quinta-feira, 8 de março de 2018

Estaca VIII – Em jeito de uma não-conclusão: a ponta inicial do fio conductor


Roberto Tibana
08-03-2018
Quem esperasse ver nesta última Estaca uma espécie de “conclusão”, “lições aprendidas”, ou coisa semelhante, pode parar aquí. Não tem nada disso. Também quem esperasse ver o “plano da próxima série de Estacas” pode fechar. Nem uma nem outra coisa. Todos os que leram estas "Estacas" são por mim considerados coscuvilheiros que sorrateiramente se esconderam por detrás das paredes da minha casa e escutarem as “minhas conversas comigo próprio” para depois andarem aí fazer shushushu… shushushu... Bisbilhotar!
Mas que fazer, mesmo assim tive que reservar este espaço para vos atrair somente para virem “ouvir” o meu OBRIGADO por me terem acompanhado na jornada das sete Estacas.
Fiz questão de antes de publicar a primeira escrever todas as Estacas anteriores (isto é, todas excepto esta ultima) e alinhá-las no “prelo” . E a medida que as ia fazendo rolar na “prensa” relia, limpava algumas gralhas (lembram-se da quantidade delas, principalmente nas primeiras Estacas?!..). E nisso ir resistindo editar o conteúdo (você não pode editar uma conversa, pode?!) E esta última parte (resistir editar) foi a mais difícil, dada a tentaçao a medida que via os os vossos comentarios e perguntas. Eu queria lê-las tal e qual como saíram pela primeira vez. E acho que foi assim em 95% (se dissesse 100% estaria a mentir!).
Não havendo da minha parte “conclusões” ou “lições aprendidas”, tenho porém uma explicação a dar acerca das motivações imediatas para sujeitar-vos a tanta “tortura”. E essa explicação vai a seguir.
Tudo começou em 2016, ainda no auge das atividades dos esquadrões da morte, quando me tornei muito ativo no Facebook, vociferando acerca da necessidade de se parar com aquelas matanças seletivas dirigidas principalmente contra os membros da RENAMO, e dos atentados e ameaças contra quem quer que fosse crítico ao regime. Também nessa altura reapareci nas telas da televisão (antes que as FRELIVÊs recebessem o comando de banir …) no meu chapéu de economista, a fazer os meus comentários e análises da situação económica e outras coisas, principalmente quando do despoletar público do escândalo das dívidas secretas e ilegais . Foi nessa altura que retomei a ideia da ASSEMBLEIA CONSTITUINTE (sobre a qual havia começado a falar publicamente em finais de 2015) como PROCESSO e PLATAFORMA necessária para juntar TODOS os moçambicanos num processo genuíno de reconciliação e construção das bases de uma paz verdadeiramente duradoira, e para virar a pagina na nossa história e começar uma nova era. Lembram-se alguns de vocês de uma votação tosca (mas de resultados interessantes) que organizei aquí no Facebook, onde eu lançava essa minha proposta em contraposição ao modelo das rondas da “Joaquim Chissano” (as tais 100, mais as que se sucederam!). Alguns de vocês votaram!
Foi tanto “barulho” nesses dias, que um jovem apareceu e, aparentemente indignado escreveu mais ou menos assim (não tenho agora tempo de ir buscar as coisas com a as respetivas vírgulas, mas está lá em algum canto desta minha página do Facebook): ”Mas quem é esse Roberto Tibana que aparece agora a fazer esse barulho todo? Aonde é que ele esteve durante estes anos todos?...”.
Quando li isto, até quase fiquei “ofendido” que esse jovem não conhecia o Roberto Tibana (hey, continuo arrogante, hein?!...). Mas na altura deixei passar. Acho que a minha resposta foi direcioná-lo para a minha página do LinkedIn para ele ver o meu perfil e baixar o CV se quisesse. Os outros que me conheciam chibaram-lhe tanto que eu tive pena dele. Pois ele tinha razão. Temos muitas descontinuidades na narrativa da nossa história contemporânea, e eu nem sequer sou uma figura na história. Porquê que um jovem de 23-25 anos hoje tem que saber quem é o Roberto Tibana? Quando eu fiz as minhas séries do ‘Economia e Negócios’ na TVM e mensalmente no Jornal Notícias durante os anos 2001-2003 ele só podia ter por aí entre 7 a 10 anos de idade. Nessa altura ainda não havia Facebook mas já havia internet, e bastava que ele tivesse ‘googlado’ Roberto Tibana ele teria encontrado muito material que lhe mostraria que 17-20 anos atrás eu já publicamente fazia mais ou menos o mesmo tipo de “barulho”. Nessa altura era à volta das crises do Metical dessa época, bem como do assassinato macabro do António Siba-Siba Macuácua, aquele outro jovem apanhado no “fogo cruzado” dos gângsteres desta terra. assassinato esse a propósito do qual fui o “agitador chefe” da campanha nacional e internacional que levou a Transparência Internacional a outorgar-lhe a honra, a titulo póstumo, de “Herói da Integridade”.
