Nesta abordagem eu haveria de precisar da ajuda do meu amigo Bayano Valy, a ver como poderiamos introduzir no seu “dicionário urbano” a palavra G40tismo. Lá na terra onde eu cresci aprendi da minha avó que “a xaku kala a vito xa yila”, não sei como conseguir uma tradução mais acertada da expressão, mas talvez poderiamos dizer que equivale a dizer que tudo o que não tem nome é...eishh, não consigo traduzir xa yila. Equivale a dizer, em sentido contrário, que tudo o que tem nome é porque existe. Já todos sabemos o que é o G 40, mas à par do G 40 desenvolve-se um fenómeno chamado G 40Tismo, que talvez o meu amigo Bayano ainda irá me ajudar a definir melhor como sendo qualquer tipo de acção com vista a adiar, hipotecar, perverter, escamotear, aniquilar, liquidar, limitar e restringir o exercício da liberdade de imprensa e de expressão. Já que toda a gente sabe dizer o que é isso de gquarentismo, podemos agora saltar da teoria para a prática. Quem está neste momento a ser vítima do gquarentismo é o nosso amigo Manuel Zimba, jornalista do “Canal Desportivo” da Rádio Moçambique, que lhe foi instaurado um processo disciplinar supostamente em virtude de haver denunciado publicamente e em plena emissão as interferências políticas na gestão editorial da rádio, segundo noticiou o semanário “Canal de Moçambique” na sua penúltima edição. Um processo disciplinar produz efeitos negativos na vida de qualquer trabalhador, talvez tenha tido sorte, porque poderia ter sido movido um processo criminal, tratando-se de acções de pendor gquarentista, tal como foi com o professor Carlos Nuno Castel Branco. O que aconteceu, segundo o mesmo jornal, foi que a RM reproduziu um artigo do jornal “Domingo” que dava conta de alegadas pretenções de Faizal Sidat garantir um terceiro mandato na Federação Moçambicana de Futebol, o que, a acontecer, seria uma violação da Lei do Desporto que fixa o limite de dois mandatos para as federações. O meu amigo Manuel Zimba, repórter que estava na emissão, recebeu ordens para não continuar com a matéria, alegadamente porque a direcção da rádio recebeu “ordens superiores” nesse sentido. Raciocinando como jornalista, seguindo os ensinamentos dos grandes mestres sobre os critérios da noticiabilidade, constatando que a matéria era de interesse público, Zimba não só leu o artigo para os ouvintes se informarem como também tratou de denunciar as interferências políticas em plena emissão. Na Rádio Moçambique, ainda segundo o “Canal de Moçambique”, Manuel Zimba continua com um processo disciplinar em resultado da sua acção. É nisso que dá andar a denunciar o gquarentismo, pelo que precisámos de ser solidários para com o nosso amigo Zimba e tudo fazermos para que ele e outros jornalistas da nossa rádio, cujo funcionamento depende dos impostos pagos pelos cidadãos, possam continuar a realizar o seu trabalho livres da ingerência externa, dado que isso sim é que viola a Lei de Imprensa e a Constituição da República. Enquanto o gquarentismo vai fazendo das suas na RM, vejam vocês de como o fenómeno também está a operar lá na Sociedade Notícias, ainda segundo o “Canal de Moçambique”. É nos dado a saber que o editor de desporto do jornal “Notícias”, Gil de Carvalho, recebeu ordens do seu director, Jaime Langa, para desmentir a mesma peça do jornal “Domingo”. Lembrar que o nome de Jaime Langa consta da lista do G 40. Para aferir a proveniência das aludidas “ordens superiores”, o “Canal de Moçambique” ouviu o ministro da Juventude e Desportos, cujo nome teria sido referido na polémica. Alberto Nkutumula distanciou-se das ordens de censura de que foram alvos os jornalistas Manuel Zimba do “Canal Desportivo” e afinal, também, Custódio Mugabe, editor desportivo do semanário “Domingo”. “Eu nem sequer acompanhei o programa na RM. Portanto, li num jornal uma história assim. Não fiz nenhuma interferência nesses órgãos de comunicação social. Não posso envolver-me na imprensa para influenciar jornalistas. Sou defensor da liberdade e, fazendo isso, estaria a cortar a liberdade. Por mais que não concorde com a opinião, até defendo-a com a minha vida”. A pedagogia do exemplo ensina-nos a aprender pelos exemplos que nos são dados pelos outros. Embora o jornalista Manuel Zimba tenha denunciado interferências políticas em plena emissão, o processo disciplinar que lhe foi instaurado pela direcção transforma o problema essencial num problema particular do jornalista. O denunciante, que é a vitima da interferência política no seu trabalho, vê-se aqui transformado em visado de um processo disciplinar, sendo agora ele o transgressor. É como quando tu vais apresentar uma queixa e o procurador pergunta-te se tens um advogado, afinal quem deve se preocupar em arranjar um advogado sou eu, que estou a sofrer, ou é o visado, contra quem vai a minha queixa. Manuel Zimba precisa da solidariedade de todos os colegas, sobretudo porque denunciou um problema que os jornalistas dos serviços públicos de rádio e televisão vivem no seu dia-a-dia, resultado da subserviência ao poder político instalada a partir das chefias editoriais. Um jornalista precisa de ter uma coluna vertebral muito forte, a fim de que não vá se dobrar e prestar vénias às ordens superiores que nunca se chega a saber de onde é que elas vem. Se te chegam ordens superiores que não está claro de onde elas vem estamos sem dúvidas em presença do gquarentismo, ou seja, faz parte do conjunto de acções com vista a adiar, hipotecar, perverter, escamotear, aniquilar, liquidar, limitar e restringir o exercício da liberdade de imprensa e de expressão, atentar contra o direito à informação. De facto, o jornalista tem o dever de reagir a quaisquer evidências de interferências políticas no seu trabalho. O Estado garante a isenção dos meios de comunicação social do sector público e a independência dos jornalistas perante o governo, a administração e demais poderes políticos. Isso está plasmado nossa Constituição. Je suis Manuel Zimba. E a Luta Continua!
Major-General Henry Miller
Um G40 sente-se usado e aldrabado. So teve o "salário" acordado (15 mil meticais) por dois meses, termos em que anda de desabafo em desabafo. Agora pondera dar uma entrevista...
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