Fundado em 1924, representava os valores de uma república secular e moderna, que desapareceu com Erdogan.
"O último prego no caixão da imprensa livre na Turquia", é o nome do artigo da opinião que Alev Scott, autor do livro Turkish Awakening, escreveu na edição desta quarta-feira do Financial Times, e onde conta a história - e explica a importância - de um jornal turco, o Cumhuriyet. Começa por dizer que, a cada dia que passa, se atinge um patamar mais baixo na Turquia de Erdogan. Na segunda-feira, quando o director do Cumhuriyet foi preso, alguma coisa morreu no país.
"É difícil explicar o significado social deste jornal", diz o autor, que é um turco-britânico que vive em Istambul. "Começou a ser impresso em 1924, sob os auspícios de Mustafa Kemal Ataturk, pai da Turquia moderna e o seu nome significa ‘república’. Durante quase um século, representou os valores fundadores e seculares da Turquia moderna".
Uma Turquia que, diz, desapareceu debaixo do comando do Presidente islamista Erdogan, diz o Scott, mas com a qual muitos leitores se identificam. O Cumhuriyet era uma espécie de talismã, uma prova de que ainda existiam vozes discordantes e críticas num país dirigido com autoritarismo.
Alev Scot diz que o jornal não vai sobreviver. Por razões financeiras e políticas: há meses, explica, que não há anúncios na spáginas do Cumhuriyet; ninguém se atreve a pô-los, com medo de represálias do Governo, que tem o poder de arruinar qualquer empresa ou qualquer um.
"Na Turquia, a imprens da oposição é uma lembrança inconveniente de que as acções de um líder democraticamente eleito não são necessariamente democráticas. (...) Erdogan é popular, mas a soberania popular sem um Estado de Direito é tirania, e hoha, na verdade, a Turquia não é um Estado de Direito", diz Scott. Para o autor, Erdogan proferiu a sentença de morte do Cumhuriyet e, por isso, segunda-feira foi "o dia em que muitos turcos perderam a esperança".
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