terça-feira, 29 de dezembro de 2015

QUE RAZÕES TEMOS PARA TRANSITARMOS PARA 2016?


Sempre o ano chega ao fim, as pessoas fazem o balanço, para avaliar o que de bom, de mau e de pior aconteceu; aprender com as lições e preparar-se para o ano seguinte.
Como sociedade, como país, 2015 foi para mim, o ano conturbado. E será o mais conturbado da governação do Presidente Nyusi. Explico porquê:
Primeiro, por causa do diferendo pós-eleitoral, opondo a Renamo e o Governo. Levamos onze longos meses tentando encontrar soluções que se ancoram na desmilitarização da Renamo, na reconciliação nacional e na integração dos homens residuais da Renamo. Todas as soluções propostas e consensos alcançados não foram suficientes para alterar o status-quo, caracterizado pelo acirrar das posições, perseguições e mortes por motivações políticas bem como uma linguagem violenta de (des)qualificação do outro. Lá mais a frente, voltearei ao tema, mas notarão que deixei de lado a questão da legitimidade do novo governo saído das eleições pelo facto de na prática todas as partes beligerantes reconhecerem e trabalharem como tal: de um lado governo e do outro partido na oposição. 
Segundo, apesar de a luta contra a corrupção e despesismo ter sido anunciada, nenhum gatuno foi a cadeia muito menos houve consequências para os autores da actual crise económica que vivemos. Todo moçambicano tem a mínima ideia de que foi roubado descaradamente pelo anterior regime e que o presente governo encontrou os cofres vazios. Quando alguém não age no sentido contrário, a dificilmente pode pensar-se ao contrário senão conivência ou impotência em agir. É verdade que a economia não se cura com detenções, mas se tal tivesse acontecido este governo teria a simpatia do seu povo. Ainda neste ponto, importa recuperar a figura dos “veto players”, (acotres que no actual cenário político têm o poder de “veto” sobre determinados assuntos e que por isso balcanizam os esforços de Paz e reconciliação político-económica da governação de Nyusi. O que estou a dizer é consensual entre conceituados cientistas políticos moçambicanos tais sejam José Jaime Macuane, Miguel de Brito, Luis de Brito, João Pereira, Salvador Cadete Forquilha, Nobre Canhanga, Manuel Araújo, Alberto Ferreira ou mesmo Severino Ngoenha. 
Ora, o próximo ano e os anos seguintes serão para este governo menos difícil, uma vez que pior do que isso, não estaremos. Mas para tal, actos concretos deverão ser levados a cabo. Estou a falar de trazer ao controlo a economia, encontrar as necessárias saídas políticas no diferendo Renamo-Governo e alargar o diálogo social; abrir a economia à competição interna e aplainar o terreno para que cada moçambicano viva da sua inteligência e esforços. Nenhum moçambicano esquecerá tão depressa a anterior governação se o actual governo não tratar pelo menos as feridas deixadas por aquele. Tal implica igualmente alargar o acesso às instituições e aos órgãos, pessoas combatidas pelas ideologias do apartheid.
UM OLHAR PARA A OPOSIÇÃO
Ao longo dos vinte anos da nossa democracia notamos que em processos eleitorais, os diferendos eleitorais prevalecem e alastram-se por longos períodos de tempo. Isto tem custos económicos que urge quantificar. Mesmo sem fazê-lo, já dá para perceber que se almejamos sair do buraco em que nos encontramos, devemos manter este país longe de turbulências político-militares. Esta é a obrigação de quem governa. E a Frelimo, porque quer governar, DEVE resolver este problema de uma vez por todas sem o mínimo derramamento de sangue.
Enquanto a Frelimo manter instituições fracas para lhe beneficiar; permanecer tolerante à corrupção e desvios comportamentais dos servidores do estado ou continuar a construir e a fortalecer o que Professor Adriano Nuvunga chamou por “cartel da elite” muito dificilmente conseguirá passar a mensagem da sua justiça. Muito dificilmente terá do seu lado, o povo para lhe dar o necessário apoio. É que o povo precisa de uma base moral concreta, a partir da qual lhe ajude a fazer eco aos apelos do governo contra o que for. 
• O povo não concebe como o governo acusa a Renamo de militarista quando são as forças armadas na linha ofensiva
• O povo não percebe como a Renamo deve desarmar quando o que lhe mata não são as armas mas a corrupção, o roubo descarado dos titulares de cargos de governo
• O povo não irá a luta enquanto não perceber porquê é que não se oferecem as necessárias condições para a integração dos homens residuais da Renamo
• O povo não irá alinhar no discurso anti-Dhlakama quando esteve claro que por três vezes tentaram mata-lo
• O povo não vai aderir ao discurso anticorrupção quando sabe que os graúdos nunca serão presos
• O povo não vai entender as mensagens de austeridade e produtividade quando vê todos os dias os titulares de cargos públicos abusarem dos recursos do estado para fins privados.
