Monday, April 20, 2015

Líderes tradicionais revoltados - Inauguração do Complexo Agro-Industrial de Chókwè ignora cerimónia de kuphahla

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O que fizeram foi muito grave mas eles vão nos chamar porque as coisas podem não correr de feiçãoµ desabafou líder comunitário do terceiro bairro zona onde foi erguido o empreendimento

O Presidente da República, Filipe Nyusi, contornou a cerimónia tradicional, vulgo kuphahla, que consiste na evocação de espíritos dos antepassados, na inauguração do Complexo Agro-Industrial de Chókwè (CAIC), deixando nervosos vários anciãos e líderes tradicionais, que se deslocaram ao local para o efeito. Filipe Nyusi terminou nesta segunda-feira uma visita de quatro dias à província de Gaza, que o levou a escalar sucessivamente a cidade de Xai-Xai, distrito de Mandlakazi, Massingir, Chicualacuala e Chókwè. No distrito de Chókwè, última etapa da visita presidencial em Gaza, Filipe Nyusi inaugurou o CAIC, empreendimento agro-industrial avaliado em USD60 milhões, erguido com objectivo de resolver problemas cíclicos de produção de comida que se perde ao longo das campanhas agrícolas naquele ponto do país e nas zonas circunvizinhas. O projecto, que contou com o financiamento do banco estatal chinês, Exim Bank, irá dedicar-se ao processamento de arroz, castanha de caju e tomate no futuro, vai alargar o leque de produtos para batata, repolho e milho. Tal como se verifica em eventos similares, antes do corte da fita que simboliza a inauguração de certo empreendimento, são chamados anciões e líderes tradicionais locais para evocar espíritos dos antepassados e purificar o empreendimento com vista a livrar-se de possíveis males. Sem fugir à regra, o organizador do evento, neste caso o Instituto de Gestão de participações de Estado (IGEPE), preparou o necessário para a cerimónia. Para tal, adquiriu-se um cabrito, vinho branco, aguardente e farinha. Foram também chamados os líderes tradicionais. Porém, para o desagrado das autoridades tradicionais locais, Filipe Nyusi chegou ao local, contornou a cerimónia e foi directamente cortar a fita, depois seguiu para o local do descerramento da placa, visitou a fábrica e depois abandonou o local. Entendem os líderes locais que o Presidente da República (PR) foi induzido em erro ao não lhe levarem à cerimónia da evocação de espíritos, porque, no entender daqueles, havia necessidade de se “informar” os antepassados sobre a existência daquele empreendimento. Em contacto com o SAVANA, Gil Zefanias Mahoche e Américo Chovete, líderes tradicionais, referiram que na tradição local é obrigatório que antes de qualquer cerimónia se evoquem espíritos para tomarem “conhecimento” e dar a devida protecção. “Isto é um assunto muito sério, tenho certeza que eles vão nos chamar, porque as coisas podem não correr muito bem para eles”, disse Mahoche. Continuou a sua explanação referindo que a evocação de espíritos faz-se na presença do chefe máximo, pelo que, mesmo que se realize no futuro, não terá o mesmo peso que teria na presença do chefe de Estado. Chovete contou que o pessoal chinês afecto à construtora Beijing Urban Constriction Group, firma responsá- vel para edificação da fábrica, passou por momentos dramáticos nos primeiros dias. “Os chineses que construíram esta fabrica sabem disso. Sem nos dizer nada chegaram, instalaram-se e iniciaram com as demarcações. Certo dia, o edifício onde habitavam ficou sem tecto. Foi algo que eles acharam estranho porque não havia ventania. Coisas estranhas prolongaram-se por dias subsequentes. Junto das autoridades governamentais procuram soluções e concluíram que os espíritos estavam zangados. Daí organizou-se a cerimónia e tudo passou. Continuaram com as obras até ao fim sem constrangimentos”, disse Chovete. Questionado sobre as motivações que culminaram com a não realiza- ção da cerimónia tradicional, os dois líderes comunitários referiram que a única explicação foi de que o presidente estava com agenda apertada e o protocolo de Estado não estava a par. A fábrica só será viável com o Ànanciamento dos agricultores Com as obras iniciadas em Dezembro de 2012, a CAIC é uma sociedade anónima de capitais públicos. Na sua estrutura accionista está o IGEPE com 70% das acções, a empresa pública Hidráulica de Chókwè (HICEP) com 20% e a SAVAL, associa- ções de agricultores locais com 10%. A construção da fábrica contou com um crédito do banco estatal chinês no valor de USD60 milhões. O empreendimento deverá gerar renda suficiente para fazer face ao serviço da dívida ao longo da vigência do crédito. A fábrica foi concebida para processar seis toneladas de tomate por dia, 2.4 toneladas de caju/dia e 200 toneladas de arroz/dia. Anualmente, o empreendimento deverá processar 60 mil toneladas de arroz, 1200 toneladas de tomate, 480 toneladas de castanha de caju e 27.500 toneladas de milho. Os gestores da fábrica ainda estão à procura de financiamento para a compra da matéria-prima junto aos camponeses. Dados em poder do SAVANA indicam que a fábrica será alimentada pelos agricultores locais. Até ao momento, apenas foi fixado o preço de arroz que será adquirido a 10 meticais ao produtor. Contactado pelo SAVANA, Ataná- sio Tailane, representante dos Produtores de Chókwè, frisou que a região tem potencial suficiente para alimentar a fábrica, contudo, é preciso que haja financiamento para os agricultores. Tailane diz que a região possui cerca de 30 mil hectares de terra arável e um capital humano suficiente para viabilizar a fábrica. Porém, falta financiamento que potencie os agricultores a aproveitar no máximo as potencialidades que a região oferece. No que concerne ao preços, Atanásio Tailane diz que o mesmo é resultado de um estudo que envolveu todas as partes interessadas e que concluiu que pode ser rentável. 

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