo MDM. De acordo com as palavras de Ulane, o facto de o MDM ter manifestado o seu apoio é uma convicção de que a vitória é certa. “Outros partidos devem seguir o exemplo para evitar que o povo venha a cair na escravidão”, acrescentou, apelando a outros concorrentes da primeira volta a alinharem na decisão do MDM. Concorreram na primeira volta, além da Renamo, Frelimo e MDM, os candidatos do Pahumo, Filomena Mutoropa e ainda do partido AMUSI, Mário Albino. Para a segunda volta da eleição intercalar no município de Nampula, inicia, dentro este sábado, a campanha eleitoral, processo que vai durar 10 dias. A segunda volta está marcada para 14 de Março.
O presidente do Partido para a Paz, Democracia e Desenvolvimento (PDD), Raul Domingos, concedeu uma entrevista ao SAVANA onde abordou os consensos alcançados no diálogo político entre o presidente da República, Filipe Nyusi, e da Renamo, Afonso Dhlakama. Sobre o capítulo militar, o antigo número dois da Renamo disse que a negociação será bem sucedida se o processo partir do princípio de que a própria Frelimo é um partido armado que também precisa de ser desarmada. A par de muitos partidos extra-parlamentares, o PDD desapareceu da esfera política nacional. O que é feito da sua organização? O PDD está numa fase de travessia de deserto. Isso acontece porque estamos num cenário em que o cidadão normal não consegue satisfazer suas necessidades básicas. Logo, a maioria dos nossos membros não têm capacidade financeira para contribuir para financiamento da logística do partido. São poucos membros que têm capacidade de contribuir. É desses que o partido sobrevive e paga suas contas básicas. Por causa da falta de meios, há zonas do país em que não há praticamente nenhuma actividade do PDD, mas quando escalamos essas zonas para actividades políticas sentimos que temos muito apoio. O PDD foi criado no meio de muita euforia e chegou a ser designado como terceira força política. Com o tempo ficou fragilizado e o recém criado MDM ocupou o espaço de terceira força. O que falhou? Iniciámos o nosso projecto político com muito gás. A nossa pujança fez com que as principais forças polí- ticas, sobretudo a Frelimo, direccionassem a sua artilharia para nos derrubar. Quando surgimos, algumas correntes pensaram que a nossa ideologia seria próxima da Frelimo, mas com o tempo viram que estavam erradas. Parte das pessoas com esse pensamento estava dentro da própria Frelimo. A partir desse momento começaram a combater-nos, perseguiram nossos membros, fecharam as nossas fontes de arrecadação de apoios e nas eleições ordenaram os órgãos eleitorais para não nos deixar chegar ao parlamento porque tinham medo de nós. Outra situação que saiu a desfavor do PDD é que estamos num sistema em que só se considera vencedor quem tem a maioria. Temos o MDM na mesma situação. Porém, singrou e chegou ao parlamento... Não tenho ciúmes do MDM por ter entrado no parlamento, mas é importante frisar que o MDM parte do município da Beira, numa situação em que o seu líder tinha sido rejeitado da Renamo numa altura em que o seu desempenho na governação municipal era elogiado. O MDM surgiu dum território em que o seu líder tinha muita simpatia das pessoas e isso influenciou eleitores Raul Domingos traça linhas para o capítulo da desmilitarização da Renamo de outras regiões do país. O PDD surgiu num cenário totalmente diferente. ...Os órgãos eleitorais não impediram que o MDM elegesse deputados para a Assembleia da República? O MDM foi um partido que nunca deixou claro o seu posicionamento. No início não mostrou o seu rumo, a sua linha ideológica. Isso fez com a Frelimo ignorasse esta organização e de forma sorrateira foi elegendo deputados e conquistando municípios. Agora que a Frelimo descobriu que o MDM é um perigo sua hegemonia política veja o que está a acontecer. A própria revisão da lei eleitoral não foi por acaso. Pacote de descentralização Por falar dos consensos alcançados entre Nyusi e Dhlakama no capítulo de descentralização. Há quem diga que a proposta vai beneficiar os fortes e fragilizar os fracos. Concorda? Diria que é um acordo que vai dar mais força aos partidos em detrimento dos indivíduos. Os pequenos partidos podem se beneficiar destes acordos desde que trabalhem no sentido de sensibilizar o parlamento a mudar o sistema de atribuição de assentos ao nível da Assembleia da República, provincial e distrital. O método que se utiliza, no nosso sistema, para a conversão de votos em assentos não é justo. Veja que nós usamos o método D’Hondt [um sistema que consiste no cálculo e distribuição dos mandatos pelas listas concorrentes] que antes vinha com barreira de 5%, mas que foi eliminada devido à pressão da sociedade. Contudo, enquanto o método de D’Hondt prevalecer, tudo continua na mesma, visto que o D’Hondt já em si é uma barreira. A luta dos pequenos partidos políticos neste novo formato de eleição deve ser na mudança do D’Hondt para outros sistema mais simples. Só assim é que os partidos pequenos chegarão aos órgãos legislativos. Será que a remoção do método do D’Hondt é, por si só, bastante para os pequenos partidos conseguirem assentos nos órgãos legislativos? Acho que também precisamos de alterar as modalidades de acesso aos fundos públicos. Os meios materiais são importantes para a mobilização. Infelizmente, o método usado para aceder fundos públicos da parte dos partidos políticos é discriminatório. A lei só permite o acesso a fundos públicos aos partidos que têm representação parlamentar. Os outros são marginalizados. Isto é, os membros do PDD pagam impostos para sustentar a Frelimo, Renamo e MDM. Isso é promover injustiça e discriminar os mais fracos. Sou da opinião de que o Estado deve financiar os partidos de acordo com o número de votos obtidos. Em 1999/2000 liderou a equipa que negociava com o governo a indicação de governadores nas províncias onde a Renamo venceu. Porém, o diálogo não avançou e o senhor foi expulso da Renamo. O que falhou? O meu entendimento é de que Joaquim Chissano avançou para negociações com a Renamo sem abordar o seu partido. Porém, como estava ciente de que não venceu as eleições, tomou a iniciativa de negociar, secretamente, com a Renamo para que abandonasse as reivindicações em troca de algumas concessões. Nessa altura, a Renamo indigitou-me para fazer os contactos e a matéria levada à mesa do diálogo foi a possibilidade de se indicar governadores da Renamo nas províncias que o partido venceu, incorporar forças da Renamo na polícia e no SISE. Porém, isso não se materializou porque, quando a negociação decorria, houve um encontro entre os presidentes Chissano e Dhlakama em Gaberone (Botswana) onde os dois chegaram ao entendimento sobre a forma como deveria ser feita a despartidarização da polícia, SISE e da administração pública. Porém, nada aconteceu e a Frelimo continua a dominar o Estado na sua plenitude. O que falhou para a não indicação dos governadores da Renamo em 1999? Quando a negociação decorria, o país foi assolado por cheias na região sul. Isso fez com que o governo dispersasse atenções e o diálogo político ficou prejudicado. Os ritmos dos encontros reduziu. Tomaz Salomão que estava a negociar comigo passou a integrar uma equipa interministerial de assistência às comunidades afectadas. Os atrasos no diálogo desagradaram Dhlakama e este veio ao público desvendar o segredo e anunciar à nação que decorriam negociações com o governo e que num breve trecho a Renamo iria indicar governadores nas províncias onde venceu. Como o presidente Chissano não tinha informado o seu partido que estava a negociar com a Renamo, viu-se encurralado e orquestrou uma estratégia para sair do cerco. Foi daí que chamou a imprensa para informar que não havia nenhuma negociação com a Renamo, Raul Domingos é que pediu encontro com o governo, afirmando que estava a ser perseguido por Dhlakama e que queria apoio do executivo. Chissano disse também que quando fui recebido por Tomaz Salomão, em vez de falar da perseguição, propus que me desse 500 mil dólares, um milhão de dólares para a Renamo e um subsídio de 10 mil dólares mensais ao Dhlakama. Só assim é que a Renamo aceitaria os resultados e todo o dossier eleitoral seria fechado. Na verdade, aquilo pareceu-me um conluio entre os presidentes Chissano e Dhlakama para me expulsar porque, em condições normais, numa situação daquelas, o presidente Dhlakama deveria desconfiar do discurso do seu adversário e dar o benefício de dúvida a Raul Domingos. Agiu de forma contrária. Deu razão ao inimigo e sacrificou o filho da casa. Só que, depois disso, o próprio Dhlakama tentou liderar as negociações que acabaram não dando em nada porque, com a expulsão de Raul Domingos, a Frelimo ficou mais forte porque conseguiu dividir a Renamo O modelo que negociavam depois das eleições de 1999 é o mesmo que vai à Assembleia da República resultantes dos consensos entre o presidente da República e o líder da Renamo? Não. Em 2000 estava-se a negociar um acordo político para indicar governadores nas províncias em que a Renamo venceu eleições. Agora está-se a falar da descentralização. Em 1992, o governo e a Renamo assinaram o acordo de Roma, em 2014 acordo de cessação das hostilidades. Agora estamos em tréguas. O que está a faltar para Moçambique ter uma paz definitiva? Em 2012, quando celebrámos 20 anos de paz, no meu discurso elenquei um conjunto de situações que pudessem perigar a paz. Nessa altura, até me apelidaram de pessimista. Nessa cerimónia eu disse que havia questões urgentes que deviam ser resolvidas sob o risco de voltaremos ao conflito. Não previ como profeta, mas como uma pessoa que conhece as coisas. O acordo de Roma só seria pleno se se respeitasse certas condições mormente: o diálogo permanente entre as partes, a inclusão política, económica e social e a reconciliação nacional que previa o convívio entre moçambicanos. Essa inclusão nunca aconteceu, a separação entre a Frelimo e a Renamo era clara, o diálogo morreu com o fim do consulado de Chissano. Com a chegada de Guebuza no poder, as coisas pioraram e criaram-se condições para o conflito. O acordo de cessação das hostilidades de 05 de Setembro de 2014 foi superficial, visava apenas garantir as eleições e transmissão do poder de Guebuza para Nyusi sem o som dos tiros. Os acordos que os nossos líderes assinam não são de boa-fé. São acordos para fins imediatos e resolver determinadas situações. O diálogo entre Nyusi e Dhlakama não corre o risco de seguir mesmo rumo e fracassar no futuro? Acredito que o presidente Nyusi é uma pessoa que quer paz, é uma pessoa da nova geração que acredita numa competição e convivência democrática. Porém, atrás dele há uma Frelimo dura que tem o Estado como sua propriedade privada. A Frelimo também deve ser desmilitarizada Alcançados os consensos no capítulo da descentralização, agora avança-se para questões militares. O que pensa desta fase do processo? Vai dar certo se a negociação partir do princípio de que a própria Frelimo é um partido armado que também precisa de ser desarmada. A Frelimo tem Unidade de Intervenção Rápida (UIR) como o seu braço armado, aquela força actua à margem do Constituição e obedece as ordens do partido no poder. É esta força que é usada em todas as missões que visam salvaguardar os interesses da Frelimo. Hoje, o exército que temos não é exército. É um conjunto de homens da forças da Frelimo e da Renamo que se juntaram em 1994. O verdadeiro exército da Moçambique é a UIR. Esta força tem todo o tipo de armamento, incluindo os carros de combate. O exército não tem nada porque há desconfianças da fuga de informação. A Frelimo também deve aceitar ser desarmada. Como? Integrando os homens da Renamo nas hierarquias mais altas da polícia e do SISE para além da sua recolocação no exército. Tudo depende da Frelimo. Se a Frelimo desfazer-se do seu exército a Renamo também fará o mesmo. Caso contrário continuaremos neste ping pong. Toda a negociação vai ter de ser feita de forma a que os dois se desarmem. Se isso não acontecer garanto que nunca teremos uma Renamo totalmente desarmada. Eu estive dentro da Renamo, falo com propriedade. Na verdade isto acontece porque os acordos de Roma estão a ser violados constantemente pelo governo da Frelimo. Em 1992, já tínhamos definido que os altos dirigentes da Renamo, bem como o seu património, deviam ser protegidos por uma força especial indicada pela Renamo, mas treinada e equipada pelo governo.
Págs. 4 e Centrais TEMA DA SEMANA 2 Savana 02-03-2018 TEMA DA SEMANA Depois de, ano passado, ter visto goradas as suas pretensões de entrar na estrutura accionista do Moza Banco, que na altura estava em “ hasta pública”, no âmbito da sua recapitalização, o Arise Fund, tal como vaticinou o SAVANA, está no processo de se tornar num dos accionistas de referência do banco detido maioritariamente pela Kuhanha, a sociedade Gestora do Fundo de Pensões do Banco de Moçambique (BM). A entrada do Arise Fund na estrutura accionista do Moza foi anunciada, esta terça-feira, 27, através de um comunicado de imprensa divulgado pela Kuhanha. Na nota, a sociedade Gestora do Fundo de Pensões do BM não especifica a quota do Arise Fund, referindo apenas que o novo investidor detém uma posição minoritária. O SAVANA sabe, no entanto, que o fundo Arise deverá deter entre a 30 a 35% do capital do banco, mantendo a Kuhanha uma posição maioritária, ligeiramente, acima de 50%. Os nú- meros exactos serão determinados por uma auditoria “due diligence” às contas do Moza e que vai ser iniciada, segundo apurámos, nos próximos dias. De acordo com o comunicado, nos termos do acordo entre as duas partes, espera-se que o Moza venha a aglutinar o Banco Terra (BTM), uma instituição bancária que tem na sua estrutura accionista instituições participadas pelo Arise Fund, nomeadamente o Rabobank holandês. O nosso jornal apurou que esta acção faz parte do memorando de entendimento assinado com o Arise a 5 de Fevereiro corrente, mas os detalhes ainda não foram acordados com os outros accionistas do BTM, nomeadamente, o Gapi e o Montepio Geral de Portugal. Em Assembleia Geral a realizar-se a 15 de Março corrente, os accionistas do BTM vão deliberar sobre esta questão. Para a administradora delegada da Kuhanha, Felicidade Banze, o memorando de entendimento com a Arise Fund abre espaço para a construção de um banco cada vez mais rentável e sustentável, abrindo caminho para se afirmar como a terceira instituição de crédito do país, logo a seguir ao Millennium BIM e o BCI. O CEO do Arise Fund, Deepak Malik, o “cérebro” da operação, considera que as sinergias oferecidas pela parceria colocarão o Moza em melhores condições para servir os moçambicanos e promover a inclusão financeira. Considerado como um dos líderes em investimentos no continente africano virados para às pequenas e médias empresas (PME), o Arise Fund integra três investidores, nomeadamente, o Rabobank [o 2º maior banco da Holanda, em número de activos], o Norfinance [o braço fi- nanceiro do Norfund, o fundo norueguês de investimento em países em desenvolvimento] e o FMO [Banco holandês de desenvolvimento] e administra, actualmente, activos que excedem USD 660 milhões. Entre as suas operações de sucesso conta-se a participação no Crane Bank do Uganda e no CAL Bank do Ghana. Um forte investidor inicialmente preterido a favor da Kuhanha O Arise Fund é o mesmo grupo que, em Março de 2017, aquando da primeira fase da recapitalização do Moza, estava associado à Moçambique Capitais SA (MC), para a aquisição da instituição que se afirmou como o primeiro banco, verdadeiramente moçambicano, fora da esfera Frelimo. A proposta da MC foi chumbada, liminarmente, pelo banco central, como anteriormente tinha sido rejeitada uma proposta (Setembro de 2016) para uma associação com o fundo Luminar Finance baseado em Zurique, na Suíça. Num exclusivo ao SAVANA, esta semana, o presidente do Conselho de Administração (PCA) da MC, Praksh Ratilal, diz que só as entidades oficiais é que podem responder porquê a proposta da MC com o Arise não foi respondida e considera irónico que hoje isso aconteça. Até 30 de Setembro de 2016, quando o BM intervencionou o Moza, a Moçambique Capitais era o accionista maioritário do banco, com 51% contra 49% do português Novo Banco. Com a venda do Banco, ano passado, à Kuhanha, num processo polémico bastante criticado por, alegadamente, o banco central ter sido árbitro em causa própria, a sociedade gestora do Fundo de Pensões do BM passou a controlar 80% da instituição, tendo a Moçambique Capitais e o Novo Banco ficado com 10% cada. Quando iniciou o processo da recapiReviravolta no Moza Estrutura accionista aberta a novos sócios Por Armando Nhantumbo V inte e quatro horas depois do anúncio do memorando de entendimento entre e Kuhanha e o Arise Fund, o PCA da Moçambique Capitais aceitou conceder, ao SAVANA, aquela que foi a primeira entrevista depois da toda a celeuma sobre o Moza. Prakash Ratilal diz que a entrada do Arise Fund é uma boa notícia porque vai conferir maior sustentação financeira às transacções e maior solidez na gestão e no controlo das suas operações. Contudo, o economista, embora bastante cauteloso nas respostas, deixa recados nas entrelinhas, sobre a forma como foi conduzido o processo que determinou a perda da posição maioritária da MC no Moza. E sublinha que o silêncio da Moçambique Capitais não significa concordância com o que se passou. Siga a entrevista. O que acha da entrada do Arise no capital do Moza? É algo muito bom. Arise é um grande grupo bancário, com experiência em operar em África. Ela integra o RaboBank, um dos maiores bancos internacionais, com sede na Holanda. Integra também a Norfund da Noruega, bem capitalizado e com longa experiência de operar em Moçambique. Também integra o FMO que é o banco desenvolvimento holandês. A participação do Arise no corpo accionista é uma boa notí- cia para o Moza Banco. Irá conferir maior sustentação financeira às transacções e maior solidez na gestão e no controlo das suas operações. Isso é bom para o próximo futuro de Moçambique em que se podem antever grandes investimentos. Os mais de 400 accionistas da Moçambique Capitais só têm razão para estarem felizes. A simples entrada do Arise no capital do Moza valorizou as suas acções, valorizou o seu investimento no banco. E, irá valorizar-se ainda mais no tempo. Em 2008, os accionistas da Moçambique Capitais juntaram os seus capitais para fundar o Moza Banco. O crescimento do Moza foi visível e sempre auditado. Esse crescimento foi interrompido em 2016. Com a entrada do Arise, os nossos accionistas vêm o seu sonho renascer. Embora com uma participação menos relevante, continuam a participar num banco que certamente vai voltar a situar-se no lugar cimeiro no sistema bancário moçambicano. Este Arise Fund não é o mesmo que se tinha associado à Moçambique Capitais aquando da 1ª fase da recapitalização do Moza, em Março do ano passado? É irónico, mas é verdade. Porquê então não foi viabilizada naquela altura? A proposta conjunta da Moçambique Capitais com o Arise nunca nos foi respondida. A pergunta deve ser dirigida às entidades oficiais. Desde que houve intervenção do banco, a Moçambique Capitais permaneceu silenciosa. Alguma razão? A situação de liquidez do banco agudizou-se ainda mais após a intervenção e mais ainda após a liquidação do Nosso Banco. Isto requereu assistência de emergência de montantes avultados, que mais tarde veio a induzir avultados aumentos de capital. Por isso, no momento conturbado, era nosso dever, enquanto accionista, não complicar ainda mais o dia-a-dia do banco. Tendo em vista a defesa dos interesses dos clientes e dos depositantes do Banco, a Moçambique Capitais deliberou que não era do seu interesse, durante o período de intervenção, polemizar ou fazer declarações controversas. Quando poderemos conhecer a vossa versão do que se passou com a intervenção? Os accionistas da Moçambique Capitais conhecem o que se passou, como se passou. Tudo foi mapeado com detalhe. Institucionalmente, a Moçambique Capitais não se irá pronunciar, pelo menos por enquanto. Receia algo? Recear, como assim? A Moçambique Capitais é formada por gente trabalhadora e honrada. Há 10 anos, os accionistas decidiram juntar o pouco que tinham e, num processo limpo, fundaram, lideraram e desenvolveram o Moza Banco, em parceria com um banco estrangeiro. A crise de confiança que o país vive há 3 anos, abateu-se sobre todo o sector empresarial e o Moza, que não teve possibilidade de aumentar capital, fragilizou-se. Não ter capital não é crime. Ainda antes da intervenção foi apresentada uma proposta de capitalização. Mas, outros interesses falaram mais alto. Receio? Jamais! O silêncio da Moçambique Capitais não significa concordância com o que se passou. Apenas reflecte uma atitude de contenção e de defesa daquilo que, em cada momento, os órgãos da sociedade consideram ser do interesse dos seus accionistas. Neste momento, o mais importante é que o Moza Banco está estabilizado e, com a entrada do Arise e do Norfund, que são players de dimensão mundial, o banco se tornará ainda mais sólido e mais sofisticado, em termos de gestão, de controlo e de financiamento à economia nacional. “Outros interesses falaram mais alto” Prakash Ratilal, PCA da Moçambique Capitais: talização do Moza, o BM tinha dado dois meses, contados de 23 de Janeiro de 2017, para que os accionistas do Moza injectassem dinheiro no banco. Vencido o chamado período de direito de preferência, o Banco Central colocou o Moza em “hasta pública”, que terminou com a detenção maioritária da Kuhanha. O valor da oferta foi determinado por apuramento de contas do banco. Na entrevista desta quarta-feira, ao nosso Jornal, o PCA da Moçambique Capitais lembra que, antes mesmo da intervenção, foi apresentada uma proposta de capitalização. “Mas, outros interesses falaram mais alto” desabafa Prakash Ratilal. Mudanças à vista A entrada do Arise Fund na estrutura accionista da Kuhanha, segundo apurámos, vai abrir caminho para nova diversificação das acções no Moza, evitando a sempre criticada concentração do risco num único accionista. Uma