Meses depois do “incidente” daquele jovem Fecebookista fui convidado a meter-me nesse “Painel de Monitoria das Negociações da Paz” que foi criado pela “Conferência Pensar Moçambique” realizada em Julho de 2016 (a qual não fui convidado a participar, mas depois fui arrastado a arcar com a implementação das suas resoluções! – há sempre alguém para fazer o “trabalho sujo”...). Não sei se as pessoas que para lá me arrastaram tinham uma ideia clara de com quem se estavam a meter. O certo porém é que isso deu-me a oportunidade de viajar pelas províncias e interagir muito intensamente com os jovens de todas as origens sociais, ocupações e cores políticas e não políticas. Foi muito intenso e interessante. Até cheguei a ser um dos organizadores dessa manifestação “(in)famosa” do 27 de Agosto de 2016, no auge das actividades dos esquadrões da morte. A tal manifestação que foi muito combatida pelo regime que alinhou o famoso G40 para fazer a “propaganda” por nós, só para no dia nos mandar lá uma “escolta” de polícia e outras forças de defesa e segurança jamais vista na cidade de Maputo numa manifestarão pacífica e "autorizada" (estavam prontos a disparar para matar, mas que entretanto não conseguiram sequer levantar bastão para bater nem uma única pessoa, tal foi a organização e disciplina que montamos para lhes vigiarmos, a eles e aos seus agitadores profissionais!).
Depois disso tudo, alguns jovens curiosos me convidaram a ter uma “conversa livre” com eles para eu falar de mim próprio. Quem fez o convite foi a Quiteria Anicia Fernandes Guirengane, do Parlamento Juvenil. Uma das razões da curiosidade destes jovens era porque em conversa com eles nos intervalos das conferência e seminários sobre a paz e reconciliação, eu as vezes deixava escorregar algumas dessas “conversas comigo próprio” e a frase “meus netos”. E eles diziam “não é possível, o Doutor não pode ter netos, está a anganar-nos!” E aquí o problema é que para além de algumas das estórias que agora fizeram parte destas Estacas lhes terem parecido “coisa de outro mundo” eu tenho a massa do meu pai que faleceu com pouco mais de 90 anos mas sempre querendo parecer jovem e para isso tendo ao seu lado a natureza.
O convite desses jovens deixou-me muito embaraçado: Há tres décadas que luto para corrigir a minha arrogância (!...), e assim nunca tinha pensado em “falar de mim próprio” em nenhumas circunstâncias, muito menos pensar que isso pudesse interessar a alguém. Mas lá acedi e, para meu desastre, não consegui organizar-me. Tendo sido docente no passado, creio que se aquilo tivesse sido alguma aula ou seminário numa Universidade eu sairia dalí para ir levantar uma carta de expulsão. O certo é que daí nasceu uma dívida para com esses jovens. E espero ela tenha sido saldada com a partilha das “conversas comigo próprio” através destas Estacas.
O terceiro episódio que motivou a partilha destas “conversas comigo próprio” é muito recente, datando de cerca de duas semanas atrás, e ocorre quando publiquei aquele meu post por ocasião do Prémio Mo Ibrahim outorgado à Presidente Hellen Johnson Sirleaf da Libéria, para cujo governo eu trabalhei. E uma das pessoas que leu o post escreveu um curto comentário que foi a “gota de água” que fez transbordar o copo (no sentido positivo). Foi a Maria Dos Anjos Rosário. Por baixo desse post ela escreveu assim (e cito):
“ Maria Dos Anjos Rosário Parabéns a Sra ELLEN . OBRIGADO dr.Tibana meu colega de lides na Educação e sempre irreverente, obrigado pelo texto e parabéns pela sua trajectória. Há males que veem por BEM.”
Há anos, de facto pouco menos de trinta anos, desde 1980 (!), que nao falo com esta minha ex-colega da Educação, e apra mim foi significativo que ela me tivesse escrito aquilo.
Neste comentário as palavras-chave que provocaram o tal transbordo são “sempre irreverente “ e “Há males que veem por BEM.” E para quem leu todas as estacas, da para entender muita coisa, se calhar mesmo aquilo que ela nao quis significar com o que disse.
Portanto, para quem aquiser saber foram estes dois episódios (o chamamento dos jovens para eu voltar a ser "arrogante" (ou "irreverente"?) e falar de mim proprio, e o comentário da mkinha ex-colega de decadas atras Maria dos Anjos Rosário) os propulsores imediatos destas sete Estacas. Quanto as “conversas comigo próprio” elas mesmo, essas são permanentes.
O nome “o meu 8 de Março” para o tema da série vem a propósito porquê? Porque ele resume três fenómenos. Primeiro os acontecimentos do 8 de Março, que evocam o papel da juventude moçambicana na história contemporânea de Moçambique e as distorções convenientes a volta dela (como quando se cria uma “geração 8 de Março” de alguns). Segundo porque o 8 de Marco é o dia Mundial da Mulher (a mulher estando no centro daquele post que tem o comentário da minha ex-colega Maria dos Anjos Rosário). E finalmente, esse tal 8 de Março data calendário se aproximava. Tudo isso se juntou convenientemente, e assim vocês tiveram o “castigo” de ao longo de uma semana inteira correrem pelas sete Estacas que escrevi em duas ou três noites, dez dias atrás.