Enfim, se eclodir a guerra, o governo jamais ganhará a Renamo porque lhe faltará o necessário apoio do povo para consentir os sacrifícios necessários. Foi assim durante a luta armada de libertação nacional foi assim durante a guerra civil, assim será enquanto insistirem num método misto de arma e diálogo. 
Todavia, é também urgente reflectir sobre porquê a Renamo é o único movimento que tanto “resiste” à conformar-se com a fraude. Por outro lado, importa fazer outro tipo de pergunta: Porque esta resistência não tem aliados de outros partidos de oposição? Será porque todos eles andam “mancomunados” com o regime? OU será que a Renamo não gosta de os ter como aliados? Será que a Renamo quer sozinha partilhar o poder, tal como umas e outras individualidades já avançaram? 
Das duas, uma verdade: ou a estratégia da Renamo é má/exclusivista ou de facto, a oposição fora da Renamo é de facto cobarde.
De uma ou de outra maneira, o sistemático falhanço das estratégias de resistência da Renamo sugerem que ela não é suficientemente aglutinadora e abrangente para apelar outros sectores da sociedade a aliar-se a ela; ou porque os instrumentos usados não são de domínio de todo; ou porque a linguagem é invulgar ou mesmo porque a própria Renamo quer e gosta de levar sozinha esta guerra de resistência. A verdade porém é que é tempo de a própria Renamo reflectir profundamente se quer caminhar sozinha, continuando com o modus operandi ou quer ter ao seu lado, pessoas físicas, partidos políticos físicos e não apenas vontades bem como as massas. A verdade é que os últimos vinte anos provaram que a forma como ela luta não traz sucessos, pelo menos, os almejados e muito rapidamente é abandonada pelo grande público. É hora para reflectir e mudar de táctica. Aqui vao algumas sugestões:
• Alargar o diálogo político entre partidos políticos da oposição para que a Renamo lidere uma ampla frente oposicionista, consensualizada em torno de causas especificas
• Melhorar a sua influência no seio da opinião pública alinhando as suas mensagens aos principais grupos de interesse
• Sempre que possível, alinhar as suas mensagens com as da bancada do MDM ao nível do parlamento
• Multiplicar as suas iniciativas inspectivas ao nível do parlamento e fora dela, com a inclusão de outras frentes.
A mensagem, no fundo, é a seguinte: Se a Renamo quiser provar e demonstrar como se faz a inclusão, ela deve trabalhar com toda a oposição em actividades que assim atestem. E deve transmitir este calor à Frelimo, provando que governando, ela é capaz de trazer a inclusão. A flutuação de posições políticas de partidos de oposição extraparlamentar e até do MDM sugere que a Renamo não está assumir o seu papel dirigente na política oposicionista. E assim, outros actores, porque devem sobreviver, vão preferindo trabalhar com outros sectores, inclusive do governo. 
O segredo de uma oposição viável reside na sua capacidade de se apresentar resoluta em desmobilizar o partido no poder. Tal implica construir consensos em torno de uma alternativa que se apresente coerente e convincente em toda sua actividade oposicionaista. 
Sou da opinião de que se a Renamo esquecer por uns instantes a actual estratégia de resistência e concentrar-se na mobilização da elite oposicionista; dos grupos de interesse, dos marginalizados, dos partidos políticos da oposição sérios, da sociedade civil, da mensagem, da formação, da comunicação política, da organização de base e das próximas eleições municipais, pode, a breve trecho, augurar desmontar a Frelimo no poder. Manter grupos armados e instrumentalizar a violência deve e é muito caro e não deixa tempo para mais nada. Os militares porque andam escondidos não votam; eles também não podem se fazer presentes nas mesas. Por outro lado, sem organização e consenso do lado da oposição, dificilmente a Renamo pode avançar sozinha. Já tentou, mas não foi possível. Se isto o que digo não serve, então pelo menos uma sugestão: como racionais, quando insistimos numa estratégia que sempre falha, ou mudamos da estratégia ou paramos para reflectir. Julgo que esta reflexão, este tempo de reflexão, pode ser útil até para os moçambicanos.
Se me permitir, sugiro que o ano de 2016 seja ano para todo povo moçambicano reflectir profundamente sobre a sua sorte….EM PAZ. Este é o único motivo que me leva para 2016.