das possibilidades é a dispersão de capital em bolsa, abrindo-se a possibilidade de a MC, por essa via, aumentar a sua participação passando a Kuhanha (conotada com os interesses do banco central), a uma posição minoritária. Em privado, a transformação do Moza numa entidade de facto privada (como era de início), é um dos objectivos do Banco Mundial e do FMI. Segundo apurámos, durante o processo negocial, Malik enfatizou o interesse do Arise trabalhar com a componente privada do banco, mas a sua percepção foi acolhida com frieza por parte dos representantes conotados com os interesses do Estado (banco central e fundo de pensões), uma indicação de que continuam as reservas em relação à direcção da MC. O BM intentou uma acção de contravenção a todos os representantes da MC nos órgãos sociais do Moza banco à data da intervenção em 30 de Setembro de 2016. O Gapi, uma instituição de crédito virada para o mundo rural e que é accionista do BTM, pode vir igualmente a integrar a estrutura de capital do Moza. Apesar da posição minoritária, o Arise quer uma posição de influência nos órgãos de direcção do Moza, nomeadamente no seu Conselho de Administração. Foi-nos explicado que João Figueiredo, o actual PCA, tem o seu cargo a prazo, podendo a breve trecho ser substituído, quando se formalizar a entrada do Arise Fund. Um dos nomes apontados para PCA do banco é o de Manuel Aranda da Silva, que ocupa posição idêntica do Banco Terra. Aranda da Silva é economista, pertenceu ao governo de Moçambique na presidência de Samora Machel, ocupando depois uma posição de liderança no PMA (Programa Mundial da Alimentação). TEMA DA SEMANA Savana 02-03-2018 3 C laramente uma das grandes cruzes nas costas do Governo moçambicano na comunidade internacional, o dossier dívidas ocultas foi incontornável na visita que, durante quatro dias, o presidente moçambicano efectuou, esta semana, à Confederação Suíça. Foi durante um encontro que visava o fortalecimento das relações bilaterais e multilaterais, que culminou com a assinatura de diversos acordos para o reforço da cooperação, que o presidente da Confederação Suíça, Alain Berset, mostrou o seu alinhamento com outros parceiros de cooperação e o Fundo Monetário Internacional (FMI), que exigem a clarificação das dívidas ocultas. Alain Berset deixou claro ao estadista moçambicano que é preciso que clarifique a questão das dívidas ocultas para o país voltar a beneficiar de apoio financeiro para o Orçamento do Estado. Suíça é um dos países que cortou o apoio directo ao Orçamento do Estado devido à descoberta das dívidas ocultas, contraídas ao arrepio da legislação, durante a administração Guebuza. E, diante do estadista moçambicano, Berset exortou para que se esclareça o assunto para a retoma do apoio. Na sua resposta, politicamente correcta, Nyusi manifestou a “vontade” de clarificar o assunto, incluindo a reestruturação da dívida. É preciso sublinhar que o discurso de “vontade” não é novo. Desde que despoletou o escândalo das dívidas ocultas que Nyusi vem reiterando “vontade” do seu executivo em esclarecer o caso, o que a prática vem desmentido. A Procuradoria-geral da República (PGR) ainda não publicou o relató- rio completo da auditoria às dívidas ocultas, que tinha prometido fazer até Setembro de 2017. Num comunicado de 22 de Fevereiro último, o Ministério da Economia e Finanças anunciou que o ministro Adriano Maleiane irá se reunir, a 20 de Março corrente, em Londres, com os credores das dívidas ocultas, onde uma vez mais o tema da reestruturação estará na mesa para tornar a dívida sustentável. Nyusi confrontado com dívidas ocultas Suíça quer esclarecimento Entretanto, o Centro de Integridade Pública (CIP), o Instituto de Estudos Sociais e Económicos (IESE), o Observatório do Meio Rural (OMR) e a Fundação Mecanismo de Apoio à Sociedade Civil (MASC) divulgaram um comunicado, esta semana, repudiando a postura do Governo. Para aquelas organizações da sociedade civil, antes da reestruturação da dívida, exige-se prestação de contas, internamente, e responsabilização dos indivíduos envolvidos na contratação dos empréstimos que empurraram o país à actual crise. Enquanto isso, os analistas do Economist Intelligence Unit (EIU) dizem esperar que o FMI não reate o financiamento a Moçambique nos próximos quatros anos (2018-2022), por continuar a ser encarado como um país não transparente. Ainda em Genebra, capital da Suíça, Filipe Nyusi visitou a sede da ONUSIDA onde agradeceu o apoio desta instituição no combate ao HIV, porque o país chegou a ressentir-se do corte do financiamento por parte dos doadores divido às dívidas ocultas. Nyusi disse ter ficado desesperado, pois devido à suspensão do apoio, o Estado moçambicano ficou sem capacidade para aquisição de anti-retrovirais. Um dos momentos mais altos da visita de Filipe Nyusi à Suíça foi a sua distinção como Doutor Honoris Causa em Relações Internacionais pela Escola de Diplomacia e Relações Internacionais de Genebra, um evento efusivamente saudado em Moçambique, para além de ter discursado na abertura do Conselho dos Direitos Humanos das Nações Unidas. (Redacção) Filipe Nyusi, presidente de Moçambique e Alain Berset, presidente da Confederação Suíça, durante a conferência de imprensa havida para dar a conhecer os resultados da reunião. TEMA DA SEMANA 4 Savana 02-03-2018 O governador do Banco de Moçambique (BM), Rogério Zandamela, atacou esta segunda-feira aqueles que criticaram as suas declarações, quando, em Abril do ano passado, disse que o país estava a sair da crise apesar dos novos sobressaltos sobre o metical e a dí- vida interna. Zandamela diz que não se esquece que na altura foi tido como doido em algumas correntes da sociedade moçambicana, mas hoje os indicadores macroeconómicos provam que tinha razão. A inflação estava nos 20,56% em Janeiro de 2017, desacelerou e agora se situa nos 3,84% e as taxas de juro também estão a baixar, assinalou. Para o governador do BM, estes dados reafirmam o seu posicionamento e mostram claramente que não estava ao serviço de propagandas. Contudo, os economistas Roberto Tibana e João Mosca (ver centrais desta edição) convergem na indicação de que o país não está a sair da crise. “Quando fizemos a primeira redução da taxa de juro, eu disse que estávamos no início do fim da crise, houve muito barulho e alguns escreveram que eu era doido, questionaram como é que poderia dizer uma coisa daquelas”, recorda Zandamela. Hoje, continuou, confirma-se que o país está a sair da crise e não há dú- vidas de que Moçambique está hoje melhor em relação a Abril de 2016. Porém, o metical está de novo a deslizar, o que não deixa de ser uma dor de cabeça para os moçambicanos. O dólar que em Novembro/ Dezembro chegou a ser cotado abaixo de 59 meticais está agora acima dos 62 meticais. O rand, no mesmo período, subiu dos 4,5 Mt. para os 5,5 Mt, uma derrapagem de 22%, com tendência a aumentar desde que Cyril Ramaphosa assumiu o controlo do governo na África do Sul. A dívida pública interna cresceu 6,3% entre Dezembro de 2017 e Fevereiro de 2018. Falando numa conferência de imprensa que visava anunciar as medidas tomadas no primeiro encontro deste ano do Comité de Política Monetária (CPMO) do BM, Zandamela disse que o banco vai continuar a baixar as taxas de juro com tranquilidade, prudência e cautela. Para Zandamela, nada é por acaso e o seu optimismo resulta da observação cautelosa dos números que indicavam que o país estava a registar uma saída lenta da crise. Sublinhou que o BM não está ao serviço da propaganda, mas da verdade económica. Apontou a trégua militar que o país vem observando desde Dezembro de 2016, como um factor que veio reforçar a estabilidade, uma vez que gera um impacto positivo na economia e nos investimentos. Apesar do seu optimismo, o Banco de Moçambique, desde o princípio do ano, teve de aliviar as suas reservas em divisas para injectar dólares na banca comercial (USD30 milhões) e no pagamento integral da factura de importação de combustíveis. O ano passado a factura dos combustíveis chegou aos USD741 milhões, contra USD558 milhões em 2016. Na opinião do BM, o aumento fi- cou a dever-se à subida dos preços e ao maior consumo de combustível, nomeadamente, na indústria extractiva. As exportações de carvão aumentaram 54%, o que significou aumento nos consumos de gasóleo. Dívida interna Zandamela manifestou preocupação com o crescimento da dívida pública interna, que se situa nos 104.697 milhões de meticais, depois de, em Dezembro 2017, ter atingido uma cifra de 98.497 milhões de meticais. O nível da contracção de dívida está próximo dos limites permitidos por lei, ou seja, 10% do montante provisional das receitas orçamentadas. Fez notar que quando a dívida pública cresce começa a levantar questões de sustentabilidade. No entanto, refere que há vários debates sobre os indicadores que podem ser usados para avaliar a sustentabilidade ou não de uma dívida. Mas, em última instância, depende da vontade dos operadores econó- micos, dentre eles a banca e fundos de pensões que decidem pela compra ou não da dívida do Estado. Explicou que a dívida do Estado é um activo na carteira de alguém e quando acha que a carteira da dí- vida está a atingir níveis preocupantes, opta por parar de comprar, fazendo com que o Estado comece a ter problemas. “Quando a dívida pública começa a atingir altos níveis, questiona-se até que ponto os agentes económicos estarão dispostos a colocar na sua carteira esses instrumentos como activo para si”, explica o governador do Banco Central moçambicano. Uma parte da carteira da dívida corresponde ao registo dos passivos renegociados das empresas públicas no montante de 7000 milhões de meticais (USD112,9 milhões). Quanto à dívida externa, referiu que, subtraindo as dívidas ocultas, contraídas entre 2013 e 2014 no governo de Armando Guebuza, está tudo controlado. E fez questão de referir que as dívidas ocultas são o único problema que atrapalha a sustentabilidade da dívida externa. No período de Janeiro/Fevereiro, o BM foi às reservas buscar USD75 milhões para reduzir a dívida externa. ,QÁDomREDL[D Para o BM, a contínua melhoria do indicador de inflação e das projecções para o médio prazo justificam o prosseguimento da redução das taxas de juro. A inflação anual do país desacelerou pelo nono mês consecutivo, tendo em Janeiro passado se situado nos 3,84% depois de em igual período de 2017 ter sido de 20,56%. Não há ainda um número oficial para a inflacção acumulada em 2017, mas funcionários do BM estimam que ela se pode situar nos 5,65%, uma assinalável desaceleração em relação ao ano transacto fixada em 25,26%. A perspectiva do regulador é que a inflação se mantenha na casa de um dígito até ao final de 2018. “O custo de vida dos cidadãos moçambicanos baixou substancialmente, há poder de compra acrescentado aos consumidores e também afecta claramente o optimismo dos empresários”, declarou. Ele considerou um desafio do momento a pressão cambial que a moeda nacional está a sofrer. Uma das indicações que existe tem a ver com a retenção de divisas por parte dos exportadores que deixaram de estar obrigados à conversão em meticais de 50% das suas operações externas. Os consumos via cartão de crédito estão em alta de novo. Baixa das taxas de juro O CPMO reduziu a taxa de juro de Política Monetária, taxa MIMO, em 150 pontos bases para 18,0%. Baixou igualmente as taxas de Facilidade Permanente de Cedência (FCP) e da Facilidade Permanente de Depósito (FPD) em 150 pontos bases passando para 19,0% e 12,5%, respectivamente. Apontando a volatilidade que se observa no mercado cambial, o BM decidiu pelo aumento do coeficiente das Reservas Obrigatórias para os passivos em moeda estrangeira em 800 pontos bases para 22,0%, com efeitos a partir do período da constituição das Reservas Obrigatórias, que inicia a 7 de Março deste ano. Paralelamente, manteve o coeficiente de Reservas Obrigatórias para os passivos em moeda nacional em 14%. O desempenho da actividade económica continua moderado, tendo o PIB crescido em 3,7% no IV trimestre de 2017. Este crescimento deveu-se em grande medida à retoma da indústria extractiva, agricultura, transportes e comunicações. A balança comercial, estimulada pela indústria extractiva, registou um saldo positivo, em contra-corrente com os registos habituais. O economista Tomás Selemane refuta a tese defendida pelo governador do BM de que o país está a sair da crise, observando que as deliberações do CMPO revelam a continuação das dificuldades económicas, fraco poder de compra e difi- culdades dos importadores em pagar as importações, devido à desvalorização da moeda nacional face ao rand e ao dólar. Nesse sentido, Selemane considera que a crise persiste. No entanto, diz ser verdade que as negociações para a paz constituem um sinal que pode contribuir de forma positiva para a estabilidade, mas desvaloriza o triunfalismo do banco central, porque não é um dado adquirido. A manutenção da paz, prossegue, que depende dos resultados das discussões que terão lugar na Assembleia da Repú- blica, na sessão que arrancou esta quarta-feira. Para Selemane, é preciso ver até Não é verdade que estamos a sair da crise que ponto o acordo entre o Presidente da República, Filipe Nyusi, e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, vai transformar-se em garantia de estabilidade política e social para depois se traduzir em estabilidade económica a longo prazo. Diz que o Banco Central e o Ministério da Economia e Finanças cometeram um erro, ao considerar a inflação baixa e a quebra das importações como sinais de saída da crise. Tomás Selemane qualifica esta abordagem como uma meia verdade, assinalado que em política económica, uma meia verdade equivale a uma mentira. Admite que é um facto que a inflação baixou, mas é preciso ressalvar que baixou, porque as pessoas perderam e continuam a perder o poder de compra, o que contraria o discurso de Rogério Zandamela. Toma como exemplo os preços dos principais produtos, que não estão a registar nenhuma estabilidade, facto que não se verificava em igual período dos anos anteriores, porque, depois das festas, há sempre um abrandamento de preços, o que este ano não ocorreu. “Não é verdade que a baixa inflação está a significar melhoria das condições de vida das pessoas”, reiterou. Quanto às importações, disse que estão a baixar por falta de capacidade das empresas de pagar os custos, porque têm agora menos dinheiro do que antes. Não é, prosseguiu, pelo facto de Moçambique ter novas fábricas ou ter capacidade de produzir aquilo que antes era adquirido fora do país. Apesar da derrapagem do metical, Zandamela contra-ataca “Chamaram-me doido por ter dito que a crise estava a passar” Por Argunaldo Nhampossa Rogério Zandamela TEMA DA SEMANA Savana 02-03-2018 5 PUBLICIDADE Campus UEM 02 Março | 20h00 RICHARD BONA ERNIE SMITH ALBINO MBIE JIMMY DLUDLU Bilhetes: Normal: 2000MT VIP: 7500MT Exposição de Pintura “SINFONIAS 2” de PMourana | Os portões abrem às 18h30 Bilhetes já disponíveis nos Balcões do BancABC (Maputo e Matola), Computicket, Dolce Vita & Uptown Café NOITE DE GUITARRA VOL. II 6 Savana 02-03-2018 SOCIEDADE SOCIEDADE A Renamo, na cidade de Nampula, já reagiu ao anúncio do apoio ao candidato Paulo Vahanle, manifestado pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM), no âmbito da realização da segunda volta da intercalar da cidade de Nampula. Entende a Renamo que o apoio do MDM não é obra do acaso, mas sim resulta da aná- lise que o partido de Daviz Simango fez em relação ao melhor programa de governação que vai à votação da segunda volta. Diz a Renamo que o programa apresentado pelo seu candidato, Paulo Vahanle, afigura-se como o melhor no que concerne à necessidade de resgate da boa e aprazível imagem da cidade de Nampula. “Não é um apoio que aparece ao acaso. O MDM avaliou o manifesto eleitoral, cujo tema central é de desenvolver a cidade de Nampula”, anotou Issufo Ulane, em reacção ao apoio manifesto, esta terça-feira, pelo MDM. De acordo com as palavras de Ulane, o facto de o MDM ter manifestado o seu apoio é uma convicção de que a vitória é certa. “Outros partidos devem seguir o exemplo para evitar que o povo venha a cair na escravidão”, acrescentou, apelando a outros concorrentes da primeira volta a alinharem na decisão do MDM. Concorreram na primeira volta, além da Renamo, Frelimo e MDM, os candidatos do Pahumo, Filomena Mutoropa e ainda do partido AMUSI, Mário Albino. Para a segunda volta da eleição intercalar no município de Nampula, inicia, dentro este sábado, a campanha eleitoral, processo que vai durar 10 dias. A segunda volta está marcada para 14 de Março. (Sérgio Fernando) Declaração de apoio ao candidato Paulo Vahanle Renamo diz que apoio do MDM não é obra do acaso Maputo, 30.10.2016 4 Assinatura do jornal A partir de 01 de Agosto de 2017 DESTINO PERÍODO Trimestral Semestral Anual TODO O PAÍS 1.000,00mt 1.850,00mt 3.500,00mt USD 20,00 USD 35,00 USD 60,00 PAÍSES DA SADC USD 40,00 USD 75,00 USD 130,00 RESTO DO MUNDO USD 50,00 USD 100,00 USD 200,00 Assinatura versao electrónica USD 25,00 USD 40,00 USD 70,00 Cada período é renovável em qualquer altura do ano. Entrega ao domicílio nas Cidades de Maputo, Matola e Beira. Aceitamos propostas para novos agentes, distribuidores e angariadores de assinaturas em todo território nacional. Para mais informação contacte: Miguel Bila, 82 4576190 / 84 0135281 / 87 0135281 (miguel.bila@mediacoop.co.mz, mediafax@mediacoop.co.mz, mediafaxm@gmail.com) Danilo Matsimbe, 82 7356980 / 84 5723175 APBX, 21 327631 / 21 301737 / 82 3171100 / 84 3171100 Fax, 21 302402 / 21 304265 admc@mediacoop.co.mz SOCIEDADE Savana 02-03-2018 7 PUBLICIDADE 8 Savana 02-03-2018 PUBLICIDADE SOCIEDADE Savana 02-03-2018 9 DIVULGAÇÃO SOCIEDADE Foi inaugurada, esta semana, na baixa da Cidade de Maputo, a Feira Slots, uma nova casa de jogos, pertencente ao Casino Polana, a maior e mais antiga casa de jogos do país. A sala, composta maioritariamente por máquinas slots e uma roOHWXWRPiD GHXPDSROt[ÀQLGDSHOR Casino Polana, no ano passado, e representa um investimento de USD 500 mil. Segundo o Coordenador de Marketing e Relações Públicas do Casino Polana, Danilo Mussá, a abertura da Feira Slots visa atrair no casas de jogos para a classe alta. Trata-se também de uma forma de reposicionamento do negócio, numa altura em que o abundam muitas casas de jogos nas esquinas da cidade capital. Para Mussá é um conceito errado considerar o casino como uma casa de jogos para os milionários, pois, estes são para todas camadas sociais e conta a história do surgimento destes nos países vizinhos, onde localizavam-se nas zonas recônditas. A Feira Slots é a segunda sala de jogos a ser aberta pelo Casino Polana no país, depois da Matola Slots, inaugurada há seis anos, no Município da Matola. Mussá revela que ainda este ano, o Casino Polana irá expandir as suas salas para o bairro de Zimpeto, arredores da capital moçambicana e para as cidades de Tete e Beira, no centro do país. Falando em relação a actividade que desenvolve, o Coordenador GH0DUNHWLQJH5HODo}HV3~EOLFDVQDTXHODFDVDGH MRJRVDÀUPRX TXH DPHVPD pEHQpÀFD DRSDtV SRLV R(DGR FROHFWD LPSRRV (25% sobre a receita bruta) a cada 15 dias. Acrescenta ainda que, à luz da nova licença de concessão, o Casino Polana canaliza 2% da sua receita bruta anual (um mínimo de USD 40 mil) às áreas da saúde e educação, em forma de responsabilidade social. “Caso o valor seja inferior a USD 40 mil temos que tirar da nossa receita líquida, por isso, acaba saindo caro para nós, por causa da nossa responsabilidade social”, sublinha. Mussá revela que no ano passado, o Casino Polana reabilitou o Centro de Saúde da Matola-Gare e, para este ano, irão lançar um concurso público para a apresentação de projectos relacionados à estas áreas. Referir que o Casino Polana existe há 22 anos e é a maior e mais antiga casa de jogo do país. Casino Polana abre mais uma sala de jogos 10 Savana 02-03-2018 SOCIEDADE D ebaixo de graves dificuldades de liquidez, as empresas moçambicanas do sector público e estatal, na sua maioria tecnicamente falidas, não estão a honrar os seus compromissos financeiros no mercado internacional. Na lista dos devedores, que abrange aquelas que um dia foram tidas como as “grandes empresas” do sector, como os Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM) e as Telecomunicações de Moçambique (TDM), há algumas que já estão há pelo menos cinco anos sem fazer um único reembolso. O Relatório e Parecer do Tribunal Administrativo (TA) sobre a Conta Geral de Estado (CGE) de 2016 mostra que não é apenas em relação à dívida da EMATUM, Proindicus e MAM que o país não está a honrar os seus compromissos financeiros. Moçambique não está, igualmente, a pagar dívidas contraídas através de acordos de retrocessão, que constituem um tipo de empréstimos externos assumidos pelo Governo e autorizados pelo Banco Mundial (BIRD) e Fundo Monetário Internacional (FMI) para empresas públicas envolvidas em projectos de desenvolvimento de infra-estruturas sociais de interesse público. No capítulo sobre acordos de retrocessão, a CGE de 2016, que vai a debate na sessão que arrancou, esta quarta-feira, na Assembleia da República, não dá detalhes, nomeadamente, quanto aos credores e aos anos em que as concessões foram efectuadas, uma lacuna que, ao TA, o Governo prometeu sanar a partir da CGE de 2017. Contudo, o documento, na posse do SAVANA, ilustra uma tendência preocupante dos reembolsos, pelo menos desde 2012, com as empresas públicas, estatais e as sociedades anónimas, maioritariamente, controladas pelo Estado, a não honrarem com os seus compromissos. Os CFM, por exemplo, não fizeram qualquer reembolso em 2013 e 2016. Actualmente têm uma dívida fixada em mais de 4 mil milhões de Meticais, mercê dos pagamentos de 2012 (41 milhões), 2014 (80 milhões) e 2015 (108 milhões). Em sede de contraditório, o Governo precisou que “no que se refere aos CFM, EP, devido à conjuntura económica e financeira, a empresa contraiu dívidas para assegurar a carteira de investimentos em curso no âmbito da sua reestruturação, com impacto negativo na tesouraria, o que se