A “menina bonita” de Donald Trump
Reservada e discreta, a ex-diretora de comunicação da Casa Branca mereceu a absoluta confiança de Donald Trump. Havia quem a considerasse demasiado nova para o cargo, pouco experiente, mas também quem defendesse a sua capacidade de trabalho e ética profissional. Hope Hicks esteve ao lado do Presidente quando este foi candidato. No dia em que apresentou a demissão, republicamos o seu perfil
Hope Hicks, a diretora interina de comunicação da Casa Branca, tem uma beleza digna de qualquer atriz daquelas a que as séries de ficção norte-americanas nos habituaram. Nela sobressaem os olhos verdes e o cabelo escuro, mas não de uma forma ostensiva, que lhe comprometa o perfil sereno e discreto. Irrepreensível na elegância de um guarda-roupa e maquilhagem que por vezes podem parecer demasiado austeros para uma mulher de 28 anos, a imagem de Hope é a de alguém que assume a formalidade do circuito onde se move, preferindo jogar pelo seguro, sem arriscar chamar a si demasiadas atenções, apesar da firmeza que o porte e a aparência favorecem.
Não parece ser muito diferente no seu desempenho profissional. Os colegas elogiam-lhe a competência, mas os jornalistas desde há muito perceberam que prefere a sombra. Há quem tenha constatado, sem surpresa, a sua promoção. Hope Hicks tornou-se a ‘menina bonita’ de Donald Trump e, mesmo antes de tomar o lugar deixado vago por Anthony Scaramucci, ela era já considerada uma das pessoas mais importantes no gabinete de comunicação do atual Presidente dos Estados Unidos. Foi anteriormente a sua diretora estratégica de comunicação.
Quase da família
Impôs-se não tanto pela experiência anterior no universo da política, apontam insistentemente os media, mas pela confiança que conquistou junto da família Trump. Hope é praticamente considerada um membro do clã, presença regular na casa de pai e filha, alguém confiável (e fiel) que - dizem as más línguas - compensa a falta de ‘curriculum’ com o desejo profundo de agradar.
Parece genuína a sua admiração pelo Presidente menos popular do país. Um artigo publicado em julho no website de notícias “Politico” lembrava um episódio passado no fim de semana posterior à eleição de Trump. Num casamento a que assistia, Hope, que fora assessora de imprensa do candidato republicano, não conseguiu evitar meter-se na conversa que decorria na mesa ao lado, entre vários convidados que lamentavam o resultado das presidenciais. “Ele é uma boa pessoa, juro”, terá afirmado a jovem, procurando tranquilizar os mais céticos.
A defesa instintiva de Donald Trump, escrevia então o “Politico”, traduz de alguma forma a mais valia que se pode revelar útil na Casa Branca: Hope Hicks é alguém que compreende profundamente o Presidente, mas que também compreende porque, a seu ver, as pessoas o interpretam tão mal.
Modelo para a Ralph Lauren
Mas de onde veio “Hopster”, como carinhosamente lhe chama Trump? A jovem especializada em Relações Públicas é a terceira a seguir uma vocação que corre na família há três gerações. O avô esteve ligado à Texaco como figura de topo e o pai, após uma passagem pelo gabinete do congressista republicano Stewart McKinney, optou também pelo sector privado, tendo sido diretor regional de relações públicas da Ogilvy - desempenha agora um cargo diretivo no Glover Park Group.
Por via familiar, os corredores da política também não lhe são estranhos. A mãe, Caye Hicks, foi auxiliar legislativa de um congressista democrata, além de o avô materno ter trabalhado no Departamento de Agricultura durante as administrações dos Presidentes Lyndon B. Johnson e Richard Nixon.
Apesar disso, podia ter sido outro o caminho da jovem nascida no Connecticut. Hope chegou a fazer planos para seguir a carreira da representação e, ainda adolescente, posou como modelo para a Ralph Lauren, tendo aparecido também na capa do livro “The It Girl”. Com a irmã Mary Grace, fez aliás vários trabalhos na área da moda, o que não a entusiasmou o suficiente para continuar, preferindo dedicar-se posteriormente ao desporto.
Entre a prática da natação e de golfe, modalidades da sua preferência, foi também campeã de lacrosse na altura em que estudava na Universidade Metodista, onde ficou conhecida por ser contra o consumo de bebidas alcoólicas.
Em 2011, já licenciada e depois de conhecer Matthew Hiltzik, um tubarão das Relações Públicas em Nova Iorque, conseguiu o seu primeiro emprego de relevo. Foi aqui que Ivanka Trump se cruzou no seu caminho... o que, por arrastamento, lhe valeu conquistar a atenção do pai.
Ao trabalhar no desenvolvimento da imagem da linha de roupa e artigos de luxo de Ivanka, a jovem impressionou Donald Trump. “Achei-a excelente”, disse Trump, ao recordar a decisão de pedir a Hiltzik que a deixasse ir trabalhar diretamente consigo.
Da Trump Tower para a Casa Branca
Assim chegou à Trump Tower, em outubro de 2014, sem imaginar que pouco tempo depois acabaria envolvida na campanha do candidato republicano, como porta-voz, e a um passo da Casa Branca.
Como dizia a “GQ”, Hope Hicks não é um produto de Washington, mas da organização Trump, “um universo de paredes de mármore onde a capacidade de ser agradável e a inquestionável fidelidade valem mais do que a experiência convencional”. Mas será injusto não lhe reconhecer mérito. Afinal, trabalhar com alguém como Trump, habituado a fazer e a dizer o que bem entende, não deve ser tarefa fácil. Moderar-lhe as declarações impulsivas e polémicas exige velocidade de reação e alta capacidade para minimizar os danos colaterais. A ver vamos como lhe vai correr a missão.
Quem com ela trabalha elogia-lhe frequentemente a capacidade de trabalho, a dedicação, “a ética profissional”. Vive para o trabalho, garante também a família, não passando um minuto sem estar ao telemóvel a tratar do que for preciso.
Gere também com inteligência e resguardo a sua vida privada. Não se lhe conhecem namorados - consta que terminou uma relação de seis anos quando decorria a campanha presidencial -; recusa falar com os media e mantém-se assumidamente afastada das redes sociais (sem contas criadas ou sem abdicar de manter o seu perfil privado naquelas que criou).
Talvez a atitude traduza cautela. Das raríssimas declarações públicas que se lhe conhecem, uma custou-lhe ser ridicularizada na imprensa. “O Presidente Trump tem uma personalidade magnética e exala energia positiva, que contagia quem o rodeia. Tem uma capacidade incomparável para comunicar com as pessoas ... Ele construiu grandes relacionamentos ao longo da sua vida e trata todos com respeito. É brilhante, com um grande sentido de humor, e uma incrível habilidade para fazer as pessoas sentirem-se especiais.”
A afirmação não foi levada a sério, mesmo por quem estava disposto a acreditar na honestidade da sua convicção. Mas, quem sabe? Talvez Donald seja melhor patrão do que Presidente e Hope consiga sobreviver no posto mais que os dez dias somados pelo seu antecessor.
Texto originalmente publicado a 18 de agosto de 2017
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