terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Boas ou má festas?

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Claro que a todos desejo Boas-Festas, independente­mente das opções religiosas ou filosóficas.
Um ano de 2016 melhor que o anterior, que tantas dores de cabeça e golpes nos deram nas poupanças, nos salá­rios e ganhos.
Queremos um melhor ano, sem os preços a dispara­rem em função da subida do dólar ou rand, precisamos de festejar sim, em breve deveremos pagar propinas, fardas, livros escolares que embora distribuídos gratuitamente nas escolas públicas só os encon­tramos no vendedor da esquina, vamos comprar cadernos, canetas para os nossos filhos e há que saber que o preço do transporte não nos mate.
O Banco de Moçambique tomou algumas medidas para travar a es­calada do dólar, mas estamos conscientes que as decisões por defi­nição possuem um carácter bem temporário e que sem a retoma da economia de novo iremos derrapar.
A ameaça contra os camponeses, transportadores deve acabar e já. Há que trabalhar a terra, a criança ir à escola, as pessoas beneficia­rem dos centros de saúde, as mulheres grávidas da maternidade. Vi­vermos em paz e tranquilidade.
As armas em mãos ilegais, os ataques aqui e acolá, as fanfarronices do super leader devem desaparecer para sempre. Os partidos de­mocráticos, os que defendem os ideais da democracia não criam, possuem e mandam em bandos armados, isso só faz parte das acti­vidades de ganguesters, traficantes e outros meliantes do mesmo ní­vel de patifes. Basta de raptos e de quem os encomenda e até mutila ou mata as vítimas por falta de resgate.
Fizeram-se e edificaram-se obras faraónicas sem ponderar variantes e necessidades. Exemplos?
1. Construíram-se as pontes de Caia e Kassuende. Muito bem, mas alguém ponderou que para além das ligações rodoviárias entre as duas margens do Zambeze, também importa ao país que am­bas as margens e por isso as pontes, deveriam assegurar as liga­ções ferroviárias?
2. A evacuação por camião do carvão da Marara para Moatize está a destruir a estrada que liga Tete a Estima e Magoé. Para bene­fício de quem? Da empresa mineradora, dos utentes da estra­da, dos transportadores normais? Quem vai amarrar o guizo ao gato?
3. Qual o custo real da ponte para a Catembe e qual o preço que vamos pagar? Não haveria alternativas muito mais baratas com uma dúzia de barcos 24 horas por dia para ligar Maputo à Catem­be?
4. Constroem-se ministérios e ministérios, tribunais e procurado­rias, mas os registos e notariados milhentas repartições não dis­põem de sistemas de extinção de fogos.
5. Quanto nos custa a destruição dos pulmões verdes de Maputo, da extinção dos eucaliptos na baixa de Maputo que aspiravam a água no subsolo?
6. Não protesto contra a circular de Maputo, mas quarenta anos depois da independência como vamos de Pemba a Mueda, de Lichinga a Majune, do Zumbo ou Mutarara a Tete, de Muanza para a Beira, de Chimoio a Sussundenga? Quantos distritos de difícil acesso em Inhambane, Gaza e na província de Maputo?
7. Quanto tempo levou a reconstruir a ponteca do Umbelúzi que esteve fechada obrigando a desvios sem fim para se chegar à bar­ragem e à Ponta do Ouro? Anos, sim.
8. Por que razão se priorizou a ponte da Catembe em relação a ne­cessidades fundamentais da mais elementar comunicação rodo­viária em todas as províncias do Rovuma ao Maputo, das capi­tais distritais para as sedes provinciais? Qual a pressa, quais os ganhos para o país, para além de alguns especuladores do imo­biliário? Promover o turismo de Maputo para a Ponta do Ouro? Desculpem, balelas!
Sobe o pão, arroz, o açúcar, a farinha, a batata, a couve, o peixe, sobe o elementar do quotidiano das gentes nas cidades e no campo. Nas províncias do Centro e Norte mais que duplicaram os preços dos pro­dutos básicos que alimentam as famílias.
Sabíamos que o Banco de Moçambique possuía normalmente 6 ou mais meses de reservas para cobrir as nossas importações. Como se esvaíram as reservas?
Quem paga por haver esvaziado os cofres do Estado e legado dívidas enormes ao actual governo?
Em que obras, irrigações, centrais hidroeléctricas se aplicaram os mais de dois mil e quinhentos milhões de dólares que aumentaram as nossas dívidas em pouco mais de dois anos?
Não deve ir para a cadeia apenas o funcionário que desviou um mi­lhão de meticais, o pilha-galinhas do Estado e das instituições e em­presas públicas.
Há que ir acima, investigar, sancionar, forçar a devolver e condenar à cadeia, pouco importa se mesmo a um nível elevado.
Moçambique necessita de reabilitar a sua imagem de país honrado e com dirigentes, funcionários e cidadãos honrados, eficientes e cumpridores. Precisamos de resgatar a nossa honra e dignidade e punir os gatunos, pilhadores do Estado e dos nossos parcos recur­sos. Estamos cansados de bons discursos, queremos boas acções.
Desaparece o subsídio de combustível e com ele também se esvaiu o que assegurava o custo do pão, do açúcar, do óleo para cozinhar, do sabão, enfim, tudo que assegurava um mínimo para o quotidiano das camadas mais desfavorecidas.
Como vão passar as festas? Como gerir o início do ano lectivo? Como comerem, como se fazerem transportar de casa para o ser­viço, hospital, escola? O que fazerem com o salário mínimo que mingua cada dia no respeitante ao preço das compras? Quase que me interrogo se as empresas funerárias não vão também subir o que cobram?
Quem responde aos desfavorecidos? Quem ouve o clamor da exigên­cia de Justiça e de devolução das pilhagens, comissões e negociatas? Como voltar a encher os cofres do Estado com conteúdos evaporados a favor de uns tantos?
Talvez aprendermos com a Tanzânia. O Presidente pôs termo a uma série de alcavalas, viaturas, palacetes, ajudas de custo exorbitantes e por dá cá aquela palha.
Claro que faz descontentes, mas regozija o povo trabalhador do cam­ponês ao operário, do professor ao médico, todos que recebem miga­lhas comparadas com as camadas superiores das burocracias.
P.S. Parece que uns tantos deste punhado de desempregados do G40 e porta-vozes de delinquentes foragidos à Justiça e saudosistas do co­lonialismo ficaram irritados com um artigo meu sobre o imperativo de uma operação tipo Lava Jato em Moçambique.
Irritação porque difamei ou porque toquei em feridas bem vivas? Zanga porque estão a perder o malganho? Retaliação contra a ver­dade? A verdade fere e magoa os agentes das patifarias. A difama­ção constitui crime sancionado pela lei.
Paciência, o que lhes desagradou muitos apreciaram e afirmam que traduzi um sentimento bem geral.
Perdoou aos pobres néscios. A eles desejo que aprendam a trabalhar com seriedade e até endereço votos de Boas-Festas.
SV

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