tem traduzido no não cumprimento integral das suas obrigações”. Acrescenta o executivo que, “contudo, a empresa mantém-se subsumida ao dever de, atempadamente, informar a DNT, o reinício dos pagamentos logo que as condições de tesouraria se mostrarem favorá- veis”. Por sua vez, as TDM só fizeram um único reembolso, datado de 2012, quando pagaram 17 milhões, o que reduziu a sua dívida para, aproximadamente, dois mil milhões de Meticais. Reagindo a este incumprimento, o Governo moçambicano afirmou que “as TDM, SA não honram os seus compromissos por estarem a atravessar uma situação financeira difícil que se manifesta na insufi- ciência de recursos financeiros para fazer face às suas obrigações, referentes aos investimentos e serviço da dívida”. As empresas que, desde 2012, têm canalizado os reembolsos são a Electricidade de Moçambique (EDM), o Fundo de Abastecimento e Património de Água (FIPAG), que actualmente têm dívidas avaliadas em 19 e seis mil milhões de Meticais, respectivamente. Em 2016, entretanto, o Estado moçambicano rubricou dois acordos de financiamento, cujos fundos foram repassados à EDM. No primeiro acordo, avaliado em USD 10 milhões, o financiamento é da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e destinava-se à electrificação rural na província do Niassa. No segundo, situado em USD dois milhões, um financiamento da Associação Internacional de Desenvolvimento (IDA), braço do Banco Mundial para ajuda a países mais pobres do mundo, a finalidade era a melhoria da qualidade de energia. É preciso sublinhar que grande parte das empresas públicas e estatais encontra-se numa situação de falência técnica, muito por conta duma gestão pouco criteriosa. As TDM e a mCel, que estão num processo de fusão, são apenas o rosto visível dum sector empresarial que foi empurrado à falência quando, pela madrugada, servia como saco azul para a predadora nomenklatura frelimista e para alimentar as campanhas eleitorais do partido no poder. A situação calamitosa em que se Empresas públicas/estatais devem milhões e não estão a pagar Por Armando Nhantumbo Na corda bamba! encontram as empresas públicas/ estatais, incluindo aquelas que ao longo dos anos foram as grandes fontes de receita do Governo, levou o executivo de Filipe Nyusi a pregar a sua reestruturação, que inclui redimensionamento de quadros e privatizações, como forma de rentabilizar aquelas que hoje são um verdadeiro fardo ao erário público. Caloteiros? Entre as empresas devedoras, algumas estão há pelo menos cinco anos sem fazer um único reembolso. É o caso dos Aeroportos de Moçambique (AdM), cuja dívida está fixada em 4 mil milhões de Meticais. A AdM é a empresa que beneficiou de um empréstimo de USD 125 milhões de Meticais, concedido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES) do Brasil, para a construção do Aeroporto Internacional de Nacala. O incumprimento por parte de Moçambique no pagamento da dívida levou a imprensa brasileira, com réplica mundial, a noticiar que Moçambique deu calote ao BNDES, enfatizando que foi o primeiro que a instituição brasileira sofreu entre todas as obras custeadas fora do Brasil. Inaugurado em 2014, o Aeroporto Internacional de Nacala é um verdadeiro elefante branco e recebe menos aeronaves que o Aeródromo de Mocímboa da Praia. Uma reportagem da BBC, publicada em Novembro de 2017, mostra que, dos 500 mil passageiros/ano da sua capacidade, o Aeroporto de Nacala recebe menos de 20 mil. Os voos internacionais, esses, nunca chegaram, senão apenas dois trajectos comerciais por semana, na rota Maputo-Nacala, e dois privados da mineradora brasileira Vale. Entretanto, o seu custo de operação é quatro vezes maior que as receitas. Quem também não honra com os seus compromissos desde 2012 é a empresa de Desenvolvimento Maputo Sul, com uma dívida de 22 mil milhões de Meticais. A Maputo Sul, empresa pública, contraiu, em 2012, um empréstimo de cerca de USD 315 milhões, maioritariamente, disponibilizados pelo Banco de Exportações e Importações da China (EXIM), o banco estatal chinês que também financiou USD 785 milhões à mesma empresa para a construção da ponte Maputo-Katembe. Na mesma situação está a Administração Nacional de Estradas (ANE)-Fundo de Estradas, com uma dívida de sete mil milhões de Meticais; o Fundo de Apoio à Reabilitação da Economia (FARE, mais de mil milhão); o Fundo de Fomento de Habitação (386 milhões); o Instituto de Gestão das Participações do Estado (IGEPE, 514 milhões) e o Fundo de Apoio à Pequena Irrigação (FAPI)/Gabinete de Apoio a Pequenos Investimentos (GAPI), com 250 milhões. O FAPI é um fundo integrado no projecto de construção e reabilitação de pequenos regadios nas províncias de Zambézia, Sofala e Maputo financiado pelo Banco Africano de Desenvolvimento e o Governo de Moçambique. Os sucessivos incumprimentos no pagamento de dívidas assumidas pelo Governo agravam a já deteriorada posição do país no mercado internacional, onde as agências de notação financeira chegaram a colocar Moçambique na categoria de lixo, o que tem um efeito dissuasor na entrada de investimentos.oi há 18 anos que a imagem de uma bebé recém-nascida a ser resgatada do topo de uma mafureira, no distrito de Chibuto, província de Gaza, durante as cheias que arrasaram o sul do país no ano 2000, comoveu o mundo e chamou a atenção de todos para o drama das calamidades naturais em Moçambique. Rosita Josina Mabuiangue completou nesta quinta-feira 18 anos de idade. Vive actualmente na cidade de Maputo onde frequenta a 12ª classe. Em conversa com o SAVANA no distrito de Chibuto, a mãe, Corolina Chirindza, conta que, concluído o ensino secundário geral, a filha pretende cumprir o serviço militar obrigatório, como voluntária. Depois desta missão, pretende seguir o seu sonho que ainda não revelou a mãe, sob o argumento de que “as coisas são feitas etapa por etapa”. Para atrás ficam várias história por contar. Por exemplo, aos seis anos viu o seu progenitor Salvador Mabuiangue perder o direito parental sobre os seus bens, por ter vendido parte considerável dos mesmos que lhe foram oferecidos por diversas instituições e personalidades. Desde então, o pai nunca mais se preocupou com a vida dos seus quatro filhos, dos quais Rosita (é a terceira), apesar de residir também no mesmo distrito e trabalhar no Conselho Municipal local. Carolina Chirindza diz não guardar ressentimento do seu antigo parceiro, pois consegue garantir sustento aos seus filhos, com fruto do trabalho que o governo provincial lhe deu na administração do distrito de Chibuto, depois de uma passagem pelo Instituo Nacional de Acção Social (INAS) entre 2002 e 2005. Com o fim da atenção de que foi alvo nos primeiros anos de vida, Rosita leva agora uma vida normal em Maputo. Rosita completa 18 anos Savana 02-03-2018 11 PUBLICIDADE SOCIEDADE Transfira dinheiro para a carteira móvel das pessoas que mais ama no Zimbabué, Quénia e em mais 8 países. Saiba mais junto do seu agente local mais próximo. Envie uma ajuda directamente para o telefone de familiares e amigos! moving money for better MOBILE | ONLINE | AO VIRAR DA ESQUINA Outros países incluem: Nepal, Ruanda, Madagáscar, Nigéria, Bolívia, Guatemala, El Salvador, Filipinas. © 2018 Western Union Holdings, Inc. Todos os Direitos Reservados. SM 12 Savana 02-03-2018 INTERNACIONAL SOCIEDADE SOCIEDADE O presidente do Partido para a Paz, Democracia e Desenvolvimento (PDD), Raul Domingos, concedeu uma entrevista ao SAVANA onde abordou os consensos alcançados no diálogo político entre o presidente da República, Filipe Nyusi, e da Renamo, Afonso Dhlakama. Sobre o capítulo militar, o antigo número dois da Renamo disse que a negociação será bem sucedida se o processo partir do princípio de que a própria Frelimo é um partido armado que também precisa de ser desarmada. A par de muitos partidos extra-parlamentares, o PDD desapareceu da esfera política nacional. O que é feito da sua organização? O PDD está numa fase de travessia de deserto. Isso acontece porque estamos num cenário em que o cidadão normal não consegue satisfazer suas necessidades básicas. Logo, a maioria dos nossos membros não têm capacidade financeira para contribuir para financiamento da logística do partido. São poucos membros que têm capacidade de contribuir. É desses que o partido sobrevive e paga suas contas básicas. Por causa da falta de meios, há zonas do país em que não há praticamente nenhuma actividade do PDD, mas quando escalamos essas zonas para actividades políticas sentimos que temos muito apoio. O PDD foi criado no meio de muita euforia e chegou a ser designado como terceira força política. Com o tempo ficou fragilizado e o recém criado MDM ocupou o espaço de terceira força. O que falhou? Iniciámos o nosso projecto político com muito gás. A nossa pujança fez com que as principais forças polí- ticas, sobretudo a Frelimo, direccionassem a sua artilharia para nos derrubar. Quando surgimos, algumas correntes pensaram que a nossa ideologia seria próxima da Frelimo, mas com o tempo viram que estavam erradas. Parte das pessoas com esse pensamento estava dentro da própria Frelimo. A partir desse momento começaram a combater-nos, perseguiram nossos membros, fecharam as nossas fontes de arrecadação de apoios e nas eleições ordenaram os órgãos eleitorais para não nos deixar chegar ao parlamento porque tinham medo de nós. Outra situação que saiu a desfavor do PDD é que estamos num sistema em que só se considera vencedor quem tem a maioria. Temos o MDM na mesma situação. Porém, singrou e chegou ao parlamento... Não tenho ciúmes do MDM por ter entrado no parlamento, mas é importante frisar que o MDM parte do município da Beira, numa situação em que o seu líder tinha sido rejeitado da Renamo numa altura em que o seu desempenho na governação municipal era elogiado. O MDM surgiu dum território em que o seu líder tinha muita simpatia das pessoas e isso influenciou eleitores Raul Domingos traça linhas para o capítulo da desmilitarização da Renamo de outras regiões do país. O PDD surgiu num cenário totalmente diferente. ...Os órgãos eleitorais não impediram que o MDM elegesse deputados para a Assembleia da República? O MDM foi um partido que nunca deixou claro o seu posicionamento. No início não mostrou o seu rumo, a sua linha ideológica. Isso fez com a Frelimo ignorasse esta organização e de forma sorrateira foi elegendo deputados e conquistando municípios. Agora que a Frelimo descobriu que o MDM é um perigo sua hegemonia política veja o que está a acontecer. A própria revisão da lei eleitoral não foi por acaso. Pacote de descentralização Por falar dos consensos alcançados entre Nyusi e Dhlakama no capítulo de descentralização. Há quem diga que a proposta vai beneficiar os fortes e fragilizar os fracos. Concorda? Diria que é um acordo que vai dar mais força aos partidos em detrimento dos indivíduos. Os pequenos partidos podem se beneficiar destes acordos desde que trabalhem no sentido de sensibilizar o parlamento a mudar o sistema de atribuição de assentos ao nível da Assembleia da República, provincial e distrital. O método que se utiliza, no nosso sistema, para a conversão de votos em assentos não é justo. Veja que nós usamos o método D’Hondt [um sistema que consiste no cálculo e distribuição dos mandatos pelas listas concorrentes] que antes vinha com barreira de 5%, mas que foi eliminada devido à pressão da sociedade. Contudo, enquanto o método de D’Hondt prevalecer, tudo continua na mesma, visto que o D’Hondt já em si é uma barreira. A luta dos pequenos partidos políticos neste novo formato de eleição deve ser na mudança do D’Hondt para outros sistema mais simples. Só assim é que os partidos pequenos chegarão aos órgãos legislativos. Será que a remoção do método do D’Hondt é, por si só, bastante para os pequenos partidos conseguirem assentos nos órgãos legislativos? Acho que também precisamos de alterar as modalidades de acesso aos fundos públicos. Os meios materiais são importantes para a mobilização. Infelizmente, o método usado para aceder fundos públicos da parte dos partidos políticos é discriminatório. A lei só permite o acesso a fundos públicos aos partidos que têm representação parlamentar. Os outros são marginalizados. Isto é, os membros do PDD pagam impostos para sustentar a Frelimo, Renamo e MDM. Isso é promover injustiça e discriminar os mais fracos. Sou da opinião de que o Estado deve financiar os partidos de acordo com o número de votos obtidos. Em 1999/2000 liderou a equipa que negociava com o governo a indicação de governadores nas províncias onde a Renamo venceu. Porém, o diálogo não avançou e o senhor foi expulso da Renamo. O que falhou? O meu entendimento é de que Joaquim Chissano avançou para negociações com a Renamo sem abordar o seu partido. Porém, como estava ciente de que não venceu as eleições, tomou a iniciativa de negociar, secretamente, com a Renamo para que abandonasse as reivindicações em troca de algumas concessões. Nessa altura, a Renamo indigitou-me para fazer os contactos e a matéria levada à mesa do diálogo foi a possibilidade de se indicar governadores da Renamo nas províncias que o partido venceu, incorporar forças da Renamo na polícia e no SISE. Porém, isso não se materializou porque, quando a negociação decorria, houve um encontro entre os presidentes Chissano e Dhlakama em Gaberone (Botswana) onde os dois chegaram ao entendimento sobre a forma como deveria ser feita a despartidarização da polícia, SISE e da administração pública. Porém, nada aconteceu e a Frelimo continua a dominar o Estado na sua plenitude. O que falhou para a não indicação dos governadores da Renamo em 1999? Quando a negociação decorria, o país foi assolado por cheias na região sul. Isso fez com que o governo dispersasse atenções e o diálogo político ficou prejudicado. Os ritmos dos encontros reduziu. Tomaz Salomão que estava a negociar comigo passou a integrar uma equipa interministerial de assistência às comunidades afectadas. Os atrasos no diálogo desagradaram Dhlakama e este veio ao público desvendar o segredo e anunciar à nação que decorriam negociações com o governo e que num breve trecho a Renamo iria indicar governadores nas províncias onde venceu. Como o presidente Chissano não tinha informado o seu partido que estava a negociar com a Renamo, viu-se encurralado e orquestrou uma estratégia para sair do cerco. Foi daí que chamou a imprensa para informar que não havia nenhuma negociação com a Renamo, Raul Domingos é que pediu encontro com o governo, afirmando que estava a ser perseguido por Dhlakama e que queria apoio do executivo. Chissano disse também que quando fui recebido por Tomaz Salomão, em vez de falar da perseguição, propus que me desse 500 mil dólares, um milhão de dólares para a Renamo e um subsídio de 10 mil dólares mensais ao Dhlakama. Só assim é que a Renamo aceitaria os resultados e todo o dossier eleitoral seria fechado. Na verdade, aquilo pareceu-me um conluio entre os presidentes Chissano e Dhlakama para me expulsar porque, em condições normais, numa situação daquelas, o presidente Dhlakama deveria desconfiar do discurso do seu adversário e dar o benefício de dúvida a Raul Domingos. Agiu de forma contrária. Deu razão ao inimigo e sacrificou o filho da casa. Só que, depois disso, o próprio Dhlakama tentou liderar as negociações que acabaram não dando em nada porque, com a expulsão de Raul Domingos, a Frelimo ficou mais forte porque conseguiu dividir a Renamo O modelo que negociavam depois das eleições de 1999 é o mesmo que vai à Assembleia da República resultantes dos consensos entre o presidente da República e o líder da Renamo? Não. Em 2000 estava-se a negociar um acordo político para indicar governadores nas províncias em que a Renamo venceu eleições. Agora está-se a falar da descentralização. Em 1992, o governo e a Renamo assinaram o acordo de Roma, em 2014 acordo de cessação das hostilidades. Agora estamos em tréguas. O que está a faltar para Moçambique ter uma paz definitiva? Em 2012, quando celebrámos 20 anos de paz, no meu discurso elenquei um conjunto de situações que pudessem perigar a paz. Nessa altura, até me apelidaram de pessimista. Nessa cerimónia eu disse que havia questões urgentes que deviam ser resolvidas sob o risco de voltaremos ao conflito. Não previ como profeta, mas como uma pessoa que conhece as coisas. O acordo de Roma só seria pleno se se respeitasse certas condições mormente: o diálogo permanente entre as partes, a inclusão política, económica e social e a reconciliação nacional que previa o convívio entre moçambicanos. Essa inclusão nunca aconteceu, a separação entre a Frelimo e a Renamo era clara, o diálogo morreu com o fim do consulado de Chissano. Com a chegada de Guebuza no poder, as coisas pioraram e criaram-se condições para o conflito. O acordo de cessação das hostilidades de 05 de Setembro de 2014 foi superficial, visava apenas garantir as eleições e transmissão do poder de Guebuza para Nyusi sem o som dos tiros. Os acordos que os nossos líderes assinam não são de boa-fé. São acordos para fins imediatos e resolver determinadas situações. O diálogo entre Nyusi e Dhlakama não corre o risco de seguir mesmo rumo e fracassar no futuro? Acredito que o presidente Nyusi é uma pessoa que quer paz, é uma pessoa da nova geração que acredita numa competição e convivência democrática. Porém, atrás dele há uma Frelimo dura que tem o Estado como sua propriedade privada. A Frelimo também deve ser desmilitarizada Alcançados os consensos no capítulo da descentralização, agora avança-se para questões militares. O que pensa desta fase do processo? Vai dar certo se a negociação partir do princípio de que a própria Frelimo é um partido armado que também precisa de ser desarmada. A Frelimo tem Unidade de Intervenção Rápida (UIR) como o seu braço armado, aquela força actua à margem do Constituição e obedece as ordens do partido no poder. É esta força que é usada em todas as missões que visam salvaguardar os interesses da Frelimo. Hoje, o exército que temos não é exército. É um conjunto de homens da forças da Frelimo e da Renamo que se juntaram em 1994. O verdadeiro exército da Moçambique é a UIR. Esta força tem todo o tipo de armamento, incluindo os carros de combate. O exército não tem nada porque há desconfianças da fuga de informação. A Frelimo também deve aceitar ser desarmada. Como? Integrando os homens da Renamo nas hierarquias mais altas da polícia e do SISE para além da sua recolocação no exército. Tudo depende da Frelimo. Se a Frelimo desfazer-se do seu exército a Renamo também fará o mesmo. Caso contrário continuaremos neste ping pong. Toda a negociação vai ter de ser feita de forma a que os dois se desarmem. Se isso não acontecer garanto que nunca teremos uma Renamo totalmente desarmada. Eu estive dentro da Renamo, falo com propriedade. Na verdade isto acontece porque os acordos de Roma estão a ser violados constantemente pelo governo da Frelimo. Em 1992, já tínhamos definido que os altos dirigentes da Renamo, bem como o seu património, deviam ser protegidos por uma força especial indicada pela Renamo, mas treinada e equipada pelo governo. Por Raul Senda “O PDD está numa fase de travessia de deserto”, Raul Domingos “Frelimo também deve desarmar-se” Savana 02-03-2018 13 DIVULGAÇÃO PUBLICIDADE SOCIEDADE Nós, as organizações da sociedade civil moçambicana, sendo, como sempre, acérrimos adeptos e defensores da paz, saudamos efusivamente os esforços do Presidente da Republica, Filipe Jacinto Nyusi, e do Presidente do partido Renamo, Afonso Macacho Marceta Dhlakama, em defesa da paz. Como fruto desses esforços, a Assembleia da República (AR) prepara-se para proceder à revisão da Constituição da Repú- blica de Moçambique, o que terá como base uma proposta nesse sentido submetida a 9 de Fevereiro corrente pelos referidos líderes, concretamente no domínio do chamado ´Pacote da Descentralização´. As mudanças ora em perspectiva – que só tem de pontual uma mera tecnicalidade jurídica, se se considerar que irão alterar profundamente o actual xadrez polí- tico-eleitoral –, segundo os seus autores, enquadram-se nos esforços visando o estabelecimento da paz efectiva no país. No entanto, os resultados desses esforços não são sem reparos. Defendendo claramente uma democracia que se não submete a traições aos seus mais básicos princípios, quais sejam DSDULSDomRSROtDGLGDGmRVQDGHÀQLomRGRUXPRGR seu país e prevalência da responsabilidade por parte daqueles que possuem mandato popular para em seu nome agirem, julgamos ser, no mínimo, problemático que o PR e o líder da Renamo tenham, sem participação das moçambicanas e dos moçambicanos, acordado: (a) em alterar algo que nunca tinha sido, antes, colocado como problema na equação da paz efectiva no país, nomeadamente a eliminação da eleição directa dos presidentes dos Conselhos Municipais, ao mesmo tempo que dizem respeitar o princípio da autonomia, (b) em permitir que entes estranhos às Assembleias Provincial, Distrital e Autárquica (Presidente da República, Partidos Políticos e Ministro da Administração Estatal) passem a interferir no espaço exclusivamente seu (Assembleias), ditando quem deva presidir àquelas. Portanto, como já referimos, esta proposta de alteração profunda da Constituição não foi discutida democraticamente. E ao enviar-se a mesma para o Parlamento, espera-se que este a aprove sem mais delongas, desencorajando os cidadãos de participar, a não ser que seja para apoiar a iniciativa. Sendo que, quaisquer dissidências já estão rotulados de serem contra a paz. Por isso, nos os signatários deste comunicado queremos reiterar o nosso profundo empenhamento para com a paz, democracia e os direitos humanos no pais. O pensar de forma diferente é uma riqueza para o pais e não uma ameaça. É neste quadro que apelamos aos deputados da Assembleia da República e às lideranças partidárias das bancadas parlamentares para que: 1. Usando das suas competências e gozando do principio de separação de poderes, devolva a proposta a sua procedência dada o processo não-democrático e não-participativo que lhe deu origem; 2. Ponderem para que a Assembleia da República a ser eleita nas eleições de 2019 se assuma como Assembleia Constituinte, que deverá ter como função primeira, principal e inadiável a feitura de uma Revisão Constitucional Profunda, com ampla participação popular. Na proposta, há aspectos que lesam gravemente os direitos de cidadania, nomeadamente: 1. O direito adquirido na democracia moçambicana de votar pelo presidente do município nunca foi publicamente colocado como problema em duas décadas de realização de eleições autárquicas; 2.Do mesmo modo, não se entende porque a proposta pretende retirar o direito de cidadãos eleitores poderem, de forma independente, se candidatarem, eles mesmos, às funções de presidência das autarquias, sem o que a jovem democracia PRoDPELFDQDWHUiGHWXGRSDUDVHÀUPDUFRPRSDUWLGRFUDFLD Este é um momento crucial para a nossa jovem democracia, cabe a nação moçambicana empenhar- se na sua defesa e consolidação. Os direitos já conquistados não são negociáveis, são eles que garantem a participação popular e o envolvimento para o desenvolvimento do país. A paz não pode ser a qualquer preço. Os princípios plasmados na Constituição da Republica devem continuar a orientar qualquer discussão e decisão nacional. Porque não há paz duradoura sem democracia e respeito pelas liberdades conquistadas. Certos de que a máxima do Presidente Nyusi, de inspiração constitucional – “A soberania reside no povo” (número 1 do artigo 2 da Constituição) –, segundo a qual “o povo é meu patrão” não será desbaratada, com a Assembleia da República assumindo as suas responsabilidades constitucionais e os deputados recusando-se a exacerbar a sua função de representação do detentor primário e original do poder soberano, o povo. Maputo, aos 27 de Fevereiro de 2018 Organizações Signatárias: Fórum Mulher, Mulher e Lei na África Austral (WLSA),Rede de Homens pela Mudança (HOPEM),Fórum das Rádios Comunitárias(FORCOM),Liga dos Direitos Humanos(LDH), Mulher Lei e Desenvolvimento(MULEIDE),Centro de Integridade Publica(CIP), Fórum Moçambicano das Mulheres Rurais) FOMMUR) Centro de Capacitação e Aprendizagem da Sociedade Civil (CESC),Liga das ONGs (JOINT),Centro Terra Viva (CTV),SEKELEKANI, N’WETI, Accão Académica para o Desenvolvimento das Comunidades(ADECRU), Justiça Ambiental (JA!), Livaningo, Associação Cultural Horizonte Azul( ASCHA), Movimento Feminista(MovFemme),Fórum da Sociedade Civil para os Direitos da Criança(ROSC), Organização Nacional dos Professores(ONP), Marcha Mundial das Mulheres Moçambique(MMM), KUWUKA, Conselho Cristão de Moçambique(CCM), AMJJ, Rede para Advocacia &Lobby Social Uthende (RUTH) Pessoas de contacto: Bayano Valy, Rede HOPEM, 848932559 Aida Nhavoto, Fórum Mulher, 848066272 Naldo Chivite, FORCOM-846518208 COMUNICADO DE IMPRENSA Ouvir os cidadãos e salvaguardar os direitos adquiridos deve ser um compromisso de todos os políticos e legisladores! 