O economista moçambicano Carlos Castel-Branco considerou hoje que a desvalorização do cambial teve origem há cinco anos, quando o Governo financiou a moeda, usando dinheiro do Fundo Monetário Internacional, para tornar as importações baratas.
Em declarações à Lusa em Lisboa, o coordenador do Grupo de investigação sobre Economia e Desenvolvimento do Instituto de Estudos Sociais e Económicos de Moçambique afirmou que antes da desvalorização actual "o valor do metical relativamente ao dólar estava muito acima do que devia estar".
Para perceber a desvalorização real actual, que ronda os 70% desde o verão, é preciso recuar cinco anos: "A partir de 2010, no seguimento das crises sobre o preço da comida e dos transportes públicos, o Governo adoptou uma postura muito defensiva, de curto prazo, financiando o valor da moeda usando as reservas externas".
Castel-Branco explica que "o FMI financiava as reservas externas e Moçambique usava estas reservas para financiar a moeda, para pôr dólares disponíveis e baixando o valor do dólar face ao metical; ao comprar dívida pública no mercado doméstico, retira meticais do mercado e aumenta o custo do metical".
A factura diz, chegou agora, com uma fortíssima desvalorização da moeda, desencadeada pela descida do preço das matérias-primas nos mercados internacionais e consequente quebra de receitas fiscais em divisas externas, nomeadamente dólares.
"As medidas tomadas pelo Governo tornaram o metical particularmente caro face ao dólar, mas tornava as importações baratas e servia como amortecedor face ao impacto do preço dos combustíveis e da comida", acrescenta o investigador à Lusa.
"Isto permitiu manter uma aparente paz social no que diz respeito a preços, a inflação e os preços dos bens básicos baixos, mas é uma política insustentável que durou cinco anos", conclui Castel-Branco.
O resultado foi um "grande défice crónico na balança de pagamentos, a baixa capacidade de formar reservas internacionais", a que se juntou o abrandamento da ajuda externa, que tornou os dólares ainda mais escassos, o que, juntamente com a quebra do preço das matérias-primas, tornou o dólar cada vez mais raro no país.
A acrescentar a estes factores, Castel-Branco elenca ainda os mega investimentos, "que provocaram um choque", e a instabilidade político-militar e os raptos, "que juntos fomentaram a saída de capitais e levaram muitas famílias a transferirem dinheiro para fora do país".
Olhando em frente, o economista prevê que a moeda moçambicana estabilize à volta dos 50 meticais por dólar, porque "uma parte dessa depreciação é um ajustamento, é como um pêndulo do relógio puxado para cima, e que quando é largado não para no meio, segue o seu movimento".
No final de Novembro, de acordo com os números divulgados pelo banco central, o dólar valia 54,06 meticais no mercado cambial interbancário e 56 meticais na banca comercial, o que representa uma desvalorização anual de 71,3%, enquanto o rand se cotava a 3,76 meticais, numa depreciação anual de 32,86% face à moeda da África do Sul, um dos principais países abastecedores de bens, sobretudo alimentares, para Moçambique.
Fonte: Lusa – 22.12.2015
A maioria dos teoricos em economia coincide na percepcao de que as pessoas analfabetas, doentes e aquelas que vivem longe e isoladas se beneficiam de forma diferente (com desvantagem) do crescimento economico dos seus paises. Lidar com a pobreza e com a participacao desigual dos cidadaos nos rendimentos nacionais ee, sobretudo, lidar com as questoes de educacao, de saude, de estradas, de energia, de telecomunicacoes.
Acredita-se que, por exemplo, pessoas com educacao apropriada inserem-se com mais facilidade no mercado de emprego, formulam melhor as suas iniciativas empreendedoras na agricultura, no comercio, na pesca, na piscicultura e outras actividades economicas. A verdadeira redistribuicao dos rendimentos, com impacto na bolsa do cidadao ocorre a estes niveis. Na recepcao de um salario digno, na obtencao de rendimentos de iniciativas empresariais de micro, pequena, media e grande dimensao em diferentes areas economicas.
Portanto, quando o Governo investe na educacao, na saude e nas infreestruturas estaa a induzir, a prazo, uma redistribuicao mais justa dos rendimentos nacionais, no sentido daquilo que, em ultima analise, as pessoas hao-de levar para as suas casas. O grande problema dos grandes especialistas que apontam a existencia da pobreza ou do acesso desigual aos recursos/rendimentos ee que nunca elaboram sobre as solucoes. Fica sempre a impressao de que essas constatacoes nao passam de armas de arremesso politico. Queria ver os analistas economicos a elaborarem mais sobre o que, na verdade, se deve fazer para reduzir mais a pobreza e as inequidades sociais.
Ha tambem a falsa percepcao que se projecta, de que a panacea para a pobreza em Mocambique ee soo taxar mais aos megaprojectos. Nao ee meia duzia de megaprojectos que vao lidar com a pobreza dos mocambicanos. O verdadeiro caminho para reduzir substancialmente a pobreza ee inserir milhoes de mocambicanos no mercado, em micro, pequenas e medias herdades agro-pecuarias bem geridas; inserir milhares de mocambicanos em centenas de micro, pequenas e medias empresas comerciais, pesqueiras, turisticas... E o investimento massivo do Estado na educacao, na saude, nas infra-estruturas ee a via mais adequada para propiciar este desiderato.
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