O que fizeram foi muito grave mas eles vão nos chamar porque as coisas podem não correr de feiçãoµ desabafou líder comunitário
do terceiro bairro zona onde foi erguido o empreendimento
O Presidente da República,
Filipe Nyusi, contornou a
cerimónia tradicional, vulgo
kuphahla, que consiste
na evocação de espíritos dos antepassados,
na inauguração do Complexo
Agro-Industrial de Chókwè
(CAIC), deixando nervosos vários
anciãos e líderes tradicionais, que
se deslocaram ao local para o efeito.
Filipe Nyusi terminou nesta segunda-feira
uma visita de quatro dias
à província de Gaza, que o levou a
escalar sucessivamente a cidade de
Xai-Xai, distrito de Mandlakazi,
Massingir, Chicualacuala e Chókwè.
No distrito de Chókwè, última etapa
da visita presidencial em Gaza, Filipe
Nyusi inaugurou o CAIC, empreendimento
agro-industrial avaliado em
USD60 milhões, erguido com objectivo
de resolver problemas cíclicos
de produção de comida que se perde
ao longo das campanhas agrícolas
naquele ponto do país e nas zonas
circunvizinhas.
O projecto, que contou com o financiamento
do banco estatal chinês,
Exim Bank, irá dedicar-se ao processamento
de arroz, castanha de caju e
tomate no futuro, vai alargar o leque
de produtos para batata, repolho e
milho.
Tal como se verifica em eventos similares,
antes do corte da fita que
simboliza a inauguração de certo
empreendimento, são chamados anciões
e líderes tradicionais locais para
evocar espíritos dos antepassados
e purificar o empreendimento com
vista a livrar-se de possíveis males.
Sem fugir à regra, o organizador
do evento, neste caso o Instituto de
Gestão de participações de Estado
(IGEPE), preparou o necessário para
a cerimónia.
Para tal, adquiriu-se um cabrito, vinho
branco, aguardente e farinha.
Foram também chamados os líderes
tradicionais. Porém, para o desagrado
das autoridades tradicionais
locais, Filipe Nyusi chegou ao local,
contornou a cerimónia e foi directamente
cortar a fita, depois seguiu
para o local do descerramento da
placa, visitou a fábrica e depois abandonou
o local.
Entendem os líderes locais que o
Presidente da República (PR) foi induzido
em erro ao não lhe levarem
à cerimónia da evocação de espíritos,
porque, no entender daqueles, havia
necessidade de se “informar” os antepassados
sobre a existência daquele
empreendimento.
Em contacto com o SAVANA, Gil
Zefanias Mahoche e Américo Chovete,
líderes tradicionais, referiram
que na tradição local é obrigatório
que antes de qualquer cerimónia se
evoquem espíritos para tomarem
“conhecimento” e dar a devida protecção.
“Isto é um assunto muito sério, tenho
certeza que eles vão nos chamar, porque
as coisas podem não correr muito
bem para eles”, disse Mahoche.
Continuou a sua explanação referindo
que a evocação de espíritos faz-se
na presença do chefe máximo, pelo
que, mesmo que se realize no futuro,
não terá o mesmo peso que teria na
presença do chefe de Estado.
Chovete contou que o pessoal chinês
afecto à construtora Beijing Urban
Constriction Group, firma responsá-
vel para edificação da fábrica, passou
por momentos dramáticos nos primeiros
dias.
“Os chineses que construíram esta
fabrica sabem disso. Sem nos dizer
nada chegaram, instalaram-se e iniciaram
com as demarcações. Certo
dia, o edifício onde habitavam ficou
sem tecto. Foi algo que eles acharam
estranho porque não havia ventania.
Coisas estranhas prolongaram-se por
dias subsequentes. Junto das autoridades
governamentais procuram soluções
e concluíram que os espíritos
estavam zangados. Daí organizou-se
a cerimónia e tudo passou. Continuaram
com as obras até ao fim sem
constrangimentos”, disse Chovete.
Questionado sobre as motivações
que culminaram com a não realiza-
ção da cerimónia tradicional, os dois
líderes comunitários referiram que a
única explicação foi de que o presidente
estava com agenda apertada e
o protocolo de Estado não estava a
par.
A fábrica só será viável
com o Ànanciamento dos
agricultores
Com as obras iniciadas em Dezembro
de 2012, a CAIC é uma sociedade
anónima de capitais públicos. Na
sua estrutura accionista está o IGEPE
com 70% das acções, a empresa
pública Hidráulica de Chókwè (HICEP)
com 20% e a SAVAL, associa-
ções de agricultores locais com 10%.
A construção da fábrica contou com
um crédito do banco estatal chinês
no valor de USD60 milhões. O empreendimento
deverá gerar renda
suficiente para fazer face ao serviço
da dívida ao longo da vigência do
crédito.
A fábrica foi concebida para processar
seis toneladas de tomate por
dia, 2.4 toneladas de caju/dia e 200
toneladas de arroz/dia. Anualmente,
o empreendimento deverá processar
60 mil toneladas de arroz, 1200 toneladas
de tomate, 480 toneladas de
castanha de caju e 27.500 toneladas
de milho.
Os gestores da fábrica ainda estão
à procura de financiamento para a
compra da matéria-prima junto aos
camponeses. Dados em poder do
SAVANA indicam que a fábrica será
alimentada pelos agricultores locais.
Até ao momento, apenas foi fixado o
preço de arroz que será adquirido a
10 meticais ao produtor.
Contactado pelo SAVANA, Ataná-
sio Tailane, representante dos Produtores
de Chókwè, frisou que a
região tem potencial suficiente para
alimentar a fábrica, contudo, é preciso
que haja financiamento para os
agricultores.
Tailane diz que a região possui cerca
de 30 mil hectares de terra arável e
um capital humano suficiente para
viabilizar a fábrica.
Porém, falta financiamento que potencie
os agricultores a aproveitar no
máximo as potencialidades que a região
oferece.
No que concerne ao preços, Atanásio
Tailane diz que o mesmo é resultado
de um estudo que envolveu todas
as partes interessadas e que concluiu
que pode ser rentável.
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