14 Savana 02-03-2018 Savana 02-03-2018 15 NO CENTRO DO FURACÃO O jornal SAVANA pediu-me um comentário sobre este aspecto particular dos pronunciamentos do Governador do Banco de Moçambique quando no dia 26 de Fevereiro anunciava as conclusões e decisões do Comité de Política Monetária (CPMO) do Banco de Moçambique (BM): Moçambique está ou não a sair da crise. Vale perguntar antes a qual crise ele se refere. Porém, antes de tratar especificamente desse assunto, também devo primeiro dizer que na minha opinião as análises do Comité de Política Monetária (CPMO) são mais equilibradas (nem demasiado optimistas, nem demasiado pessimistas), e são apresentadas de maneira mais cuidadosa do que aquilo que os pronunciamentos do Governador Zandamela podem fazer transparecer. Os mercados terão de se habituar ao estilo de comunicação fora de comum entre Governadores de Bancos Centrais que caracteriza o Governador Rogério Zandamela. Ele tende a ser mais entusiástico e robusto do que é típico. Também tende a levantar muito a fasquia da certeza nas suas previsões. Esse último aspecto, combinado com a sua forma de comunicação tende a dar a impressão que ele ficou prisioneiro das suas afirmações anteriores, e que ao interpretar os factos fá-lo com tendência a justificá-las em lugar de testá-las objectivamente. Se calhar tudo isto são simplesmente impressões. O meu conselho é que tanto os mercados como os jornalistas tentem ajustar-se a ele, a descontar os seus pronunciamentos e a maneira como o faz, e a concentrar no essencial tal como contido no comunicado escrito do CPMO. O resto é teatro. O melhor seria se ele próprio pudesse refinar-se um pouco mais. Mas cavalo velho não muda de hábitos facilmente. Portanto, será bom que as pessoas comecem a habituar-se a descontar (do mesmo modo que se habituaram ao estilo lacónico e de camaleão do Adriano Maleiane). Também cada vez mais parece ser verdade que sente sobre si uma pressão (auto- ou extra imposta) para dizer o politicamente correcto. Mesmo sabendo que tem nas costas o FMI e a sua pensão, ninguém na posição dele gostaria de se ver embrulhado num atrito com a pessoa que lhe colocou lá. Segundo, o Governador Zandamela nunca foi claro sobre a questão de que crise ele está a falar. Por exemplo, dizendo somente “crise” ele poderia estar a falar da crise da dívida, da crise do sector produtivo real, da crise da balança de pagamentos, ou da crise do sistema monetário e financeiro. O termo crise sem especificar de Moçambique a sair da crise, ou tudo foi um ruído desnecessário? Por Roberto Tibana, Analítica-RJT que crise se trata pode ser aplicável quando existe uma combinação ou simultaneidade de dificuldades sé- rias em todas ou a maior parte destas dimensões da economia. E é importante também notar que crise em qualquer uma dessas esferas de economia pode levar a crises em outras até que a crise se generalize como uma crise económico-financeira, da economia no seu todo. Por exemplo, o acumular da insustentabilidade da dívida pública e o despoletar do escândalo das dívidas ocultas e ilegais que a veio agravar despoletou crises noutras esferas da economia. O sistema financeiro foi arrastado por essa crise, com a aceleração da desvalorização do metical e sua transmissão para os preços refletida na aceleração da inflação. O próprio Sistema bancário entrou numa crise por causa disso. Por exemplo, para além de outra dificuldade que possa ter tido, o MOZA “tropeçou” em parte substancial porque carrega no seu balanço o peso das dívidas ocultas e ilegais que não estão a render (o mesmo que alguns outros bancos locais que compraram os títulos da EMATUM ou se meteram no negó- cio das secretas e ilegais via MAM e ProIndicus). Como consequência do despoletar desse escândalo, o FMI e a maioria dos governos doadores que o faziam cortaram o apoio à balança de pagamentos e ao orçamento do Estado. Por outro lado, quando o Banco de Moçambique começou a implementar as fortes medidas de restrição monetária iniciadas em Outubro de 2016 pelo Governador Ernesto Gove, o custo de crédito amentou e muitas empresas deixaram de poder honrar os seus compromissos com a banca, outras fecharam. A incerteza que se instalou agravou a redução da procura interna para o consumo, afectando negativamente as perspectivas do sector produtivo. Quer dizer, uma crise num sector da economia transitou-se a outros sectores gerando uma crise generalizada. Neste contexto, é difícil perceber o que é que o Governador quer significar quando diz que o País está a sair da crise. Quer dizer que está controlada a crise do sistema financeiro? Se calhar neste aspecto está certo. Mas quererá dizer também que está controlada a crise em outras esferas e que isso garante que o país está a sair da crise económico-financeira generalizada? Se pretendesse dizer isso, eu já não concordaria tanto com ele. Por exemplo, a gente sabe (e o CPMO o afirmou claramente), que os grandes riscos ainda existem provenientes do sector fiscal que nunca quis ajustar, e muito menos o fará nos próximos 18-20 meses de ciclo eleitoral. Pode-se garantir neste contexto que Moçambique está efectivamente a sair da crise, tomando ainda em conta que o país permanece em falta nos pagamentos da dívida externa? E se adicionarmos a isso o facto de que as dívidas internas acumuladas nos últimos 18 meses foram-no a taxas muito elevadas de tal modo que mesmo quando o stock da dívida continuar a diminuir ainda levará tempo para que isso se reflicta na redução do peso do serviço da dívida. Eu não creio que seja por ignorância que o Governador não está a ser específico no tipo de crise a que se refere quando diz que o país está a sair da crise. Pode ser um manto de nuvens deliberado. Eu tenho a certeza de que ele sabe que uma desaceleração tão brusca da inflação também tem outras implicações problemá- ticas, que por razões de espaço me escuso de discutir aqui. Uma desinflação ou deflação demasiado rápida pode ser tão ou quase má como uma rápida aceleração rápida da inflação, incluindo pelos seus efeitos redistributivos de um grupo económico ou social para outros. Mesmo sabendo que uma baixa inflação é em geral benéfica para os grupos mais vulneráveis, existem mecanismos através dos quais a deflação ou desaceleração bastante da inflação pode afectá- -los negativamente. A natureza dos mecanismos subjacentes a isto não garante que qualquer forma e ritmo de chegar a inflação baixa é válida. No nosso caso, a maneira como se atingiu a inflação baixa foi a mais injusta que se poderia ter. Atirou todos os custos do ajustamento sobre os trabalhadores, empresas e consumidores privados, enquanto o governo continua a ser despesista. Eu condenei essas medidas do Banco Central, em particular as acrescentadas pelo Governador Zandamela logo depois de tomar posse, não porque elas não pudessem atingir a desinflação rápida que ele agora proclama ser a prova de quão ele estivesse correcto ou não, mas porque permitiam a política fiscal (e as pressões despesistas das políticas que estão por detrás) a ditarem um curso de uma política monetária com grandes custos económicos e sociais para a maioria dos trabalhadores e para as empresas, enquanto uma minoria ficava protegida. E estes são os assuntos que o Governador não aborda, e se calhar nem tem de abordar, pois ele tem uma área de intervenção e age com os instrumentos específicos que tem nas mãos. Mas desse mesmo modo que ele tem esses limites no que pode fazer, ele deve ter e transmitir cá fora a impressão de que ele tem uma noção clara dos limites dos sucessos que esses instrumentos trazem para a economia e a sociedade no seu conjunto. Em terceiro lugar, depois de tudo o dito acima, ainda importa notar que o grave problema da gestão macroeconómica hoje em Moçambique e que deve ocupar as atenções das pessoas não são os ruídos do Governador Zandamela. O grave problema que temos hoje é que a política monetá- ria foi transformada num “moleque” (empregado doméstico, ou rapaz de recados) da política fiscal expansionista. Por exemplo, o comunicado escrito do CPMO notou que os pagamentos líquidos efectuados pelo Estado à economia (isto é, injecção de liquidez) foram amortecidos pelas vendas de divisas efectuadas pelo Banco de Moçambique no Mercado Cambial Interbancário. O Mesmo comunicado do CPMO indica que parte das compras de dólares que pressionam para a depreciação do Metical destinavam-se ao serviço da dívida pública. Finalmente, os prejuízos que isto cria para a economia também são evidentes nesse comunicado do CPMO quando diz que “as contas monetárias mostram que, até Janeiro de 2018, o crédito bancário ao sector privado reduziu, em termos anuais, em 12,8%.” Isto é uma demonstração clara de como a política fiscal transformou a política monetária no seu “moleque”. E finalmente, notar que o Banco de Moçambique poderia ser mais transparente nas suas análises para justificar os resultados que se verificam ou se esperam. Por exemplo, quem for a olhar atentamente para a evolução dos indicadores monetá- rios e outros irá notar que na realidade os progressos na estabilização do câmbio do Metical e da inflação que o Governador Zandamela hoje apresenta são os efeitos atrasados das medidas activadas pelo Governador Gove em Outubro de 2016, logo que se notaram as primeiras manifestações de aceleração da depreciação da moeda e da variação do nível geral de preços. Embora ele também se tivesse arrastado um pouco, foi o Governador Gove que escalou decisivamente a contenção monetária, que na minha opinião teria sido suficiente se o sector fiscal também tivesse ajustado. O que o Governador Zandamela veio fazer foi apertar mais no contexto em que o Ministro Maleiane (da Economia e Finanças) com os seus chefes atrás se recusaram (e continuam a recusar-se) a fazer o ajustamento fiscal e a resolução do escândalo das dívidas ocultas e ilegais que constitui maior factor imediato da crise de cuja saída o Governador erroneamente diz que o país está a sair. Por outro lado, tanto o comunicado do CPMO como o Governador nos seus pronunciamentos são omissos em relação ao que se passa com as taxas de juro de retalho (i.e. aquelas pagas pelas famílias e empresas), limitando-se a destacar as melhorias que se verificam nas taxas praticadas pelos bancos comerciais entre si e entre o banco central e os bancos comerciais. Isso não é uma análise completa, sobretudo quando se sabe que existem grandes margens e as vezes dinâmicas não paralelas entre as taxas de retalho de um lado, e as taxas directoras do Banco de Moçambique e do mercado interbancá- rio, de outro lado. Em resumo, creio que o Governador Zandamela, neste assunto da “crise” que ele nunca definiu claramente (como foi o caso na crise do MOZA), sai muito robusto e com muita convicção onde ele ganharia muito com uma certa sobriedade e a indicação de que a sua abertura para surpresas é sincera. Ele adicionou ruído desnecessário a um trabalho bem feito pelo seu Comité de Política Monetária (que é no fundo seu crédito porque ele é que dirige e toma as decisões finais). Eu espero que tanto os mercados” como o pú- blico e os jornalistas se concentrem no essencial e descontem esse ruído. O Governo de Moçambique, o Banco de Moçambique e várias organizações internacionais têm emitido opiniões sobre as perspectivas da economia no ano de 2018. Este texto procura dar um contributo quiçá bastante diferente dos referidos. Primeiro, ter presente que qualquer previsão é susceptível de erros devido a dados não exactos, deficiente (ou inquinada) análise, pela imprevisibilidade de factores, cujos centros de decisão não controlam e que podem alterar subitamente o percurso de uma realidade, ou pela utilização de modelos de previsão económica não ajustados e com inputs inexactos. Por isso, as previsões quase sempre, ou sempre, não são verificadas na realidade. A propósito do parágrafo anterior, pode-se questionar se a economia moçambicana cresceu realmente em 2017. Os cálculos e estimativas do PIB do lado da produção são muito falíveis, pois, na prática, assentam em mais de 50% em economias informais, ou não declaradas ou fraudulentas sobre as quais não existe informação estatística fidedigna. Este facto facilita a introdução de dados não exactos ou mesmo viciados, geralmente com objectivos políticos e construtivos de imagens irreais de uma economia. Observando o PIB do lado da procura, o crescimento da economia em 2017 fica ainda mais duvidoso. Partindo da equação básica da economia, em que o PIB é igual ao Rendimento Nacional (RN), e é constituído pelas seguintes variáveis: Consumo privado + Consumo público (= Gastos pú- blicos) + Poupança (= Investimento) + Exportações - Importações. Não é provável que o consumo privado tenha, na realidade, aumentado; o rendimento das famílias em termos reais (empregados e informais) não aumentou em maior percentagem que a inflação e, portanto, o rendimento real decresceu. Os gastos públicos, em termos reais, decresceram 2017. Nada indica que o saldo das exportações e importações seja suficiente para tornar o RN de 2017 superior ao de 2016. Se o exposto é certo, então a economia, não apenas desacelerou (reduziu o ritmo de crescimento), como teve um crescimento negativo (PIB de 2017 inferior ao de 2016). As estimativas de produção das economias informais e de outras economias, sem estatísticas fidedignas, são colocadas no consumo privado (variá- vel do RN), cuja comprovação não é possível. E assim se equilibra, no papel, o PIB (do lado da procura) e o RN (do lado da procura). Acrescente-se o facto de não se dominar sobre quais os efeitos multiplicadores da economia moçambicana, nem como se geram quantitativamente as relações intersectoriais da economia, o que torna as previsões ainda mais uma imprevisibilidade. Segunda questão, existem factores económicos e políticos de grande influência na economia moçambicana que são manejados em centros de decisão fora de Moçambique. As decisões políticas, sobretudo as internas e estas relacionadas com factores externos, são imprevisíveis. A conjugação da imprevisibilidade e quais as decisões internas e externas, fazem com que as previsões sejam pouco confiáveis. Terceira ponderação, as previsões estão sendo feitas considerando, sobretudo o cenário actualmente favorável dos preços internacionais dos principais produtos exportados e do preço baixo do petróleo. O mercado internacional é imprevisível e, por isso, as previsões são, por esta via, também falíveis, principalmente em economias como a moçambicana, onde o sector externo possui uma grande influência no crescimento e em outras magnitudes económicas. Quarta dúvida, a evolução dos indicadores nominais da economia pode não produzir efeitos significativos sobre a economia real. Reduzir a taxa de juros em meio, um ou dois pontos percentuais, partido de uma base de mais de 20% de juros de empréstimo, altera as decisões empresariais? Pergunte-se aos bancos comerciais porque as taxas de juro por eles praticadas não acompanham o ritmo das descidas das taxas de referência do Banco de Moçambique e como estão as dívidas mal paradas e o investimento. Reduzir os gastos públicos (com um elevado grau de contabilidade pública artificialmente manipulada e pouco transparente), sem profundas reformas nas funções do Estado na economia, no aparelho de Estado e nas empresas públicas, e com o aumento da dívida, aumentam a instabilidade da economia e a confiança dos investidores. A balança comercial favorável devido à retracção das importações causada pelo decrescimento da procura interna, ao aumento das exportações, principalmente de dois produtos(carvão e alumínio) e ao aumento das reservas em divisas, influenciam de que maneira o tecido produtivo da economia? Não é verdade que 2.900 empresas faliram nos últimos dois anos? O sector de construção, turismo, indústria, (excepto alguns poucos sub-sectores) e as finanças, aumentaram a produção? A agricultura beneficiou de um bom clima em 2017 e dos preços internacionais de algumas commodities. No fim de tudo isto, as instituições (públicas, FMI; Banco Mundial, etc.), o Governo e o Banco de Moçambique referem taxas de crescimento de cerca de 3 a 4 por cento, que sugerem em 2017 cerca de 377 mil novos empregos, sem referir se são empregos formais ou informais (ressalta-se que em 2016 o número de empregados formais não alcançava um milhão de pessoas - o que implica que, em um ano e em momento de crise, o emprego cresceu, em quase 40% !!). E com tudo isto, “o país está a sair da crise”. E a confiança na economia também. Por favor! Muitos economistas e instituições têm necessidade de apresentar cená- rios. Esta necessidade possui objectivos e resulta de interesses diversos, como, por exemplo: (1) criar ambiente e expectativas para o investimento; (2) captar recursos da cooperação; (3) apresentar relatórios favoráveis a uma determinada gestão governativa, do Banco de Moçambique ou de outras instituições; (4) disputa entre instituições de pesquisa, de pesquisadores e entre organizações internacionais. Os erros das previsões são, depois, justificados de forma diversa, e nem sempre fundamentada, e sem se abordar as questões fundamentais do desempenho da economia. Perante esta exposição, que perspectivas existem para 2018? O PIB do lado da produção, dificilmente aumentará na indústria (excepto em alguns sectores), na construção civil (apesar do investimento público com financiamentos, sobretudo da China), no sector financeiro (pouca recuperação da poupança, do investimento nacional e estrangeiro, excepto, eventualmente nos recursos naturais). A agricultura e os transportes poderão crescer. Qual será o balanço? Ninguém sabe. Do lado da procura, não há razões que justifiquem o aumento do consumo privado, pois a inflação continuará superior ao aumento dos salários, da geração de emprego. Nada indica que o investimento (poupança) suba, excepto em uns poucos sectores de investimento externo ou a ele associado. As taxas de juro manter-se-ão inacessíveis considerando a rentabilidade de grande parte do tecido económico doméstico; os bancos comerciais não reagem nem acompanham as pouco influentes reduções das taxas de referência do Banco de Moçambique (considerando os níveis actuais). Em termos reais, é pouco provável que se assista a um aumento dos gastos do Estado, excepto se se verificar a continuação do endividamento suportado, principalmente pela banca comercial interna, o que para esta é atraente face à baixa procura de crédito das empresas e famílias. Veremos como evolui o sector externo; mesmo que positivo, será suficiente para contra balançar as perdas nas outras variáveis atrás referidas? Resumindo: A maioria das variáveis da economia real não indica a possibilidade de crescimento da economia; se crescer, será a uma taxa baixa e concentrada em dois ou três sectores, aumentando as distorções estruturais da economia. Ao contrário das informações oficiais, o aumento do emprego seria contra natura. Dificilmente haverá mais receitas do Estado. O custo de vida aumentará nos centros urbanos e os pobres continuarão sendo os que mais pagarão a factura da crise. O consumo dos pobres e classes médias baixará, podendo dar-se (ou continuar a verificar-se) o fenómeno de substituição por bens mais baratos, afectando a dieta, o acesso e a qualidades dos serviços de saúde da maioria do povo a segurança alimentar. Algumas variáveis monetárias (da economia nominal - inflação, taxas de juro e reservas em divisas) poderão melhorar sendo os seus efeitos sobre a economia real muito mais limitados que as variações das variáveis monetárias. Os ní- veis de melhoria destas variáveis monetárias não serão suficientes para incentivar a recuperação produtiva na maioria dos sectores. Porém, o simples facto de haver alguma recuperação, é positivo. A dívida pública continuará a aumentar, agora com recurso ao endividamento interno e alguns países, sobretudo de um ou dois países. Não existirão reformas significativas no Estado, nas empresas públicas, nos órgãos reguladores e nos diversos “fundos”. Está- -se perdendo uma oportunidade de ouro para reformar o Estado e o sector público da economia. A não existência destas reformas dificulta os efeitos da alguma melhoria das variáveis nominais sobre a economia real. O sector externo terá um melhor desempenho que a economia interna, aprofundando a distorção estrutural da economia cada vez mais extrovertida, dependente e subdesenvolvida. Não é possível apresentar dados de forma consistente. Por favor, aqueles que o fazem deixem de ser maquiavélicos: arquitectam e constroem a mentira, sabem que mentem, persistem na mentira, manipulam a informação e, no fim, acreditam que a mentira foi eficaz e se contentam com isso. Não sugiro que não se façam estimativas. O que se espera do Governo, do Banco de Moçambique e das organizações internacionais são discursos sérios chamando à atenção para a real situação do país e que as previsões sejam anotadas com as suas condicionalidades. O país não está saindo da crise! Perguntem à maioria dos moçambicanos e dos empresários. TOU PIDIR. NÃO MINTAM! O país não está a sair da crise! Por João Mosca 16 Savana 02-03-2018 PUBLICIDADE Boletim de Preços do mês de Janeiro, que inclui os preços dos produtos mais consumidos pela maioria a população e que fazem parte do cabaz de compras, Maputo como aconteceu em 2017, a partir de Janeiro, são incluídos os preços das cidades da Beira e de 1DPSXOD 3 FRQVXU HH WH[WR HP RPUP] RUJ!3XEOLFDo}HV!