59 pessoas gostam disto.
Comments
Zefanias Augusto Namburete Bem dito meu ilustre, espero que a mesagem chegou ao destinatários.
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Andre Jorge Egidio sabes que te escolhi como minha figura do ano no FACEBOOK? Os seus posts sempre sao bem acolhidos por mim pois indicam a realidade do pais. Eles (posts) exprimem o pais real
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Tomas Humbe Bem falado,so k entre as duas partes ninguem vai acatar,ate eu diria k proximo ano sera mais dificil,a intolerencia politica como si viu hoje ,a policia armado ate ao s dentes tentando desarmar civis deputados da renamo na sua delegacia na cidad d maputo;; isto esta claro k o ano pode comecar mal.
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Elisio Macamo a questão dos "veto players" intriga-me bastante. só fariam sentido se houvesse uma estratégia por contrariar. ora, o que sempre foi claro desde que houve mudança de governo é que, na pior das hipóteses, essa estratégia não existe, e na melhor, é a continuação da estratégia anterior, nomeadamente acomodar a renamo. ademais, os "veto players" devem existir em ambos os lados e se são importantes é porque, insisto, não existe estratégia clara de nenhuma das partes. sobre a última parte do texto que apela à reinvenção da renamo nota 10. esta é uma parte importante do problema da paz, não é secundária. a paz não depende apenas do que nyusi não faz (ou não lhe deixam fazer). depende dum compromisso sério da renamo com o estado de direito.
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Monteiro Nhamussua Vaz, siga em frente. Em algum momento o povo precisa ouvir isto. Precisamos equilibrar o peso da maioria absoluta na nossa AR. Talves ai o país terá dirigentes não corruptos
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Amilcar Banze A mensagem chegou, espero k haja bom uso, eu concordo em muitos aspectos k o Egidio Vaz avança. Foi assim k a Frelimo venceu o colono, quand se uniu os tres movimentos nacionalistas em 1962. De novo os moçambicanos podem buscar essa experiencia p usar apartir de 2016. Paz, paz em 2016.
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Alice Zandamela Eu acredito qe a msgn vai chegar aos mocambicanos ,principalmente aos partidos em causa,nela vao censurar oqe è bom e ficarao cm oqe lhes virá de start para uma reflexao para termos um bom motivo de entrarmos no ano 2016 confiantes e com esperança de um mocambiqe melhor.
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Wilson Profirio Nicaquela Nicaquela Se Einstein soubesse o perigo de suas descobertas para a própria humanidade, não teria feito! Mas a culpa não foi dele, os humanos são perigosos!
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Mauricio Domingos Matsinhe Espero que 2016 seja na verdade um ano de tolerância politica. Entretanto é necessário que a oposição desempenhe o seu papel. É necessário que a democracia e alternância politica reine nos partidos políticos da oposição. Que se perceba que alternância abre novas oportunidades. É necessário que se perceba que as armas trazem luto e desabores na sociedade moçambicana. É necessário que se perceba que o culto de personalidade pertence ao passado. Nem sempre liderar significa estar a frente. É necessário que se perceba que é melhor que se governe cidadãos que até certo ponto questionam, exigem transparência, justiça e prestação de contas. É necessário que se incuta no povo que o Estado pertence a todos nós, mostrando com evidências que há inclusão. É necessário que se construa de facto um verdadeiro estado de direito, em que a separação de poderes é bem explicita. Onde o poder político não tenha poderes de nomear o poder judicial. É necessário que se perceba que a descentralização deve ser um processo continuo e inclusivo.
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Manuel Carlos Zacarias Bonito post Vaz, mas uma coisa te que Renama "puxou, puxa e sempre puxara" os demais partidos da oposicao e o que acontece eh cobardia dos "puxados". Se estamos lembrados as segundas eleicoes houve uma UNIAO ELEITORAL e o que a renamo ganhou foi ver um Maximo Dias a contrariar a tal "UNIAO", recentemente assistimos uma Mdm que com toda certeza de ganhar eleicoes passadas de 15 de Outubro assistiu passivamente a frelimo a empurar a renamo e seu lider a guerra, querendo tirar proveito disso e apoiando-se e aliando-se ao regime no parlamento do mandato anterior quando a Renamo discutia a lei eleitoral transparente. Vimos um Sibindy sempre a mal-dizer da Renamo e seu lider. O que adianta a Renamo aliar-se a estes tipos. Eu acredito nas palavras do Dhlakama quando diz e passo a citar: " no meu governo nao importa de partido pertence, mas sim a competencia...", embora preferir fazer uma batalha campal sozinho contra o regime "sionista" mocambicano.
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