Me perdoem a maratona, mas se existe alguma “culpa” foi desses jovens e da Maria dos Anjos Rosário!
VOTOS DE BOAS CELEBRAÇÕES DO DIA MUNDIAL DA MULHER, EM PARTICULAR PARA A MULHER JOVEM!
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Comments
Luis Mucave Estou feliz.
Confirmo mais uma vez que há heróis anônimos e que a verticalidade vinga sempre.
Obrigado Dr.Tibana
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14h
Euclides Da Flora Parabéns...
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14h
Jessemusse Cacinda Eu fui uma dessas pessoas que leu todas as Estacas. Deu para aprender muito sobre a nossa história. Também li o post do Mó-Ibraimo. Espero continuar a beber mais conhecimento e acima de tudo, experiência de si, porque afinal, a antiguidade é um posto
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14h
Luis Sarmento Espectacular... Palavras minhas pela boca de outrem... Obrigado pelas memórias que avivam as minhas...
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13h
Francisco Neves Obrigado, Dr. Roberto Julio Tibana! De todos se vai construindo esta bela pérola do índico.
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13h
Sonito Wana Guiamba Fui leitor assíduo dos seus escritos, isto é as lições ou história nossa nestas 8 estacas. Valeu pelo aprendizado. Aquele abraço fraterno.
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12h
Carlos Jonasse Foi uma jornada de muita aprendizagem! Aliás, já estou com saudades! Dr, não ha como prolongar o fio condutor das Estacas?Na verdade as suas vivências vêm ilucidar-nos sobre o percurso da construção do nosso país!! parabéns e já estou com saudades de ouvir histórias novas...Conforta-me reler as Estacas na esperança de um dia o Professor RJT, brindar-nos com a ESTACA IX...Obrigado!
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12hEdited
Domingos Gove A historia de um povo e o somatorio de varias historias. Infelizmente muitos de nos guardamos as nossas a sete chaves, para parecermos normais e quem perde somos nos e o Pais. Obrigado pela coragem e pelo ensinamento.
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7h
Heinrik Sam Paindane Bem haja Dr. Roberto Julio Tibana! Foram 8 aulas de história contemporânea do nosso belo Moçambique.
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7h
Nhamuche Nhamuche ... a história de Moçambique foi mal contada. Acredito que bons dias virão.
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7h
Eduardo Chichava As vezes é preciso conhecer o passado para entender o presente.
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5h
Marius Da Alda Alfixa Obrigado Dr, pela jornada de aprendizagem ...
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5h
Claudino G. Nchumali Disse que não irias apresentar conclusões e nem lições (concordo consigo), mas permita-me fazer as minhas conclusões como resultado do sofrimento que tive durantes estes 10 dias que tive que reservar 5 a 10 minutos para ler as estacas. 
Conclusão 1: A 
minha primeira conclusão é sobre referências e/ou exemplos para os jovens (premissa antes das estacas – há falta de referências para os jovens de hoje, aqueles que achávamos que deviam ser são os primeiros a nos desiludir). Com estas estacas digo sim, existente sim referências seguir-mos os seus caminhos. Só que muitas estão no anonimato (por muitas razoes) e não tem a capa de super herói. É preciso uma acção proactiva nossa de procura-las e excita-las a contar um pouco de si de modo a aprender uma forma de estar diferente do statu quo.
Conclusão 2: Ainda há pessoas com sentido de Estado, que tem o seu ego, mas que pensam no bem comum antes ou depois do bem pessoal (pessoas com um sentido de Estado), pessoas interessadas com o desenvolvimento do país e que se preocupam com os acontecimentos que prejudicam o Estado como um todo e pensam em acções concretas sem beneficio próprio para reverter a situação vigente. 
Parabéns, se fosse brasileiro diria, você é o cara, mas como sou moçambicano só posso dizer: o senhor é um dos poucos homens com tomates no lugar (sem ofensas, desculpa pela expressão).
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4hEdited
Solomone Manyike Parabéns sr Prof
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4h
Edgar Barroso Li atenta e apaixonadamente todas as estacas. Fiquei a conhecê-lo mais ainda. É, sem dúvidas, uma das referências que nos têm faltado, como jovens. Referência de trabalho, integridade, patriotismo e irreverência. Os meus parabéns pela iniciativa!
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4h
Laut Mends Excepcional. Parabens Dr. O senhor é uma fonte. Deus te abençoe
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2h
Rafael Saute Well done Dr TIBANA! Li com interesse todas as estacas e o meu respeito por si só podia aumentar, pois para além de contribuir no debate de ideas o sr tem profundidade e sim, demonstrou humildade suficiente para aprender o que aprendeu durante a vida o que o torna único, o que infelizmente pode parecer arrogância/irreverência como disse. Parabéns e bem hajas! Rafael
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1h

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