%ROHWLPGHSUHoRV ======================== Destaque Rural com o título Impactos sociais do reassentamento populacional na Catembe sobre a população reassentada na Catembe, ao nível do acesso a serviços sociais e em termos de possibili violando a Lei Orçamental e a Constituição da reestruturação das dívidas; antes de dizê-lo aos credores, se pretende pa Imprensa consideram os aspectos referidos como um acto de patriotismo, de soberania, de NOTA DE IMPRENSA 18 Savana 02-03-2018 OPINIÃO Registado sob número 007/RRA/DNI/93 NUIT: 400109001 Propriedade da Maputo-República de Moçambique KOk NAM Director Emérito Conselho de Administração: Fernando B. de Lima (presidente) e Naita Ussene Direcção, Redacção e Administração: AV. 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De acordo com a proposta depositada na Assembleia pelo Presidente da República, após entendimentos com o Presidente da Renamo ficou bem claro que os 250 deputados terão a tarefa de brindar a Nação com a aprovação do novo quadro constitucional que, segundo a proposta em mesa, mudará completamente o actual figurino de definição de quem vai para Governador de Província e quem assume a função de Presidente de Município. Todos os Partidos políticos e os grupos de cidadãos devidamente organizados poderão apresentar as suas candidaturas e quem vencer indica aquele homem ou mulher que irá garantir o cumprimento escrupuloso do manifesto eleitoral escolhido pelos eleitores. Não me parece que o direito de participação política do cidadão na eleição do Edil e do Governador esteja a ser coarctado na proposta de Revisão Pontual da Constituição. O manifesto eleitoral que escolhermos será implementado por um dos membros da força política partidária ou civil que escolhermos. Em caso de incumprimento do programa de governação pode-se sempre retirar-se-lhe a confiança desde que dois terços dos membros dessa Assembleia Municipal concorde com a decisão de afastar o Presidente do Município. É preciso saber O desafio que se coloca aos pretensos candidatos independentes é o de organizarem os seus apoiantes, criar uma estrutura que, aliás, até será muito útil na fiscalização e controlo do processo eleitoral em si, dado que todos sabemos quão ensombrados de vícios foram todos os nossos pleitos eleitorais, incluindo o mais recente que foram as intercalares de Nampula para eleição do Presidente daquele município. Com bom grado, acompanhei que, de forma unânime, os partidos da oposição parlamentar e extra-parlamentar decidiram unir-se em torno do candidato da Renamo. Esperemos que sejam resolvidos, de uma vez por todas, os problemas gravíssimos descobertos e denunciados tempestivamente aquando da primeira volta das eleições intercalares de Nampula. Refiro-me aos problemas de manipulação dos cadernos eleitorais que possibilitaram a deslocação de pessoas de outros distritos e de outras províncias para «dar uma mão» ao partido dos camaradas, apoio sem o qual acredito que a Frelimo não teria chegado aos quarenta e poucos por cento de votos válidos. No município de Nampula haverá uma segunda volta das eleições intercalares e que vença o verdadeiro escolhido dos nampulenses. Continuando, nessa cerimónia de retoma dos trabalhos da Assembleia da República, pude falar da necessidade de manutenção da Paz, das expectativas de integração e reintegração da Força residual da Renamo nas Forças de Defesa e Segurança (FDS) achei por bem tocar numa outra questão deveras séria para ser ignorada. Trata-se de um dos principais focos de conflito no mundo actual e no país: a Terra para além da Água. Os conflitos de terra derivam de vá- rios factores, sendo dos mais importantes os seguintes: A concessão de vastas áreas para plantações agrícolas que não reúnem o consenso dos camponeses, das organizações da sociedade civil e nem de parte dos partidos políticos; A atribuição de títulos de Direito de Uso e Aproveitamento da Terra (DUATs) sem promover as necessá- rias consultas as comunidades; A aposta no modelo de extracção de recursos minerais, com reassentamento populacional de vergonha; A falta de transparência na gestão da terra, propriedade do Estado a luz da Constituição da República de Moçambique, tanto no meio urbano como no rural. Assim, argumentava que é necessário e urgente que todos saibamos quem tem DUAT de que parcela do país e para que fim, ou seja, é urgente que o Estado moçambicano promova uma reforma na questão da Terra. Isso passaria pela adopção e publicação de um cadastro nacional de terras disponível a qualquer pessoa ou instituição interessada nessa informação. Ademais, essa reforma ajudaria a minimizar os actuais conflitos de terra existentes, bem como a atribuição de um mesmo terreno a mais do que uma família e/ou grupos comunitários ou empresariais. A se levar a sério o cadastro dos títulos de direito de Uso e Aproveitamento de Terra, a semelhança do cadastro mineiro, ao se cadastrar e publicar o património imobiliário do Estado ainda existente estaria o próprio Estado a contribuir em grande medida para a transparência, para o combate às várias formas de corrupção: lavagem de dinheiro, branqueamento de capitais, suborno, subfacturação e sobrefacturação. Não acha(m)? L5" 5 ( 5 5 ( ')5( 5 --' &# 5 5 Ě Por Ivone Soares OParlamento sul-africano aprovou uma emenda constitucional que irá acelerar o processo de transferência das terras. Na África do Sul das desigualdades e de antigos bantustões, as boas terras são de farmeiros comerciais brancos e os negros trabalham essas terras como assalariados agrícolas. A proposta foi apresentada pelos Combatentes pela Liberdade Económica(EFF), liderado pelo jovem populista Julius Malema, mas foi apoiada pelo Congresso Nacional Africano (ANC), que forma governo desde 1994, o ano das primeiras eleições pós-apartheid neste país vizinho de Moçambique. A questão da terra é fulcral e os sul-africanos sem posses, de facto a maioria, estavam a ficar impacientes, sobretudo, porque o país, em mais de duas décadas após a queda do apartheid, que promoveu a discriminação, a miséria e a desesperança estava a andar a passos de camaleão na tão esperada reforma agrária. Antes do EFF levar o dossier ao Parlamento, Malema, um político dissidente do ANC, muitas vezes populista e racista, havia instigado os seus seguidores a se apropriarem das terras de forma anárquica, o que teria sido um desastre. Em Dezembro de 2017, na conferência do ANC em Joanesburgo, Cyril Ramaphosa, que substituiu Jacob Zuma, na presidência sul-africana, prometeu acelerar “a transformação radical” da economia em benefício de uma sociedade mais igualitária. A ideia de Ramaphosa é reestruturar a reforma agrária de uma forma sustentável e que promova o crescimento económico há muito ansiado na África do Sul. O governo sul-africano pós-apartheid foi sempre cauteloso a lidar com o problema da reforma agrária, tendo em vista a experiência desastrosa havida no vizinho Zimbabwe. O ANC aprendeu bem da experiência do Zimbabwe, país que recorrendo ao argumento de “corrigir injustiças históricas” promoveu uma caótica reforma agrária que fez resvalar o país de celeiro de África, para um dos mais dependentes do mundo, com milhões de zimbabweanos vivendo no exterior do país na triste situação de refugiados. O Acto de Terras Nativas deu, em 1913, direitos aos brancos de possuírem 90% das terras da África do Sul. Os brancos constituíam menos de um terço da população do país. Esta lei impossibilitava os negros de terem um maior poder económico, garantindo ainda mão-de-obra barata. Nas décadas seguintes, o regime do apartheid baseou a concentração fundiária na segregação racial. Em 1999, o ANC comprometeu-se a comprar 30% das terras do país para distribuir à comunidade negra, mas o processo foi adiado, devido a suspeitas de corrupção e à grande dívida pública. O processo foi empurrando para um plano secundário. Embora existam muitas incertezas, incluindo as lutas legais que se vão seguir decorrentes do princípio de expropriação da terra sem compensação, na vizinha África do Sul há passos decisivos e rumo à reforma agrária. Em Moçambique o debate ainda é tímido e muitas vezes resvalando para a esfera ideológica. A terra é um recurso fundamental para o combate à pobreza em Moçambique. De acordo com a Constituição moçambicana, a terra é propriedade de Estado e não deve ser vendida, hipotecada ou alienada, mas é transaccionada por milhões a olhos de quem não é cego. Em Abril deste ano, o governo prevê iniciar uma campanha de fiscalização de terras a nível nacional. O objectivo é recuperar um milhão hectares de terras ociosas, parte considerável nas mãos de importantes figuras conectadas ao partido governamental. Moçambique tem uma extensão de 36 milhões de hectares agricultáveis, dos quais apenas 3,6 milhões de hectares, equivalentes a 10%, estão a ser explorados. Seria um passo importante que em Moçambique a terra passasse a ser usada como bem colateral para os bancos comerciais passarem a financiar os camponeses e as pequenas e médias empresas nacionais, que estão com imensas dificuldades, poderem mais facilmente aceder ao crédito agrícola. Em nome de fantasmas não provados argumenta-se que o hipotético endividamento bancário colocará a terra nas mãos de uma minoria, eventualmente na mão de estrangeiros. Estes fantasmas já foram usados anteriormente, sem qualquer sucesso. A privatização da habitação segregou as cidades, mas não as tornou ilhas na posse de interesses externos. A liberalização das fronteiras, nomeadamente com a África do Sul, não propiciou nenhuma invasão bóer como temiam os mais chauvinistas. No presente estado sim, enormes extensões estão na mãos de minorias poderosas que fazem especulação fundiária sem que das transacções beneficiem o Estado e as comunidades. É importante aclarar a forma como os direitos sobre a terra podem ser usados para incentivar o desenvolvimento em Moçambique. Em alguns sectores, argumenta-se que o actual sistema de posse, em que a terra é propriedade do Estado e apenas cedida aos interessados, constitui um grande impedimento ao progresso social e económico. Moçambique não necessita verdadeiramente do que se convencionou como reforma agrária. Mas precisa de transformar em mecanismos legais uma nova abordagem da posse da terra que dê poderes adicionais aos que dela dependem enquanto factor de produção, crie processos de mediação transparentes e eficazes nos municípios e outros agregados urbanos que afastem a especulação e a corrupção fundiária e, ao mesmo tempo, viabilize a contratualização de projectos comerciais e investimento externo garantidos, para produção e exportação de alimentos. O actual paradigma é uma falácia pura. Hipotecar a terra por princípios ideológicos que os que fizeram acontecer a história violentam, de forma mesquinha, todos os dias, é dar voz aos que ruidosamente argumentam que nos precisamos libertar dos nossos próprios libertadores. Sem dogmas. Sem lentes especiais. A caminho da reforma agrária na RAS Savana 02-03-2018 19 OPINIÃO 569 Email: carlosserra_maputo@yahoo.com Portal: http:oficinadesociologia.blogspot.com C om muita graça, sugeria Luís Guevane, na sua crónica da semana passada, as balizas dos critérios para a escolha dos gestores públicos: «Parte-se de um princípio muito simples: os bons administradores ou gestores, no caso de um país pobre como Moçambique, devem ser escolhidos entre aqueles que têm provas dadas na gestão da poligamia que desenvolvem e controlam». Não faço ideia se Guevane se baseou nalgum caso real de que tenha conhecimento ou se era uma sugestão irónica atirada para cima da mesa. Mas não é isso que importa para o que pretendo explanar e que se usa do exemplo dele como pretexto. O que pretendo explicar é a diferença entre racionalização e racionalidade, vital; diferença que muitas vezes o moçambicano popular não discerne por causa da vigência do pensamento mágico. E aqui socorro-me de outra notícia que li esta semana, e onde se lavrava: «Grupos de camponeses do centro de Moçambique agrediram nas últimas semanas comerciantes e pescadores que acusam de “parar a chuva”, disse à Lusa o porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM). “É um fenómeno novo: são camponeses que pensam que os comerciantes e pescadores são responsáveis pela falta de chuva” nalguns pontos do país, disse Inácio Dina. As agressões mais recentes aconteceram no domingo, em Maganja da Costa, na província da Zambézia, mas semanas antes já tinham acontecido episódios idênticos nos distritos de Changara e Marara, na província de Tete.» O mecanismo lógico que preside às duas atitudes, a de escolha de um gestor técnico pelas suas capacidades em manter o feminil rebanho manso ou a dos mal-aventurados camponeses associarem a sua pobreza à sobrenatural riqueza de outros, é o mesmo e baseia-se nas premissas daquilo que Aristóteles chamava um silogismo. O silogismo é um método de raciocínio dedutivo. Usa-se para determinar se um facto ou ideia é certo ao compará-lo com uma ideia ou conhecimento universal. Por exemplo: Todos os planetas são redondos/A terra é um planeta/Logo, a terra é redonda. É lógico e faz sentido. Mas infelizmente nem sempre o que faz sentido, na lógica interna de um sistema, é verdadeiro no plano da realidade. Por exemplo: A relva é verde/ As riscas das camisolas do Sporting são verdes/ Logo, o Sporting é um jardim. Ou: Todos os planetas são redondos/ A bola de ténis é redonda/ A terra é uma bola de ténis. A primeira premissa é a maior ou universal e deve ter valor como tal. E a premissa maior e a dedução devem ter uma relação lógica porque se não… E é nesta crença redutora que a lógica se transforma numa batata. Ora, muitas vezes a lógica é uma das faces da batata e é isto que não se coloca em questão no pensamento mágico. A racionalização parte de raciocí- nios dedutivos para encadear uma resposta que parece legitimar um sentido, exactamente porque obedece a uma lógica. E em chegando à formulação final esta não é colocada em dúvida, dada a veracidade aparente do método. Edgar Morin, que alertou para os perigos da racionalização estabelece muito bem as diferenças entre as suas atitudes: «A racionalidade é a melhor protecção contra o erro e a ilusão. Por um lado, existe a racionalidade construtiva que elabora teorias coerentes, verificando o carácter lógico da organização teórica, a compatibilidade entre as ideias que compõem a teoria e os dados empíricos aos quais se aplica: tal racionalidade deve permanecer aberta ao que a contesta para evitar que se feche em doutrina. Mas a racionalidade traz também em seu seio uma possibilidade de erro e de ilusão quando se perverte, como acabamos de indicar, em racionalização. A racionalização crê-se racional porque constitui um sistema lógico perfeito, fundamentado na dedução ou na indução, mas fundamenta-se em bases mutiladas ou falsas e nega-se à contestação de argumentos e à verificação empírica. A racionalização é fechada, a racionalidade é aberta. A racionalização constitui uma das fontes mais poderosas de erros e ilusões. Dessa maneira, uma doutrina que obedece a um modelo mecanicista e determinista para considerar o mundo não é racional, mas racionalizadora. A verdadeira racionalidade, aberta por natureza, dialoga com o real que lhe resiste (…) é o fruto do debate argumentado das ideias, e não a propriedade de um sistema de ideias. A racionalização que ignora os seres, a subjectividade, a afectividade e a vida é irracional. A racionalidade deve reconhecer a parte de afecto, de amor e de arrependimento. A verdadeira racionalidade conhece os limites da lógica, do determinismo e do mecanicismo; sabe que a mente humana e a realidade comportam mistérios. Negocia com a irracionalidade, o obscuro, o irracionalizável. É não só crítica, mas autocrítica. Reconhece-se a verdadeira racionalidade pela sua capacidade em identifi- car as suas insuficiências.» Percebe-se a riqueza, a complexidade, de uma atitude e a pobreza redutora de outra. E aqui, temo ter de dizer que na maior parte dos casos é na racionalização que se encostam as Tradições, quando se transformam na patologia do tradicionalismo, enquanto a racionalidade se abre ao plano científico e ao pensamento ecológico. Os efeitos, os fait-divers que proporcionam a racionalização são um óptimo terreno para as crónicas jornalísticas e a literatura mas são uma tragédia para o desenvolvimento humano dos povos como se vê pela violência, absurda e errónea, que podem despertar em camponeses que deduziram sobre a sobrenaturalidade da sua miséria. Racionalidade e racionalização Q uando um médico manda fazer um raio x a um paciente que tem um problema num determinado órgão, não está preocupado em saber se esse órgão é bom ou mau, feio ou bonito, mas conhecer e tratar o problema que o afecta. A função dos estudantes do social é um pouco como a dos médicos: consiste em analisar fenómenos, vasculhar as suas cavidades, encontrar causas e consequências. A sua função não consiste em saber se os fenómenos são bons ou maus, feios ou bonitos. Nenhuma ciência é possível quando se confunde análise e moral e se pede àquele que seja esta. O ser não é o dever ser, o juízo de facto não é (ou não deve ser) o juízo de valor. Analisar não significa estar de acordo ou em desacordo com o que quer que seja. Análise e moral A notícia colheu-me na dobra de uma esquina, fosse pelo que veiculava, fosse pela hora a que me chegou, ao princípio da noite, fosse, ainda mais, pela distância, no tempo e no espaço, que me separa da sua memória. Em vez de me mergulhar num estado de torpor ou de choque, porém, a notí- cia teve, paradoxalmente, o condão de me reconduzir a lugares, aromas e cores que remontam ao princípio dos anos oitenta. Nessa época, eu acabava de abandonar uma carreira desencantada, embora mais ou menos bem-sucedida, como burocrata ou professor, para abraçar o jornalismo. Como era de bom uso, nos tempos, antes de me aventurar para grandes voos fui posto à prova em várias frentes, para ganhar aquilo a que, na gíria jornalística, se chamava “tarimba”. Fiz um pouco de tudo, desde comentários de partidas de futebol, de básquete ou de um e outro filme que corriam nas salas de cinema – na altura já meio ao abandono, por várias razões –, mas onde me sentia verdadeiramente bem e a nadar como um peixe era na área cultural. Conheci, então, muitos dos que, já com nome feito ou em plena ascensão, se destacavam nas várias áreas de produção ou do viver da cultura, frequentei salas e sessões de ensaio de teatro e dança, entrevistei várias personagens, pessoas ou jovens que viriam a ser personagens, e posso lembrar-me das entrevistas que fiz ao então debutante Ídasse Tembe, ao Victor Sousa ou a glórias já assentes como o Xidimingwana, o Simeão Mazuze, o Fernando Luís e mais alguns outros. Foi nessa altura que ganhei um pouco o hábito de passar algumas horas da tarde de um dia de semana a ver as Joaquina Siquice sessões de ensaios da também quase iniciante Companhia Nacional de Canto e Dança (CNCD). Eram sessões de trabalho levadas a sério e sem estrelatos nem ambições de se ser mais protagonista que outro. Foi também nessa altura que conheci e comecei a admirar incondicionalmente a personalidade da Joaquina Siquice: a sua aparência frágil, quase etérea, quase que a flutuar sobre a realidade, desde logo me cativou. Mas, mais do que isso, a sua inesgotável capacidade de entrega ao trabalho, de inovação, como dançarina e coreógrafa, e – talvez por ser um pouco mais velha que as outras – de conselheira. Entregava-se ao acto da dança como quem se entrega a um ritual de amor. Vi as sessões de ensaio, mas vi também, para meu agrado, o resultado dessas sessões em vários espectáculos, principalmente no palco do Cine África. Era tudo ouro sobre azul, e, apesar de na altura não estarem em questão o estrelato e o ser-se figura de cartaz, a Joaquina Siquice impunha-se naturalmente como a principal guia, a luz e a energia que guiava todo o corpo de dançarinas e dançarinos da CNCD. Entrevistei-a, não exaustivamente, por aquela época várias vezes, e sempre me surpreendeu pela sua quase doentia modéstia e pela negação de si própria, sempre que se mostrasse necessário falar a favor do grupo. Para ela, o que interessava era a companhia, e manifestava-se como apenas um elo dessa cadeia que era o corpo de músicos, de coreógrafos, de dançarinos e dançarinas, da própria direcção da companhia, desde ali, a Casa da Cultura, até aos palcos, que começaram por ser nacionais e acabaram por ganhar espaço internacionalmente. A última vez que a vi viva foi num festival que se realizou não sei bem em que moldes, para assinalar mais um aniversário do massacre de Mueda, tendo como palco a própria Vila de Mueda, num dia 16 de Junho. Depois dos espectáculos, ao fim dos salamaleques, pedi-lhe uma entrevista em exclusivo para a então revista Tempo, onde eu trabalhava. Ela recusou-se com muita simplicidade e, em contrapartida, indicou-me o nome de duas ou três dançarinas mais jovens, afirmando que era mais apropriado falar com elas do que com ela, e que se eu insistisse talvez pudesse pensar na hipótese de me conceder a entrevista mais tarde. Foi um “mais tarde” que nunca mais se realizou. Soube, tempos depois, que, por inerência social, tinha mudado o seu habitat para algures na República Alemã; soube também, sem surpresa, mas para minha gratificação, que na Alemanha ela tinha tido a coragem de abrir uma escola para ensinar danças moçambicanas e canto a quem quisesse. Naturalmente que a maior parte dos seus alunos seriam alemães. Por aquilo que se disse agora, ao acompanhar a notícia da sua morte pela rádio, ela continuou nessa saga de transmitir conhecimentos sobre cultura, música e dança moçambicanas muito além das fronteiras que a viram nascer e que ela, de modo muito natural, de corpo e alma, pelo canto e pela dança, soube levar a lugares que, de outra forma, raramente se conseguiriam alcançar. Por isso, longe de me pôr em baixo ou mergulhar num sentimento de torpor, a notícia da sua morte como que me rejuvenesceu, recordando a frescura perene do seu rosto, do seu sorriso e da sua entrega à dança, a música e a tudo a que isso está ligado. 20 Savana 02-03-2018 OPINIÃO SACO AZUL Por Luís Guevane A s duas bancadas – a da Frelimo e a da Renamo – continuam a fortalecer a corrente de “amizade circunstancial” diante do consenso entre os dois escolhidos, os dois salvadores. Percebe-se, por isso, que se caminha com alguma segurança para o fim do presente ciclo de instabilidade político-militar. O MDM, a terceira força, aliás, terceira bancada parlamentar nessa sequência baseada no número de votos conquistados, por seu turno, também vai reafirmando a sua discordância com relação aos fundamentos apresentados como “consensos”. Estamos, assim, diante de uma situação em que, por um lado, temos a força de uma maioria agora claramente esmagadora representada pelas duas primeiras bancadas (144+89 deputados, respectivamente) e, por outro, aparentemente sem expressão, uma minoria (17) onde cada deputado terá que se fazer valer cerca de 14 vezes para sentir, Os escolhidos no mínimo, algum equilíbrio emocional e poder ombrear numericamente com os adversários. Aqui colocamos “aparentemente”, cientes de que o tamanho do efectivo nem sempre derruba o tamanho da razão defendida por uma suposta minoria de escolhidos. Em democracia adopta-se frequentemente a máxima que diz que a maioria é que vence. Isto torna-se complexo quando se percebe que Nyusi e Dhlakama chegaram a um entendimento possível, a um consenso, graças à entrega de ambos. O referido consenso é um sapo que o país vai ter que engolir ou é, de facto, um caminho consensualizado em prol da democracia e da paz? Mais do que o Parlamento, pode-se assumir, sem muito risco, que muitos moçambicanos sentem-se representados por estes dois presidentes. Entretanto, se dividíssimos os cerca de 28 milhões de moçambicanos, pelos dois, para validar o consenso, correríamos o risco de cometer um pecado político cuja correcção seria ou tem sido: o país não pertence somente aos dois e nem todos caem nas graças destas excelêncas. Mas são este dois, cada um com o seu peso relativo, que estão na vanguarda de um povo já bastante irrigado com a urgência de paz e desenvolvimento. É um desafio. É compreensível o posicionamento do MDM, não pelo facto de estar na oposição e não ter feito parte do consenso, mas pela força que os seus argumentos representam. Olha-se para o conteúdo dos consensos como um retrocesso, entretanto, põe-se de lado o próprio significado do termo. O consenso político entre Nyusi e Dhlakama não passou da adopção de um acordo. Ainda assim, não deixa de estar exposto às críticas tomando em conta os ganhos que a jovem democracia moçambicana já teve. Muitas críticas continuam a chover na praça. Lembram o problema que muitas vezes apoquentou a Frelimo: sempre que fosse criticada convocava o seu entendimento de inimigo cujo conteúdo é ou era “não é nosso”, assim, a oposição crescia sem que necessariamente fosse o tentáculo de algum partido. O cenário agora é outro. Sente-se no consenso alguma opção pela ditadura, alguma influência do “hábito militar” e da necessidade de se resgatar a “verticalidade da disciplina”. Há uma espécie de sugestão consensualizada de “diciplina militar” para além dos muros do quartel como acordo formal tendente a endireitar o país. O país está tão torto assim? Pode ser que os consensos, já no terreno, resultem em desgovernação total e aprofundamento da pobreza e da pilhagem de recursos. Entretanto, se a votação formal optar por servir os referidos consensos aos moçambicanos, então, passaremos a testar a sua tragabilidade e digeribilidade. Se os consensos se afigurarem indigestos a Natureza certamente que resolverá o problema, ou seja, novos “escolhidos” surgirão nessa altura para um novo ciclo de salvação. N o seu discurso ao corpo diplomá- tico, o Presidente da República diz-nos acreditar não só que a paz efectiva está próxima, mas também que as razões que estão na origem do recomeço das recentes hostilidades militares terão um tratamento adequado. Contudo, para além da complexidade e riscos próprios deste tipo de processos, outros perigos estão em construção, pondo em risco o trabalho do nosso Presidente, pondo em risco a durabilidade dos resultados que todos desejamos. Assim, da mesma maneira que o Presidente se empenha na busca da paz, outras forças existem a jogar no sentido contrário, lenta mas resolutamente criando condições para que a paz a alcançar seja frágil e de curta duração: são as forças oportunistas da discriminação e da exclusão. Estas forças estão abrigadas em instituições públicas, privadas e partidárias, usam abusivamente relações de parentesco ou proximidade com dirigentes, bem como o facto dos seus membros terem nascido nesta ou naquela Província. Elas usam igualmente outras artimanhas, mas sempre com o mesmo fim, que é o de reclamar pretensos direitos ou vantagens para si ou o seu grupo, mas com exclusão dos outros, os “que já comeram” e os que “não são nossos”. Intelectuais pouco escrupulosos e oportunistas inventam grupos e promovem divisões sociológicas artificiais dos cidadãos, a saber: “estes são de Machel”; “estes, do Chissano”; “aqueles, do Guebuza”. Mas não param por aqui, vão mais longe e dizem: “agora é a nossa vez, esses já comeram e aqueles não são nossos”. Isto é mau. Devo dizer que este tipo de pessoas não existem apenas em Moçambique, mas Sobre os comportamentos de exclusão também em outros países africanos, daí a prevalência de conflitos que ainda afectam vários países do nosso continente. Hoje a maioria desses conflitos é intra-estatal e na sua génese está a discriminação e exclusão. Em 1992, quando foi assinado o Acordo de Roma, estávamos todos convencidos de que a paz já tinha regressado ao nosso país e tinha regressado para ficar. Já nos considerávamos uma nação que tinha regressado à normalidade. Contudo, cerca de vinte anos mais tarde, tivemos de rever as nossas convicções. As hostilidades militares eclodiram de novo, mas desta vez, por razões diferentes das de 1977. Entre outras possíveis razões, foram sobretudo comportamentos discriminatórios e de exclusão que estiveram na eclosão do conflito recente. Havia cidadãos que sentiam que os seus direitos consagrados na Constituição da República e demais leis eram-lhes negados em virtude de pertencerem às forças da oposição. Verdade ou não, estes cidadãos viam e sentiam as coisas desta maneira e esta sua percepção e sentimentos foram ignorados. Os seus apelos a um tratamento mais justo, equitável e de acordo com a lei, dos seus interesses e iniciativas foram, não poucas vezes, ignorados, debaixo de considerações ideológicas estereotipadas e obsoletas, atrás das quais se escondia o oportunismo e a ambição excludente. Aparentemente não tirámos a devida lição desta experiência. Hoje voltamos a ver as mesmas forças da discriminação e exclusão em acção ousada e continuada. Já devíamos saber e prever para onde a acção dessas forças vai-nos conduzir. Isto acontece porque, não poucas vezes, nos recusamos ou evitamos a discutir, aberta e francamente, em diversos foros da nossa sociedade, os grandes problemas e desafios que nos afectam. Esta atitude de negação da realidade que nos rodeia faz-nos ficar quase indiferentes a este fenómeno tão nefasto quanto perigoso e encoraja estas forças a prosseguir o seu caminho, sem perturbação de maior. Para além do oportunismo e ambições ilegítimas, muitos dos nossos compatriotas envolvidos neste tipo de acções fazem-no inconscientes das consequências que os seus actos, a médio e longo prazos, vão trazer para toda a sociedade. Muitos estão genuinamente convencidos de que estão a proteger os interesses do partido no poder, os interesses do seu grupo, qualquer que este seja. Não há mal nenhum em promover os interesses de um partido político ou de um grupo na sociedade, desde que essa promoção seja feita dentro das normas estabelecidas e sem violação dos direitos legítimos dos outros. Muitos dos nossos dirigentes precisam de assumir que estão a dirigir uma sociedade e comunidades com níveis crescentes de educação e de acesso à informação em tempo real. Por isso, esta sociedade é mais exigente aos seus governantes como nunca dantes aconteceu na história do nosso país. A injustiça é cada vez menos tolerada. Esta realidade não é passageira, veio para ficar. Governar hoje é mais difícil e complexo do que no passado e vai se tornar cada vez mais difícil e complexo amanhã, porque mais diversificada e complexa se vai tornando a sociedade moçambicana. Quando tratamos os cidadãos com justiça e equidade estamos a fazer a verdadeira reconciliação de todos os membros da família moçambicana entre si. Esta reconciliação não precisa de esperar pela assinatura de nenhum acordo para se desenvolver, para ganhar força e ímpeto. Contudo, a reconciliação também deve ser entendida como uma estrada com dois sentidos. Nos estados modernos, os cidadãos, em particular as forças políticas e Organizações da Sociedade Civil, nas quais se incluem os media, também são chamados a ter um papel activo na sociedade, em vez de serem meros e passivos consumidores do que lhes é oferecido pelos governantes. A sua participação no processo governativo, aos mais diversos níveis, contribui para a melhoria da governação global e na educação continua dos governantes. Papel igualmente importante cabe aos parceiros de cooperação. Pela experiência que trazem de outros países, eles estão em melhores condições de compreender que os processos de reconciliação nacional são longos e complexos, têm uma dimensão histórica, com altos e baixos, e não se compadecem com a aplicação de fórmulas pretensamente infalíveis e de rápido resultado. Por isso, deles se espera que encorajem os actores nacionais a persistir no processo, ultrapassando os obstáculos do percurso, de modo a que alcancem o fim em vista. Devemos evitar os erros do passado, ao considerar que a paz está garantida apenas com assinatura de acordos. O trabalho mais difícil é o que vem depois, porque hoje já sabemos que a paz é como um ser vivo, que nasce, cresce e pode morrer se não for bem cuidado. Intervenção editada do Director Executivo da Fundação Joaquim Chissano, na “Cimeira sobre a Paz, Perdão, Reconciliação, Cura e Direitos Humanos” realizada na Beira de 30 de Janeiro a 1 de Fevereiro corrente. Título da responsabilidade do jornal. Por Leonardo Simão Savana 02-03-2018 21 PUBLICIDADE 22 Savana 02-03-2018 DESPORTO C ontrariamente ao cepticismo inicial, Moçambique sagrou-se, pela primeira vez, campeão de boxe da África Austral, numa competição realizada semana passada no pavilhão da Politécnica, em Maputo. O evento foi considerado pelo Comité Executivo da África Austral como o melhor de todos os tempos em termos de organização, apesar do ligeiro atraso no primeiro dia das competições, devido a questões técnicas, como a disponibilização tardia do tapete e da ambulância. É claramente uma vitória não só dos até então chamados paraquedistas (a actual direcção da federação), mas sobretudo de todo o povo moçambicano, com sabor muito especial para os que, desde o início, deram palavras de alento e encorajamento aos atletas, dirigentes e quejandos. Aliás, foram três dias de pura adrenalina, de êxtase, de emoções a roGabriel Júnior e seu staff levam Moçambique ao pódio no africano de boxe “Paraquedistas” dissipam equívocos... Por Paulo Mubalo dos, de entusiasmo contagiante, de suspense, de expectativas e tristeza. Tristeza pela forma como alguns dos nossos pugilistas perderam os combates, pois, em certos casos, faltou-lhes uma pontinha de sorte e noutros, argumentos para contrariar o poderio dos adversários. A presença do público, essa poderia ter sido melhor, não fosse o apuramento para o Mundial de Básquete, China-2019, competição que, praticamente, decorreu nos mesmos dias e quase que à mesma hora com a do boxe. Mas foi bonito sim, ver o presidente da FMBoxe, Gabriel Júnior e o secretário-geral, António Hélio, a fazerem espectáculo dentro do outro espectáculo: assumiram a dianteira em termos de pedir apoio ao público para que este apoiasse a nossa selecção, tal como o antigo presidente, Big Ben. E ao pedido destes, o público correspondeu com apitadelas, gritos, assobios e muito mais, num ambiente inolvidável e quiçá indescritível. Valeu a pena, sim senhor, a ousadia de organizarmos a competição. Da parte moçambicana, conquistaram medalhas de ouro, em masculinos, os atletas Augusto Mathule (75 kg) e Alfredo Muzimba (91 kg) e em femininos, as atletas Helena Bagão (48-51 kg), Benilde Macaringue (54 kg) Alcina Panguana (64 kg) e Rady Gramane (75 kg). &OLÀFDomR)LQDO Moçambique ficou em 1º lugar, com 6 medalhas de ouro, 2 de prata e 6 de bronze, somando 14 medalhas no total, seguido da África do Sul, que se posicionou em 2º lugar, com 2 medalhas de ouro, 6 de prata e 2 de bronze, totalizando 10 medalhas. O Zimbabwe ficou em 3º lugar, com 2 medalhas de ouro, 3 de prata e 2 de bronze, somando 8 medalhas no total, à frente do Botswana, que ficou em 4º lugar, com 2 medalhas de ouro, 1 de prata e 1 de bronze, somando 4 medalhas no total. Em 5º lugar ficou o Lesotho, com 1 medalha de ouro, 1 de prata e 2 de bronze, somando 4 medalhas no total, à frente das Seychelles, que ficaram em 6º lugar, com 1 medalha de ouro e 1 de bronze, somando 2 medalhas no total. Finalmente, a Suazilândia ocupou o 7º lugar, sem nenhuma medalha de ouro, 1 de prata e 3 de bronze, somando 4 medalhas no total. O africano de boxe superou as expectativas A maior festa futebolística do país regressa, este fimde-semana, com a cerimó- nia de abertura agendada para o Município de Chibuto, província de Gaza, onde os “guerreiros de Gaza” vão defrontar o Desportivo de Nacala. De forma sui generis, para além da retromencionada partida, o Costa do Sol vai receber, na noite do mesmo dia, o Maxaquene, no Estádio Nacional do Zimpeto, enquanto a União Desportiva do Songo recebe, na mesma tarde, o regressado Sporting de Nampula. Entretanto, como no ano passado, a prova inicia num mar de incertezas, com a direcção da Liga Moçambicana de Futebol a lançar um aviso à navegação, revelando que não sabe se o campeonato chegará ao fim. De acordo com o semanário desportivo, Desafio, o executivo liderado por Ananias Couane só tem disponíveis, até ao momento, cerca de 15 milhões de meticais, como resultado do acordo que este organismo rubricou com a Zap, referente às transmissões televisivas, estando em falta cerca de 65 milhões de meticais. Assim, as 16 equipas que se irão exibir nos 280 jogos programados descem ao relvado sem garantias de se irão terminar o certame, no qual o Costa do Sol é o maior favorito, tendo em conta as boas exibições na pré-época. A campeã nacional, União Desportiva de Songo é outra candidata ao título à semelhança dos Ferroviários de Maputo e da Beira, que também apetrecharam os seus planteis. Como novidades avançadas pela Liga, citada pelo Desafio, incluem-se o facto de os clubes passarem a dispor de alojamento em Nacala, contrariamente às edições anteriores em que o faziam na cidade de Nampula, partindo depois para aquele local nas vésperas da realização dos jogos, o que se afigurava contraproducente. Outro facto é a entrada em vigor do novo Regulamento de Disciplina, que preconiza multas elevadas aos prevaricadores, uma medida, aliás, que visa disciplinar a prova. Recorde-se que na última Assembleia Geral da LMF este assunto foi muito mereceu acesos debates por parte de alguns clubes que consideram a sua implementação inoportuna. Igualmente, foi instituído o prémio melhor jogador do Moçambola, o que certamente servirá de grande atractivo para os jogadores, no sentido de se empenharem cada vez mais. Entretanto, a primeira jornada compreende os desafios, Ferroviário de Nacala – Textáfrica; Ferroviário de Nampula – Ferroviário da Beira, Liga Desportiva – ENH, Ferroviá- rio de Maputo - 1º de Maio, Casta do Sol – Maxaquene, UD Songo – Sporting, UP Manica – Incomati, e Chibuto – Desportivo de Nacala. Arranca Moçambola-2018 O regresso num mar de incertezas... O Grupo Desportivo de Maputo reuniu-se, semana finda, em Assembleia-Geral Ordinária, para discutir a vida do clube, naquele que foi o primeiro encontro do género a ser dirigido por Inácio Bernardo, desde a sua eleição como presidente da colectividade, em Julho do ano passado. A reunião, que em princípio devia servir de espaço para os só- cios discutirem, de forma franca, os problemas que assolam o seu clube, tornou-se numa passarela para o desfile dos membros da direcção, pois, os sócios optaram por ficar em casa. Até às nove horas (hora marcada para o arranque da Assembleia-Geral), o Pavilhão do Desportivo encontrava-se quase deserto, verificando-se apenas alguns elementos da direcção, assim como funcionários do clube, ultimando os preparativos para o encontro. O encontro viria a iniciar com 35 minutos de atraso com sete sócios presentes. Na sua primeira intervenção, o presidente do Desportivo de Maputo pediu, a estes, uma moratória (de seis meses) para preparar o relatório, pois, “as contas não estão consolidadas”. Desportivo de Maputo reúne-se em Assembleia-Geral com a direcção a marcar maior presença Sócios marcam passo na gestão do clube Por Abílio Maolela Segundo Inácio Bernardo, não faz sentido que os sócios daquele emblema histórico da capital aprovem o relatório do exercício económico de 2017 sem conhecerem a situação anterior. “O Desportivo de Maputo não aprova as contas desde 2009 e queremos mudar esta situação. Não queremos mais esta situação. Queremos consolidar as contas desde as de 2009 até as do ano passado para sabermos qual é a real situação do clube”, disse. O antigo Director do Fundo de Promoção Desportiva (FPD) revelou que a dimensão dos problemas que tinha não é a mesma que encontrou, pelo que a situação não está sendo fácil de gerir. Por isso, não havendo contas consolidadas para serem discutidas, a direcção “alvi-negra” limitou-se em apresentar alguns números relacionados com a gestão corrente do clube, tendo revelado que, à data da sua chegada, a dívida do clube com um dos bancos comerciais da praça era de 450 mil meticais, mas conseguiu pagar, até final do ano passado, cerca de 32 mil meticais, em duas prestações de cerca de 16 mil meticais. A equipa de Inácio Bernardo disse ainda que a folha salarial do clube ronda aos 600 mil meticais por mês, onde não inclui a equipa de futebol. Por sua vez, as receitas aproximam-se a quatro milhões de meticais por ano, tendo o Pavilhão como a maior fonte de rendimento. Para além dos números, Inácio Bernardo falou também da situação do campo de futebol, um dos problemas enfrentados por aquele clube com 97 anos de existência. Em 2014, Michel Grispos, então Presidente do clube, deu “um presente antecipado do natal” aos sócios, anunciando a existência de um campo, em Bobole, zona norte do distrito de Marracuene, na província de Maputo, mas que nunca foi conhecido. Bernardo descarta a possibilidade de usar Bobole como “casa alvi-negra”, mas como Polo de Desenvolvimento, onde possa reunir petizes daquele região. Como alternativa, o timoneiro do Desportivo de Maputo afirma estar a analisar os espaços existentes ao longo da Estrada Nacional número quatro. Enquanto isso, na sede do clube decorrem as obras de reabilitação da piscina, encerrada há mais de dois anos. Refira-se que a equipa de futebol do Desportivo de Maputo irá militar na segunda divisão (despromovido em 2016) e será dirigida por Dário Monteiro, o homem que salvou a equipa da despromoção, em 2015. Savana 02-03-2018 23 DESPORTO DESPORTO Oprojecto “Faz Crescer” da Vodacom ofereceu, a 15 de Fevereiro, uma biblioteca com 300 livros, 20 computadores, acesso à Internet e a Escola Vodacom (Instant School) à Escola Primária Completa de Canongola, na Província de Tete. Trata-se de uma instituição do ensino primário e secundário que não tinha biblioteca há 27 anos, ou seja, desde a sua fundação em 1991. Com esta doação, passam para a história os problemas enfrentados pelos mais de 8 mil alunos que durante muito tempo viveram sem acesso a livros e computadores, recursos indispensáveis para o seu processo de ensino e aprendizagem. A cerimónia da entrega da biblioteca foi dirigida pelo Governador da Província de Tete, Paulo Auade, acompanhado pelo PCA da Vodacom, Salimo Abdula. O evento contou com a presença da Directora Provincial da Educação e Desenvolvimento Humano, Palmira Palma Pinto, da comunidade académica da EPC de Canongola e de quadros da Vodacom. No seu discurso, Paulo Auade, destacou a importância do projecto “Vodacom Faz Crescer” e disse ser uma verdadeira forma de melhorar a aprendizagem na sua província. “Acreditamos que o material oferecido pela Vodacom vai permitir melhorar o ensino e a aprendizagem através das novas tecnologias de informação e comunicação. Os alunos desta escola estarão mais ligados com o mundo e poderão aceder a bibliotecas virtuais e, assim, adquirir mais informação e conhecimento”, disse o Governador. Por seu turno, o PCA da Vodacom, Salimo Abdula, disse que a entrega da biblioteca e material informático faz parte de um sonho que a sua operadora de telefonia móvel tem para melhorar a educação em Moçambique. “A entrega de biblioteca que fazemos hoje (…) faz parte do sonho que temos vindo a anunciar, o de contribuir para a formação e ensino em Moçambique”, disse Abdula para mais tarde apelar ao bom uso do equipamento: “Esperamos que professores e alunos façam bom uso deste material e que atinja o seu grande objectivo: o de despertar cada vez mais o gosto pela leitura, abstração e pela investigação. Esperamos que essas ferramentas aumentem nos alunos a sua capacidade de análise, crítica e autocrítica, indagação e debate como forma de promover os valores da cidadania.” Salimo Abdula prometeu a entrega de mais duas bibliotecas, material informático e acesso à Internet a ser feita, ainda este ano, na província de Tete. Já a Directora Provincial da Educação e Desenvolvimento Humano, Palmira Palma Pinto, manifestou muita satisfação pela doação feita pela Vodacom: “Permita-me deixar uma palavra de apreço e agradecimento especial à nossa parceira Vodacom por se associar à nós nesta grandiosa luta de melhorar a qualidade de ensino das nossas escolas, em particular na nossa província.” Eduardo Macambo, Director da Escola de Canongola, referiu-se aos problemas derivados da ausência de uma biblioteca: “A aprendizagem era GH¿FLHQWH H WXGR VH j VDOD de aulas”, uma opinião partilhada por Rogério Tomasse Cheiro, Director-Adjunto Pedagógico, ao mesmo tempo professor da disciplina de TIC (Tecnologia de Informação e ComuniFDomR TXHDUPDTXHRFRQWH~GVta não passava de mera noção teórica de informática sem nunca poder colocar os seus alunos à frente de um computador, um cenário que vem a mudar a partir de 15 de Fevereiro de 2018. Canongola é uma escola da província de Tete que lecciona níveis primário e secundário e localiza-se no Bairro Samora Moisés Machel, ao longo da ~PHUR QDVPHGLDções do Monte Caloeira. Dista a quase 5 quilómetros do coração da Cidade de Tete, para quem circula em direcção ao Mercado de Kwachena Ku Nhartanda. “Vodacom Faz Crescer” doa livros à Escola Primária Completa de Canongola, em Tete Milhares de fás e curiosos escalaram, esta quarta-feira, o Estádio Nacional do Zimpeto (ENZ) para testemunharem a passagem, pela segunda vez consecutiva, da taça da copa do Mundo da FIFA. Foi um momento ímpar que permitiu aos amantes do futebol terem um contacto próximo com o troféu. A passagem daquele troféu resulta de uma parceria entre a Coca-cola e a FIFA que deverá escalar 51 países do mundo, antes de a 1 de Maio estar na Rússia, país que vai acolher o mundial de futebol 2018, entre Junho e Julho. A recepção do taça contou a presença da Ministra da Juventude e Desportos, Nyeleti Mondlane, que na ocasião disse que, mais do que ver a taça, esta acção foi a prova da união de culturas e paí- ses que partilham o mesmo amor pela Coca-Cola e, mais ainda, pelo futebol. Por sua vez, Phillipine Mtikitiki, Regional Franchise Manager da Coca-Cola, agradeceu a recepção calorosa da Taça pelos moçambicanos e garantiu que a Coca-Cola irá continuar a fazer com que as pessoas saboreiem e sintam muitas mais sensações durante o Mundial de Futebol. Taça da copa do Mundo recebida com euforia em Maputo 24 Savana 02-03-2018 CULTURA A Ilha é uma matéria plástica amassada em sargaços, corais, siri-siri, nodosas figueiras-da-índia, palmeiras, m´siros nos rostos e inscrições poéticas na pedra, e enfeixada por uma boa onça de tempo psicológico. É o que a torna resistente a todas as devassas: às devassas do tempo sobre os materiais – terríveis; às devassas dos costumes – ameaçadores (sobretudo agora que há sinais de clivagem por intolerância religiosa); às devassas de estar “entre” administrações (a de um país em crise e de uma Unesco a rondar a tosse convulsa); à devassa do mar e do clima – que erodem. Certo é que mesmo diante do que nos é contado sobre a actual realidade da Ilha, a imagem desta persiste, como o peixe, numa flagrante insolubilidade. Lembro-me de ter chegado à Ilha acautelado por mil vozes que me asseguravam a sua decadência e de, por algo de imaterial e de indefinível, ter concluído que, havendo embora alguma razão nas profecias de Cassandra, a aura do lugar se mantinha. Chegar à Ilha de Moçambique é o equivalente de participar num casamento em que todos os preparativos foram desastrosos mas a cerimónia se revela uma festa capitosa. Deve assentar nisto o mito. Talvez tenha razão António Sopa, ao ter escrito num artigo: «A sua lenda quase mítica tem muito que ver com o património construído, único na costa moçambicana, e com a beleza do local e das suas mulheres. Este retrato começou a compor-se a partir das décadas de 50/60 do século XX, quando alguns escritores como Rui Knopfli e Virgílio de Lemos a visitaram.» Contudo, o seu lastro é muito mais antigo e a sua genealogia é brutal: Camões, Tomás António Gonzaga ou Bocage lá padeceram, alimentados a siri-siri, de vãs expectativas, e dos setenta e cinco watts nos olhos das macuas. Bastariam estas três figuras, mas no século XX juntar-se-ia mais uma dezena de testemunhos de bons escritores e poetas que por lá passaram. Ainda há ano e meio, Carlos Morais José, no excelente romance que tem Camões no seu eixo, O Arquivo das Confissões/ Bernardo Vasques e a Inveja, localiza na Ilha de Moçambique o desvio, pelo invejoso protagonista, de um manuscrito inédito de Camões, aproveitando a ebriedade do vate. Mais felizes, em tempos de menor avareza, os contactos de inúmeros poetas e fotógrafos do século XX com a Ilha. É esta a matéria que alimenta a exposição patente no Camões – Centro Cultural Português em A Ilha dos poetas - Exposição sobre a Ilha de Moçambique reúne poetas e fotógrafos Por António Cabrita Maputo e que se prolongará até dia 30 de Março. Com curadoria de Nelson Saúte, a exposição foi bem estruturada. No átrio que antecede a sala grande de exposições, recebem-nos três inscrições, no chão e na parede do nicho redondo que aí se encontra e cujo capricho arquitectónico foi estupendamente aproveitado para ser transformado em gabinete acústico; no qual, sentados, podemos ouvir a voz de Mbate Pedro lendo a prosa poética de Eduardo White decalcada na parede curva. Estas três inscrições – a de White, mais as de Knopfli e de Virgílio de Lemos que se lhe antecedem – dispõe-se como ilhas no contraste do branco do chão e das paredes, que então adquirem o valor expressivo de um extenso mar. Lê-se na de Knopfli: «O sol/ tomba sobre as coisas/ ferindo-as de mansinho/ com a luz da eternidade». E fica o mote lançado, é esta luz da eternidade aquela que tentaram captar os inúmeros fotógrafos aqui reunidos: Moira Forjaz, Mariano de carvalho, Martinho Fernando, João Costa /Funcho, Ricardo Rangel, Sérgio Santimano e José Cabral. Apesar do conjunto ser bom, quer como documentos, quer esteticamente, talvez destacasse na exposição três fotografias que me parecem superlativas e são precisamente as que fecham (em alta) a exposição: a 14, a 15 e a 16, respectivamente, Bibinha e o seu modelo, de Santimano, o retrato sem título de Moira Forjaz de uma mulata macua que se aperalta no seu meio espelho, e a de José Cabral - que aliás faz parte de um ciclo do fotó- grafo que mereceria por si só uma publicação. Quanto aos poemas escolhidos e dispostos na parede, alternadamente em relação às fotos, assinam-nos: Camões, Tomás Antó- nio Gonzaga, Alberto de Lacerda, Glória de Sant’Anna, Luís Carlos Patraquim, Virgílio de Lemos, José Craveirinha, Mia Couto, Calane da Silva e Luís Filipe Castro Mendes, o actual Ministro da Cultura português. A Nelson Saúte coube naturalmente o texto de abertura e enquadrador. Na mesa onde se estende o famoso poema de Sena mostram-se vários e deliciosos postais antigos, catados no Arquivo Histórico. Num deles, mostra-se a Capela de S. Antó- nio, com a legenda: Actual paiol de pólvora. Este postal podia bem ser a metáfora do equívoco valor de uso com que a Ilha foi durante tanto tempo administrada, em vez de ser realmente investida como uma verdadeira reserva simbólica e cultural. Contudo, a recente entrada em cena da Universidade Lúrio, de Nampula, que abriu na Fortaleza um polo universitário, virá com certeza a mudar este cenário. Os novos poetas é que continuam a não esquecer o capital simbó- lico da Ilha, como se depara no livro Mesmos Barcos de Sangare Opaki: «Eis o que sou: Ilha/ ou corpo cercado/ de gente/ por todos os lados», que tem vários poemas dedicados à mesma. Como complemento da exposição refira-se ainda que, na sala de entrada que antecede a sala maior de exposições, somos convidados a assistir a uma instalação em vídeo que se intitula Por detrás de uma Performance: o Tufo da Mafalafa (o Tufo é uma dança local), da autoria de Pedro Rebelo, Matilde Meireles e Iñigo Sánchez, três artistas-pesquisadores do campo de artes sonoras e antropologia da Quenn’s University Belfast. Cito: «Através de um processo colaborativo de entrevistas, gravações de campo, vídeo e fotografia, Por detrás de uma performance a borda a prática artística do Tufo, designadamente a sua preparação e significado social, mas também as vivências do grupo de mulheres makhuwas que constitui e dinamiza o Grupo de Tufo da Mafalala. Articulando diferentes formas de saber (tradicionais, científicos, artísticos), a peça aqui apresentada como instalação ambiciona gerar um espaço de reflexão sobre o Tufo em diferentes dimensões, entre as quais os contextos espácio-temporais e as perspectivas de futuro». Sublinhe-se a inteligência da opção de se construir uma “caixa” revestida de esteiras e capulanas para, dentro dela, assistirmos à performance e ouvirmos as entrevistas, pois estarmos isolados no escuro, naquela “bolha”, não apenas nos concentra e aumenta os índices de empatia, como nos “ilha” - ou seja, somos transportados inconscientemente para o espaço da ilha que a dança daquelas mulheres resgata e consagra. Uma exposição que merece uma visita. A BDQ Concertos e os seus parceiros Vodacom e o Banc ABC apresentam, sexta-feira, 2 de Março, pelas 20:00h, no Campus da Universidade Eduardo Mondlane, a II edição da Noite de Guitarra, integrada no projecto sócio-cultural Moments of Jazz. Richard Bona, Ernie Smith, Jimmy Dludlu e Albino Mbie são os artistas convidados para abrilhantar mais uma noite que se augura suprema dada a qualidade e o virtuosismo dos guitarristas que vão dar corpo o primeiro espectáculo de Moments of Jazz 2018. Os músicos, que irão dar corpo à Noite de Guitarra II, têm créditos firmados na arena internacional e acumularam já vários prémios Noite de guitarra no Campus da UEM como resultado dos excelentes discos que já produziram e colocaram à disposição do público. Richard Bona, camaronês, é um baixista de jazz. Nasceu numa família de músicos. Seu avô era um contador de histórias e cantor tradicional da cultura oeste-africana e percussionista, e sua mãe era uma cantora. O seu talento espalhou-se rapidamente e ele é convidado com frequência para festivais e cerimô- nias. Ernie Smith é um guitarrista sul-africano de créditos firmados na arena da música internacional. Os seus discos são sempre uma referência quando o assunto é Jazz de inspiração africana. Jimmy Dludlu, outro moçambicano de créditos internacionalmente reconhecidos, também dará o seu concurso. Todos os seus discos ganharam prémios internacionais. Jimmy é sem dúvidas um dos maiores guitarristas dos nossos tempos. Albino Mbie, moçambicano de gema, estudou na famosa Berklee College of Music em Boston, EUA. O Seu primeiro disco foi premiado nos EUA e o tema Awussiwana ganhou o prémio para Cantor Revelação no Ngoma Moçambique. Todos os artistas serão acompanhados pelas respectivas bandas, o que garante um espectáculo de grande qualidade. A produção do Moments of Jazz está a reunir todas as condições para que o concerto tenha todas as condições técnicas indispensáveis para tornar o Noite de Guitarra II memorável. A.S Richard Bona é um dos artistas que o público quer ver Dobra por aqui SUPLEMENTO HUMORÍSTICO DO SAVANA Nº 1260 DE MARÇO DE 2018 A GALA VODACOM VIBRATOQUES 2018 FOI UM EXEMPLO DE GLAMOUR, IRREVERÊNCIA, ESPONTANEIDADE, BELEZA E SOBRETUDO, DE MUITO BOM GOSTO.... 2 Savana 02-03-2018 SUPLEMENTO Savana 02-03-2018 3 A EQUIPE DE MARKETING DO PRONTIFICOU-SE, JUNTO DA OPERADORA "RED DISTRICT", A COLABORAR NA EXECUÇÃO DE POSTERS DAS FUTURAS GALAS. PARA A DE 2019, APRESENTÁMOS ESTES MODELITOS..... Dobra por aqui Savana 02-03-2018 27 OPINIÃO Abdul Sulemane (Texto) Naita Ussene (Fotos) A questão da descentralização está a mostrar outro ambiente, com vá- rios contornos do encontro entre o Presidente da República, Filipe Nyusi, e o líder da Renamo, Afonso Dhlakama. Estamos agora à espera para ver como vai ser na prática o processo de descentralização. Esperamos que seja um processo sem muitos obstáculos. Motivado pelo Honoris Causa que recebeu, recentemente, na sua visita presidencial à Suíça, Filipe Nyusi demonstra que as coisas estão a andar pelo bom caminho. Nesta primeira imagem, aparece a saudar o destacamento feminino do partido da perdiz. É uma demonstração da sua parte humana com as mulheres que fazem parte das fileiras da Renamo, como se estivesse a demonstrar que, mesmo com as diferenças, somos todos moçambicanos. Este ambiente cordial é visto noutros quadrantes, coisa que em tempos passados era difícil de ver, membros de partidos diferentes a trocarem dedos de conversa. Se esses membros fossem vistos em tempos passados corriam risco de serem conotados como apoiantes do lado opositor. Dizemos isso por vermos o Primeiro Secretário do partido Frelimo a nível da Cidade de Maputo, Francisco Mabjaia, numa conversa afável com o antigo porta-voz da Renamo, Fernando Mazanga. É mesmo para dizer que o ambiente hostil está a desanuviar-se entre eles. Vamos ver até onde isso vai. A parte séria está por vir. Existem aqueles que ficam com um semblante desconfiança quando presenciam situações do género. Parece não gostarem do que testemunham. Mas é preciso ter esperança de melhores tempos. Mesmo assim não conseguem disfarçar o seu ar de desconfiança. Digo isso por causa desta terceira imagem onde o jornalista e Director de Informação da Rádio Moçambique, Abdul Naguibo, faz um comentário desviando o olhar. Enquanto isso, Mussa Momed, antigo jornalista do Jornal Notícias, agora a trabalhar na seguradora do estado, EMOSE e antigo director da Agência de Informação de Moçambique, Gustavo Mavie, que ocupou o cargo durante 14 anos e foi também um destacado membro do famigerado G40, grupo de analistas políticos criado em 2013 para contrariar tudo que não ia de encontro a narrativa governamental de então, fixam o olhar desconfiado no que vêem. Este cenário de olhares de suspeita despoletou momentos de risada aberta. Vejam a rizada do cronista da rádio Boca, Sauzane Jaque, e de Almiro Lobo. Devem estar a partilhar aspectos a ser incluídos na próxima crónica. Nesta derradeira imagem, deduzimos que o ambiente é de espanto. Mesmo com a situação passada por alguns, não deixam de surpreender. Deve estar a dizer isso o presidente da CTA, Agostinho Vuma, famoso pela sugestão do congelamento dos aumentos salariais em 2018 e suspensão do décimo terceiro para Sábado Malendza, antigo administrador de Vanduzi, na província de Manica, que foi exonerado do cargo debaixo de acusações de corrupção e abuso de poder. Até o jovem da agremiação juvenil do partido dos camaradas não esconde o espanto e desconfiança no que ouve. Isso só acontece no nosso país. Por isso ouvimos dizer que o nosso país não é sério. Precisamos mudar este cenário de uma vez por todas. Espanto e desconfiança À HORA DO FECHO www.savana.co.mz EF .BSÎP EF t "/0 997 t /o 1260w Diz-se... Diz-se IMAGEM DA SEMANA Naita Ussene C erca de duas semanas após ser designado Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa tomou a sua medida mais importante desde a investidura: a remodelação do executivo. Para analistas atentos à situação política sul-africana, a feição que o governo de Ramaphosa tomou encerra a seguinte conclusão: renovar na continuidade, para QSPNPWFS B DPÍP EP "/$ UJEP OP poder, depois da fracturante crise que levou à demissão de Jacob Zuma da chefia do Estado, quando ainda faltava um ano para o termo do seu mandato de cinco anos. 0T NNPT BOBMJTUBT DPOTJEFSBN BT mexidas visaram a eficácia da unidade interna do histórico partido no poder e não uma transformação fundamental do rumo que a África do Sul está a seguir. Entre as novidades de vulto na remodeMBÎÍP BOVODEB QPS SJM 3BNBQIPTB na terça-feira, destaca-se o regresso de /IMBOIMB /FOF BP QPTUP EF NJOJTUSP EBT Finanças, depois de o mesmo ter sido demitido por Jacob Zuma em Dezembro de 2015. +BDPC ;VNB EFNJUJV /FOF RVBOEP avolumavam revelações de envolvimento do então chefe de Estado em escândalos de corrupção. investidores e uma queda espectacular do rand face ao dólar. $PN B JOEJDBÎÍP EF VNB mB KÈ tinha sido afastada pelo seu antecessor, JM 3BNBQIPTB SFSÈ NBSDBS B TVB autoridade no partido, acenar para os investidores e o grande capital sobre “a nova aurora” que ele prometeu para a nação sul-africana. Em contraponto, Ramaphosa convidou para a influente pasta de ministra na Presidência para o Planeamento, MoniUPS"ÎÍP /LPTB[BOB %IMBNJOJ-Zuma, ex-mulher de Jacob e principal DPODPSSFOUF Ë QSJEÐOD EP "/$ OB conferência electiva de Dezembro. $PNP NBJT VN TJOBM EF DPNQSP P Novo governo para calar facções do ANC novo chefe de Estado sul-africano manteve outras figuras do círculo de Jacob Zuma. Malusi Gigaba foi movimentado da pasta das Finanças para o Interior, /PNWB .ZBOF TBJV OJTUSB da Água e Bathabile Dlamini, para o pelouro da Mulher. 0 WJDF
QSJEFOUF EP "/$ %BWJE .Bbuza, passou a vice-presidente da Repú- blica. Pensou no ANC e não para a RAS – Mohamed Yassin mental, o académico Mohamed Yassin disse ao SAVANA JM 3BNBQIPsa foi movido pelo intento de unificar P "estável do partido nas próximas eleições gerais. “Há ali nomes que são uma aposta pesTPBM EF JM 3BNBQIPTB NBT IÈ PVUSPT que respondem à necessidade de unir o "/$ WÈ B FMFJÎÜ N EJWJsões nem animosidades”, afirmou Yassin, EFUBEP OB "TNCMF EB 3FQÞCMJDB de Moçambique e docente no Instituto Superior de Relações Internacionais (ISRI). 0 OPWP (OP QSPTHVJV OÍP UPNB em conta as aspirações do povo sul-afriDBOP NBT P JNQFSBUJWP SJM 3BNBphosa sente de acomodar as diferentes alas do partido. " UÓUP EF FYFMP P OPWP
QSFsidente é de Mpumalanga, uma área densamente povoada na África do Sul SJM uma campanha sem ele. posto-chave, mas que é exercido a partir da Presidência da República, onde o chefe de Estado a terá debaixo de olho. "P USB[FS EF UB /IMBOIMB /FOF SJM Ramaphosa quer mostrar que não se identificava com as decisões de Jacob Zuma, considera Mohamed Yassin. Este governo é um insulto - oposição Reagindo às nomeações, Mmusi Maimane, líder do maior partido da oposiÎÍP EB «GSJDB EP 4 "MOÎB %FNPDSÈUJDB DPOTJEFSPV P "/$ UFWF FN conta apenas os seus interesses e não as expectativas da África do Sul. i0 HOP DPOUJOVB DIFJP EF OJTtros manchados, gente leal aos Guptas e acusada de corrupção”, afirmou Mmusi Maimane, em comunicado. 1BSB P MÓEFS EB "MOÎB %FNPDSÈUJDB B manutenção de Mabuza, Dlamini, Gigaba and Dlamini-Zuma mostrou que a remoção de Jacob Zuma não mudou o partido no poder. “Se Ramaphosa cortasse o governo para 15 ministros, podíamos poupar biliões de rands e evitar a subida galopante do declarou. Por seu turno, o porta-voz do Economic criticou o novo executivo, assinalando que vários ministros estão envolvidos no escândalo de corrupção com a poderosa família Gupta”. “Tudo o que ele fez foi no sentido do equilíbrio das diversas facções dentro do "ideia de um Presidente fraco, que cedeu sem o Estado de direito”, afirmou. "desmistificar a ideia de que os líderes africanos não podem lidar com a economia dos seus países. 0 MÓEFS EP 6OJUFE %FNPDSBUJD .ment, Bantu Holomisa, considerou a remodelação um aviltamento e insulto”. “É uma piada, premiar gente como Bathabile e promove-la. Isto é um aviltamento e um insulto à integridade da África do Sul, pelo que não estamos impressionados”, declarou. 1PS UVSOP P QPSUB
WP[ EP "/$ Pule Mabe, congratulou-se com as me consultou os parceiros da coligação com que o partido no poder está a governar o país. Inspirado no desastre da lixeira do Hulene, a procuradoria provincial de buir terrenos em zonas de risco aos munícipes. Que tal a responsabilização também para um antigo edil, pelas bandas da Matola, que chegou a vender valas de drenagem? Depois da postura agressiva de tecnocrata formado em Washington quando regressou a Maputo, na última aparição pública esta semana, o xerife da 25 de Setembro parece ter comprado um fato novo para a defesa da FDPOØDB OP FDFS KÈ FSB 4FSÈ B BMGBUBS È MPDBMJ[BEB OBT CBOEBT EP FSOP 0V B BNOÏT GF[
MIF DFS NFEJdas estritamente de carácter monetário não resolvem a crise? Já a determinada comissária política que tem a patriótica missão de forrar de notas os abalados cofres do xerife e quer a todo o custo quer selar as e abaixo-assinados com que os seus subordinados entopem as redes so morde … das ricas e ancestrais tradições, há suspeita que a associação que lhe dá DPSQP NVEPV EP .4"6 P JOTUJUVUP EB NFUFPSPMPH /B ÏQPDB DIPTB KÈ WBJ OB UFSDFJSB UFBEF BOVODEB CB QPS OÍP BDPOUFDFS DÈ BT CBOEBT EP 4 " DPOUJOVBS JN BJOEB TÍP BDVTBEPT EF “amarra chuvas”, o que pode dar linchamento. .BJT B /PSUF NBJT DPODSFUBNFOUF OP FODMF QFDM EP / BT JOTUJtuições do ensino da economia devem adoptar um novo manual de economia de mercado, em particular no que concerne à lei da oferta e da procura. Depois dos preços do comboio terem sido derrotados pelo camião que Conselho de Ministros, há uma nova tarifa no burgo. Mercado … como disse? há um escritório que esfrega as mãos de contente com os chorudos hono que argumentam a favor, será que levam ao tapete os fogosos inspectores com os livros de multas no coldre? 6NB POEB EF JOEJHOBÎÍP SJUBOBGBSJTBJDB OBT SFE TPDJT DPOUSB PT USBK PVTBEPT EF BMHVNBT iBSUJTUBTw OB ( 7JCSBUPT MFWPV B PQFSBEPra vermelha a emitir um comunicado onde condena os “comportamentos GPSB EPT IÈCJUPT DUVSBJT NPÎBNCJDBOPTw QFSBOUF P iCMBDLPVUw EB HSBOEF maioria da comunicação social, receosa de ser penalizada nas quotas pró- digas de publicidade distribuídas pela operadora. Enquanto ninguém se atreve a trocar por miúdos a expressão cultural genuinamente nacional que constituem desfiles em passadeira vermelha e faiscantes fatiotas com lacinho no pescoço, o candidato a candidato no JP EB JUBM KÈ BOVODJPV WBJ EFJYBS EF BQSFOUBS B H &MBT também exageram.... /P TÓUJP FMFDUSØOJDP EB &TDPMB EF %JQMPNBD3FMBÎÜ OUFSOBDJPOBJT EF Genebra, a tal que acaba de atribuir um Honoris ao engenheiro do planalto, pode-se ler, na fundamentação da distinção do “valente contributo para a luta da independência de Moçambique e o seu valioso contributo, como activista militar e político para essa transição histórica e libertadora”. É um equívoco sísmico que diz muito sobre o tipo do outorgador. De facto, há distinções e distinções… "nacional de rastos, com uma pesada dívida que até lixou os moçambicanos que ainda estão por nascer. E por falar de Genebra, pelas terras suíças anda um académico moçamBOP P B BOÈMJT CSF .PÎBNCJ GFJUBT EF GPSB EP ÓT $PNP BMHVÏN VN E IÈ BOPT P EJUP DVKP BMJNFOUB P ØEJPF a expressões até estranhas à própria academia. De facto, perplexo e dogmático parece ser o ilustre sociólogo. Em voz baixa "NFOUBN OB QSBÎB B PQFSBÎÍP "SJ BMÏN EPT FGFJUPT OP TJTtema financeiro, poderá começar a resolver as trapalhadas e os pontapés na legalidade que revestiram algumas das acções em torno do banco que quer ser terceiro. Savana 02-03-2018 EVENTOS 1 - Contabilidade - Impostos - Auditorias - Constituição de Empresas - Consultoria de Negócios - Consultoria Jurídica - Consultoria Informática Contactos: Email:info@locksleys.co.mz Cells: +258 846 845 892|+258 823 979 749 Servir com Excelência! A Cervejas de Moçambique (CDM) procedeu, semana finda, a uma doação de bens de primeira necessidade e material de construção ao Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) em Maputo. A CDM, subsidiária da AB In Bev (maior cervejeira do Mundo), fez uma doação composta por 1000 Redes Mosquiteiras, 600 mantas, 500Kg sementes de milho, 500Kg de sementes de feijão e 600 sacos de cimento de construção. Na ocasião, o Administrador Executivo das Cervejas de MoCDM doa bens ao INGC çambique, Hugo Gomes, avançou que o gesto demonstra o compromisso da instituição com o bem-estar dos moçambicanos. Em seguida, realçou que o donativo irá auxiliar centenas de famílias afectadas pelas chuvas e ventos que têm vindo a cair um pouco por todo o país. Por seu turno, João Osvaldo Machatine, director-geral do INGC, enalteceu a iniciativa da CDM, afirmando que neste momento crítico do país toda a ajuda era bem-vinda, pois, ajudaria a aliviar o sofrimento das famílias têm vindo a ser feitos aos mais diversos níveis. C om o propósito de promover o debate sobre a interculturalidade e o desconhecimento mútuo no contexto da era global, arrancou na última terça-feira, 27 de Fevereiro, em Maputo, o 3º ciclo de debates académicos designados por Tertúlias Itinerantes – 2018. Esta iniciativa, que irá decorrer até Novembro deste ano, com a apresentação e discussão de 10 sub-temas, sendo um por cada mês, irá escalar diversos lugares da capital do País, tal como avançou Sara Laisse, co-coordenadora das Tertúlias Itinerantes e docente na Universidade Politécnica. Conforme assegurou, o propó- sito das Tertúlias Itinerantes deste ano é o de dar continuidade ao diálogo em torno da Retomados debates sobre a interculturalidade interculturalidade, o tema geral desta iniciativa e que vem sendo discutido, desde a primeira edição em 2016: “No presente ano, não só alargamos o leque de oradores, como também diversificamos as áreas de especialidade dos académicos que irão abordar os sub-temas”. No tocante aos locais onde irão decorrer os debates, Sara Laisse avançou que os mesmos foram diversificados, visto que “queremos levar a discussão do tema geral para diferentes lugares e públicos da cidade de Maputo, uma forma encontrada de integrar mais a comunidade, para que possa ajudar a disseminar o princípio do diálogo intercultural, visto que este debate não se deve limitar aos teóricos e pensadores, dentro das universidades”. Eduardo Lichuge, co-coordenador e docente na Escola de Comunicação e Artes, da Universidade Eduardo Mondlane, explicou, por sua vez, que a decisão da realização desta 3ª edição prende-se com a aceitação do público, bem como com a qualidade dos debates anteriores: “Para nós, é sempre bom ter uma casa cheia. A partir das Tertú- lias passadas, entendemos que estávamos a fidelizar o público, visto que tínhamos um público leal ao programa, facto que nos estimulou bastante a continuarmos com este evento”, disse. Falando, especificamente, sobre a edição do ano passado, Eduardo Lichuge assegurou que foi muito bem conseguida. “As participações sempre foram de encontro com as nossas expectativas e esperamos que esta edição, a de 2018, seja ainda melhor”, manifestou. Entretanto, o orador da 1ª sessão desta 3ª edição, o especialista em Física Biomédica, Mário Forjaz Secca, abordou o tema “Dissonâncias Culturais: O confronto científico e humanista e o confronto europeu e africano”. Falou sobre a existência de um confronto clássico entre a cultura científica e a cultura humanista. Referiu, na sua abordagem, ter achado que “havia um paralelo neste confronto entre a cultura europeia e a africana porque, normalmente, a cultura europeia se defende como a garante das ciências, da tecnologia, sendo responsável pela mudança tecnológica do mundo, e criticando, por vezes, África, por alegadamente ser um continente pouco tecnológico sendo, por isso, mais humanista”. “Mas o que se passa, na verdade, é que este conflito já existe dentro da própria Europa, entre a cultura científica muito racional e a cultura poética humanista. Ou seja, estão a transferir um conflito existente no continente europeu, fazendo as pessoas pensarem que se trata de um confronto entre culturas de dois continentes”, argumentou. Na sua apresentação, Mário Forjaz Secca chegou à conclusão de que os conflitos existem por todo o lado: “A única solução existente, quando há mistura de culturas, é as pessoas fazerem pontes, dialogarem abertamente, assumindo que há sempre diferenças e diversidades culturais. Todos nós temos um pouco da cultura do outro, por exemplo, a cultura científica tem um pouco de cultura humanista e vice-versa”, concluiu. Importa referir que as Tertúlias Itinerantes decorrem sob o lema “Fluxos de comunicação intercultural no espaço de língua portuguesa: debater o desconhecimento mútuo no contexto da era global”. Esta iniciativa académica é coordenada, para além dos docentes mencionados, também por Lurdes Macedo, da Universidade Lusófona, de Portugal. Esta primeira sessão teve lugar no anfiteatro da Biblioteca Central da Universidade Politécnica. Savana 02-03-2018 EVENTOS 2Moçambique e o Reino da Noruega vão trabalhar para a revitalização da Escola Superior de Ciências Náuticas de Moçambique. O entendimento foi formalizado semana passada, entre o Ministério dos Transportes e Comunicações e a empresa OSM África Limited, integrante na delegação nórdica que visitou o País. O memorando rubricado estabelece que a OSM África Lda. vai efectuar, num prazo de quatro meses, um estudo de viabilidade para o desenvolvimento do projecto de reposicionamento da Escola Superior de Ciências Náuticas de Moçambique como um Centro de Excelência na Formação de Liderança Marítima Global. Falando por ocasião da assinatura do Memorando, o ministro dos Transportes e Comunicações, Carlos Mesquita, disse que a disponibilidade da Noruega em apoiar Moçambique na revitalização da Escola Superior de Ciências Náuticas aparece numa altura em que o País está a trabalhar para a revitalização da cabotagem marítima, para além de estar a receber importantes projectos que vão Em vista revitalização da Escola Superior de Ciências Náuticas necessitar de quadros competentes da área da marinha mercante. “Este entendimento surge como resultado do trabalho de mobilização de parcerias para a certificação internacional da Escola Superior de Ciências Náuticas, de modo a produzir quadros com capacidade para responder às necessidades da cabotagem marítima nacional, pescas e da logística dos hidrocarbonetos do País, bem como da logística marítima no contexto global” disse Mesquita. Para o vice-ministro de Desenvolvimento Internacional da Noruega, que igualmente testemunhou a assinatura do Memorando de Entendimento com o MTC, esta é uma janela para o estreitamento das relações de cooperação entre Moçambique e a Noruega que deve ser capitalizada, aguardando, com expectativa os resultados e propostas concretas a serem apresentadas pelo estudo de viabilidade a ser realizado. Assinaram o memorando, Pedro Inglês, secretário permanente do Ministério dos Transportes e Comunicações e Basílio Gianouris, director de Operações e Apoio da OSM, uma empresa de gestão de tripulação marítima de liderança global com mais de 27 escritórios a nível mundial. O Programa “Emprego Jovem”, levado a cabo pela Organização para a Cooperação Islâmica, dispõe de USD200 biliões para financiar iniciativas de emprego em 53 países, membros da organização, mediante apresentação de projectos. A informação foi transmitida no decurso da 4ª Sessão da Conferência dos Ministros do Trabalho, que teve lugar entre os dias 21 e 22 de Janeiro em Jeddah, Arábia Saudita. No evento que decorreu sob o lema: “Desenvolvendo uma Estratégia Comum para o Desenvolvimento da Mão-de-Obra” discutiu-se sobre o grau de execução do Programa de Apoio ao Emprego Jovem, sustentado pelo Banco Islâmico de Desenvolvimento, tendo-se instado aos países membros a apresentarem projectos de emprego juvenil, para acederem a uma parte do fundo global de USD200 biliões nos próximos 10 anos. “Emprego jovem” com USD 200 biliões Moçambique, que se fez representar no evento pelo vice-ministro do Trabalho, Emprego e Segurança Social, Oswaldo Petersburgo, garantiu que existem vários projectos que visam a empregabilidade juvenil e que os mesmos serão submetidos com maior brevidade possível. A conferência de Jeddah aprovou o acordo padrão sobre troca de mão-de-obra, entre os Estados membros, respeitando as normas da Organização Internacional do Trabalho. Neste contexto, Oswaldo Petersburgo manteve encontros separados com os ministros do Trabalho e Acção Social da Arábia Saudita e dos Recursos Humanos dos Emirados Árabes Unidos, países que demonstraram interesse em recrutar mão-de-obra moçambicana para diversas áreas. A Arábia Saudita manifestou vontade de apoiar Moçambique, nas áreas de formação vocacional e medidas activas de emprego. Savana 02-03-2018 EVENTOS 3 N o quadro da sua linha de responsabilidade social, o Grupo Construtora Mondego, uma empresa de capitais moçambicanos que opera na área de construção civil desde de 1997, despendeu cerca de um milhão de meticais para mitigar o sofrimento das vítimas da lixeira de Hulene. Recorde-se que, na madrugada de 19 de Fevereiro último, 16 pessoas perderam a vida e outras cinco ficaram feridas, na sequência do desabamento de parte da lixeira de Hulene, nos subúrbios da capital moçambicana. Para além de mortes e ferimentos, o incidente desalojou cerca de 120 pessoas que, posteriormente, foram acomodadas no centro de acolhimento provisório, aberto no bairro Ferroviá- rio das Mahotas. Sensibilizado com a triste realidade das vítimas do incidente, o Grupo Mondego juntou-se ao movimento solidário e, em parceria com o Conselho Municipal de Maputo (CMM) e o Instituto Nacional de Gestão das Calamidades (INGC) disponibilizou cerca de 10 toneladas de produtos alimentares e material escolar. Trata-se de 250 sacos de arroz, 300 sacos de farinha de milho e 200 quilos de açúcar. O donativo, testemunhado pelo Mondego apoia vítimas da lixeira de Hulene presidente do Conselho Municipal de Maputo, David Simango, da Vereadora para a área de Saúde e Acção Social, Yolanda Manuel, representantes do INGC, e estruturas do bairro bem como dos afectados, foi entregue às vítimas da lixeira, na manhã da última sexta-feira, 24. “Foi com grande tristeza que o Grupo Construtora Mondego, uma empresa nacional cuja sede está nesta cidade, tomou o conhecimento do deslizamento na lixeira de Hulene, em consequência das fortes chuvas que vêm assolando a nossa cidade, provocando danos humanos e materiais. Neste momento de pesar, solidarizamo-nos com as vítimas e endereçamos às famílias enlutadas as mais sentidas condolências”, foi nestes termos que, Manuel Pereira, administrador-delegado da Construtora Mondego iniciou o seu discurso. De acordo com Pereira, na convicção de que muitas crianças perderam também material escolar, a construtora, para além de produtos alimentares, doou 150 cadernos, 150 livros escolares para primeiras e segundas classes, lápis, esferográ- ficas e outro material didático. Explicou que, a linha social da empresa foi estabelecida em 2000, aquando das cheias que assolaram por completo a região sul do país e que deixou mais de 700 mortos, milhares de deslocados e enormíssimos danos materiais. “De 2000 a esta parte, sempre que há uma situação de calamidade numa zona em que operámos e não só, auxiliámos as autoridades no apoio às vítimas, porque entendemos nós que a empresa não serve apenas para fazer negócio, mas também para contribuir no bem-estar da população moçambicana”, disse. Por seu turno, David Simango, edil de Maputo, referiu que iniciativas iguais são bem-vindas porque ajudam a dignificar a vida humana. Para Simango, sem apoio do sector privado, as autoridades governamentais não podem fazer tudo sozinhos. Sublinhou que terminada a fase do socorro dos sobreviventes dos funerais das vítimas mortais, a prioridade vai para os reassentamentos, visto que não é elegante deixar pessoas nos centros de acampamentos por muito tempo. “Já identificámos lugar no distrito de Marracuene, província de Maputo. É lá onde vamos colocar as vítimas e outras famílias que vivem na situação de risco na zona da lixeira de Hulene e noutros bairros vulneráveis. Por isso, iniciativas como as do Grupo Mondego são bem-vindas e ainda precisamos de outros apoios, sobretudo de material e construção”, disse Simango. Com um volume de negócios sustentável e, guiando-se pelo lema: qualidade, rigor e profissionalismo a Construtora Mondego é uma empresa virada essencialmente para o ramo imobiliário e de obras públicas. A empresa emprega neste momento cerca de 850 trabalhadores, dos quais 99.8% são moçambicanos. Manuel Pereira (Admn. Delegado), César Seventine e Didier Castro, Membros do Conselho de Administração Savana 02-03-2018 EVENTOS 4 A cidade de Quelimane celebrou, a 18 de Fevereiro, a passagem dos 20 anos de implantação da primeira instituição de ensino superior na província da Zambézia, o Instituto Superior de Humanidades, Ciências e Tecnologias (ISHCT), uma unidade orgânica da Universidade Politécnica. A história do ensino superior na província da Zambézia começou com a presença do Instituto Superior Politécnico e Universitário (ISPU-Extensão de Quelimane), a 18 de Fevereiro de 1998, numa moradia “ISHCT tornou-se um pilar do desenvolvimento da província da Zambézia” cedida por um particular, onde oferecia dois cursos, nomeadamente de Ciências Jurídicas e Administração e Gestão de Empresas, com um total de 37 estudantes. Em 2007, passou a ser designado ISHT (Instituto Superior de Humanidades e Tecnologias) e em 2017, 19 anos depois, passou a Instituto Superior de Humanidades, Ciências e Tecnologias (ISHCT). Na cerimónia que marcou a passagem da data, o Reitor da Universidade Politécnica, Narciso Matos, realçou a ousadia e o optimismo que nortearam a implantação da primeira instituição de ensino superior naquela província, concretamente na cidade de Quelimane, o ISHCT. Durante estes 20 anos, disse Narciso Matos, “o Instituto Superior de Ciências, Humanidades e Tecnologias tornou-se um pilar do desenvolvimento da província da Zambézia e tem estado a contribuir para a formação de homens e mulheres qualificados e, por via disso, para a melhoria da qualidade de vida e do bem-estar das comunidades”. Narciso Matos referiu-se, igualmente, ao facto de a Universidade Politécnica ter sido a primeira a oferecer o ensino superior privado em Moçambique, o que “alargou o conhecimento sobre o modo de organização e funcionamento e estimulou a adequação ou criação de leis e normas aplicáveis ao ensino superior em todo o País”. Por seu turno, o governador da província da Zambézia, Abdul Razak destacou o papel do ISHCT na formação do capital humano, “factor indispensável para o desenvolvimento humano, cultural e sócio-económico do nosso País”. Na ocasião, Abdul Razak encorajou o ISHCT a continuar a entregar ao mercado “profissionais não só bem qualificados, mas também imbuídos da cultura de trabalho e espírito empreendedor”. “Ao munirem os jovens de conhecimento, competências, habilidades e espírito de iniciativa e inovação estarão a contribuir para o progresso de Moçambique”, explicou o governador. A StarTimes Media Mozambique pretende realizar um concurso de dublagem de filmes e telenovelas em português. Este concurso visa seleccionar estudantes com habilidades para dublagem de conteúdos televisivos. Um evento semelhante (competição de dublagem de filmes em Swahili) foi realizado na Tanzânia, nos últimos três anos. Neste concurso, os vencedores terão a StarTimes lança concurso de dublagem oportunidade de trabalhar na sede da StarTimes que se encontra na China, onde serão integrados na equipa de dublagem. São elegíveis para o concurso estudantes universitários (com graduação prevista para 2018) moçambicanos que falem correctamente a língua portuguesa ou que já tenham a licenciatura concluída e com dois anos de experiência em trabalho relacionados com a indústria do filme. (Redacção) I nvestigadores moçambicanos e portugueses juntaram-se durante dois dias, esta semana, para partilharem experiências no domí- nio da ciência e tecnologia. Trata-se da primeira conferência científica Luso-Moçambicano, uma iniciava que resulta de um memorando de entendimento assinado entre os dois países em 2016, de modo a estabelecerem um maior contacto bem como a criação de projectos conjuntos de investigação. Organizado pelo Fundo Nacional de Investigação (FNI), do lado Moçambicano em parceria com Fundação para Ciência e Tecnologia (FCT) de Portugal, o seminário deixou de fora a componente invocação, tendo sido privilegiado o campo da investigação científica que culminou com apresentação de pesquisas em seis áreas, com destaque para saúde, na qual o Centro de Investigação da Manhiça apresentou os seus estudos relativos ao tratamento de doenças. Foram alvos de projectos de investigação áreas como recursos minerais, energia, sociologia, economia e ciências jurídicas. Para Jonas Mondlane, responsável do departamento de Planificação, Estudos e Cooperação do FNI, a investigação tem uma componente muito importante para o desenvolvimento do país, sendo que vários são os projectos de sucesso financiados pelo FNI que, por sua vez, não procura ganhar louros quando sobressaem. Tomou como exemplo a criação de uma máquina de cirurgias de forma rápida e eficiente e que, acima de tudo, reduz o tempo de permanência do paciente no hospital. Disse que este projecto teve o financiamento do FNI e mostra o quão a ciência pode Moçambique e Portugal partilham experiências estar ao serviço da saúde e outros sectores. Avançou para o sector agrário onde foi desenvolvido um projecto de transferência de tecnologia que permite aos agricultores de Moamba aumentarem níveis de produção e produtividade. No entanto, com a realização do seminário espera-se que haja mais intercâmbios entre as partes, partilha de conhecimento e, acima tudo, geração de projectos conjuntos que vão ajudar os investigadores moçambicanos a adquirir mais conhecimento. Enquanto isso, o Secretário Permanente do Ministério da Ciência e Tecnologia, Ensino Superior e Técnico Profissional (MCTESTP), Celso Laice, destacou que a conferência Luso-moçambicana surge numa altura em que o governo moçambicano está a dar importantes passos rumo à construção de um melhor ambiente para o desenvolvimento da investigação científica, tecnológica e inovação. Falou da aprovação da política de ciência e tecnologia, da estratégia do governo electrónico bem como a criação do Fundo Nacional de Investigação como órgão impulsionador da investigação. Segundo Laice, o governo pretende que a investigação científica e a inovação contribuam de modo mais determinante na promoção da prosperidade nacional e melhoria das condições de vida dos moçambicanos. Mas, para o alcance dessa ambiciosa meta, entende o dirigente que é fundamental a consolidação de um sistema nacional de ciência e tecnologia, incluindo a componente institucional e respectivas conexões, bem como é necessário que os esforços de investigação sejam orientados para a solução dos principais desafios de desenvolvimento nacional.
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